Discursos e Intervenciones

Discurso proferido pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz no Parque Céspedes, de Santiago de Cuba, a 1 de janeiro de 1959

Fecha: 

01/01/1959

Santiagueiros; Compatriotas de toda Cuba:

Finalmente chegamos a Santiago (Aplausos). Duro e longo foi o caminho, mas pudemos chegar (Aplausos).

Há quem diga que hoje às 14h00 nos esperavam na capital da República, o primeiro surpreendido fui eu (Aplausos), porque fui um dos primeiros surpresos com esse golpe traidor e amanhado desta manhã na capital da República (Aplausos).

Além disso, eu estaria na capital da República, ou seja, na nova capital da República (Aplausos), porque Santiago de Cuba será, de acordo com o desejo do Presidente provisório, de acordo com o desejo do Exército Rebelde e de acordo com o desejo do povo de Santiago de Cuba, que bem merece, a capital (Aplausos). Santiago de Cuba será a capital provisória da República! (Aplausos)

Talvez a medida surpreenda alguns, é uma medida nova, mas por isso há de caracterizar-se, precisamente, a Revolução, por fazer coisas que não foram feitas jamais (Aplausos). Quando tornamos Santiago de Cuba capital provisória da República, sabemos por que o fazemos. Não se trata de adular demagogicamente uma determinada localidade, trata-se, simplesmente, de que Santiago tem sido o baluarte mais firme da Revolução (Aplausos).

A Revolução começa agora; a Revolução não será uma tarefa fácil, a Revolução será uma empreitada dura e plena de perigos, fundamentalmente, nesta etapa inicial, e em que melhor lugar para estabelecer o Governo da República que nesta fortaleza da Revolução (Aplausos), para que saibam que este será um governo solidamente apoiado pelo povo na cidade heróica e nas proximidades da Sierra Maestra, porque Santiago está na Sierra Maestra (Aplausos). Em Santiago de Cuba e na Sierra Maestra, terá a Revolução suas duas melhores fortalezas (Aplausos).

Mas além disso, tem outras razões: o movimento militar revolucionário, o verdadeiro movimento militar revolucionário, não se fez em Colúmbia. Em Colúmbia prepararam um “golpezinho” de costas ao povo, de costas à Revolução e, sobretudo, de acordo com Batista (Aplausos).

Tendo em conta que é preciso dizer a verdade e visto que viemos aqui para orientar o povo, digo-lhes e lhes garanto que o golpe de Colúmbia foi uma tentativa de escamotear ao povo o poder e arrebatar-lhe à Revolução a vitória. E, além disso, para deixar fugir Batista, para deixar fugir os Tabernillas, para deixar fugir os Pilar García e os Chavianos, para deixar fugir os Salas Cañizares e os Ventura (Aplausos).

O golpe de Colúmbia foi um golpe ambicioso e traidor que não merece outro qualificativo, e sabemos chamar as coisas por seu nome e cingir-nos, também, à responsabilidade (Aplausos).

Não vou andar com panos quentes para dizer-lhes que o general Cantillo nos traiu, e não quer dizer que não vou falar nisso, mas que o vou provar. Porém, é claro, sempre falamos: não vão tentar na última hora vir solucionar isto com um “pequeno golpe militar”, porque se houver golpe militar de costas ao povo, a Revolução continuará adiante, que desta vez não será frustrada a Revolução.

Desta vez, por fortuna para Cuba, a Revolução chegará realmente ao poder. Não será como em 95 que chegaram os americanos e ficaram donos disto (Aplausos). Intervieram na última hora e depois nem sequer deixaram entrar a Calixto García que lutara durante 30 anos, não quiseram que ele entrasse em Santiago de Cuba (Aplausos). Não será como em 33 que quando o povo começou a acreditar que estava sendo feita uma Revolução, veio o senhor Batista, traiu a Revolução, apoderou-se do poder e instaurou uma ditadura por onze anos. Não será como em 44, ano em que as multidões se ateiam acreditando que finalmente o povo chegara ao poder, e os que chegaram ao poder foram os ladrões. Nem ladrões, nem traidores, nem intervencionistas. Desta vez é mesmo a Revolução.

Mas, não queriam que fosse assim. Nos próprios instantes em que a ditadura se desmoronava como consequência das vitórias militares da Revolução, quando já não podiam resistir nem sequer mais 15 dias, aparece o senhor Cantillo e se converte em paladino da liberdade. Naturalmente, que nunca temos estado em uma atitude de rejeitar qualquer colaboração que implicasse uma poupança de sangue, sempre que os fins da Revolução não ficassem em perigo. Naturalmente, que sempre estivemos apelando aos militares para procurar a paz, mas a paz com liberdade e a paz com o triunfo da Revolução, era a única maneira de obter a paz.

Por isso, quando no dia 24 de dezembro nos comunicaram o desejo do general Cantillo de ter uma entrevista conosco, aceitamos a entrevista. Confesso-lhes que, tendo em mente o curso dos acontecimentos, a marcha formidável das nossas operações militares, eu tinha muito poucos desejos de falar sobre movimentos militares; mas entendi que era um dever, que nós, os homens que temos uma responsabilidade não nos podemos deixar levar pelas paixões. E pensei que se a vitória se podia conseguir com o menor derramamento de sangue possível, meu dever era atender as proposições que me fizessem os militares (Aplausos).

Fui ter com o senhor Cantillo que veio falar comigo em nome do Exército. Reuniu-se comigo no dia 28 na fábrica de açúcar Oriente, aonde chegou de helicóptero, às 08h00. Ali conversou conosco durante quatro horas, e não vou fazer uma história inventada nem coisa que se pareça, porque tenho testemunhas excepcionais dessa entrevista. Ali estava o Dr. Raúl Chibás, ali estava um sacerdote católico, ali estavam vários militares cujos testemunhos não podem ser postos em causa sob nenhum conceito.

Ali, depois de analisar todos os problemas de Cuba, depois de ajustar todos os detalhes, acordou, o general Cantillo, realizar de acordo conosco um movimento militar revolucionário. A primeira coisa que eu lhe disse foi isto, depois de analisar bem a situação: a situação do Exército, a situação a que o levara a ditadura; depois de esclarecer-lhe que ele não se devia importar com Batista nem com os Tabernillas nem com toda aquela gente, não se devia importar com nada, porque aquela gente fora muito desconsiderada com os militares cubanos; que aquela gente levara os militares a uma guerra contra o povo, que é uma guerra que se perde sempre, porque contra o povo não se pode ganhar uma guerra (Aplausos).

Depois de dizer-lhe que os militares eram vítimas das imoralidades do regime, que roubavam os orçamentos para comprar armamentos, que os soldados eram enganados constantemente, que aquela gente não merecia a menor consideração dos militares honoráveis, que o Exército não tinha por que carregar com a culpa dos crimes que cometia a quadrilha dos capangas de confiança de Batista; adverti-lhe, adverti-lhe bem claramente, que eu jamais autorizaria, por minha parte, nenhum tipo de movimento que permitisse a fuga de Batista. Adverti-lhe que se Batista queria fugar-se, que fugisse logo e com ele Tabernilla e todos os outros, mas que enquanto nós pudéssemos evitá-lo, tínhamos que impedir a fuga de Batista (Aplausos).

Todo a gente sabe que nossa primeira colocação no caso de um golpe militar para chegar a um acordo conosco era a entrega dos criminosos de guerra, e essa era uma condição essencial.

E podíamos ter capturado Batista e a todos seus cúmplices. E eu lhe disse bem claro que não estava de acordo com que Batista fugisse. Expliquei-lhe bem que tipo de movimento era preciso fazer; que eu não apoiaria, nem o Movimento 26 de Julho nem o povo, apoiariam um golpe de Estado, porque a questão é que o povo é o que tem conquistado sua liberdade e ninguém mais do que o povo (Aplausos).

Tiraram-nos a liberdade mediante um golpe de Estado, porém para que acabassem de uma vez e para sempre os golpes de Estado, era preciso conquistar a liberdade a força de sacrifício do povo, porque nada fazíamos com que dessem um golpe amanhã e outro após amanhã e outro dentro de dois anos e outro dentro de três anos; porque aqui quem deve decidir, definitivamente, quem deve governar é o povo e ninguém mais do que o povo (Aplausos).

E os militares devem estar incondicionalmente às ordens do povo e à disposição do povo e à disposição da Constituição, e da lei da República.

Se existe um governo mau que rouba e que faz mais de quatro coisas mal feitas, pois, simplesmente, espera-se um pouco e quando chegam as eleições se muda o mau governo; porque para isso os governos nos regimes constitucionais democráticos têm um período de tempo limitado. Porque se forem maus, o povo os muda e vota por outros melhores.

A função do militar não é eleger governantes, mas garantir a lei, garantir os direitos do cidadão (Aplausos). Por isso lhe adverti que golpe de Estado não!, movimento militar revolucionário, sim!, e não em Colúmbia mas em Santiago de Cuba (Aplausos).

Disse-lhe bem claro, que a única forma de conseguir a vinculação e a confraternização do povo e dos militares e dos revolucionários, não era dando um “golpe” em Colúmbia, às duas ou três horas da manhã, sem que ninguém soubesse como costumam fazer esses senhores, mas sublevando a guarnição de Santiago de Cuba, que era o suficientemente forte e estava o suficientemente bem armada para iniciar o movimento militar e somar o povo, e somar os revolucionários a esse movimento; que nas circunstâncias em que estava a ditadura era irresistível, porque se somariam logo, com certeza, todas as guarnições do país, e isso foi o que foi combinado.

E não só foi combinado isso, senão que lhe fiz prometer, porque ele pensava ir para Havana no dia seguinte, e nós não concordávamos, porque eu lhe dizia: “É um risco que você vá para Havana”. Ele dizia: “Não, não é risco nenhum”. “Você corre muito perigo de que o detenham porque essa conspiração… aqui tudo se sabe”. “Não, tenho a certeza de que não me detêm”. E claro, como iam detê-lo se era um golpe de Batista e de Tabernilla. Eu disse, bom, ou este homem tem tudo resolvido ali, controla tudo, ou este golpe é um pouco suspeitoso. E então eu lhe disse: “Você me promete que não se vai deixar persuadir em Havana por uma série de interesses que estão por detrás de você, para dar um golpe na capital. Você me promete que não”. E me disse: “Prometo-lhe que não”. “Você me jura que não”. E me disse: “Juro-lhe que não”.

Considero que o primeiro que deve ter um militar é honra, que o primeiro que deve ter um militar é palavra, e este senhor demonstrou não apenas falta de honra e falta de palavra, mas também falta de cérebro, porque um movimento que pôde ter sido feito desde o primeiro momento com todo o apoio do povo e com o triunfo garantido de antemão, o que fez foi dar um salto mortal ao vazio. Achou que enganar o povo e enganar à Revolução seria fácil demais.

Sabia algumas coisas: sabia que logo que dissessem que Batista tinha pegado o avião, o povo ia sair para as ruas louco de contente, e pensaram que o povo não estava o suficientemente maduro para distinguir entre a fugida de Batista e a Revolução; porque se Batista vai embora e se apoderam lá dos tanques os amigos de Cantillo, bem poderia ser que o doutor Urrutia tivesse que ir-se dentro de três meses também, porque o mesmo que nos traiam agora nos trairiam depois, e a grande verdade é que o senhor Cantillo nos traiu a antes da Revolução. Bem que o demonstrou, e vou demonstrá-lo.

Chegou-se a um acordo com o general Cantillo de que o levantamento se produziria no dia 31 pelas 15h00; ficou esclarecido de que o apoio das forças armadas ao movimento revolucionário seria incondicional, o Presidente que nomeassem os dirigentes revolucionários e os cargos que aos militares lhes assignassem os dirigentes revolucionários; era um apoio incondicional que se oferecia.

Acordou-se o plano em todos seus pormenores: no dia 31, às 15h00, sublevar-se-ia a guarnição de Santiago de Cuba; imediatamente várias colunas rebeldes penetrariam na cidade e o povo, junto dos militares e dos rebeldes, confraternizaria imediatamente, lançando-se ao país uma proclama revolucionária convidando a todos os militares honoráveis a juntar-se ao movimento.

Acordou-se que os tanques que há na cidade seriam colocados a nossa disposição, e eu me ofereci, pessoalmente, para avançar rumo à capital com uma coluna blindada precedida pelos tanques. Entregar-me-iam os tanques às 15h00, não porque se pensasse que tinha de combater, mas para prever no caso em que em Havana o movimento fracassasse e houvesse necessidade de colocar nossa vanguarda o mais perto possível da capital. E, também, para prever que não se cometessem excessos na cidade de Havana.

Era lógico que com o ódio despertado ali contra a força pública, pelos inenarráveis horrores de Ventura e de Pilar Garcia, a queda de Batista ia produzir uma desorganização na cidadania e que, além disso, aqueles polícias se sentiriam sem força moral para conter o povo, como, efetivamente, aconteceu.

Uma série de excessos ocorreram na capital: pilhagens, tiroteios, incêndios. Toda a responsabilidade cai sobre o general Cantillo por ter traído a palavra empenhada e por não ter executado o plano que foi acordado. Achou que nomeando capitães e comandantes da polícia —muitos dos quais quando foram nomeados já tinham ido embora, prova de que não tinham a consciência muito tranquila— ia resolver o problema.

Porém, que diferente foi em Santiago de Cuba. Que ordem e que civismo! Que disciplina demonstrada pelo povo! Nem um só caso de pilhagem, nem um só caso de vingança pessoal, nem um só homem arrastrado pelas ruas, nem um incêndio. Tem sido admirável e exemplar o comportamento de Santiago de Cuba, apesar de duas coisas: apesar de que esta fora a cidade mais sofrida e que mais padecera o terror, portanto, a que mais direito tinha a estar indignada (Aplausos); e apesar, também, das nossas declarações desta manhã dizendo que não concordávamos com o golpe.

Santiago de Cuba se comportou exemplarmente bem, e acho que será este caso de Santiago de Cuba um motivo de orgulho para o povo, para os revolucionários e para os militares da Praça de Santiago de Cuba (Aplausos).

Já não poderão dizer que a Revolução é a anarquia e a desordem; aconteceu em Havana, por uma traição, mas não ocorreu assim em Santiago de Cuba, que podemos colocar como modelo quantas vezes se tente acusar a Revolução de anárquica e desorganizada (Aplausos).

É conveniente que o povo conheça as comunicações que intercambiamos o general Cantillo e eu, se o povo não estiver cansado, (Gritos e exclamações de: "Não!") posso lê-las.

Depois dos acordos adotados, quando tínhamos suspendido as operações sobre Santiago de Cuba, porque no dia 28 já nossas tropas estavam bem próximas da cidade e tinham sido feitos todos os preparativos para o ataque à Praça, de acordo com a entrevista mantida, tivemos de realizar uma série de mudanças, abandonar as operações sobre Santiago de Cuba e encaminhar nossas tropas para outros sítios, onde se supunha que o movimento não estava assegurado desde o primeiro instante. Quando todos nossos movimentos estavam feitos, as colunas preparadas para marchar sobre a capital, recebo umas poucas horas antes esta nota do general Cantillo, que diz textualmente:

"Variaram muito as circunstâncias em sentido favorável a uma solução nacional", no sentido que ele quer para Cuba. Era esquisito, porque depois de analisar os fatores com que se contava, não podia ser mais favorável às circunstâncias. Estava assegurado o triunfo, e isto era uma coisa esquisita que ele viesse a dizer: "Variaram muito favoravelmente as circunstâncias". As circunstâncias de que Batista e Tabernilla estavam de acordo, assegurado o golpe. “... que recomendo não fazer nada nestes momentos e esperar os acontecimentos das próximas semanas, antes do dia 6.”

É claro que, a trégua prolongada indefinidamente, enquanto eles faziam todas as coordenações em Havana.

Minha resposta imediata foi esta:

O conteúdo da nota se afasta totalmente dos acordos adotados, resulta ambíguo e incompreensível e me fez perder a confiança na seriedade dos acordos. A partir das 15h00 de amanhã ficam rotas as hostilidades, que foi a data e hora acordadas para o Movimento. (Aplausos).

Então aconteceu uma coisa muito curiosa. Para além da nota, que era muito breve, digo-lhe ao chefe da Praça de Santiago de Cuba, com o portador da mesma, que se as hostilidades se quebravam porque os acordos não se cumpriam e éramos obrigados a atacar a Praça de Santiago de Cuba, então não haveria outra solução que a rendição da Praça, que exigiríamos a rendição da Praça se as hostilidades se rompiam e o ataque se iniciava por nossa parte. Mas aconteceu que o portador da nota não interpreta corretamente minhas palavras e lhe diz ao coronel Rego Rubido que eu dizia que exigia a rendição da Praça como condição para qualquer acordo. Ele não disse o que eu lhe tinha afirmado, que se iniciava o ataque, mas não lhe colocara ao general Cantillo como condição que se rendesse a Praça.

Como consequência da mensagem, o coronel chefe da Praça de Santiago de Cuba me envia uma carta muito conceituosa e muito pundonorosa que também vou ler. Naturalmente que se sentia ofendido com aquela afirmação que lhe transmitiram erradamente, e diz:

A solução encontrada não é o golpe de Estado nem junta militar, e, contudo, acreditamos que é a que melhor convém ao doutor Fidel Castro, de acordo com suas ideias e colocariam em 48 horas o destino do país em suas mãos. Não é uma solução local, mas nacional, e qualquer indiscrição adiantada poderia compromete-la ou destruí-la criando o caos. Queremos que se tenha confiança em nossa gestão e se terá a solução antes do dia 6.

Em quanto a Santiago, devido à nota e às palavras do mensageiro, é preciso mudar o plano e não entrar; ditas palavras causaram mal-estar entre o pessoal “chave” e nunca se entregariam as armas sem lutar. As armas não se rendem perante um aliado e não se entregam sem honra.

Frase muito formosa do chefe da Praça de Santiago de Cuba.

Se não se tem confiança em nós ou se Santiago for atacada, serão considerados rotos os acordos e se paralisarão as diligências para a solução oferecida, desligando-nos formalmente de todo compromisso. Esperamos, devido ao tempo necessário para agir em uma outra forma, que a resposta chegue a tempo para ser enviada a Havana no viscount da tarde.

Minha resposta a essa nota do coronel José Rego Rubido foi a seguinte:

Território Livre de Cuba, dezembro 31 de 1958.

Senhor Coronel.

Na transmissão das minhas palavras para o Senhor houve um lamentável erro, talvez devido à pressa com que respondi sua nota e ao apressado da conversação que tive com o portador. Eu não lhe disse que a condição colocada por nós nos acordos que se adotaram era a rendição da Praça de Santiago de Cuba às nossas forças, tivesse sido uma descortesia com nosso visitante, e uma proposição indigna e ofensiva para os militares que tão fraternalmente se aproximaram de nós.

A questão é outra. Chegara-se a um acordo e se adotou um plano entre nós e o líder do movimento militar; devia começar a realizar-se no dia 31 às 15h00; até os detalhes foram acordados depois de analisar cuidadosamente os problemas que deviam ser encarados; iniciar-se-ia com o levantamento da guarnição de Santiago de Cuba, persuadi o general C. [Cantillo] das vantagens de começar por Oriente e não em Colúmbia, por recear o povo grandemente de qualquer golpe nos quartéis da capital da República, e o difícil que seria, nesse caso, vincular à cidadania ao movimento. Ele coincidia plenamente com meus pontos de vista, preocupava-se apenas pela ordem na capital e acordamos medidas para conjurar o perigo.

A medida era, precisamente, o avanço da nossa coluna sobre Santiago de Cuba.

Tratava-se de uma ação unida dos militares, o povo e nós, um tipo de movimento revolucionário que desde o primeiro instante contaria com a confiança da nação toda. Logo, e de acordo com o que foi combinado, suspendemos as operações que se estavam levando a cabo, e começamos a realizar novos movimentos de forças para outros pontos como Holguín, onde a presença de conhecidos capangas tornava quase segura a resistência ao movimento militar revolucionário.

Quando já todos os preparativos estavam prontos por nossa parte, recebo a nota de ontem, onde me davam a entender que não se levaria a ação acordada. Ao que parece existiam outros planos, mas não se me informava quais e por que. De fato, já esse assunto não era coisa nossa, simplesmente tínhamos de esperar. Unilateralmente se mudava tudo e se colocava em risco nossas forças que, de acordo com o que se contava, tinham sido enviadas a operações difíceis; ficávamos sujeitos a ameaças, a todos os imponderáveis. Qualquer risco do general C., em suas frequentes viagens a Havana se converteria militarmente para nós em um desastre. Reconheça que tudo está muito confuso nesse instante, e que Batista é um indivíduo hábil e taimado, que sabe manobrar. Como nos poderiam pedir que renunciemos a todas as vantagens obtidas nas operações das últimas semanas, para ficarmos a esperar pacientemente a que os fatos aconteçam?

Bom, esclareci que não podia ser uma ação só dos militares, para isso, realmente, não era preciso esperar os horrores de dois anos de guerra. Cruzar-nos de braço nos momentos decisivos é a única coisa que não se nos pode pedir aos homens que não temos descansado na luta contra a opressão há sete anos.

Embora vocês tivessem a intenção de entregar o poder aos revolucionários, não é o poder em si o que a nós nos interessa, mas que a Revolução cumpra seu destino. Preocupa-me, inclusive, que os militares por um excesso injustificado de escrúpulos facilitem a fugida dos grandes culpáveis, que marcharão para o exterior com suas grandes fortunas, para fazer desde ali todo o dano possível a nossa pátria.

Pessoalmente posso acrescentar que o poder não me interessa, nem penso ocupá-lo, velarei apenas porque não se frustre o sacrifício de tantos compatriotas, seja lá qual for meu destino posterior. Espero que estas honradas razões que com todo respeito a sua dignidade de militares lhes exponho as compreendam. Tenham a certeza de que não estão tratando com um ambicioso nem com um insolente ....

Parem-me os tanques ali, faz favor (Gritos e aplausos).

Quando terminemos nossas declarações e a proclamação do Presidente provisório, os tanques farão honra ao Poder Civil da República, passando em frente dos nossos balcões (Aplausos).

Continuo lendo a carta do dia 31 ao senhor Coronel Chefe da Praça de Santiago de Cuba.

Pessoalmente posso acrescentar que o poder não me interessa, nem penso ocupá-lo, velarei apenas porque não se frustre o sacrifício de tantos compatriotas, seja lá qual for meu destino posterior. Espero que estas honradas razões que com todo respeito a sua dignidade de militares lhes exponho as compreendam. Tenham a certeza de que não estão tratando com um ambicioso nem com um insolente [repete o parágrafo anterior à interrupção].

Sempre agi com lealdade e franqueza em todas minhas coisas, nunca se poderá chamar triunfo ao que for obtido com falsidade e engano; a linguagem de honra que vocês entendem é a única que eu sei falar.

Nunca foi mencionada na reunião com o general C. a palavra rendição; o que ontem falei e reitero hoje é que a partir das 15h00 do dia 31, data e hora acordadas, não podíamos prorrogar a trégua com relação a Santiago de Cuba, porque isso seria prejudicar extraordinariamente nossa causa. Nunca uma conspiração é segura. Ontem à noite chegou aqui um boato de que o general C. fora detido em Havana, que vários jovens apareceram assassinados no cemitério de Santiago de Cuba. Tive a sensação de que tínhamos perdido o tempo miseravelmente; ainda que, afortunadamente, hoje parece comprovar-se que o general C. se encontra em seu posto, que necessidade temos de correr esses riscos?

O que eu lhe disse ao mensageiro no relativo à rendição, que não foi transmitido literalmente e pareceu motivar as palavras de sua nota de hoje, foi o seguinte: 'que se eram rotas as hostilidades por não se cumprir o acordado, seríamos obrigados a atacar a Praça de Santiago de Cuba, o que é inevitável, devido que nesse sentido envidamos nossos esforços nos últimos meses, em cujo caso, uma vez iniciada a operação, exigiríamos a rendição das forças que a defendem'. Isto não quer dizer que pensemos que se rendam sem combater, porque sei que, mesmo sem razão para combater, os militares cubanos defendem as posições com teimosia e nos custaram muitas vidas. Quis dizer, só que depois que se tenha derramado o sangue dos nossos homens pela conquista de um objetivo, não podia aceitar-se outra solução, visto que, embora nos custe muito caro, devido às condições atuais das forças que defendem o regime, as quais não poderão prestar apoio a essa cidade, ela cairia inexoravelmente em nossas mãos. Esse foi o objetivo básico de todas nossas operações nos últimos meses, e um plano dessa envergadura não pode ser suspendido por umas semanas sem graves consequências, no caso em que o movimento militar fosse frustrado, perdendo-se, também, o momento oportuno, que é este, quando a ditadura está sofrendo grandes reveses nas províncias de Oriente e Las Villas.

Colocam-nos no dilema de renunciar às vantagens de nossa vitória ou atacar, um triunfo seguro a câmbio de um triunfo provável. Você acha que com a nota de ontem, ambígua e lacônica, contentiva de uma decisão unilateral, eu possa incorrer na responsabilidade de manter em suspenso os planos?

Como militar que você é, reconheça que nos foi pedido um impossível. Vocês não deixaram um minuto de construir trincheiras, essas trincheiras as podem utilizar contra nós um Pedraza, um Pilar Garcia, ou um Cañizares, se o general C. é revezado do comando e com ele seus homens de confiança. Não se nos pode pedir que permaneçamos ociosos; veja você que somos colocados em uma situação absurda. Embora defendessem com valor suas armas, não nos resta mais remédio do que atacar, porque nós também temos obrigações bem sagradas que cumprir.

Mais do que aliados, desejo que os militares honoráveis e nós sejamos companheiros de uma única causa, que é a de Cuba.

Desejo, por em cima de tudo, que você e seus companheiros não se façam uma ideia errada da minha atitude e dos meus sentimentos. Fui extenso para evitar que se confundam ou tergiversem os conceitos.

Relativamente à tácita suspensão do fogo na zona de Santiago de Cuba, para evitar toda dúvida, ratifico que embora em qualquer instante antes de que comecem os combates poderemos reiniciar as operações, a partir de hoje deve ficar advertido que o ataque vai acontecer de um momento para outro, e que por nenhuma razão voltaremos a suspender os planos, visto que tudo isso, como são questões que se tramitam em segredo, pode ocasionar confusão no povo e prejudicar a moral dos nossos combatentes.

Atenciosamente,

Liberdade ou morte.

(Aplausos).

O coronel Rego me respondeu com uma pundonorosa carta que é também digna de honra e que diz assim:

Senhor:

Recebi sua atenta carta datada no dia de hoje e creia que lhe agradeço profundamente o esclarecimento relacionado com a nota anterior, embora deva manifestar-lhe que sempre supus que se tratava de uma má interpretação, porque através do tempo observei sua linha de conduta e tenho a certeza de que você é um homem de princípios.

Eu desconhecia os detalhes do plano original, pois só fui informado da parte que a mim correspondia, como também desconheço alguns pequenos pormenores do plano atual. Estimo que em parte você tem razão quando faz a análise do plano original; porém, acho que demoraria mais uns dias em chegar a sua consumação e nunca poderia evitar-se que muitos dos culpados grandes, medianos e pequenos escapem.

Sou dos que pensa que resulta absolutamente necessário dar um exemplo em Cuba para aqueles que aproveitando as posições do poder cometem toda classe de ações puníveis, mas, infelizmente, a história está atestada de casos semelhantes e rara vez os culpados podem ser postos à disposição das autoridades competentes, porque rara vez com as revoluções se faz o que tem que ser feito.

Compreendo perfeitamente suas preocupações no presente caso. Eu, menos responsabilizado com a história, também as tenho.

No que se refere à atuação unilateral de que me fala, reitero-lhe que ... em ambos os casos só fui informado da parte que me concernia, estimando que o que aconteceu foi que o general C. tomou a ideia do que você desejava de acordo com suas normas e princípios, atuando em consequência.

Não tenho motivos para supor que pessoa alguma esteja tentando propiciar a fugida do culpado e, pessoalmente, sou contra de tal coisa” —dizia o coronel Rego Rubido (Aplausos)— mas, no caso de produzir-se, a responsabilidade histórica por tais fatos recairia sobre quem os tornasse possíveis e nunca sobre os demais.

Acho, sinceramente, que tudo terá de produzir-se em harmonia com suas ideias e que o general está procedendo, inspirado nos melhores desejos para o bem de Cuba e da Revolução que você chefia.

Soube de um jovem estudante morto que se encontrava no cemitério e hoje mesmo dispus que se esgotassem os meios investigativos, visando determinar quem foi o autor e as circunstâncias em que o fato aconteceu, tal como o fiz em dias passados até colocar à disposição da autoridade judicial correspondente os supostos responsáveis.

Finalmente devo informar-lhe que enviei um despacho ao General utilizando um avião para fazer-lhe chegar sua conceituosa carta, e não se impaciente que talvez antes da data fixada como limite máximo você estará em Havana.

Quando o general se marchou, pedi-lhe que me deixasse o helicóptero com o piloto caso você decidisse passear no domingo à tarde sobre Santiago (Aplausos).

Bom, Doutor, receba o testemunho de minha melhor consideração e o fervente desejo de um feliz Ano Novo.

Assinado: Coronel Rego Rubido

(Aplausos)

Neste estado estavam as conversações quando, tanto o coronel Rego, chefe da Praça de Santiago de Cuba, como eu, fomos surpreendidos pelo golpe de Estado de Colúmbia que se afastava totalmente do acordado. E a primeira coisa que se fez, o mais criminal que se fez, foi deixar fugir Batista, Tabernilla e os grandes culpados (Aplausos). Deixaram-nos escapar com seus milhões de pesos, deixaram-nos escapar com os 300 ou 400 milhões de pesos que se roubaram e, isso nos vai custar bem caro!, porque agora estarão desde São Domingos e desde outros países fazendo propaganda contra a Revolução, fraguando tudo o dano possível contra nossa causa, e durante muitos anos os vamos ter aí ameaçando nosso povo, mantendo-nos em constante estado de alerta, porque vão pagar e fraguar conspirações contra nós. E tudo isso pela fraqueza, pela irresponsabilidade e pela traição dos que promoveram o golpe contrarrevolucionário da madrugada de hoje.

O quê fizemos? Logo que soubemos do golpe, que nos inteiramos por Rádio Progresso? Já, nessa hora, adivinhando eu o que se estava fraguando, estava fazendo umas declarações quando soube que Batista tinha ido para São Domingos. E pensei: Será um erro, será um boato? E envio a ratificar, quando escutei que, com efeito, o senhor Batista e sua camarilha tinham fugido, e o mais bonito é que o general Cantillo dizia que esse movimento tinha acontecido graças aos patrióticos propósitos do general Batista, os patrióticos propósitos do general Batista!, que renunciava para poupar derramamento de sangue, O quê lhes parece? (Gritos).

Ainda tem uma coisa. Para terem uma ideia da classe de golpe que foi preparado, basta dizer que Pedraza fora nomeado membro da Junta e foi embora (GRITOS). Eu acho que não é preciso acrescentar nada mais para ver a classe de intenções que tinham os golpistas. E não nomearam o presidente Urrutia, que é o presidente proclamado pelo Movimento e por todas as organizações revolucionárias (Aplausos). Chamaram um senhor que é nada menos que o mais velho de todos os magistrados do Tribunal Supremo, que são bastante velhos todos, e sobretudo, um senhor que fora Presidente, até hoje, de um Supremo Tribunal de Justiça, onde não havia justiça de nenhuma classe.

Qual seria o resultado de tudo isso? Pois, uma revolução a média, uma maquinação, uma caricatura de revolução. O senhor João Ninguém; a mesma coisa dá que se chame de uma maneira ou de outra este senhor Piedra, que nestas horas se não renunciou, que se prepare, que vamos para Havana fazer com que ele renuncie (Aplausos). Julgo que não dura
24 horas. Vai romper um recorde (Risos e aplausos).

Nomeiam esse senhor, e muito bonito: Cantillo, herói nacional, paladino das liberdades cubanas, amo e senhor de Cuba, e o senhor Piedra ali. Simplesmente tínhamos derrubado um ditador para implantar outro. Em todas as ordens, o movimento de Colúmbia era um movimento contrarrevolucionário; em todas as ordens se afastava do propósito do povo; em todas as ordens era suspeitoso, e imediatamente o senhor Piedra disse que faria um apelo para chamar os rebeldes e uma comissão de paz, e nós tão tranquilos deixávamos os fuzis e o deixávamos tudo e íamos lá render preito ao senhor Piedra e ao senhor Cantillo.

Era evidente que tanto Cantillo quanto Piedra estavam na lua. Estavam na lua, porque acho que o povo de Cuba tem aprendido muito e os rebeldes temos aprendido alguma coisa.

Essa era a situação desta manhã, que não é a situação desta noite porque mudou muito (Aplausos). Frente a este fato, diante desta traição, demos ordens a todos os comandantes rebeldes de continuarem as operações militares e de continuarem marchando sobre os objetivos; em consequência, imediatamente demos ordens a todas as colunas destinadas à operação de Santiago de Cuba a avançarem sobre a cidade.

Desejo que vocês saibam que nossas forças vinham muito seriamente decididas a tomar Santiago de Cuba por assalto. Isso teria sido muito lamentável, porque tivesse custado muito sangue e esta noite não seria uma noite de alegria como esta, nem de paz como esta, nem de confraternidade como esta (Aplausos).

Devo confessar que se em Santiago de Cuba não se levou a cabo uma batalha sanguenta se deve, em grande parte, à patriótica atitude do coronel do Exército José Rego Rubido (Aplausos); aos comandantes das fragatas "Máximo Gómez" e "Maceo", ao chefe do distrito naval de Santiago de Cuba (Aplausos) e ao oficial que desempenhava o cargo da chefia de polícia (Aplausos). Todos —e é justo que aqui assim o reconheçamos e o agradeçamos— contribuíram a evitar uma batalha sanguenta e a converter o movimento contrarrevolucionário desta manhã no movimento revolucionário desta tarde.

Não tínhamos outra alternativa do que atacar porque não podíamos permitir a consolidação do golpe de Colúmbia e, portanto, era preciso atacar sem esperar. E quando as tropas saltavam já sobre seus objetivos, o coronel Rego fez uma viagem de helicóptero para localizar-me; os chefes das fragatas fizeram contatos conosco e se colocaram, incondicionalmente, às ordens da Revolução (Aplausos).

Contando-se já com o apoio das duas fragatas, que têm um altíssimo poder de fogo, com o apoio do distrito naval e com o apoio da polícia, convoquei então uma reunião de todos os oficiais do Exército da Praça de Santiago de Cuba, que são mais de 100. Falei para esses militares, quando os convidei a reunir-se comigo, que eu não tinha a menor preocupação em falar com eles, porque sabia que tinha a razão; porque sabia que compreenderiam meus argumentos e que nessa reunião se chegaria a um acordo.

E, com efeito, em horas da noite, nos primeiros momentos da noite, reunimo-nos em El Escandel, a quase totalidade dos oficiais do Exército de Santiago de Cuba, muitos deles homens jovens que se vê que estão ansiosos por lutar pelo bem-estar do seu país. Reuni aqueles militares e lhes falei de nosso sentimento revolucionário; lhes falei de nosso propósito com nossa pátria; lhes falei do que queríamos para o país, de qual fora sempre nossa conduta para com os militares, de todo o dano que fizera a tirania ao Exército e como não era justo que se considerasse por igual a todos os militares, que os criminais só eram uma minoria insignificante, e que tinha muitos militares honoráveis no Exército, que eu sei que aborreciam o crime, o abuso e a injustiça.

Não era fácil para os militares desenvolver um tipo determinado de ação; era lógico, em quanto os cargos mais elevados do Exército estavam nas mãos dos Tabernilla, dos Pilar Garcia, dos parentes e dos incondicionais de Batista, e existia um grande terror no Exército. Não se podia pedir responsabilidade a um oficial isoladamente.

Havia duas classes de militares —e nós os conhecemos bem—: os militares como Sosa Blanco, Cañizares, Sánchez Mosquera, Chaviano (Gritos e vaias), que se caracterizaram pelo crime e o assassinato à toa de infelizes camponeses. Mas houve militares que foram muito honrados em sua campanha; houve militares que jamais assassinaram a alguém, nem queimaram uma casa, como foi o comandante Quevedo, que foi nosso prisioneiro, depois de uma heróica resistência na batalha de El Jigüe, e que hoje continua sendo comandante do Exército (Aplausos); o comandante Sierra, e outros muitos militares que jamais queimaram uma casa. A esses militares não os promoviam, aos que promoviam eram os criminais, porque Batista sempre se encarregou de premiar o crime. Temos o caso, por exemplo, do coronel Rego Rubido, que não lhe deve sua patente à ditadura, mas que já era coronel quando ocorreu o golpe de 10 de março (Aplausos).

Verdade é que reclamei o apoio da oficialidade do Exército de Santiago de Cuba, e a oficialidade do Exército de Santiago de Cuba lhe brindou seu apoio incondicional à Revolução Cubana (Aplausos). Reunidos os oficiais da marinha, da polícia e do Exército, combinou-se desaprovar o golpe amanhado de Colúmbia e apoiar ao Governo legal da República, porque conta com a maioria de nosso povo, que é o doutor Manuel Urrutia Lleó (Aplausos); e apoiar a Revolução Cubana. Graças a essa atitude foi poupado muito sangue; graças a essa atitude foi gestado, na verdade, na tarde de hoje, um verdadeiro movimento militar revolucionário.

Compreendo que no povo existem muitas paixões justificadas, eu compreendo os anseios de justiça que existe em nosso povo e teremos que fazer justiça (Aplausos). Mas, quero pedir ao nosso povo aqui... estamos em instantes em que devemos consolidar o poder antes que nada, o primeiro agora é consolidar o poder! Depois reuniremos uma comissão de militares honoráveis e de oficiais do Exército Rebelde, para tomar todas as medidas que forem aconselháveis, para exigir responsabilidade àqueles que a tenham (Aplausos). E ninguém se oporá!, porque ao Exército e às forças armadas são aos que mais lhes interessam que a culpa de uns poucos não a pague todo o corpo, e que não seja uma vergonha vestir o uniforme militar; que os culpados sejam castigados para que os inocentes não tenham que carregar com o descrédito (Aplausos). Tenham confiança em nós!, é o que pedimos ao povo, porque saberemos cumprir com nosso dever (Aplausos).

Nessas circunstâncias se realizou na tarde de hoje um verdadeiro movimento revolucionário do povo, dos militares e dos rebeldes, na cidade de Santiago de Cuba. É indescritível o entusiasmo dos militares, e em prova de confiança lhes pedi aos oficiais que entrassem comigo em Santiago de Cuba, e aqui estão todos os oficiais do Exército! Aí estão os tanques ao dispor da Revolução! Aí está a artilharia ao dispor da Revolução! Aí estão as fragatas ao dispor da Revolução! (Gritos e aplausos).

Não vou dizer que a Revolução tem povo, isso nem se fala, isso toda a gente sabe. Eu dizia que o povo, que antes tinha espingardinhas, já tem artilharia, tanques e fragatas, e tem muitos técnicos capacitados do Exército que nos ajudarão a maneja-las (Aplausos).

Agora sim o povo está armado! Eu lhes garanto que se quando éramos 12 homens apenas não perdemos a fé, agora que temos aí 12 tanques, como vamos perder a fé.

Quero esclarecer que hoje, nesta noite —nesta madrugada, porque é quase dia—, tomará posse da presidência da República o ilustre magistrado, doutor Manuel Urrutia Lleó (Aplausos). Tem ou não tem o apoio do povo o doutor Urrutia? (APLAUSOS E GRITOS.) Mas quer dizer que o Presidente da República, o Presidente legal é o que conta com o povo, que é o doutor Manuel Urrutia Lleó.

Quem quer o senhor Piedra para Presidente? (Vaias e gritos de: Ninguém!) Se ninguém quer o senhor Piedra para Presidente, como nos vão impor o senhor Piedra para presidente? (Vaias). Se essa é a ordem do povo de Santiago de Cuba, que é o sentimento do povo de Cuba toda, logo que concluir este comício marcharei com as tropas veteranas da Sierra Maestra, os tanques e a artilharia para a capital, para que se cumpra a vontade do povo (Aplausos).

Aqui estamos, simplesmente, às ordens do povo. O legal neste momento é o mandato do povo; o Presidente é eleito pelo povo e não por um conciliábulo em Colúmbia às 04h00 (Aplausos). O povo elegeu seu presidente e isso quer dizer que desde este instante ficou constituída a máxima autoridade legal da República (Aplausos). Nenhum dos cargos, nem das patentes que foram conferidas de acordo com a Junta Militar da madrugada de hoje têm validez alguma; todas as nomeações de cargos dentro do Exército são nulas —refiro-me a todas as nomeações que foram feitas nesta manhã—; quem aceite um cargo designado pela Junta traiçoeira desta manhã, estará assumindo uma atitude contrarrevolucionária, chame-se como se chame e, em consequência, ficará fora da lei.

Tenho a certeza absoluta de que amanhã todos os mandos militares da República terão aceitado as disposições do Presidente da República (Aplausos). O Presidente procederá logo a designar os chefes do Exército, da marinha e da polícia. Pelos altos serviços que tem prestado nesta hora à Revolução e por ter colocado seus milhares de homens à disposição da Revolução, lhe recomendamos como chefe do Exército ao coronel Rego Rubido, que é um homem... (Aplausos) Igualmente será nomeado como chefe da marinha um dos dois comandantes da fragata que primeiro se juntaram à Revolução (Aplausos), e lhe recomendei ao Presidente da República que designe para chefe nacional da polícia ao comandante Efigenio Ameijeiras, que perdeu dois irmãos, que é um dos expedicionários do "Granma" e um dos homens mais capacitados do Exército revolucionário (Aplausos). Ameijeiras está em operações em Guantánamo, mas em breve chegará aqui (Aplausos).

Só peço tempo para nós e para o Poder Civil da República, no intuito de ir realizando as coisas ao gosto do povo, porém, aos poucos (Aplausos). Só peço uma coisa ao povo, e é que tenha calma (DO PÚBLICO LHE DIZEM: "Oriente federal, Oriente capital!"). Não!, não!, a República unida sempre por em cima de todas as coisas (Aplausos). O que devemos pedir é justiça para Oriente (Aplausos). Em tudo, o tempo é um fator importante. A Revolução não se poderá... tenham a certeza de que fazemos a Revolução; tenham a certeza de que por primeira vez, de verdade, a República será inteiramente livre, e o povo terá o que merece (Aplausos). O poder não foi fruto da política, foi fruto do sacrifício de centenas e de milhares dos nossos companheiros. Não existe outro compromisso do que com o povo e com a nação cubana. Chega ao poder um homem sem compromisso com ninguém, mas com o povo exclusivamente (Aplausos).

Che Guevara (Aplausos) recebeu a ordem de avançar sobre a capital não provisória da República, e o Comandante Camilo Cienfuegos, chefe da coluna 2 "Antonio Maceo" (Aplausos), recebeu a ordem de marchar sobre a grande Havana e assumir o comando do acampamento militar de Colúmbia (Aplausos). Serão cumpridas, simplesmente, as ordens do Presidente da República e do mandato da Revolução (Aplausos).

Que não sejamos culpados dos excessos que tenham sido cometidos em Havana, nós não estávamos em Havana; das desordens acontecidas em Havana, culpe-se o general Cantillo e os golpistas da madrugada, que acreditaram que iam dominar a situação ali (Aplausos). Em Santiago de Cuba, onde se fez uma verdadeira Revolução, houve uma ordem total; em Santiago de Cuba se juntaram o povo, os militares e os revolucionários, e isso é indestrutível. (Aplausos).

A chefia do Governo, a chefia do Exército e a chefia da Marinha, estarão em Santiago de Cuba; suas ordens serão de obrigatório cumprimento para todos os mandos da República.

Esperamos que todos os militares honoráveis acatem essas disposições, porque o militar, antes do mais, está ao serviço da lei e da autoridade, não da autoridade constituída, porque muitas vezes está uma autoridade mal constituída, a autoridade legitimamente constituída. (Aplausos).

Nenhum militar honorável tem nada que temer da Revolução. Aqui nesta luta não há vencidos, porque só o povo tem sido o vencedor (Aplausos). Tem alguns mortos de um lado e do outro, mas todos nos juntamos para dar-lhe a vitória à nação. Demo-nos o abraço fraternal, os militares bons e os revolucionários (Aplausos).

Já não haverá mais sangue, espero que nenhum núcleo faça resistência; porque para além de ser uma resistência inútil e uma resistência que seria esmagada em poucos instantes, seria uma resistência contra a lei e contra a República, e contra o sentimento da nação cubana (Aplausos).

Foi preciso organizar este movimento de hoje para que não aconteça outra guerra dentro de seis meses. O quê se passou quando o Machadato? Pois que também um general de Machado deu um golpe e tirou Machado, e pôs um presidente que durou 15 dias; vieram os sargentos e disseram que aqueles oficiais eram responsáveis da ditadura de Machado e que eles o não respeitavam; cresceu a efervescência revolucionária e expulsaram os oficiais. Agora não poderá acontecer assim, agora esses oficiais têm o apoio do povo, e têm o apoio da tropa, e têm o prestígio que lhes dá o fato de ter-se juntado a um verdadeiro movimento revolucionário (Aplausos).

Esses militares serão respeitados e considerados pelo povo, e não será preciso empregar a força, nem haverá que andar com fuzis pela rua, metendo medo em qualquer um; porque a verdadeira ordem é a que tem por base a liberdade, o respeito e a justiça, e não a força. De agora em diante o povo será completamente livre e o povo sabe comportar-se devidamente, como o tem demonstrado hoje (Aplausos).

A paz de que nossa pátria precisa foi conseguida; Santiago de Cuba passou à liberdade, sem que tivesse que derramar sangue. Por isso há tanta alegria, e por isso é que os militares que hoje não ouviram e desaprovaram o golpe de Colúmbia para somar-se incondicionalmente à Revolução, merecem nosso reconhecimento, nossa gratidão e nosso respeito (Aplausos). Os institutos armados da República serão no futuro modelos de instituições, por sua capacidade, por sua educação e por sua identificação com a causa do povo. Porque os fuzis, de agora diante, só estarão sempre ao serviço do povo (Aplausos).

Não haverá mais golpes de Estado, não haverá mais guerra, porque por isso nos temos preocupado de que não aconteça agora como quando Machado. Esses senhores, que desejam mais parecido o caso da madrugada de hoje com o caso da queda de Machado, aquela vez colocaram um Carlos Manuel e agora colocaram outro Carlos Manuel (Vaias).

O que não haverá desta vez é um Batista, porque não haverá necessidade de um 4 de setembro, que destruiu a disciplina nas forças armadas, porque o que ocorreu com Batista foi que instaurou aqui a indisciplina no Exército, porque sua política consistia em bajular os partidos para diminuir a autoridade dos oficiais. Os oficiais terão autoridade, haverá disciplina no Exército, haverá um código penal militar, onde os delitos contra os direitos humanos e contra a honradez e a moral que deve ter todo militar, serão castigados devidamente (Aplausos).

Não haverá privilégios para ninguém; o militar que tenha capacidade e tenha méritos será o que ascenda, e não o parente, ou amigo, como existiu até hoje, que não foram respeitados os patamares.

Para os militares se acabará, como se acabará para os trabalhadores, toda essa exploração de contribuições obrigatórias, que nos operários é a quota sindical (Aplausos) e nos militares é o peso para a primeira Dama, e os dois pesos para isto e os dois pesos para aquilo, e acabam com o salário deles (Aplausos).

Naturalmente que o povo deve esperar tudo de nós, e vai recebê-lo. Mas falei dos militares para que eles saibam que também vão receber tudo da Revolução, todas as melhoras que jamais tiveram, porque quando não se roube o dinheiro dos orçamentos estarão muito melhor os militares do que estão hoje. O soldado não exercerá funções de polícia, o soldado estará em seu treino, em seu quartel, não terá que estar exercendo funções de polícia.

Nós (gritos de: “Radiopatrulha!”) De radiopatrulha nada (Aplausos), embora desejo esclarecer que neste momento os rebeldes andamos com radiopatrulhas, porque necessitamos delas, mas as radiopatrulhas agora não levam detrás os esbirros, nem nada de isso, nada de assassinos, nem nada de travações diante das casas e a batedeira à meia-noite (Gritos e aplausos).

Tenho a certeza de que logo que tome posse e assuma o mando o Presidente da República decretará o restabelecimento das garantias, e a absoluta liberdade de imprensa e todos os direitos individuais no país (Aplausos), todos os direitos sindicais, e todos os direitos e todas as demandas dos nossos camponeses e do nosso povo em geral.

Não esqueceremos os nossos camponeses da Sierra Maestra e de Santiago de Cuba (Aplausos); não iremos viver em Havana, esquecidos de todos, onde eu quero viver é na Sierra Maestra (Aplausos). Pelo menos, na parte que me corresponda, por um sentimento bem profundo, de gratidão, não esquecerei aqueles camponeses, e logo que tiver um momento livre verei onde fazemos a primeira cidade escolar, com espaço para 20 000 crianças (Aplausos). E a construiremos com a ajuda do povo; os rebeldes vão trabalhar ali e vamos pedir a cada cidadão uma saca de cimento e uma barra de ferro, (Aplausos e gritos de: “Sim!, sim!”). E eu sei que obteremos a ajuda de nossa cidadania (Aplausos).

Não esqueceremos nenhum dos setores de nosso povo (Do público lhe dizem: Viva Crescencio Pérez!)

Viva Crescencio Pérez que perdeu um filho nos dias finais da guerra!

A economia do país logo será restabelecida. Neste ano seremos os que cuidemos da cana-de-açúcar, para que não se queime, porque este ano os impostos do açúcar não servirão para comprar armas homicidas, e bombas e aviões para bombardear o povo (Aplausos).

Cuidaremos as comunicações e já, desde Jiguaní até Palma Soriano, a linha telefônica ficou restabelecida e a via férrea será restabelecida. Haverá safra em todo o país e haverá bons salários, porque eu sei que esse é o propósito do Presidente da República. E haverá bons preços porque, precisamente, o medo a que não tivesse safra aumentou os preços do mercado mundial; e os camponeses poderão tirar seu café, e os criadores de gado poderão vender suas reses gordas em Havana, porque afortunadamente o triunfo chegou a tempo, para que não haja ruínas de natureza alguma.

Não é a mim a quem lhe corresponde falar destas coisas. Vocês sabem que somos homens de palavra e que o que prometemos o cumprimos, e queremos prometer menos do que vamos cumprir, não mais, senão menos do que vamos cumprir e há mais do que ofereçamos ao povo de Cuba (Aplausos).

Não acreditamos que todos os problemas vão ser resolvidos facilmente, sabemos que o caminho está trilhado de obstáculos, mas somos homens de fé, que nos enfrentamos sempre às grandes dificuldades (Aplausos).

O povo poderá ficar seguro de uma coisa, que é que podemos equivocar-nos uma e muitas vezes, o único que não poderá dizer jamais de nós é que roubamos, que traímos, que fizemos negócios sujos, que usamos o favoritismo, que usamos os privilégios (Aplausos). E eu sei que o povo perdoa os erros e o que não perdoa são as sem-vergonhices, e os que tivemos foram sem-vergonhas (Aplausos).

Ao assumir como presidente o magistrado, doutor Manuel Urrutia Lleó, a partir desse instante, quando jure perante o povo a presidência da República, ele será a máxima autoridade do nosso país (Aplausos). Ninguém pense que eu pretendo exercer faculdades aqui por em cima da autoridade do Presidente da República; eu serei o primeiro acatador das ordens do Poder Civil da República e o primeiro em dar o exemplo (Aplausos). Cumpriremos simplesmente suas ordens, e, dentro das atribuições que nos conceda, tentaremos fazer o mais possível por nosso povo, sem ambições, porque afortunadamente somos imunes às ambições e à vaidade. Que maior glória do que o carinho do nosso povo! Que maior prêmio do que esses milhares de braços que se agitam plenos de esperanças, de fé e de carinho para conosco! (Aplausos).

Nunca nos deixaremos arrastrar pela vaidade nem pela ambição, porque como disse nosso Apóstolo: "toda a glória do mundo cabe em um grão de milho", e não há satisfação nem prêmio maior do que cumprir com o dever, como o fizemos até hoje e como o faremos sempre. E nisto não falo em meu nome, falo em nome dos milhares e milhares de combatentes que fizeram possível a vitória do povo (Aplausos); falo do profundo sentimento de respeito e de devoção para com nossos mortos, que não serão esquecidos. Os mortos terão em nós os mais fiéis companheiros. Desta vez não se poderá dizer como noutras vezes que se traiu a memória dos mortos, porque os mortos continuarão mandando. Fisicamente não estão aqui Frank País, Josué País, Pepito Tey, nem tantos outros, mas estão moralmente, estão espiritualmente, e só a satisfação de saber que o sacrifício não tem sido em vão, compensa o imenso vazio que deixaram no caminho (Aplausos). Suas sepulturas continuarão tendo flores frescas! Seus filhos não serão esquecidos, porque os familiares dos mortos serão ajudados! (Aplausos).

Os rebeldes não cobraremos salário pelos anos que estivemos lutando e nos sentimos orgulhosos de não cobrar salários pelos serviços que lhe abonamos à Revolução, em câmbio, é possível que continuemos cumprindo nossas obrigações sem cobrar salários, porque se não há dinheiro, não importa, porém, existe vontade, e faremos o que for necessário (Aplausos).

Mas também quero aqui repetir o que disse em "A História Absolver-me-á", que é que velaremos porque não lhes faltem o sustento, nem a assistência, nem a educação aos filhos dos militares que morreram lutando contra nós, porque eles não têm culpa dos horrores da guerra (Aplausos). E seremos generosos com todos, porque, repito, aqui não houve vencidos, mas vencedores. Serão punidos apenas os criminais de guerra, porque esse é um dever incontornável com a justiça, e esse dever, o povo pode ter certeza de que o cumpriremos (Aplausos). E quando haja justiça, não haverá vingança. Para que amanhã não existam atentados contra ninguém, tem que haver justiça hoje; como haverá justiça não haverá vingança nem haverá ódio. O ódio o desterraremos da República, como uma sombra maldita que nos deixou a ambição e a opressão (Aplausos).

Triste é que fugissem os grandes culpados, não faltam milhares de homens que desejem persegui-los, mas temos de respeitar as leis de outros países. Para nós seria fácil, porque voluntários, temos a mais para perseguir a esses delinquentes e homens que estejam dispostos a correr risco de vida. Mas não queremos aparecer como um povo que viole as leis dos demais povos. As respeitaremos enquanto forem respeitadas as nossas. Porém, verdade é que se em São Domingos começam a conspirar contra a Revolução (Gritos de: “Trujillo!”). Sim, Trujillo. Eu pensei, em algum momento, que Trujillo nos fizera dano vendendo armas para Batista, e o dano que fez não foi porque vendesse armas, senão porque vendeu armas tão más que caíram em nossas mãos e não serviam para nada (RISAS). Não obstante, vendeu bombas, e com as bombas foram assassinados muitos camponeses. Não dão nem vontades de devolver-lhe as carabinas porque não prestam, senão de devolver-lhe algo melhor.

É lógico, em primeiro lugar, que os perseguidos políticos de São Domingos terão aqui sua melhor casa e seu melhor asilo, e os perseguidos políticos de toda a ditadura terão aqui sua melhor casa e a maior compreensão, porque fomos perseguidos políticos.

Se São Domingos se converte em arsenal da contrarrevolução, se São Domingos se converte em base de conspirações contra a Revolução Cubana, se esses senhores se dedicam desde lá a fazer conspirações, mais vale que saiam logo de São Domingos, porque ali também não vão estar muito seguros (Aplausos). E não seremos nós, porque não temos que meter-nos nos problemas de São Domingos, é que os dominicanos aprenderam do exemplo de Cuba e as coisas vão ficar por ali muito sérias. Os dominicanos aprenderam que é possível lutar contra a tirania e derrotá-la, e este exemplo é o que mais temiam, precisamente, os ditadores; exemplo alentador para América que acaba de produzir-se em nossa pátria (Aplausos).

A América toda vela pelo curso e o destino desta Revolução; toda ela tem seus olhos colocados em nós, toda ela nos acompanha com seus melhores desejos de triunfo, toda ela nos apoiará em nossos momentos difíceis. Esta alegria de hoje não só é em Cuba, mas na América toda. Como nós nos alegramos quando tem caído um ditador em América Latina, eles também se alegram hoje pelos cubanos.

Devo concluir ainda que é enorme o cúmulo de sentimentos e de ideias que com a desordem, o barulho e a emoção de hoje acodem a nossa mente. Dizia —e ficou sem concluir aquela ideia— que haveria justiça e que era lamentável que tivessem fugido os grandes culpados, por culpa de quem, já sabemos, porque o povo sabe quem é o culpado de que tenham escapado, e que deixassem aqui não vou dizer aos mais infelizes mas sim aos mais torpes, aos que não tinham dinheiro, aos homens de fila que obedeceram as ordens dos grandes culpados; deixaram fugir aos grandes culpados para que o povo saciasse sua ira e sua indignação com os que têm menos responsabilidade. Ainda que está bem que sejam castigados desta vez para que aprendam.

Sempre acontece a mesma coisa, o povo lhes adverte que os grandes saem e eles ficam, contudo, sempre acontece a mesma coisa, os grandes vão embora e os outros ficam, portanto, que sejam castigados também (Aplausos). Se os grandes forem embora, também terão seu castigo; duro, muito duro é ter que viver afastado da pátria por toda a vida, porque quando menos serão condenados ao ostracismo por toda a vida os criminais e os ladrões que fugiram precipitadamente.

Tomara conseguíssemos ver por um buraquinho —como diz o povo— ao senhor Batista nestes momentos! O valentão, o homem soberbo que não pronunciava um só discurso se não era para chamar de covardes, miseráveis e bandidos a todos os outros! Aqui nem sequer se chamou de bandido a ninguém, aqui não reina nem se respira o ódio, a soberba nem o desprezo, como naqueles discursos da ditadura. Aquele homem que diz que quando entrou em Colúmbia levava uma bala na pistola (Gritos), marchou-se em horas da madrugada em um avião com uma bala na pistola (Gritos). Ficou demonstrado que os ditadores não são tão temíveis nem tão suicidas, e que quando chega a hora em que estão perdidos, fogem covardemente. Realmente lamentável é que fugira quando poderia ter sido prisioneiro, e se tivéssemos detido a Batista lhe tivéssemos tirado os 200 milhões de pesos que ele roubou (Aplausos). Reclamaremos o dinheiro tenha-o onde o tiver, porque não são delinquentes políticos, mas delinquentes comuns! E vamos ver os que apareçam nas embaixadas, se é que o senhor Cantillo não lhes deu já salvo-conduto. Vamos distinguir entre os delinquentes políticos e os delinquentes comuns; asilo para os delinquentes políticos, nada para os delinquentes comuns. Asilo para os delinquentes políticos, nada para os delinquentes comuns. Têm que ir perante os tribunais e demonstrar que são delinquentes políticos, e se for demonstrado que são delinquentes comuns, que os entreguem às autoridades (Gritos de: “Mujal!, Mujal!”). E Mujal, apesar do grande e do gordo que é, não se sabe onde está nestes momentos (Gritos). Ninguém tem notícias. Como fugiram! Não me explico como vocês ainda se lembram desses infelizes! (Risos). Finalmente o povo se libertou de toda essa canalha.

Agora falará quem quiser, bem ou mal, mas falará quem quiser. Não é como acontecia aqui, que falavam apenas eles e falavam mal (Gritos). Haverá liberdade absoluta, porque para isso foi feita esta Revolução; liberdade inclusive para nossos inimigos, liberdade para que nos critiquem e nos ataquem; que sempre será um prazer falar quando nos combatem com a liberdade que ajudamos a conquistar para todos (Aplausos). Nunca os ofenderemos, sempre nos defenderemos e seguiremos só uma norma, a norma do respeito ao direito e aos pensamentos dos outros.

Esses nomes que aqui foram mencionados, essa gente não sabe em que embaixada, em que praia, em que navio, aonde foram dar. Baste-nos saber que nos safamos deles, e que se tiverem alguma casinha, alguma pequena fazenda, ou alguma vaquinha por aí, simplesmente teremos que confiscá-la.

Porque devo advertir que os funcionários da tirania, os representantes, os senadores, os que não roubaram particularmente, mas que cobraram os salários, terão que devolver até o último centavo do que cobraram nestes quatro anos, porque cobraram ilegalmente e terão que devolver à República o dinheiro que cobraram todos esses senadores, esses representantes, e se o não devolverem, lhes confiscaremos as propriedades que tiverem.

Isso, além do que tenham roubado, porque aquele que roubou, a esse não lhe ficará nada produto do roubo, porque essa é a primeira lei da Revolução. Não é justo que se mande para o cárcere um homem que roubou uma galinha, ou um peru e que os que se roubam milhões de pesos estejam encantados da vida por aí (Aplausos). E que andem com cuidado! E que andem com cuidado os ladrões de hoje e de ontem, que andem com cuidado porque a lei revolucionária pode cair sobre os ombros de todos os culpados de todos os tempos, porque a Revolução chega à vitória sem compromissos com ninguém no absoluto, senão com o povo, que é ao único ao que deve sua vitória (Aplausos). ***

Vou concluir (Gritos de: "Não!"), vou concluir por hoje (Gritos de: “Não!”). Bom, lembrem que tenho de marchar imediatamente, é minha obrigação, e vocês levam muitas horas parados (Gritos de: “Não!, Não!”).

Vejo tantas bandeiras vermelhas e negras nos vestidos das nossas companheiras, que realmente se nos torna difícil abandonar esta tribuna, onde temos experimentado, todos os que estamos aqui presentes, a mais grande emoção das nossas vidas (Gritos e aplausos).

Não podemos menos do que recordar Santiago de Cuba com carinho inesquecível. As vezes que nos reunimos aqui, um comício lá na Alameda; um comício cá em uma avenida, (Gritos de: “Trocha!”). Em Trocha, onde falei um dia que se nos arrebatavam os direitos pela força, cambiaríamos as vassouras pelos fuzis (Aplausos). E culparam Luis Orlando daquelas declarações, eu me calei a boca. No jornal saiu que era Luis Orlando quem as fizera e era eu que as fizera, mas não estava muito seguro de se estavam bem-feitas, porque naquela época não havia... (RISOS). E resultou que tivemos de mudar tudo, os estudantes, seus livros e seus lápis, pelos fuzis; os camponeses, seus instrumentos de lavoura pelo fuzil e todos tivemos de mudar tudo pelo fuzil. Afortunadamente, a tarefa dos fuzis tem cessado. Os fuzis serão guardados onde estejam ao alcance dos homens que terão o dever de defender nossa soberania e nossos direitos.

Mas quando nosso povo se veja ameaçado, não combaterão só os 30 000 ou 40 000 membros das Forças Armadas, mas lutarão os 300 000 ou 400 000, ou 500 000 cubanos, homens e mulheres que aqui podem lutar (Aplausos). Haverá as armas necessárias para que aqui se arme todo aquele que quiser combater quando chegue a hora de defender nossa soberania (Aplausos). Porque está demonstrado que não só lutam os homens, mas também lutam as mulheres em Cuba (Aplausos), e a melhor prova é o pelotão "Mariana Grajales", que tanto se distinguiu em numerosos combates (Aplausos). E as mulheres são tão excelentes soldados como nossos melhores soldados homens (Aplausos).

Eu queria demonstrar que as mulheres podiam ser bons soldados. Ao princípio a ideia deu-me muito trabalho porque existiam muitos prejuízos. Tinha homens que diziam que como enquanto houvesse um homem com uma espingarda ia ser dado um fuzil a uma mulher? E por que não?

Eu queria demonstrar que as mulheres podiam ser tão bons soldados e que existiam muitos prejuízos com relação à mulher, e que a mulher é um setor do nosso país que precisa também ser redimido, porque é vítima da discriminação no trabalho e em outros muitos aspectos da vida (Aplausos).

Organizamos as unidades de mulheres, que demonstraram que as mulheres podem combater, e quando em um povo combatem os homens e podem combater as mulheres, esse povo é invencível.

Manteremos organizadas as milícias ou a reserva de combatentes femininas e as manteremos treinadas, todos os voluntários (Aplausos). E estas jovens que hoje vejo com os vestidos negro e vermelho, do movimento 26 de julho, eu aspiro a que aprendam também a manejar as armas (Aplausos).

E esta Revolução, compatriotas, que foi feita com tanto sacrifício, nossa Revolução, a Revolução do povo, é já formosa e indestrutível realidade! Quanto motivo de fundado orgulho, quanto motivo de sincera alegria e esperanças para todo nosso povo! Sei que não é apenas aqui, em Santiago de Cuba; é desde a ponta de Maisí até o cabo de San Antonio.

Ardo em esperanças de ver o povo em todo nosso percurso até a capital, porque sei que é a mesma esperança, a mesma fé de um povo inteiro que se levantou, que suportou paciente todos os sacrifícios, que não se importou com a fome; que quando demos licença três dias para que fossem restabelecidas as comunicações, para que não passasse fome, toda a gente protestou (Aplausos). É verdade, porque o que queriam era conseguir a vitória custasse o que custasse. E este povo todo bem merece um destino melhor, bem merece alcançar a felicidade que não tem conseguido em seus 50 anos de República; bem merece tornar-se um dos primeiros povos do mundo, por sua inteligência, por seu valor, por seu espírito (Aplausos).

Ninguém pode pensar que falo demagogicamente, ninguém pode pensar que desejo enganar o povo; demonstrei suficientemente minha fé no povo, porque quando vim com 82 homens às praias de Cuba e a gente falava que nós estávamos loucos e nos perguntavam que por que pensávamos ganhar a guerra, eu disse: "porque temos o povo" (Aplausos).

E quando fomos derrotados pela primeira vez, e ficamos um punhado de homens e persistimos na luta, sabíamos que esta seria uma realidade, porque acreditamos no povo; quando nos dispersaram cinco vezes no espaço de 45 dias, e nos voltamos a reunir e reiniciamos a luta, era porque tínhamos fé no povo, e hoje é a mais palpável demonstração de que aquela fé era fundamentada (Aplausos).

Tenho a satisfação de ter acreditado profundamente no povo de Cuba e de ter-lhes inculcado essa fé aos meus companheiros; essa fé que mais que uma fé é uma certeza total nos nossos homens. E essa mesma fé que nós temos em vocês, é a fé que nós queremos que vocês tenham em nós sempre (Aplausos).

A República não foi livre em 1895 e o sonho dos mambises se frustrou na última hora; a Revolução não se realizou em 1933 e foi frustrada por seus inimigos. Desta vez a Revolução tem o povo todo, tem todos os revolucionários, tem os militantes honoráveis. É tão grande e tão imparável sua força, que desta vez o triunfo está garantido!

Podemos dizer com júbilo que nos quatro séculos de fundada nossa nação, por primeira vez seremos completamente livres e a obra dos mambises será cumprida (Aplausos).

Há poucos dias, em 24 de fevereiro, me foi impossível resistir à tentação de ir visitar a minha mãe, a qual não via havia vários anos. Quando regressava pelo caminho que cruza através das Mangas de Baraguá, em horas da noite, um sentimento de profunda devoção nos fez parar ali, aos que viajávamos no veículo, naquele lugar onde se levanta o monumento que comemora a Protesta de Baraguá e o início da Invasão. Naquela hora, a presença naqueles sítios, o pensamento sobre aquelas proezas das nossas guerras de independência, a ideia de que aqueles homens tivessem lutado durante 30 anos para não ver alcançados seus sonhos porque a República se frustrara, e o pressentimento de que muito em breve a Revolução que eles sonharam, a pátria que eles sonharam seriam realidade, nos fez experimentar uma das sensações mais emocionantes que possam ser concebidas.

Via reviver aqueles homens com seus sacrifícios, com aqueles sacrifícios que nós temos conhecido também de perto; pensava em seus sonhos e suas ilusões, que eram os sonhos e as ilusões nossas, e pensei que esta geração cubana há de render e tem rendido já o mais fervoroso tributo de reconhecimento e de lealdade aos heróis de nossa independência.

Os homens que morreram em nossas três guerras de independência juntam hoje seu esforço com os homens que morreram nesta guerra, e a todos nossos mortos nas lutas pela liberdade podemos dizer-lhes que finalmente chegou a hora em que seus sonhos sejam cumpridos.

Chegou a hora de que por fim vocês, nosso povo, nosso povo bom e nobre, nosso povo que é todo entusiasmo e fé, nosso povo que quer grátis, que confia grátis, que teme aos homens com carinho para além de seus oferecimentos, terá o que necessita (Aplausos).

E só aqui me resta dizer-lhes, com modéstia, com sinceridade, com profunda emoção, que em nós, em seus combatentes revolucionários, sempre terão servidores leais, que só terão por divisa servir-lhes (Aplausos).

Hoje, ao tomar posse da presidência da República o doutor Manuel Urrutia Lleó, o magistrado que disse que a Revolução era justa (Aplausos), ponho em suas mãos as faculdades legais que tenho exercido como máxima autoridade dentro do território libertado que já é hoje toda a pátria; assumirei simplesmente as funções que ele me assigne, em suas mãos fica toda a autoridade da República (Aplausos).

Nossas armas se inclinam respeitosas perante o Poder Civil na República civilista de Cuba (Aplausos). Não tenho que dizer-lhe que esperamos que cumpra com seu dever, porque simplesmente temos a certeza de que saberá cumpri-lo.

Ao presidente provisório da República de Cuba cedo minha autoridade, e passo o uso da palavra ao povo.

Muito Obrigado.

(OVAÇÃO)

VERSÕES TAQUIGRAFICAS - CONSELHO DE ESTADO