Discursos e Intervenciones

Discurso proferido pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz na comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores, celebrada na Praça da Revolução “José Martí”, em 1º de maio de 1964

Fecha: 

01/05/1964

 

Trabalhadores:

Hoje, quando víamos marchar nossos trabalhadores, víamos também nesse desfile a expressão de cinco anos de Revolução.

Hoje temos visto graficamente a história destes cinco anos, as mudanças, os avanços destes cinco anos. E assim os trabalhadores nos faziam lembrar o Ano da Liberdade, o Ano da Reforma Agrária, o Ano da Educação, o Ano da Organização e o Ano da Economia, e nos vinham fazendo lembrar os esforços de nosso povo nestes anos e os triunfos de nosso povo nestes anos.

O Ano da Liberdade nos fazia lembrar não só a liberdade conquistada por nosso povo contra a opressão, destruindo o sistema de governo corrupto e sanguinário, mas também a liberdade que tivemos que sustentar e defender nestes cinco anos; as grandes mudanças em nossa economia, os avanços no campo da educação. Saber, como sabemos, não já só que foi erradicado o analfabetismo em nosso país, mas que já hoje nosso povo, cinco anos após ter triunfado a Revolução, está travando a batalha da sexta série (APLAUSOS).

E talvez uma das coisas mais reveladoras e impressionantes, e ao mesmo tempo empolgantes, seja escutar o que dizia uma companheira dirigente do Sindicato Nacional do Ensino quando desfilava a representação dos alunos da faculdade operária; e nos dizia:  “alguns desses estudantes da faculdade operária eram analfabetos antes do triunfo da Revolução” (APLAUSOS). Isso mostra o que tem avançando nosso país em organização e do qual estes atos são prova e expressão cabais.

E hoje por nossas mentes cruzavam todos os dias vividos nestes anos, as fotos dos mártires, dos heróis, brigadistas mártires, professores mártires, operários, camponeses, heróis da pátria, homens que deram suas vidas pelos triunfos de sua pátria.

E por último, realmente impressionante foi o desfile do batalhão de mães e filhos (APLAUSOS) representando os primeiros homens chamados ao Serviço Militar Obrigatório (APLAUSOS), essa lei que tantos benefícios trará ao nosso país e, sobretudo, à nossa juventude; essa instituição não só necessária nesta hora mas também educadora, para ajudar-nos a polir alguns defeitos que ainda nos restam, e talvez esse defeito da indisciplina, da desorganização, essas coisas que nos vêm do caráter que nos quiseram fazer e da mentalidade que nos quiseram impor. E essa instituição vem precisamente a pôr essa nota de disciplina, de hábitos de disciplina, tão necessários aos povos, tão necessários aos jovens.

E assim se pode perceber, um dia como hoje, o que temos avançado.

Não tenho enumerado, nem muito menos, o trecho percorrido, más só alguns aspectos desse trecho. Por acaso isso quer dizer que nos sintamos satisfeitos? Não! Que já temos atingido o bastante? Não! Tudo ao contrário, o que temos conseguido só há de servir-nos para propor-nos avanços ainda mais altos. Muito nos falta por fazer, muito nos falta por percorrer, mas o iremos fazendo, o iremos conseguindo.

Ainda não podemos sentir-nos orgulhosos; talvez nunca cheguemos a estar orgulhosos, talvez nunca cheguemos a estar satisfeitos, e sempre o povo terá por diante novas e novas aspirações, novas e novas tarefas. E, por fortuna, a vida nos apresenta esse incentivo, o incentivo de ter muitas coisas por diante que conseguir, de ter muitas coisas por diante que conquistar. E se um dia nosso incentivo foi liquidar o analfabetismo, depois nosso incentivo foi conseguir que cada trabalhador atingisse a sexta série, e depois o incentivo será que cada cidadão curse até o ensino de segundo grau (APLAUSOS).

E assim, quantas vezes atinjamos uma meta, novas metas aparecerão perante nossos olhos.

Pode dizer-se que o tempo não se perdeu. Há aqueles que acusavam a Revolução de andar demasiado depressa. É pena que não possa andar ainda mais depressa! (APLAUSOS.)

Tínhamos pressa porque havíamos perdido mais de 50 anos e devíamos recuperar o tempo perdido. E, por isso, temos que multiplicar cada ano, cada ano de Revolução deve significar vários anos de avanço e de progresso.

Os revolucionários somos impacientes e os revolucionários não podemos sentir-nos facilmente satisfeitos. Mas vamos avançando. Por diante ainda temos problemas, temos por diante perigos. Sim, perigos, trabalho, mas isso não nos desalenta. Há algo que podemos dizer, e é que estamos vencendo (APLAUSOS); e há algo que podemos assegurar, há algo que podemos assegurar, e é que jamais seremos vencidos (APLAUSOS).

As revoluções têm pela frente este tipo de luta, um tipo especial de luta, e nas revoluções os povos não admitem nem conhecem alternativa que a da vitória.

Realmente, aquilo que disse Karl Marx, no século passado, de que “os proletários não tinham outra coisa que perder que não fossem suas correntes” (APLAUSOS), explica por que os povos revolucionários não têm alternativa, nem a conhecem, do que a vitória, porque não têm nada que perder a não ser suas correntes, suas misérias; e, em troca, têm um mundo a ganhar.

Não é o caso dos imperialistas, não é o caso dos milionários ianques: esses têm muito que perder. E é por isso que os milionários ianques e seus representantes não nos podem intimidar, não nos podem chantajear. Porque são duas concepções diferentes da vida, duas atitudes diferentes perante a vida.

Os imperialistas — e falo do imperialismo fundamental, que é o imperialismo ianque — assumiram algum tipo de complexo com a Revolução Cubana, uma sorte de mania que lhes veio tirando, cada vez mais, a tranquilidade e o sono.  E aparentemente não fazem mais que pensar e pensar na Revolução Cubana, e parece mentira que um país tão pequeno lhes produza tanta sossobra e tamanho temor aos senhores governantes de um país grande e que se diz poderoso e rico, e que é efetivamente poderoso e rico.

Eu queria mostrar um exemplo de até que ponto chega o delírio, a mania, o complexo que os imperialistas criaram em relação a nós e, ao mesmo tempo, até que grau chega a hipocrisia desses senhores.

Ontem, dia 30, nas vésperas deste 1º de Maio, apareceu uma declaração do Departamento de Estado norte-americano. De que falava? De aviões U-2?  Não: Acusaba Cuba de estar promovendo a subversão? Não! Era uma estranha declaração, falava de problemas econômicos. O que dizia? Vou ler para vocês (APLAUSOS).

Dizia: “Washington, 30 de abril. O Departamento de Estado acusou hoje Cuba de estimar deliberadamente uma safra açucareira muito baixa, em um esforço por manter uma pressão de aumento dos preços. Em um comunicado lido em uma reunião com a imprensa, o funcionário do Departamento de Estado disse que as estimativas dos Estados Unidos sobre a safra de açúcar cubana eram mais altas que as do regime de Castro”.

“O funcionário disse que os Estados Unidos pensavam que a produção açucareira de Cuba neste ano seria, pelo menos, similar à do ano passado, quer dizer, de 3,8 milhões de toneladas métricas”.

“A comunicação lida pelo senhor Richard Hill, funcionário do Departamento, dizia: 'Temos motivos para pensar que os cubanos estão tentando manter uma pressão à alta no preço do açúcar, por meio da realização de transações inexplicáveis e também deixando trasluzir deliberadamente baixas estimativas em relação com a safra do presente ano’”.

“Nossos motivos para pensar isso são que os cubanos dizem que sua produção até 31 de março foi de 1,95 milhão de toneladas. Temos informações confiáveis de que a produção em 31 de março foi realmente de entre 2,3 e 2,5 milhões de toneladas. Se a produção dos cubanos, em 31 de março fosse aceita como real, isto significaria que sua produção média diária no mês de março foi só de 19 mil toneladas, enquanto a produção durante a segunda quinzena de fevereiro foi de 36 mil toneladas por dia”.

Assim que nós lemos esta notícia, dizemos: Que estranho, isto é muito raro! Se eles têm estado todos estes anos dizendo que a Revolução vai de mal para pior, e que a economia vai “em queda” e agora aparecem dizendo que quando menos é igual que a do ano passado; e isto apesar de que — como vocês lembrarão — na passagem do furacão espalharam infinidade de rumores, externando sua alegria pelo furacão e dizendo: “a economia cubana afundou”.

É necessário contestar esta declaração e eu penso que é uma boa chance este 1º de Maio para contestar esta declaração (APLAUSOS).

Em primeiro lugar, é falso que o governo de Cuba tenha dado nenhuma estimativa acerca de sua produção de açúcar; o Governo Revolucionário não tem feito nenhuma declaração nesse sentido, porque nós em matéria de açúcar mantemos e manteremos uma discrição açucareira (APLAUSOS). Vamos ser discretos em matéria de açúcar; não é nosso desejo dizer-lhes quanto açúcar produzimos (APLAUSOS). Que importa isso a eles, para que querem saber!  Esse é um problema nosso e um segredo nosso. Portanto, por agora e durante o tempo que seja necessário, manteremos uma discrição açucareira.

Quem são os que estiveram dando estimativas sobre a produção de açúcar?  Eles, eles; eles são os que têm estado dizendo que nossa produção era mais baixa, mais baixa e mais baixa. E assim, em 27 de novembro de 1963, o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos disse que nossa produção viria a ser de 3.629.000 toneladas. Em 30 de janeiro de 1964, Willies Gree, editor do Weekly Statistical Sugar Trade Journal, de Nova York, disse: que a produção de Cuba seria de 3,1 milhões de toneladas. Reparem. Em 25 de marzo de 1964, Julio Lobo — que é um dos “cérebros cinzentos” das especulações açucareiras — informou ao mercado que sua estimativa de produção cubana seria de 3,3 milhões de toneladas. Em 16 de abril de 1964, uma informação da UPI analisa a “desastrosa safra de Cuba”, e indica que será de menos de 3,8 milhões. Outra informação da UPI, de 25 de abril de 1964, analisa que será também de 3,3 milhões. Outra notícia que diz que será de 3,3 milhões.

Quem são os que têm estado dizendo que nossa produção ia ser uma produção muito baixa? Os Estados Unidos, os porta-vozes do governo dos Estados Unidos, as revistas do Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, as companhias comerciais. Mas, então, por que agora dizem o contrário, e agora dizem que será de pelo menos 3,8 milhões? Vamos explicar isso.

Em primeiro lugar, por uma questão de propaganda. Sempre têm estado fazendo a campanha de que o Governo Revolucionário destruiu a economia cubana, que é precisamente o que eles queriam fazer por todos os meios, com bloqueios, pressões de todo o tipo. Mas, apesar de todo seu poderio e de toda sua influência, não conseguiram destruir a economia cubana. Isso, naturalmente, lhes dói, e então estiveram montando uma incessante campanha contra a Revolução nesse sentido, como dizendo: “aqueles burgueses exploradores, aqueles eram uns magníficos economistas”; os Lobo e seus parceiros e todas as companhias americanas, e todos os exploradores que aqui saqueavam o povo e levavam o dinheiro para fora, esses, esses sim, esses eram uns economistas maravilhosos: enchiam os bolsos dos milionários e os bolsos dos monopólios. Mas, ainda, eles estavam interessados em evitar que Cuba obtivesse créditos, que Cuba comprasse maquinarias. Como vocês sabem, uma das coisas que o imperialismo tentou destruir é nosso transporte, proibindo as vendas de peças a caminhões que eram de fabricação norte-americana. Vejam que estes senhores não jogam limpo em nada... Será que anda mal o transporte? Sim! Infelizmente a maioria dos caminhões era de procedência ianque, a maior parte; e quando os ingleses, que nos tinham vendido antes alguns ônibus, nos venderam peças para esses ônibus e nos venderam ônibus novos, eles formaram tamanho escândalo, tamanho protesto. Bem: eles estavam tentando travar todas as gestões de Cuba.

Contudo, por que agora dizem que nossa safra vai ser, pelo menos, igual que a do ano passado? Simplesmente vou explicar isso: é um truque, é um engano que o governo de Estados Unidos quer fazer. Por quê? Porque aqueles que têm estado fazendo uma política especulativa no açúcar são os Estados Unidos. Relativamente a Cuba aos Estados Unidos todos os tiros lhe saíram pela culatra; mas um desses tiros que saiu mais direto para trás foi o tiro das agressões açucareiras. Eles nos tiraram a cota, de cerca de 3 milhões que lhes vendíamos, tiraram-na de um golpe e disseram: “com isto eles afundam”. Essa foi uma das causas precisamente pelas quais o país, de repente, se deparou com grandes volumes de açúcar, e a necessidade de buscar mercados e a atenção à cana perdeu estímulo, e se reduziu a área de produção canavieira; depois as realidades demonstraram a possibilidade de ter mercados, não só para o açúcar que tínhamos antes, mas também para muito mais açúcar e de novo se iniciou um trabalho de incremento da produção açucareira.

Mas, quem pagou os pratos rotos? Eles. Ao substrair Cuba esse açúcar —tirado pela força, porque eles nos tiraram a cota — e ao enviar Cuba esse açúcar ao bloco socialista, unido ao incremento do consumo de açúcar no mundo e ao fato de que os americanos tinham que comprar no mercado mundial esse açúcar que antes compravam a Cuba, os preços subiram extraordinariamente. Os assessores políticos e econômicos de Washington, muito sabidos, com o que pensaram que nos iam arruinar não nos arruinaram; os preços subiram, Cuba tem feito magníficos contratos açucareiros, e assim nos desforramos da agressão que nos tinham feito com o açúcar (APLAUSOS). Quiseram arruinar-nos, e se continuarem arruinando-nos assim, nos vão tornar ricos!

E então, que aconteceu com eles? O açúcar ficou cada vez mais caro e tiveram que gastar centenas de milhões de dólares em excesso, comprando açúcar mais caro. Caramba!, possivelmente isso os perturbou um pouco. Mas neste ano estava também o preço alto; houve momentos em que o preço subiu até 12 centavos. O que é que eles fizeram? Anunciaram seu programa de compra de açúcar, mas anunciaram um programa falso, uma estimativa falsa de suas necessidades; fizeram um cálculo de pelo menos 18.400 toneladas menos das que realmente necessitam. Para que? Para influir nos preços, para baixar os preços. E que resultou? Que neste momento os Estados Unidos têm que comprar ainda grandes volumes de açúcar, e determinados países, como Brasil, Peru, México, Santo Domingo e outros países, têm reservado quantidades de açúcar para vendê-las aos Estados Unidos; então eles andam muito preocupados de que o preço possa se disparar. Querem comprar açúcar barato, e então agora dizem o contrário do que têm estado dizendo sempre. Então dizem que nossa produção de açúcar vai ser quando menos de 3,8, que a produção de açúcar de Cuba vai ser alta, e acusam Cuba de que está fazendo pressões para que aumentam os preços. Não vamos negar que nós gostamos dos preços altos, claro que nós gostamos dos preços altos; o açúcar é nosso principal produto, fonte principal de nossas divisas, e desejamos que o açúcar tenha bons preços. Mas, contudo, a política que Cuba propugna é uma política de convênios em longo prazo, com preços garantidos, como o convênio que fizemos com a União Soviética (APLAUSOS).

E Cuba está disposta a comerciar sobre essa base. Cuba não está interessada nos preços especulativos do açúcar, a Cuba não lhe interessa que um ano os preços estejam a 10 e no outro ano estejam a três. O país que subscrever com Cuba um convênio de compra em longo prazo, de açúcar, convênio que por sua vez inclui as compras que Cuba está interessada em fazer nos países que compram a Cuba, os consumidores de outros países não estaria a mercê das jogadas da bolsa nem das especulações açucareiras. A política que Cuba promove é uma política de convênios em longo prazo, com preços estáveis e preços satisfatórios, tanto para os consumidores quanto para os produtores.  Essa é a política que Cuba propugna.

Qual foi o pretexto do qual eles lançaram mão para realizar esta manobra de queda dos preços? Vamos explicar. Porque aqui temos que falar sobre o açúcar primeiramente a eles, em segundo lugar aos nossos clientes e em terceiro lugar ao povo.

O motivo foi o fato de que Cuba fez algumas compras de açúcar. Então, armaram um grande escândalo: “Cuba comprou alguns milhares de toneladas de açúcar.” Cuba comprando açúcar! Como é isso? Muito simples; Cuba vendeu muito açúcar, Cuba tem vendido para este ano — e vou dizer o que temos vendido — 3,84 milhões de toneladas de açúcar (APLAUSOS).

Tínhamos clientes, tínhamos que atender aos nossos clientes e garantir o açúcar para eles, e nós, quando veio o furacão e os imperialistas — para tirar clientes a Cuba — diziam que não teríamos açúcar, nós diziamos a todo mundo que nos comprava açúcar: “Cuba garante a entrega do açúcar que você comprar.” E Cuba declarou que cumprirá estritamente todos seus compromissos e todos os convênios açucareiros que tem feito.

E como vocês sabem, neste ano, contrariamente aos outros anos, começou a chover cedo; como vocês sabem, nas províncias principais produtoras de açúcar, que são Oriente e Camagüey, estiveram caindo torrenciais aguaceiros.  Inclusive em Oriente, depois do furacão, observaram-se certos fenômenos atmosféricos, e nos meses de janeiro e fevereiro esteve chovendo torrencialmente. E o problema das chuvas é algo que pode afetar a produção açucareira.

Como vocês sabem, revelou-se necessário fazer uma grande mobilização de operários para Camagüey para adiantar a produção de açúcar antes que viessem as chuvas e as chuvas se adiantaram.

Quando as chuvas se apresentaram em uma forma tão prematura, o governo de Cuba adotou medidas tendentes a garantir o cumprimento estrito de todas suas obrigações açucareiras, e em consequência tem estado adquirindo determinadas quantidades de açúcar, e está disposto a adquirir as quantidades de açúcar que seja necessário, a fim de cumprir sua palavra, de cumprir todos os convênios de açúcar que contraiu (APLAUSOS).

Quer dizer, para os imperialistas temos uma resposta, que é desmascará-los, e demonstrar a forma em que os imperialistas querem enganar os países que vendem açúcar, eles querem enganar Santo Domingo, o Brasil, o Peru, o México, e a todos os países que têm guardado açúcar para vender a eles; estão fazendo uma manobra para baixar os preços e comprar o açúcar barato. E ainda que, naturalmente, o governo de Santo Domingo, o governo de Peru não tenham, nem sequer, relações diplomáticas conosco, isso não nos importa: os povos não têm a culpa dos governos; e ainda que nesses países persiste a exploração do homem pelo homem, de todas as formas enquanto eles paguem pelo açúcar preços mais baixos, mais fome vão ter os trabalhadores nesses países. E nós preferimos que ganhem mais dinheiro os povos que produzem açúcar, antes que os imperialistas disponham de mais dinheiro para continuar explorando os povos.

E, portanto, denunciamos isto. E denunciamos que o governo dos Estados Unidos está tentando enganar as nações produtoras de açúcar, está promovendo uma manobra de fazer cair os preços. Essa é a Aliança para o Progresso. Falam da Aliança para o Progresso, e estão tentando enganar os povos da América Latina que produzem açúcar. Nós não falamos da Aliança para o Progresso, mas defendemos o preço do açúcar para os povos da América Latina (APLAUSOS) e para todos os povos subdesenvolvidos. E essa foi a política que cumpriu nossa delegação em Genebra.

Aos nossos clientes, os que têm comprado açúcar a Cuba, lhes asseguramos que Cuba cumprirá cem por cento com todos os compromissos açucareiros que tem (APLAUSOS), ainda que seja necessário para isso que Cuba compre açúcar.

E ao povo de Cuba — sobretudo aos trabalhadores açucareiros, aos trabalhadores voluntários que em número de dezenas de milhares estão dando sua contribuição a nossa safra — exortá-los a fazer um esforço. Porque se temos vendidas 3,84 milhões de toneladas, às quais será preciso adicionar o consumo nacional, isto significa que em cada tonelada de açúcar que deixemos de produzir temos que gastar mais de 150 pesos em divisas, em cada tonelada de açúcar que deixemos de produzir temos que gastar mais de 150 pesos em divisas. E que, portanto, nós devemos fazer um esforço máximo, a fim de poder cumprir todos nossos compromissos e satisfazer nossas necessidades nacionais, com uma despesa mínima de divisas.

Naturalmente, temos podido fazer isto. E o fato de ter que comprar açúcar em determinadas circunstâncias para cumprir um compromisso, quando seja preciso fazê-lo é bom fazê-lo. Porque nosso país necessita mercados, nosso país necessita defender seus mercados, e o pior que pode ocorrer a um país e ao prestígio de um país é oferecer determinadas quantidades de um produto e não podê-las cumprir. Por isso nós, antes de deixar de cumprir um só compromisso, estamos dispostos a comprar açúcar para cumprir esses compromissos (APLAUSOS).

Mas não é preciso assustar-se, não é preciso assustar-se, não nos vamos arruinar; porque com o açúcar que temos vendido, com os ingressos que temos previsto, com as reservas em divisas com que conta nosso país, atualmente, podemos fazer em face de qualquer contingência deste tipo.

Mas é muito importante, muito importante que façamos o máximo esforço para produzir o máximo de açúcar e — quando tenhamos produzido nosso máximo volume de açúcar — comecemos a cultivar a cana para o ano que vem.

E os imperialistas não vão saber quanto açúcar nós produzimos, nem quanto açúcar produzimos neste ano, nem quanto açúcar nós vamos produzir o outro; não vão saber. Esse é um problema que nos cabe e nos interessa a nós e, portanto, Cuba manterá uma política de discrição açucareira (APLAUSOS). E que os imperialistas digam o que quiserem. Se dizem que nossa produção é de um milhão de toneladas, é um problema deles! Se eles dizem que é de dez milhões de toneladas, problema deles!

Nós temos uma política açucareira sólida, temos um convênio muito bom que temos subscrito; podemos aumentar nossa produção, e temos mercado seguro para todo o açúcar que produzirmos. E enquanto tenhamos mercado seguro para todo o açúcar que produzirmos, nós estaremos produzindo e aumentando nossa produção de açúcar (APLAUSOS).

Essa é a política declarada do Governo Revolucionário. E Cuba tem uma posição privilegiada para produzir açúcar, a natureza nos tem dado o privilégio de que esta é uma terra doce que produz muito doce. E esse é um privilégio. E por isso nós temos que aproveitar essas condições naturais, desenvolver ainda mais nossa agricultura açucareira, nossa indústria açucareira, e desenvolver a química açucareira.

Por isso o Governo Revolucionário está prestando muita atenção ao ensino tecnológico, aos institutos tecnológicos, e entre estes institutos, aos institutos de química. Porque do açúcar e dos derivados do açúcar, se pode produzir muitas coisas. E Cuba vai trabalhar seriamente nas pesquisas açucareiras e Cuba vai trabalhar muito seriamente no desenvolvimento da química açucareira.

E temos que fazer pesquisas e temos que estudar e temos que preparar muitos especialistas e técnicos, e temos que aprender de todos os países. Toda pesquisa, qualquer descobrimento que o homem fizer em qualquer hemisfério, em qualquer país, sob qualquer sistema social, pode ser útil para nós. A inteligência, nós pensamos que sob um sistema socialista se desenvolve mais; a possibilidade de estudar está ao alcance das massas e, naturalmente, um país instruído produzirá, na ordem técnica e na ordem científica muito mais que um país de analfabetos.

Mas em qualquer lugar do mundo onde o homem descobrir algo, onde o homem descubrir algum procedimento técnico ou científico, devemos aproveitá-lo. E por isso o Governo Revolucionário está prestando atenção à importação de livros científicos e de revistas científicas, em todos os campos do conhecimento humano.

E temos que estar atualizados na ciência e na técnica; e não devemos reparar em despesas na obtenção de livros técnicos e científicos em todos os ramos do saber.

Nos últimos meses têm chegado dezenas de milhares de livros técnicos, que estão sendo vendidos aos profissionais universitários, aos médicos, os engenheiros, os arquitetos; mas cada dia serão mais e mais os livros que necessitemos para estar atualizados em todas as pesquisas e em todos os descobrimentos que se fizerem. Nós devemos aproveitar o que a humanidade, o que a inteligência humana produz e, da mesma maneira, devemos estar dispostos sempre a facilitar aos demais povos os descobrimentos que nós fizermos, as pesquisas que nós fizermos, os sucessos que nós tivermos. E essa é a filosofia de nossa Revolução: se recebemos de todos os povos, devemos estar dispostos a facilitar também nossos conhecimentos a todos os povos.

O tema das coisas econômicas não acaba aqui, e aqui vou pôr outro exemplo do papel ridículo, do delírio de perseguição, da mania que está padecendo o governo dos Estados Unidos: uma informação chegada de Washington, em 30 de abril, da UPI. Diz: “As relações entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos caíram a um nível bem baixo, devido à manutenção do comércio britânico com Cuba, segundo transcendeu hoje. Esta situação ficou veio à baila nesta semana, durante a breve visita que fez a Washington o ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, R. A. Butler, ao discutir o problema por iniciativa do secretário do Estado, Dean Rusk, e o presidente Lyndon B. Johnson.”

Este é um Lyndon que, realmente, não tem nada de “lindo” (RISOS).

“A reação dos Estados Unidos...”

Sim, porque lhes põem uns nomes! (RISOS).

Diz:  “A reação dos Estados Unidos aparentemente surpreendeu o alto funcionário britânico. Fontes britânicas tinham exposto previamente a opinião de que na visita de Butler a Washington não seria colocada a questão do comércio anglo-cubano. Butler recebeu a primeira advertência de que surgiria o problema, contudo, ao se entrevistar com Rusk, este lhe informou que o presidente Johnson estava muito incômodo...”

Muito incômodo!  Vai adoecer do fígado este senhor (RISOS).

“...  perante o anúncio de que a Grã-Bretanha não só venderia mais ônibus a Cuba, mas também locomotivas e gruas, alegando que tal comércio era de proporções insignificantes”.

“Soube-se que Rusk perguntou a Butler por que se tal comércio era tão pequeno a Grã-Bretanha persistia em realizá-lo, arriscando com isso a ter um problema em suas relações com o governo de Johnson”.

“Segundo foi dito, Rusk preveio Butler que o presidente Johnson lhe exporia pessoalmente o problema, assim que o recebesse mais tarde”.

“Assim fez o presidente, quando o funcionário britânico o visitou, junto com outros chanceleres estrangeiros participantes da recepção da Organização do Tratado Central”.

“Johnson viu cada ministro em privado somente vários minutos, pelo que não teve muito tempo para fazer um enfoque em detalhe da questão. Mas nos 15 minutos, aproximadamente, que durou a entrevista com Butler, lhe expôs o problema em forma mais bem brusca, segundo se afirma”.

“O presidente disse a Butler que se sentia muito furioso perante o fato de que Grã-Bretanha continuasse violando uma política que os Estados Unidos entendiam que era idônea e em interesse do Ocidente”.

“Os acostumados argumentos britânicos foram recebidos com frieza por Johnson e Rusk. Tais argumentos fundamentam-se em que a Grã-Bretanha vive do comércio; que seu comércio com Cuba não é sobre a base de governo a governo; que os governos não podem nem querem agir contra ele; e que a Grã-Bretanha não o considerava de importância estratégica”.

Já vocês percebem a lógica dos norte-americanos: nunca falam de um problema de princípio. Os ingleses defendem, por um problema de princípio, a liberdade do comércio. Mas os norte-americanos não falam do problema de princípio; dizem: se é pouco o comércio, por que vendem a Cuba? Não são capazes, não entra no seu miolho entenderem que o problema da liberdade de comércio é um princípio que não se mede pela quantidade que se vende ou que se compra.

Isto é como o juíz que vai julgar um delinquente: não o castiga segundo a quantidade de sangue que tenha derramado a vítima, o castiga segundo o crime, segundo o delito, segundo a violação da lei.

Mas os imperialistas ianques não raciocinam sobre bases de princípio nem de lógica. Os ingleses dizem: “se esse comércio não é tão grande”; e eles dizem então: “se não é tão grande, por que vendem a Cuba?”

Porém, esta informação é muito reveladora; revela a idiossincrasia dos imperialistas. Vejam como diz: “A Grã-Bretanha está violando a política dos Estados Unidos.” Quer dizer, que para eles a política dos Estados Unidos é lei universal, e que todo país que não aceitar essa política está cometendo um delito, uma violação dessa política.

Mas, além do mais, demonstra — ademais desta mania de perseguição que têm com respeito a Cuba —, demonstra a forma em que os imperialistas ianques tratam seus aliados. Quando a gente lê estas coisas fica espantada que o governo da Inglaterra... Acho que a Inglaterra era chamada de “a soberba Albião” ou “a orgulhosa Albião”, um nome histórico desses. Contudo, estes senhores falam ao representante do governo inglês como a um satélite.

Esta notícia demonstra a forma em que os Estados Unidos tratam seus aliados, e realmente os tratam como verdadeiros satélites, com uma insolência, com tamanho desprezo. E assim, não tratam, mas sim maltratam seus aliados.

Devemos ter em conta que a Inglaterra está em um período pré-eleitoral, e todos estes problemas que têm a ver com a liberdade do comércio são problemas que interessa defender aos políticos ingleses, porque os que elegem os governantes ingleses são os ingleses; e o que interessa ao povo inglês são os interesses ingleses. Que pode importar a eles se o senhor Johnson e o senhor Rusk ficam incômodos ou não? E o povo inglês, tradicionalmente, tem defendido uma política de liberdade do comércio. Depois, o governo de Estados Unidos, com essas pressões, põe em dificuldades aos seus amigos da Inglaterra, que estão nas vésperas de umas eleições; e coloca o governo inglês entre a espada e a parede: se não cede perante as pressões norte-americanas, o senhor Johnson e o senhor Rusk vão ficar incômodos; e se cedem perante as opiniões e perante as pressões de Rusk e de Johnson e não vendem locomotivas a Cuba e suspendem a possibilidade de vender artigos a Cuba, então os eleitores ingleses ficarão descontentes.

E o problema da Inglaterra — mesmo como o problema de todos esses países europeus — é que têm que concorrer com a indústria americana, necessitam mercados. E tal como nós necessitamos mercados para nossos produtos, eles necessitam mercados para seus navios, para seus caminhões, para seus ônibus, para suas locomotivas, para suas gruas e para seus artigos industriais.

Por isso, esta política dos imperialistas é uma política torpe, é uma política estúpida, uma política insensata.

Mas, quem nos vai contar história alguma destes senhores? Temos o problema dos U-2, temos o problema das violações a nosso espaço aéreo. Vocês sabem que este é um problema antigo, vocês sabem que este problema vem da Crise de Outubro (Crise dos Mísseis= N. do Trad.). Desde há 18 meses o governo de Cuba tem estado protestando por causa das violações do espaço aéreo e advertindo que não está em disposição de tolerar essas violações.

Na altura da Crise dos Mísseis, para estes senhores não bastava com voar somente a 30 mil metros, mas queriam estar voando sobre as cabeças de nossos artilheiros antiaéreos. Nossas armas antiaéreas tão só chegavam a alguns milhares de metros, e nós advertimos que os voos rasantes fossem suspensos, e nossos artilheiros antiaéreos receberam ordens de disparar contra todo avião militar estrangeiro que voasse rasante sobre nosso território, até onde chegassem nossas armas antiaéreas (APLAUSOS). Nossos artilheiros receberam a ordem e a cumpriram, cumpriram! (APLAUSOS.) E quando viram as balas de nossas armas, entenderam que não estávamos brincando, perceberam que estávamos falando a sério.

Porque, o que é que pretendiam? Desmoralizar-nos voando sobre a cabeça de nossos soldados e de nossos artilheiros. Bem. Essa era uma coisa intolerável, era uma coisa inaceitável. Advertimos e o dissemos. E, efetivamente, foi dada a ordem e foi cumprida; nossas armas não chegavam mais longe.

Então eles continuaram voando a 20 mil, 25 mil metros de altura, aonde não chegavam nossas armas.

Mas o governo dos Estados Unidos sabia que o governo soviético nos tinha entregado um armamento moderno, eficiente, para defender o espaço aéreo, e durante ano e meio nossos homens têm estado treinando no manejo dessas armas (APLAUSOS).

Eles sabem perfeitamente bem qual é a posição de Cuba respeito às violações do espaço aéreo, e eles sabem também qual é a posição do governo da União Soviética com respeito às violações do espaço aéreo (APLAUSOS).

Eles alegam diferentes razões, nenhuma das quais tem base real, nem base moral, nem base legal; eles dizem que têm direito a voar porque nós não permitimos a inspeção. E quem lhes disse que nós temos a obrigação de permitir-lhes que inspecionem nosso território? (APLAUSOS.) Nós não temos aceitado por parte dos imperialistas inspecionarem nada do que ocorra dentro de nossa fronteira soberana, nada que esteja referido aos passos que nosso país dá para fortalecer sua defesa; nós não aceitamos o direito dos imperialistas a dizer que tipo de armas podemos ou não podemos ter. E nós temos as armas que acharmos necessárias ter para nossa defesa. E não abrimos mão desse direito! (APLAUSOS.)

Quando da Crise de Outubro nós não aceitamos a inspecção; era nosso direito soberano e legítimo como país independente. Mas eles não podem alegar isso como pretexto, porque eles não têm nenhum direito a inspecionar-nos, porque nós não nos comprometemos com nenhum tipo de inspecção, porque nós não aceitamos nenhum tipo de inspecção.

Nós lhes dissemos: “Bem, nós deixamos ser inspeccionados se vocês deixam inspeccionar a Flórida” (APLAUSOS). Inspeções unilaterais aqui, não! Mas quando da Crise de Outubro o governo soviético e o governo norte-americano chegaram a determinados acordos, os Estados Unidos verificaram que esses acordos aos quais tinham chegado com a União Soviética tinham sido cumpridos; os Estados Unidos verificaram que por parte da União Soviética tinham sido cumpridos os acordos. Contudo, continuaram voando os U-2. Eles também afirmam que necessitam desses voos para sua segurança; pois nós afirmamos que para nossa segurança necessitamos que esses voos acabem (APLAUSOS).

E como prova de que é um ato simplesmente para humilhar Cuba, como é a pretensão de assumir o privilégio de violar o espaço aéreo de um país soberano — e isso é o único que pretendem — eles declararam que podem tirar fotografias sem voar sobre Cuba; eles declararam que podem tirar fotografias com sputniks ou com satélites desses. Então, se eles podem tirar essas fotografias, por que violam nosso espaço aéreo? Para humilhar Cuba? Enganam-se: Cuba não se deixará humilhar! (APLAUSOS).

Nós vamos definir bem nossa posição, porque queremos que fique bem clara.  Por aí há um cartaz que diz: “Se querem paz, com nosso povo haverá paz; se querem guerra, não temos medo da guerra” (APLAUSOS). Qualquer pessoa poderia pensar que nós somos a favor da guerra, que nós somos guerreiros.  Não! Nós não somos guerreiros, nós não somos inimigos da paz; mas vamos esclarecer bem isto, vamos esclarecer conceitos. Nós sabemos o que é a guerra, os sacrifícios que a guerra impõe, as dores que a guerra impõe, o luto que a guerra impõe. Ninguém pode amar a guerra. A guerra é algo odioso, ainda que se sabe que há dois tipos de guerra: guerras justas e guerras injustas. Se nos impõem uma guerra injusta, caso travarem contra Cuba uma guerra injusta, defender-nos da agressão e defender-nos dessa guerra é um ato justo, equivale a uma guerra justa! (APLAUSOS).

Nós nunca invadiremos ninguém, nunca agrediremos ninguém, nunca empregaremos nossas armas contra nenhum povo; somos inimigos da guerra.  Mas isso não quer dizer que se nos declaram guerra ficaremos de braços cruzados, porque então não estaremos de braços cruzados. E então, quando nos imponham essa guerra, nos obrigam a defender-nos e vamos lutar, vamos lutar!

Não somos guerreiros, nem somos galos de rixas, nem temos um conceito romântico da vida. Somos marxistas, somos revolucionários (APLAUSOS), somos realistas, mas temos coisas muito sagradas; acerca de uma série de questões temos nossas ideas revolucionárias, nossos conceitos, e há coisas muito sagradas, e as defendemos como revolucionários e as sabemos defender.

Se quiserem implantar outra vez o regime de exploração do homem pelo homem, preferimos morrer todos antes de aceitar que nos imponham outra vez esse regime (APLAUSOS); se formos agredidos nos terão de matar, mas lutando! (APLAUSOS.) Não temos esse espírito de resignação cristã de que nos vão matar e nos deixamos matar. Se nos querem destruir, nos vamos defender! Se nos atacam, lutamos! E se nos querem matar, nós matamos! (APLAUSOS).

É muito importante que os imperialistas não se enganem conosco, é muito importante que saibam bem claramente nossa determinação. E caso se enganarem a culpa será deles. E é bom que saibam com o que se podem deparar acerca disto.

Nós estivemos 18 meses protestando contra as violações do espaço aéreo, denunciando esses atos como atos ilegais, atos criminosos, atos que violam nossa soberania, e que esses atos violam e afetam nossa soberania, e que Cuba não aceita essa violação de nossa soberania.

Eles sabem as armas que Cuba tem e eles sabem que nosso pessoal tem estado treinando durante todo este tempo. Eles sabem que em um dado momento estaremos em condições de empregar essas armas. E, naturalmente, pensar que nós vamos aceitar, simplesmente aceitar, que Cuba tenha que ser o único país do mundo, o único país do mundo, sobre o qual tenham direito a voar aviões militares de outra nação, simplesmente porque essa nação tenha muitos exércitos e muitas armas? Não! Por uma razão de força? Não! E Cuba não está defendendo aqui o direito de Cuba, está defendendo o direito de todos os demais povos do mundo (APLAUSOS); porque caso se impor o precedente de que um país, por ser poderoso, tenha direito a espezinhar o direito de outros povos e violar seu espaço aéreo, todos os povos do mundo estariam perdendo, todos os povos do mundo veriam seus direitos afetados por esse precedente.  Entao, quando defendemos este direito de Cuba estamos defendendo o direito dos demais países também. E estamos certos de que a opinião pública mundial estará junto a Cuba, estamos certos de que todos os povos verão que a posição de Cuba é justa, que a posição de Cuba é moral, que a posição de Cuba é legal (APLAUSOS).

É uma questão simplesmente romântica? Não, não é uma questão romântica, não é uma questão romântica! Não é um conceito romântico do direito. Nós sabemos que caso permitirmos isso aos imperialistas hoje, amanhã temos que permitir-lhes outra coisa e depois de amanhã temos que permitir-lhes outra coisa. E nós não queremos que este povo aprenda a abrir mão de direitos que são sagrados! (APLAUSOS.)

É que acaso não nos importam os sacrificios, é que acaso não nos importa o sangue do povo? Sim, nos importa o sangue do povo e nos importa muito; dói-nos o sangue do povo e nos dói muito, porque, afinal, nossas vidas fariam algum sentido se tudo o que temos feito o temos feito por isso, o temos feito pelo povo. O que os revolucionários fazemos o fazemos por amor ao povo, o fazemos pelo bem do povo (APLAUSOS). E os que morreram combatendo e perderam a vida o fizeram por amor ao povo. E as revoluções se fazem para criar, não para destruir.

Os jovens estudam, os operários estudam, e o povo trabalha para criar, para desfrutar do que tem feito, desfrutá-lo em paz, desfrutá-lo com dignidade. E têm direito a desfrutar dessa paz com dignidade os povos que não abrem mão dos seus direitos, os povos que não transingem com direitos que são sagrados.

No dia em que todos os povos do mundo se reúnam e digamos que desapareça a soberania sobre o espaço aéreo, nós dizemos: que desapareça a soberania do espaço aéreo. Inclusive, no dia em que todos os povos do mundo se reunir e digam: que desapareçam as bandeiras, nós diríamos com o mundo:  desapareçam as bandeiras (APLAUSOS). No dia em que os povos do mundo tiverem uma lei para todo mundo, nós acataríamos essa lei.

Mas enquanto o conceito de soberania existir como prerrogativa das nações e dos povos independentes e como direito de todos os povos, nós não aceitaremos a exclusão de nosso povo desse direito. Enquanto o mundo se reger por esses princípios, enquanto o mundo se reger por esses conceitos, e sejam os conceitos que tenham validez universal porque são universalmente aceitos e consagrados pelos povos, nós não aceitamos que se nos prive de nenhum desses direitos, nós não abriremos mão de nenhum desses direitos (APLAUSOS).

E, portanto, essa bandeira, e esse céu, e essa terra, os defenderemos ao preço que for necessário e ao custo que for necessário! (APLAUSOS.)

Acaso isso quer dizer que nós como governantes do povo queremos levar o povo a um beco sem saída? Não! Que queremos levar o povo a derramar seu sangue por conceitos pessoais? Não! Entenda-se de vez que nós não expomos critérios pessoais, não expomos sentimentos pessoais, porque defendendo sentimentos pessoais nós nunca sacrificaríamos uma única gota de sangue de ninguém.

Não seria honesto, não seria justo que os homens que dirigem os povos se virassem de costas para o povo, com o fim de satisfazer sentimentos exclusivamente pessoais.

Pensamos que nós somos, simplesmente, intérpretes do sentimento da nação (APLAUSOS). E os dirigentes da nação não são mais do que a nação, nem estão acima da nação; mas os dirigentes da nação não estarão abaixo da nação (APLAUSOS). Os dirigentes da nação estarão à altura da nação!  (APLAUSOS).

Acaso o que eu disse significa que nós sejamos uns irresponsáveis?  (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) Ou que nós vamos agir de maneira impensada (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”), de maneira superficial? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) Não! Não seríamos dignos de estar aqui, não seríamos dignos de contar com a confiança e com o apoio da nação (APLAUSOS).

A nação pode ter certeza de que o Governo Revolucionário não a levará a lutas estéreis, não a levará a sacrifícios que possam ser evitados. A nação pode estar certa disso. As mães, os pais, o povo todo deve saber que nós nos preocuparemos pela sorte de seus filhos, da mesma forma que nos preocuparíamos pela sorte de nossos próprios filhos (APLAUSOS); que nós não levaremos irreflexivamente os jovens ao combate para morrerem tranquilamente, como se o sangue não valesse nada, como se a vida não valesse nada, como se o trabalho do povo e o fruto do esforço do povo não valessem nada. Não! Nós não somos desses homens, e o povo deve saber isso.

Isto é tão certo e tão verdadeiro como o outro, tão certo e verdadeiro como que nós sabemos onde estão os limites de cada coisa e onde estão os limites que separam o amor à paz e a subsmissão aos inimigos da paz e da pátria; que nós sabemos onde estão os limites em que transingir é atraiçoar, em que ceder é perder.

Nós temos sido pacientes, somos e seremos pacientes. Nós temos sido, somos e seremos tolerantes. Nós não estamos agindo irreflexivamente neste problema. O Governo Revolucionário está dando todos os passos de ordem legal, está dando todos os passos de ordem internacional, está dando e dará os passos que forem necessários. Acudiremos a todos os trâmites para resolver este problema das violações de nosso espaço, para fazer desistir os imperialistas desse ato próprio de piratas e de bandidos — que eles querem converter em lei — sobre nosso país, e que não aceitamos. Mas os imperialistas devem saber, devem saber sem que possam ter nenhuma dúvida, que esses voos têm que parar, que no fim deste esforço esses voos terão que parar (APLAUSOS).

Nós lançaremos mão dos meios legais internacionais discutindo este problema; o levaremos ante a opinião do mundo, o levaremos ante os organismos que sejam necessários. Mas no fim os imperialistas devem saber que esses voos têm que parar (APLAUSOS). E por quê? Porque não os aceitamos! (APLAUSOS.) E se todas as razões acabarem sendo inúteis, se o argumento, a lei, o direito e a moral resultarem inúteis, nós consideramos esses voos como agressões armadas à nossa soberania, e como tal rechaçaremos com as armas essa agressão (APLAUSOS PROLONGADOS E EXCLAMAÇÕES DE: “Fidel, seguro, aos ianques mais duro!”).

Há outros problemas mais velhos, como é o problema da Base (EXCLAMAÇÕES). A Base estava aí quando a Revolução triunfou, é um problema velho que vem desde há meio século; temos declarado qual é nossa posição sobre o problema da Base, temos declarado que nós nunca lançaríamos mão da força para resolver o problema da Base, e essa tem sido sempre a posição do Governo Revolucionário. Porque como conhecemos estes imperialistas, que são uns safados (EXCLAMAÇÕES), nós temos aplicado a política de não facilitar-lhes pretextos para seus planos. E o problema da Base é um problema velho, que podemos ter todo o tempo que seja necessário para discuti-lo e para resolvê-lo, porque era um problema, um mal velho com que a Revolução se deparou ao ocupar o poder. Nós entendemos que é ilegal, nós entendemos que nenhum país pode manter uma Base no território de outro pela força, mas é um problema de natureza diferente que o problema das violações do espaço aéreo, é um problema de natureza diferente.

Não vou dizer que se os ‘gringos’ da Base querem entrar até Guantánamo, os vamos deixar entrar, nem muito menos; não quer dizer que nós vamos estar tolerando provocações como as do outro dia. Compreendem? Porque a paciência tem seu limite, e mais além de certos limites não se pode brincar com a paciência de um povo. Mas o problema da Base é um problema de outra natureza. O problema do espaço aéreo é um problema muito diferente, é uma violação descarada, não podem alegar nenhum tratado, porque eles alegam supostos tratados, tratados que eles impuseram à nação cubana para se apoderarem desse pedaço de nosso território; mas o caso da violação do espaço aéreo é uma violação tão flagrante, tão descarada, tão pirata e tão bandida, que constitui um problema de uma índole e de uma natureza muito diferente.

Como têm respondido os imperialistas aos nossos protestos sobre os voos de seus aviões? Pois concentrando aviões de bombardeio, concentrando aviões de combate no sul dos Estados Unidos, ameaçando com um ataque, mobilizando aviões. Se os imperialistas pensam que nos vão assustar, permitam os imperialistas que nos sorriamos de seus aviões (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES). Percebe-se que não conhecem os cubanos, percebe-se que têm um conceito despectivo dos povos latino-americanos; consideram os povos latino-americanos povos inferiores, povos desprezíveis, inclusive consideram covardes nossos povos latino-americanos. Eles têm esse conceito.

Para que mobilizam os aviões? Para intimidar-nos? Não vão conseguir. Para atacar-nos? Bem: pois terão que lutar. Se em consequência da defesa de nossos direitos legítimos, sagrados, indiscutíveis, os imperialistas revidam com novas violações e novas agressões, então os imperialistas pretendem colocar a este país um problema de honra, pretendem pôr a este país em uma disjuntiva, em uma disjuntiva da qual este país não sairá desonrado, da qual este país não sairá desacreditado. E os imperialistas vão arranjar o pior problema que possam ter arranjado em toda sua vida.

Porque já não vou falar dos problemas internacionais; não quero que ninguém pense que se nós dizemos aqui as coisas claramente, se aqui nós falamos com dignidade o fazemos porque nos sintamos impunes, o fazemos a custa de outros países ou de outros povos, o fazemos a custa da amizade e da solidariedade da União Soviética. Não! (APLAUSOS) Quando falamos assim, falamos por Cuba e falamos em nome de Cuba (APLAUSOS PROLONGADOS).

Nós não falamos pensando em mísseis intercontinentais, porque se nós falássemos aqui amparados em mísseis, que sentido faria nossa palavra, que seriedade teria nossos pronunciamentos? Se nós falássemos assim porque pensamos que um ataque a Cuba acabaria em uma conflagração mundial, poderíamos ser qualificados de irresponsáveis no dia em que derribássemos um desses aviões. E no dia que nós resolvamos restabelecer o direito soberano de Cuba violado por esses aviões, não o faremos pensando em conflagrações mundiais, nem o faremos pensando em mísseis estratégicos, o faremos pensando em nosso sangue, o faremos pensando em nossa força, o faremos assumindo nós a responsabilidade e os riscos! (APLAUSOS).

Este não seria um povo digno se quando adota atitudes em defesa de sua dignidade e de sua soberania, o faz comodamente amparado nas forças de outros países. Quando se trata de defender nossa soberania e nossa dignidade, nós nem contamos qual é a força do inimigo nem contamos qual força é a nossa. O único que contamos é que temos o dever de defender esse direito, e que sabemos cumprir esse dever e que estamos dispostos a cumprir esse dever (APLAUSOS), porque é o direito nosso e é a dignidade nossa.

Os imperialistas, sem dúvida que têm mais canhões, mais aviões e mais coisas que nós, porém não têm nem mais razão nem mais direito e, portanto, mais valor que nós não teríamos jamais (APLAUSOS). Porque o valor não é um conceito animal, um conceito biológico; o valor é um conceito moral, o valor é um conceito espiritual. Não há povos mais valentes do que outros, nem homens mais valentes do que outros. O valor, como conceito moral e como conceito espiritual, nasce da razão, da força que o inspira, da justiça, do direito, das aspirações legítimas dos povos. E por isso, aqueles que nos atacarem nunca teriam nem a sombra de nosso valor para combater contra nós (APLAUSOS).

Nós não pensamos tão só na alternativa de combates frontais, caso nos atacarem; caso nos atacarem travaremos combates frontais com nossas armas adequadas para combates frontais, mas, ao mesmo tempo nos prontificaríamos para uma luta longa, uma luta que não terminaria nunca para o inimigo. Nós conhecemos este povo, as forças morais e revolucionárias que o inspiram, e nós sabemos que este povo poderá ser invadido, ocupado inclusive, porém jamais vencido, jamais derrotado! (APLAUSOS).

Enquanto os imperialistas nos ameacem, nós devemos estar prontos não só para travar combates frontais, mas também para a luta clandestina e combates irregulares. Imaginem que os imperialistas nos invadissem, que pela força do número e a um preço muito alto conseguissem ocupar o território, a luta acabará aí? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) Não! Acabará uma fase da luta e começavrá outra, nas cidades, nos campos e em todos os lados (APLAUSOS).

Por isso, nosso Partido e nossas organizações de massa, e nosso povo revolucionário, têm que estar prontos para todas as fases, para todas as fases!  Unicamente convictos disto, só sabendo isto — e por isso é que podemos chamar-nos um povo invencível — começaria então a luta contra os ‘gringos’ (ianques= N. do. Trad.) aqui dentro; contra os ‘gringos’, delatores e esbirros daqueles que fugiram (EXCLAMAÇÕES), começaria uma luta longa, na qual vão ter que enfrentar um povo de verdade. Isso é quando já não ficasse uma só unidade organizada. Nosso povo tem que estar pronto para essa contingência em todas suas formas.

Quando acabaria essa luta? Nunca! Quem a dirigirá? O Partido, o Partido!  (APLAUSOS.) Já então a direcção do Partido seria a única forma insubstituível, porque os homens morrem, os homens morrem na luta, e nunca nenhum povo combatente deve depender de homens, mas sim de instituições, de organizações.

Caso os imperialistas invadirem este país, vocês teriam que contar que a maior parte de nós, os dirigentes de hoje, desapareceríamos nessa luta, mas resta o povo e estaria aí o Partido! (APLAUSOS.) Não será preciso perguntar por nomes, nem por homens, porque cada um de nós cumprirá seu dever na forma que deva cumprí-lo e o cumpriremos bem.

Muito mais importante para nós saber que este povo não se renderá nunca, é importante que o povo saiba, é importante que cada combatente saiba, e por isso dizemos que somos um povo invencível; e não falamos pensando somente em nossa força, não falamos pensando somente em nós. E por isso este povo é digno do maior respeito, e por isso a este povo terão que respeitá-lo até seus mais encarniçados inimigos (APLAUSOS). É um povo que compreende o valor da paz, é um povo que compreende a tragédia da guerra, que ama a paz e odeia a guerra e, contudo, é um povo capaz de derramar até sua última gota de sangue em defesa de sua pátria e de sua causa (APLAUSOS).

Assim é nosso povo, assim é o povo de José Martí, o povo que lutou 30 anos pela sua independência! (APLAUSOS.) Assim é o povo de Antonio Maceo! (APLAUSOS.) E os direitos, os direitos que este povo tem conquistado e que este povo defende não são direitos herdados, não são privilégios concedidos, são direitos conquistados lutando, direitos conquistados batalhando! (APLAUSOS.) Estes direitos não os ganhamos em uma loteria nem são o resultado do azar, mas sim o resultado da história, o resultado da vida toda de uma nação. E saberemos manter esses direitos que temos ganhado, os saberemos defender!

Queremos um amanhã próspero, pacífico e feliz; desejamos isso do mais profundo dos nossos corações. Queremos ver a obra de nosso trabalho e de nosso esforço; desejamos isso fundamente. Mas se nos obrigam a lutar, e nos obrigam a fazer os mais inconcebíveis sacrifícios, não seria culpa nossa, não seria culpa nossa! E das coisas que não sejam culpa nossa nunca devemos sentir-nos magoados.

Se a vida nos oferece triunfos e sucessos, bem-vindos os triunfos e bem-vindos os sucessos que ganhemos com dignidade e com honra; se a vida nos oferece sacrifícios e luta, bem-vindo seja o sacrifício e a luta, porque isso é o que a vida nos oferece com dignidade e com honra! (APLAUSOS).

Por isso, nós todos podemos retornar tranquilos, calmos e felizes aos nossos lares, encarando com resolução e com calma o porvir, com alegria e com otimismo o porvir, conscientes de nossa força, da força de nossos princípios, do prestígio de nossa causa.

E, entretanto, se escutam algumas vozes de lacaios, de vermezinhos, que de lá de Miami proclamam que em breve estarão combatendo aqui (EXCLAMAÇÕES DE: ”Que venham!”); chefezinhos de grupelhos de vendilhões da pátria, amamentados por esse imperialismo feroz e sangrento. Falam de apelos às armas e falam de desembarques. E creio que vão escolher uma péssima hora, péssima hora!

Eles pensam que como nossos soldados estão nos canaviais ninguém vai sair na sua passagem. Mas esse pessoal não merece mais do que uma leve menção. Será que nos importam esses patifes? (RISOS E EXCLAMAÇÕES) Se os lobos que os amamentam não nos importam, se as víboras que os incubam não nos importam, como nos vão importar eles; esses vendilhões da pátria, armados pelos imperialistas, treinados pelos imperialistas em diferentes países da América Central, que dizem que lhes estiveram ensinando a guerra de guerrilhas?

Nós lhes vamos ensinar o que é o “cross country” (RISOS E EXCLAMAÇÕES). O “cross country” é uma corrida longa (RISOS), certas competições que o INDER (Instituto Nacional de Esportes= N. do Trad.) organiza, que correm 20, 30 quilômetros. Vão quebrar todos os recordes de todas as olimpíadas! (APLAUSOS).

Estes senhores têm uma ideia na mente. Vocês lembram quando os apanhamos o que diziam:  “Eu não sabia...”, “eu achava...”, “Tinham-me dito...”, “Epa, pelo amor de Deus...”, “Que de certeza, que eu juro...” (RISOS), “Que me diziam que a milícia se uniria a nós, que o outro se unia, que todo mundo estava do nosso lado...” (RISOS). Depois chegam aqui, e onde pensam que os vão receber com flores são recebidos com todo tipo de fogos de todas as cores, com fogos que não são precisamente de artifício (RISOS), balas de todas as cores. Porque isto é como quem está esperando um leão e aparece uma ratazana (RISOS). Nós estamos esperando. Não vou dizer que os imperialistas são leões, para nós são também umas ratazanas na hora de combater (RISOS E APLAUSOS).

Isso acontecia com os soldados de Batista: aquele exército invencível, aquele exército que aonde quer que chegasse arrassava, e nós éramos quatro gatos pingados, e os quatro gatos, pouco a pouco, aprenderam ir dando cabo daquele exército. Sempre eram trinta vezes mais do que nós, quarenta. A conta? Perdia-se a conta. E é dessa mesma forma com os imperialistas. Mas, afinal, temos forças para enfrentar-nos a forças poderosas.

É claro que as ratazanas usam certas táticas: tentam abrir um buraquinho por abaixo e enfiar-se (RISOS). Eles pensam que sendo essas ratazanas podem passar despercebidos, que podem entrar sorrateiramente pelas nossas costas, fazer guerra de guerrilhas e sempre lhes acontece o mesmo. Não é o mesmo travar uma guerra de guerrilhas contra os inimigos do povo do que travar uma guerra de guerrilhas contra o povo. Vejam o exemplo de nós: uma guerra de guerrilhas contra os inimigos do povo; Vietnã do Sul: uma guerra de guerrilhas do povo vietnamita contra os inimigos do povo (APLAUSOS).

Em cinco anos de Revolução não se sabe o que os imperialistas têm gastado tentando organizar bandos, infiltrações, os recursos que têm empregado; o pessoal da CIA ficou com os miolos derretidos. E, contudo, em cinco anos, o quê?

Para destruir Batista os homens do Exército Rebelde necessitaram apenas 25 meses (APLAUSOS). Em cinco anos os imperialistas não conseguiram obter o menor progresso, e mais bem foram recuando e recuando cada dia mais nos planos de promover aqui lutas intestinas, nos planos de promover bandos contrarrevolucionarios. E têm fracassado!

Bem, não quero que esses senhores cheguem a pensar que nós temos interesse em incutir medo neles; mais bem, deveras, nós somos um pouco mais hospitaleiros e nós o que sinceramente desejamos é que venham (APLAUSOS). E deveras que na próxima ocasião, na próxima ocasião não os vamos devolver nem por toda a tetraciclina nem a penicilina e nem por todos os remédios que haja nos Estados Unidos (RISOS E APLAUSOS).

Porque ainda que entendamos que foi correto, foi correto deveras fazer pagar aos imperialistas um bom imposto de guerra por esses mercenários, na próxima ocasião — bem, que eles não digam depois que não estavam advertidos — não lhes poderemos aplicar o mesmo remédio e os vamos tratar um pouquinho mais duro (DO PUBLICO LHE DIZEM ALGO). Não, não, que procurem outro já, que procurem outro. Os estamos devolvendo e os mandam outra vez para cá. Bem: já estamos aborrecidos desse jogo... (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES DE: “Paredon!” =Fuzilamento. Nota do Trad.).

Portanto, não seria nada estranho que nos próximos meses tenhamos que disparar alguns tirinhos por aí, caçando essas ratazanas, as que estão sendo preparadas para organizar bandos e que têm estado treinando nas florestas.  Mas, acontece que naquelas florestas não há milicianos nem soldados rebeldes, nem nada disso (EXCLAMAÇÕES). Não é igual perambular lá com alguns ianques como instrutores... E eu não sei o que lhes vao ensinar os ianques, porque a guerra do Vietnã do Sul os ianques a têm perdida (APLAUSOS); que é que vão ensinar a esses contrarrevolucionários em questões de guerra.

Então, estamos à espera deles, à espera deles. Mas são poucas glórias as que se obtêm exterminando parasitos; nós estamos prontos para glórias maiores que essas. Não provoca prazer esse tipo de glória. Mais bem, se eles querem isso, não se pode fazer mais nada!

Portanto, eu acho que estas eram as coisas mais importantes que tínhamos que tratar hoje para estarmos claros, para estarmos bem orientados. Não são as únicas questões que nos interessam. Nós não devemos descurar nosso trabalho. Nós não devemos baixar a guarda militar, mas tampouco baixar a guarda na produção, não baixar a guarda na produção.

E sinceramente que nestes cinco anos nosso povo tem ido acumulando experiências, experiências sobre todas as coisas, as que estão bem e as que estão mal, sobre nossas eficiências e nossas deficiências. E temos muito que fazer em todas as ordens.

Só um pequeno detalhe e nada mais, devido a que estão aqui principalmente os operários da capital, eu queria explicar isso. Ultimamente se têm feito algumas distribuições para o interior da república. A capital foi afetada — ainda que em uma medida muito pequena — em certos suprimentos. O problema dos frangos — e vamos ter medo de falar de frangos aqui? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) — que efetivamente existiam diferentes critérios e se adotou o critério de destinar a cota correspondente às crianças. Por quê? Há alguns planos que nós temos explicado; por exemplo, no setor avícola estamos desenvolvendo não a produção de carne, mas a de ovos, e temos prometido que para o mês de janeiro a produção será tal — e não me paro mais aqui se não é verdade isso; digo, caso não acontecerem outras coisas mais graves, não? — que para o mês de janeiro do ano que vem teremos uma produção de 60 milhões mensais, e com o qual entendemos que dará para a livre distribuição, e se não dá, temos condições para aumentá-la rapidamente, ainda mais. E já começaremos a entregar alguns artigos como esse.

Resolvemos desenvolver primeiro um setor; depois, o outro. Entretanto, está congelada nos níveles atuais a produção de carne de ave, que, como vocês sabem, é mais cara, é preciso alimentar as aves com ração que deve ser importada.

Paralelamente a isso se está fazendo um grande desenvolvimento pecuário. Naturalmente que os resultados não os vamos perceber de um mês para o outro; demora anos, mas se está trabalhando muito intensamente, e já veremos os frutos desse trabalho.

Mas eu não vou falar aqui de problemas técnicos e tal; é um pouco tarde. Somente queria dizer-lhes que, enquanto chegue o mês de janeiro, todos os aumentos na produção desses artigos primeiramente — os aumentos — os vamos enviar para o interior da república (APLAUSOS). Quer dizer, que a produção de alguns desses produtos vai aumentar, como a produção de ovos; mas primeiramente os vamos vender livremente em Oriente, depois em Camagüey, depois em Las Villas, depois em Matanzas e depois nas duas províncias ocidentais (APLAUSOS).

Por que vamos começar pelas províncias do interior? Porque os trabalhadores da capital devem compreender que é justo que se faça isso, que é justo que melhorem os fornecimentos no interior da república. Por quê? Porque, realmente, a capital da república tinha os melhores ingressos, e, portanto, tinha historicamente um consumo mais alto. E dessa forma, a população da capital recebe mais carne do que o resto da Ilha, e em geral tem uma distribuição muito melhor. E é justo que os aumentos de produção sejam enviados primeiramente para o interior do país; antes de aumentar os níveis de consumo de Havana, devemos equilibrar os níveis de consumo de Oriente (APLAUSOS).

É claro que não me refiro à população que vive no campo, porque a população que vive no campo não necessita caderneta de racionamento; cria, produz, tem todas as coisas de que precisa. Mas, sobretudo, referimo-nos aos trabalhadores do interior, à população urbana do interior da república, a Santiago de Cuba, a Holguín, Camagüey, às populações urbanas do interior, que não têm os mesmos recursos que têm os camponeses, os pequenos agricultores no interior.

E é justo que, antes de aumentar o consumo na capital, aumentemos o consumo no interior do país.

Vejam: Havana tem 60 mil operários comendo nos refeitórios operários, milhares e milhares de crianças em refeitórios escolares; tem mais restaurantes e mais consumo social do que nenhuma outra ciudade da república e, além do mais, tem o consumo individual mais alto. Por isso, é justo, inclusive, alguma pequena restrição, como se fez com a questão dos frangos, que foi o que se restringiu.

É preciso termos em conta o dano que o furacão fez em Oriente, a forma em que deu cabo das aves de curral, a forma em que arrassou as culturas. E não era questão de ajudar Oriente somente nos dias do furacão; durante todo este ano, ainda temos que continuar ajudando Oriente e as zonas afetadas pelo furacão (APLAUSOS).

Vocês compreenderão que isso é justo, se levamos em conta que em Oriente, Camagüey e Las Villas, por exemplo, se produz a maior parte das divisas que ingressam no país.

Vocês não são culpados de viver em Havana, nem são culpados de que Havana seja uma cidade grande demais em uma província pequena, que não tem nem rios; uma cidade que cresceu extraordinariamente, provocando problemas com a água e criando problemas de todo o tipo. Vocês não são culpados.

É indiscutível que, se fóssemos planificar a república do começo, não teríamos feito uma cidade tão grande aqui, naturalmente; e as indústrias teriam estado mais bem distribuídas. Mas estas são realidades que existem.

Ora bem: o interior do país produz a maior parte das divisas que o país recebe; tudo aquilo que nós importamos o pagamos, principalmente, com divisas que produz o interior do país.

Na capital não produzimos muitas divisas, infelizmente, e, contudo, consumimos muitas, muitas divisas na capital do país. Porque vocês, inclusive, quando vão a um cinema estão consumindo divisas, quando montam em um carro, em um ônibus, onde queiram, que isso não o tem o homem do campo, não o tem o operário agrícola do interior.

Por isso, eu estou certo que os trabalhadores da capital — eu não vou dizer os burgueses, os burgueses não vão entender isto mais nunca — vocês, operários, sim entendem; vocês, trabalhadores, sim entendem (APLAUSOS);  vocês, trabalhadores da capital, compreendem que é justo que o governo ponha a ênfase de sua preocupação em melhorar os fornecimentos no interior do país, em equilibrar os fornecimentos do interior do país com os fornecimentos da capital da república (APLAUSOS).

E deveras que ansiamos pelo dia em que os trabalhadores de Santiago de Cuba e de todo o interior do país possam ter os mesmos níveis de consumo do que os trabalhadores de nossa capital. Essa é uma aspiração de nossa Revolução e uma aspiração justa de nossa Revolução.

E portanto, isto pode ser explicado a vocês, trabalhadores, a vocês, operários da capital, sabendo que o compreendem. Nós não temos medo de explicar nenhum problema; não devemos ter nunca, porque nós sabemos que todas as coisas que se explicam ao povo claramente, o povo as entende. O povo sabe que fazemos o máximo, o povo sabe que nos desvelamos, e que vivemos perenemente na preocupação e no desejo de melhorar tudo, de produzir mais, de organizar melhor tudo, de administrar melhor tudo. Esse é nosso desejo, nossa preocupação, nessas coisas pomos nosso empenho.

E se um dia, se um dia qualquer, vemos que não temos ainda tudo o que necessitamos e tudo o que queremos, é porque não podemos, é porque não podemos. Nós não somos um país com grandes riquezas: herdamos um país com muito analfabetismo, um país subdesenvolvido, um país sem desenvolvimento técnico; e nós temos que fazer tudo isso. Por isso vocês veem quantas escolas, quantas universidades, quantos institutos, porque estamos preparando o povo, porque não é um problema de ter usinas. Se pudéssemos, por arte de magia ter mil usinas de repente, o que íamos fazer com elas? Quem as ia manipular? Quem manejaria suas máquinas? Quem manipularia seus tornos? Isso somente pode ser possível quando tenhamos dezenas de milhares de engenheiros, de técnicos universitários, de operários altamente qualificados.

Daí a importância da educação, da instrução e da educação técnica do povo. Às vezes, quando tivemos a desgraça de que uma usina foi destruída pelo fogo ou algo, nós perguntamos: Algum operário sofreu queimaduras? Nenhum operário teve queimaduras? O mais importante de qualquer usina não é a usina, mas sim o operário que a saiba manipular (APLAUSOS). O mais importante não é o instrumento de trabalho, mas sim o homem que manipula esse instrumento de trabalho.

E isso é o que está fazendo nosso povo hoje: estudando, instruindo-se, aprendendo a técnica, desenvolvendo sua economia naqueles ramos em que temos hoje mais experiência e mais facilidades e preparando as condições, que não está longínquo o dia em que dessa universidade e das outras universidades e dos institutos tecnológicos de nosso país, saiam aos milhares, e ainda às dezenas de milhares, os homens mais preparados, mais capacitados, e não só nossos jovens, mas também nossos operários, nossos trabalhadores. Eu quero que vocês saibam que na universidade há mais de mil alunos na faculdade operária, mas são muitos milhares os que têm solicitado ingresso. E é realmente impressionante o interesse pelo estudo, o desejo de superar-se e o desejo de capacitar-se que tem hoje nosso povo; e é uma das coisas verdadeiramente que mais nos impressiona da Revolução, porque o mais importante é o homem, o mais importante é o povo.

E nos poderão perguntar: quantas usinas novas nós temos feito, quantos edifícios novos, e podemos responder: temos feito tudo o que nos tem permitido nossa capacidade técnica, nossos instrumentos de trabalho e nossos recursos econômicos. Mas a obra da Revolução não se mede tão só no seu aspecto externo; nós temos edificado muito mais que isso, temos construído muito mais que isso: temos um povo, um povo cada vez mais preparado, um povo cada vez mais formado, um povo cada vez mais consciente, um povo cada vez mais revolucionário.

E por isso, aos nossos visitantes — que podem ir ver nossas escolas, nossos planos de estudo, nossos planos econômicos, podem ir ver nossos campos, podem ir ver o que a Revolução tem feito externamente — lhes recordamos, sobretudo, que reparem na formidável, na gigantesca obra que a Revolução tem criado e tem construído no povo.

Nossa Revolução tem muitas coisas interessantes, muitas experiências interessantes e úteis para todos os povos. Mas sobretudo nosso país tem algo maravilhoso, algo que hoje, Primeiro de Maio, festa dos trabalhadores, podemos proclamar com orgulho: Nosso país tem este povo e este povo é o mais admirável que a Revolução tem!

Pátria ou Morte!

Venceremos!

(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado