DISCURSO PRONUNCIADO NA PLENÁRIA NACIONAL AÇUCAREIRA, CONVOCADA PELO SNTIA E PELO MINAZ, NO SALÃO DE ATOS DO PALÁCIO DOS TRABALHADORES, EM 10 DE OUTUBRO DE 1964
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Companheiros trabalhadores da indústria açucareira:
Em dias passados se celebrou já um importante evento relacionado com a indústria e a agricultura açucareira, que foi o Fórum Nacional Açucareiro. Aquele fórum serviu para pôr em evidência o extraordinário interesse que tomaram os trabalhadores açucareiros por todas as questões técnicas relacionadas com sua indústria; pôs-se em evidência, também, o nível tão extraordinariamente alto que se atingiu no estudo; e agora, novamente, tem lugar este outro evento, este encontro relacionado com a indústria açucareira propriamente dita.
Ninguém melhor que vocês, que têm crescido e têm vivido nas usinas açucareiras, que conhecem por experiência própria toda a história e as vicissitudes de nossa indústria açucareira, poderá apreciar a magnitude e o alcance deste plano.
Nós tivemos oportunidade de ler este relatório, e pudemos apreciar a concisão, a clareza, a simplicidade, com que está analisado o plano perspectivo da indústria açucareira. E, realmente, embora se exponha uma tarefa de grande magnitude, não nos parece impossível que se possa conseguir esse objetivo. Mas se vê de uma maneira muito clara e muito precisa o caminho a seguir com relação à indústria açucareira e com tudo aquilo relacionado com a mesma, quer dizer, o desenvolvimento da indústria como tal, o desenvolvimento do transporte, e o desenvolvimento dos portos de embarque, assim como também o desenvolvimento da indústria química do açúcar.
Passou realmente pouco tempo desde que triunfou a Revolução e, contudo, na maneira de focalizar e de tratar destes problemas parece que passou um século. É que, durante muitos séculos, a abordagem dos problemas açucareiros sempre esteve determinada por interesses de minorias, interesses de privilegiados. E, pela primeira vez, ao longo de nossa longa história açucareira, tem sido abordado o problema do açúcar partindo única e exclusivamente do interesse dos trabalhadores e de toda a nação. Essas mudanças são muito visíveis.
E lembro-me daquela primeira reunião que tivemos com os trabalhadores açucareiros. E quando eu me lembro dessa reunião, muitas vezes meio gracejando, porque realmente a gente não tem por que criticar ninguém, quer dizer que a crítica que se pode fazer é a crítica que temos que fazer-nos todos absolutamente: de que não sabíamos absolutamente nada. E eu me lembro do episódio aquele — e o lembro até com alegria, porque é lógico que o lembremos com alegria — dos primeiros tempos da Revolução, em que se reuniram os delegados de todas as usinas açucareiras e expuseram os problemas.
Naqueles tempos quão diferentes eram os problemas dos problemas de hoje. E foi lançada uma consigna, que vocês devem lembrar, certo? (ALGUÉM EXCLAMA QUE NÃO) Não se lembram? (EXCLAMAÇÕES DE: “Sim!”) Esse que disse que não, pode ser que tenha sido um dos delegados que tenha estado ali naquela época e não se queira lembrar (RISOS); mas eu me lembro, porque tive um péssimo momento, e foi a consigna dos quatro turnos na indústria açucareira. Aquela consigna cobrou tamanha força. Era uma solução simples e prática de um problema e, ademais, era uma solução lógica para os trabalhadores.
Mas, contudo, era uma solução absurda do ponto de vista econômico, e era uma solução enormemente gravosa para o porvir econômico do país.
Realmente, naqueles tempos nós todos sabíamos menos acerca da economia do que sabemos hoje, e de todas as formas fazia um juízo simples e dizia: se resolvemos o problema do desemprego mediante a distribuição do pouco emprego que temos, não teremos resolvido nenhum problema, simplesmente vamos partilhar o emprego sem incrementar a produção; se elevarão extraordinariamente os custos da indústria açucareira, e esse, de maneira nenhuma, é o caminho de uma solução verdadeira.
Mas aqueles meses eram os primeiros tempos da Revolução e nos encontrávamos em uma circunstância muito “sui géneris”: as usinas açucareiras eram propriedades privadas, as usinas açucareiras pertenciam muitas delas aos monopólios norte-americanos e outras pertenciam a um reduzido grupinho de milionários.
E como explicar aos operários, como pedir aos operários — precisamente à parte mais sacrificada, a que sempre tinha levado a pior parte na história de nossa indústria açucareira — e como convencê-los de que aquilo que parecia um simples antagonismo entre interesses de trabalhadores e interesses de proprietários capitalistas, e que de acordo com a maneira em que nos tínhamos acostumado — necessária e inevitavelmente — a pensar, a medida equivalia, simplesmente, a tirar mais dinheiro àqueles proprietários capitalistas para que a classe operária recebesse mais ingressos; como persuadir os operários de que aquela era uma medida que ia contra os interesses dos operários?
Isto, à parte de que a Revolução para nós os revolucionários era um processo dinâmico e um processo que avançaria para frente, e que iria inevitavelmente mudar a estrutura econômica e social do país. Como naqueles primeiros tempos da Revolução, naqueles primeiros tempos da Revolução, quando a banca, o comércio todo internacional do país, e virtualmente todos os recursos econômicos da nação estavam nas mãos daquela classe. Um país com suas arcas do tesouro vazias, um país cujas reservas de mais de 500 milhões de pesos, mais de 500 milhões em divisas, tinham-se visto reduzidas, aproximadamente, para 70 milhões, e iam caindo.
E naqueles primeiros tempos da Revolução, como explicar aos operários que aquilo que parecia tão lógico era ruinoso para nosso país e para nossos trabalhadores.
E é preciso dizer de verdade que naqueles instantes somente se podia apelar à fé e à confiança dos trabalhadores. Era virtualmente inoportuno entrar no fundo daqueles problemas, teria sido também absurdo; e foi essencial apelar à fé dos trabalhadores.
E é preciso dizer que aquele apelo à fé e à confiança dos trabalhadores teve uma admirável e empolgante resposta.
É claro que os capitalistas e os porta-vozes, por aqueles tempos, estavam muito contentes daquele chamamento nosso aos trabalhadores. Os capitalistas e seus porta-vozes e seus conselheiros diziam: “Que rapaz mais sensato, que rapaz mais ajuizado! Reúne-se com os trabalhadores, trabalhadores que estão metade do tempo sem trabalhar e que vivem nas piores condições, e os convence de que não se deve estabelecer os quatro turnos na indústria açucareira.” E me lembro que estavam muito contentes.
E eu digo que a reação dos operários foi admirável porque me lembro do dia daquela reunião, terminado o congresso, e eu estava convidado a falar, e eu estava absolutamente convencido de que aquilo era uma doidice que nós não podíamos fazer, mas, quem era capaz de achar a solução correta! (RISOS.) Eu falei com os companheiros dirigentes dos trabalhadores e lhes expliquei aquilo, mas quem era capaz de aparecer ali e explicar o problema, quando pairava um estado realmente emocional em favor daquela consigna.
Não havia a unidade que há hoje entre os trabalhadores e tudo aquilo se tornava muito mais difícil. E eu me lembro, eu vou dizer, porque se refere a um companheiro que realmente tenho a opinião de que tem trabalhado muito bem, que é o companheiro Bécquer (APLAUSOS), e por isso eu vou recordar aquele dia, aquele dia que me fez viver um momento difícil, porque ele sabia o que eu pensava, e quando se parou aqui antes de falar eu, agitou mais ainda a consigna dos quatro turnos na indústria açucareira (RISOS). E mencionar os quatro turnos na indústria açucareira era fazer com que aquela massa ficasse em pé e estivesse cinco minutos, encorajada, aplaudindo. E me coube aquele trabalho difícil de explicar aquele problema e, precisamente, creio que sempre que se age convencido de algo, e sempre que se age com a convicção de que se está defendendo os interesses do povo, e há vezes que nessas ocasiões é preciso enfrentar-nos a ideias de um dado momento, a crenças de um dado momento, a erros de um dado momento, mas sempre que se faça com honestidade se pode estar absolutamente certo de que o esforço não será inútil.
E naquela ocasião foi assim. Fez-se um apelo à confiança dos trabalhadores, e a consigna dos quatro turnos não voltou a ser exposta.
E quanto tempo decorreu desse momento até agora? É relativamente muito pouco tempo. E qual é a situação de hoje? Qual é nosso problema de hoje? Um dos nossos primeiros problemas de hoje é precisamente que faltam trabalhadores na indústria açucareira. Quem ia dizer que apenas cinco anos depois daquelas circunstâncias uma das notícias que se recebe com mais júbilo no setor açucareiro é a notícia de que 1,5 mil estudantes graduados das escolas tecnológicas começarão a trabalhar, no próximo ano, em nossas usinas açucareiras? (APLAUSOS.)
O problema do desemprego começou a deixar de ser problema, pelo próprio impulso que todas as atividades do país receberam com a Revolução. E muitos trabalhadores açucareiros que além do trabalho na usina tinham algum outro tipo de trabalho em outro lugar foram se dedicando por inteiro a um tipo de trabalho o ano todo; surgiram novas atividades industriais, algumas indústrias piratearam, inclusive, alguns trabalhadores à indústria açucareira, e não tardou em se apresentar uma circunstância absolutamente diferente, a circunstância de que começava a escassear o pessoal para manejar a indústria açucareira.
E o quão diferentes são as questões que nos preocupam hoje! Quão diferentes são as questões que discutimos hoje!
Então para um país cujas usinas pertenciam ao estrangeiro ou a uma reduzida minoria de privilegiados, cujos mercados estavam limitados, se apresentava o problema de que um maior número de trabalhadores poderia depender daquela indústria, que estava há 30 anos praticamente paralisada. Porque nossa produção açucareira, as receitas do país por conceito do açúcar eram aproximadamente iguais às receitas do país 30 anos antes, quando a população do país era metade da atual população. E se houve tempos em que se traziam imigrantes das ilhas próximas daqui, para poder realizar os trabalhos da safra, então depois chegaram tempos em que centenas de milhares de cubanos esperavam com impaciência aquela safra, aonde iam para poder ganhar algum salário.
Duplicou-se a população, mas a economia permaneceu igual; duplicaram-se as necessidades do país e, contudo, nossa principal indústria — o açúcar — permanecia no mesmo estado que 30 anos antes. Qual é o porvir que esperava a nosso país por esse caminho? E aquilo provocava desespero.
A usina mais nova que tem o país possivelmente foi feita há 40 anos. E sobre a estrutura açucareira crescia e crescia a superestrutura de economia artificial de nosso país; eram importados mais e mais carros cada ano, se construía mais e mais palácios cada ano. Tudo aquilo saía do açúcar, todo aquilo saía das divisas açucareiras.
Porque, o que produzia este país e que exportava este país a não ser o açúcar? E sobre que produtos alicerçavam todas as atividades comerciais do país? Sobre que produtos alicerçavam todas as receitas de todos os grandes comerciantes do país? Sobre quais produtos alicerçava a vida folgada e luxuosa dos ricos deste país? Com que se pagavam as viagens ao estrangeiro, com que se pagavam os perfumes, com que se pagavam os palacetes, com que se pagavam os ares condicionados, com que se pagavam os carros? Tudo aquilo saía do açúcar, porque era o açúcar o ramo básico e fundamental do país. Não crescia o açúcar e, contudo, crescia o luxo, não crescia o açúcar e crescia a população. E ao lado de uma população que crescia sem esperança, uma população onde o número dos desempregados era cada vez maior, crescia o luxo, construíam-se mais e mais edifícios de apartamentos, construíam-se edifícios como o Focsa e como muitos outros, enormes, que custavam milhões, e milhões e milhões de pesos, e não se construía uma casinha para dar albergue a quaisquer das dezenas de milhares de famílias que viviam nos barracos e que eram, contudo, os que com seu trabalho produziam as divisas do país.
E hoje nos reunimos aqui quando a indústria açucareira toda do país pertence a um novo proprietário: o povo (APLAUSOS); quando a indústria toda do país já não pertence à companhia tal e mais qual, nem a Mr. Tal, nem a Mr. mais qual, mas quando a indústria toda do país pertence ao país.
Por vezes os capitalistas, erguendo consignas nacionais ou nacionalistas, diziam que a indústria devia ser nacional, quer dizer, devia pertencer a proprietários nacionais. Somente sob o socialismo se pode lançar uma consigna que representa de verdade um interesse nacional, porque a indústria não passa das mãos de proprietários estrangeiros a proprietários nacionais, mas porque a indústria se converte real e verdadeiramente em um patrimônio da nação (APLAUSOS).
Teremos manejado estes recursos melhor ou pior, teremos manejado estes recursos com maior ou com menor eficiência. Isso não interessa. E não interessa, porque pertence ao capítulo dos primeiros tempos, ao capítulo da ineficiência e da inexperiência que caracteriza as primeiras páginas de toda revolução.
Mas é realmente nossa indústria, é realmente a indústria da nação. E nos reunimos agora sob diferentes condições: reunimo-nos para tirar essa indústria da prostração em que viveu durante 40 anos.
Quem se podia ter atrevido, naqueles tempos e sob aquelas condições, a propor o desenvolvimento máximo da produção açucareira? Quando naqueles tempos os donos das usinas açucareiras aplicavam restrições à produção, a fim de obter maiores lucros. Como se teria podido expor naqueles tempos o que hoje se coloca? Como teria podido sair nossa indústria daquela prostração?
E hoje nos reunimos para fazer avançar as consignas e as projeções que elevarão de maneira impressionante nossa capacidade de produção açucareira, e elevarão de maneira impressionante o volume de nossas safras, sob bases novas, sob condições novas. Porque as contradições de ontem hoje não existem mais, as contradições entre interesses privados e interesses coletivos hoje não existem mais. Quando aquelas contradições existiam, não se podiam resolver nem os problemas do comércio internacional, nem os problemas financeiros, nem os problemas técnicos da indústria. Porque naqueles tempos, quem teria falado de uma máquina de cortar cana? Qual teria sido a reação dos trabalhadores perante a ideia de que uma máquina de cortar cana ia substituir aquelas centenas de milhares de homens, que só durante a safra tinham a chance de ganhar uns pesos? Ninguém teria podido falar de adquirir máquinas para fazer a colheita da cana.
E hoje todos os trabalhadores percebem a máquina como sua grande aliada, olham a máquina como sua grande ajuda, olham a máquina como a oportunidade de incrementar a produção de seu suor.
Quem teria falado então de açúcar a granel? E hoje os trabalhadores veem os embarques de açúcar a granel como o meio magnífico de sair ao mercado exportando nossos produtos em condições capazes de concorrer, com os de qualquer outro país; veem nisso o meio de abaratar consideravelmente o transporte do açúcar, veem nisso o meio de poupar milhões e milhões em divisas, do momento em que não teremos que importar grandes quantidades daquela matéria prima para os sacos nos quais se empacotava o açúcar e assim por diante, hoje a máquina, a tecnologia, tudo o que ajude a aumentar a produtividade do trabalho, tudo o que ajude a reduzir os custos, tudo o que ajude a avançar no sentido de aprimorar a indústria constitui para os trabalhadores um motivo de esperança, um motivo de otimismo, quando ontem era um motivo de preocupação, de ansiedade, era um motivo de angústia porque, logicamente, todo aquilo refletia a contradição entre os interesses dos possuidores e os interesses dos desapossados.
Quão pouco tempo já transcorreu e, contudo, hoje se reúnem os trabalhadores açucareiros, os técnicos açucareiros, tanto os que trabalham nas máquinas como os que trabalham na administração, se reúnem os companheiros das células de base do Partido e os companheiros dos sindicatos, para discutirem o plano perspectivo da indústria açucareira e se analisa este projeto de ambiciosas proporções.
Naturalmente que o esforço tem que ser muito grande, naturalmente que a meta é difícil; mas, realmente, não é impossível. E não pode ser impossível porque quando se somam tantos fatores, quando se soma a vontade da nação em um sentido determinado, quando se incorpora o entusiasmo do país em um sentido, não pode haver nada impossível.
E lançamos este projeto, este ambicioso plano, sob condições de bloqueio econômico e, contudo, essa circunstância, esses obstáculos não nos desalentam. E talvez o maior mérito destes primeiros anos da Revolução, destes anos difíceis, destes anos duros, consista precisamente nisso, em que fomos obrigados a fazer as coisas nas condições mais difíceis.
Quando dentro de alguns anos novos e ambiciosos projetos surjam com a certeza de que as condições serão muito menos difíceis que hoje. E, contudo, não temos a mínima dúvida de que vamos levar adiante este plano perspectivo da indústria açucareira.
É realmente alentador aquele fato, ao qual nos referíamos de outro ângulo, há uns minutos, de que já se incorporam como trabalhadores açucareiros mais de mil jovens dos que participaram da campanha de alfabetização, dos que têm estudado nas escolas tecnológicas organizadas pela Revolução; já se incorpora sangue e seiva novos à indústria açucareira, já os reforços da nova geração vão apoiar o esforço dos trabalhadores dessa indústria, das dezenas e dezenas de milhares de homens que investiram sua vida entre as canas e entre as máquinas das usinas açucareiras; são já frutos da Revolução, frutos que começam a colher-se.
E nós não temos a mínima dúvida de que este projeto se cumpre. Falamos em dez milhões de toneladas de açúcar e isso implica um esforço grande, um esforço grande de trabalho, um esforço grande de investimentos, um esforço grande na agricultura, um esforço grande na indústria, um esforço grande no transporte, e um período de tempo mínimo.
O que é que dirão, o que dirão então aqueles que teimam em atacar a Revolução; que dirão então os caluniadores; que dirão aqueles que perceberam em nossas baixas produções açucareiras, viram com júbilo, algo assim como sintomas de fracasso, algo assim como incapacidade da Revolução para resolver os problemas, algo assim como incapacidade dos trabalhadores para lavrarem seu futuro, e viram algo assim como a esperança de que esse fato pudesse confirmar a necessidade de que as companhias estrangeiras voltassem, que a minoria privilegiada recuperasse suas usinas?
E naqueles dados, naquelas estatísticas que corresponderam aos anos em que se espalhou o desalento pela supressão da cota açucareira, a inexperiência de uma Revolução nova e, além do mais, dois dos anos de mais forte seca que o país tinha conhecido e que deram lugar àqueles volumes na produção açucareira que tanto foram aproveitados pelos inimigos da Revolução, que tanto divulgaram as agências de notícias ianques em suas campanhas contra nossa pátria e que tanto divulgam ainda, porque ainda lançam augúrios, ainda lançam números, e todos esses números flutuam em torno dos 3.800.000, e asseguram se são 3.600.000, E repetem e repetem e repetem esses números.
Neste instante, nós não temos nenhum interesse particular, não temos o mais mínimo interesse de polemizar com eles, não temos o mais mínimo interesse de exibir nossos números e não necessitamos exibi-los. Nós nos ajustamos a dizer que no ano 1970 aspiramos a produzir 10 milhões de toneladas de açúcar (APLAUSOS); que mantemos uma política de discrição açucareira mas, naturalmente, a política de discrição açucareira tem seu termo, tem seu momento em que sua razão de ser desaparece, e então nós podemos dizer aos caluniadores, aos detratores, aos que bateram palmas e auguraram o fracasso da Revolução, o fracasso de nossos trabalhadores, que não têm muito mais tempo para mostrar esses números.
E nós perguntamos, já que eles estiveram fazendo tamanho uso e abuso dos números, o que dirão, o que dirão, quando comecem a aparecer números com aumentos verdadeiramente impressionantes da produção açucareira? (APLAUSOS.) O que dirão àqueles aos quais iam direcionadas suas mentiras, e o que dirão quando digamos que no decurso de tal tempo temos aumentado tanto e tanto e tanto e mais quanto? (APLAUSOS.)
Quais contos farão então? Quais mentiras dirão então? Porque não terão mais remédio que aceitarem a realidade dos fatos. E os imperialistas não terão mais remédio que ficarem calados (APLAUSOS).
E as esperanças sumirão, sumirão, porque as esperanças de nossos inimigos estiveram sustentadas por números, estiveram sustentadas na ideia de que não seríamos capazes de levantar-nos, estiveram apoiadas na ideia de que não seríamos capazes de resistir o bloqueio econômico, estiveram alentadas pela ideia de que fracassaríamos.
E nos próximos anos não entrarão carros ao nosso país, os recursos do país não serão gastos em luxos, porque nestes anos, não foram carros os que entraram ao país, mas entraram no país tantas máquinas, tantos tratores como jamais tinham entrado (APLAUSOS), entraram meios de produção; e agora entrará algo ainda mais importante que é o momento em que estamos aprendendo a fazer um uso correto destes meios de produção (APLAUSOS). Não entrará luxo aqui, mas vamos resolver muitas cosas.
E sejam quais forem os preços, sempre variáveis do açúcar, lançaremos mão dos recursos naturais de nosso maravilhoso país, o emprego pleno de nossas energias, e de nossos meios, e demonstraremos o que se pode fazer, e demonstraremos o que pode o trabalho; e perante o trabalho, uma atitude nova surge, uma atitude não só de consciência, mas de honra, e perante o que se pode fazer, perante o que se deve fazer não é preciso ter somente uma atitude de consciência, de compreensão do que se pode e se deve fazer, mas sim de honra perante a determinação de fazê-lo, acima de qualquer dificuldade (APLAUSOS PROLONGADOS). E essa honra se está apoderando de nossos dirigentes, essa honra se está apoderando de nossos trabalhadores, e essa disposição, esse espírito se pode apreciar em todos os lados e são muitos os sintomas que se apreciam.
No começo deste ano nós dissemos que algumas coisas podiam ser feitas, lançamos alguns planos que pareciam difíceis, e começaram a ser realizados; alguns estiveram céticos; outros, inclusive revolucionários, me diziam: “Por que te comprometes, acaso é correto um compromisso dessa índole?” Como no dia em que eu disse na praça cívica que íamos produzir 60 milhões de ovos, desde janeiro de 1965, em um prazo de um ano e que não falava mais ali se isso não era cumprido. É claro que eles me faziam lembrar outros tempos e me faziam lembrar outras promessas, quando também havia muitas pessoas céticas acerca das possibilidades de fazer uma Revolução, e nós dissemos que haveria Revolução e que em 1956 estaríamos na terra cubana combatendo pela Revolução, ou estaríamos mortos (APLAUSOS E EXCLAMAÇÕES DE: “Fidel, Fidel!”).
Vivemos então horas de angústia, cárcere, perseguição, ocupação de armas; e havia alguns que pensavam, medindo aos revolucionários com a mesma vara com a qual podiam medir sua alma de politiqueiros e de mentirosos; havia alguns que, inclusive, insinuavam que perante semelhante compromisso nós próprios podíamos entregar as armas. Vivíamos horas de angústia, mas eu me lembro bem que naqueles tempos, e pensando que as armas podiam ser ocupadas, apesar de todas as medidas que tomávamos, havia um grupinho de oito ou dez armas com as quais tomávamos medidas ainda mais especiais e de maior cuidado, porque ainda que ocupassem todas as armas, nós estávamos determinados em, com aquele grupinho reduzido de armas, chegar a Cuba. Estávamos determinados em cumprir a promessa.
E às vezes é preciso arriscar a honra. Sim, é preciso arriscar a honra de revolucionários. Porque se não somos capazes de arriscar a honra pela Revolução, não somos revolucionários (APLAUSOS). E se arriscamos a honra de revolucionários e apreciamos a honra de revolucionários, não haverá esforço que deixe de ser feito, não haverá nada humanamente possível que não se faça. E é preciso trabalhar assim, e é preciso comprometer não só a vida, é preciso comprometer também essa honra, e é preciso ter um sentido muito alto desta honra.
É claro que quando a Revolução se propõe algo os inimigos fazem o possível e o impossível porque não seja feito. E com o plano avícola fizeram isso; começaram a elaborar planos, projetos, sabotagens; começaram a imaginar todos os meios possíveis para fazê-lo fracassar. Mas foram adotadas todas as medidas possíveis para que não fracassasse, foram adotadas todas as medidas adequadas e continuou avançando e está avançando e será cumprido cabalmente.
E assim são muitas as coisas que podemos fazer. Neste caso nos propúnhamos um aumento de 200% na produção, em um ano.
É claro que em todos os ramos do trabalho não se podem propor metas tão altas. É claro que em muitos tipos de trabalho as metas são determinadas por uma série de questões impossíveis de salvar, as metas possíveis são determinadas, inclusive, por processos naturais, acima dos quais a vontade humana pode fazer muito pouco.
E em dias recentes nos propomos outras metas, a solução de outro problema que já estava sendo preocupante, e que era fácil para a Revolução resolvê-lo, pois já conseguiu resolver outros mais difíceis. E se colocou o problema dos legumes, e se propôs também um prazo de tempo, e se comprometeu também a honra revolucionária.
E o que se pode dizer é que, ao longo da Ilha, se percebe a atividade, se percebe a firmeza, se percebe o espírito e se percebe a decisão de fazer as coisas (APLAUSOS). E não temos temor de que não sejam realizadas, de que não sejam cumpridas; porque sabemos que quando essa vontade e esse espírito se apoderam das pessoas...
E assim, com os planos que se estão fazendo, com os planos para aumentar a produção de leite no interior do país — e que se estão implementando de um extremo ao outro da Ilha, e que resolverão o problema no interior do país — percebe-se o trabalho, percebe-se a atividade, percebe-se a decisão e se percebe a disposição de fazer as coisas. E assim, com esse espírito, não haverá obstáculo suficientemente grande que nos impeça fazer as coisas. E as faremos.
Hoje, naturalmente, temos muita mais confiança, porque temos muita mais experiência, e porque todo mundo tem muita mais experiência. E porque se pode ter mais confiança nos dirigentes, porque se pode ter mais confiança nos homens da Revolução; porque cada vez as coisas são feitas com mais interesse, e cada vez as coisas são feitas com mais seriedade, e cada vez as coisas são feitas com mais sentido de responsabilidade.
E se vão combatendo as fraquezas — não quero dizer que não existam — se vão combatendo vícios, se vão combatendo defeitos, vai se criando consciência. E assim, se vai criando uma consciência contra o burocratismo, e essa consciência se percebe, se percebe já em todos os homens do povo e nos homens do governo. E isso é muito importante, porque se não houver consciência acerca de algum problema, de algum vício, não há maneira de começá-lo a combater.
E não há consigna, não há apelo que não tenha um eco imediato. E já pudemos ver isso, porque temos vivido estes cinco anos e tanto de Revolução, e lembramos tudo, desde o primeiro mês até hoje; e já quando se percorre algum lugar aparecem logo os companheiros do Partido, aparecem logo os companheiros responsáveis. E já se percebem homens que prestam muita atenção, escutam tudo, com muita decisão, com muito espírito. Já não temos mais aqueles sujeitos meio endoidecidos, meio distraídos, meio fantásticos; temos diante de nós outro tipo de homens. Isso não quer dizer que não reste algum fantástico ou algum meio tolo, ou algum distraído, não (APLAUSOS), ou algum irresponsável, não. Digo simplesmente que são menos, que são muito menos, que são cada vez menos.
Já não aparecem tão facilmente aqueles sujeitos que faziam disparates. Quantos administradores nós tínhamos, em nossa agricultura, que faziam disparates? E onde estão agora os administradores de nossas fazendas canavieiras? Em escolas, estudando, recebendo o segundo curso de capacitação técnica acerca da cultura da cana. Antigamente, andavam fazendo ou desfazendo, antigamente andavam fazendo disparates e sem saber absolutamente nada a maior parte deles. E, naturalmente, com as melhores intenções do mundo. Porque aquele que disse que os caminhos até o inferno estavam empedrados de boas intenções disse algo muito sábio; e nós na Revolução temos podido ver isso, quantos disparates inspirados nas melhores intenções do mundo.
E hoje estão em uma escola. E na escola temos milhares e milhares de trabalhadores estudando, preparando-se. Claro que isso não é questão de um dia, claro que isso não é questão de um mês nem de um ano, claro que temos que ser pacientes e saber esperar o tempo necessário para que essas frutas madurem, como há outras que já se veem madurar. Como se vê madurar o fruto de nosso esforço na educação, como se vê madurar já no fato dos 1.5 mil jovens que começam a trabalhar (APLAUSOS).
Há três anos, nossa aspiração, nossa grande aspiração, era erradicar o analfabetismo, ensinar a ler e escrever a mais de um milhão de analfabetos. Nossa aspiração, e muitos perguntavam para que, por um capricho. Não, não era um capricho; era, precisamente, uma questão de uma essencial justiça, uma prova essencial do amor da Revolução à cultura, do amor da Revolução ao povo, mas isso estava também ligado aos interesses vitais do povo.
Hoje já nossa aspiração não é ensinar a ler e a escrever; já a aspiração é muito mais elevada: é a sexta série (APLAUSOS). E hoje parece algo verdadeiramente incrível, algo verdadeiramente incrível e que possivelmente não tenha ocorrido ou tenha ocorrido muito poucas vezes na história da humanidade: há incontáveis locais de trabalho onde cem por cento dos trabalhadores estão frequentando a escola (APLAUSOS).
E isso, companheiros e companheiras, é um triunfo verdadeiramente fabuloso, é algo que teria parecido questão de fantasia, se alguém tivesse falado disso há alguns anos, porque não se trata de um grande número de operários, trata-se, em muitos casos, da totalidade dos operários.
É um triunfo da cultura, é um maravilhoso triunfo do pensamento, um porvir promissório para nosso país! Porque um país tem porvir na mesma medida em que seu povo trabalhador seja capaz, na mesma medida em que os conhecimentos da técnica e da ciência estejam ao alcance dos trabalhadores! E se, além do mais, esses trabalhadores são donos da riqueza de seu país, se esses trabalhadores não vão trabalhar nem suar para nenhuma classe exploradora, então, que formidável porvir! Porque, para que estudam os trabalhadores? Por que estudam os trabalhadores? A quem hão de servir e a quem hão de ser úteis as horas que o povo investe em estudar?
E se pode dizer que este país, de um extremo ao outro, tem-se convertido em uma imensa, em uma gigantesca escola, e não só em uma escola de gramática, de geografia, de matemáticas; tem-se convertido em uma formidável escola de história (APLAUSOS). Porque estamos aprendendo a história que estamos escrevendo.
E é realmente bela essa história, onde o triunfo pertence aos que se esforçam, onde o triunfo pertence aos humildes. E por isso este triunfo, esta história que nosso povo está escrevendo, desperta cada dia, gera cada dia mais energia, gera cada dia mais força e a torna cada vez mais invulnerável para seus inimigos. E será mais invulnerável na mesma medida em que tenhamos sucesso, em que trabalhemos bem.
E, por isso, poderão apagar-nos da face da Terra, poderão converter-nos em poeira, e com nossa poeira se misturarão muitos dos que tentem converter-nos em poeira (APLAUSOS), mas não poderão tirar-nos de nosso caminho, não poderão tirar-nos nossa causa! E não sei com que sonham os inimigos deste país, não sei com que sonham os imperialistas, não sei que ideias absurdas guardam nos seus cérebros podres (EXCLAMAÇÕES), em seus cérebros podres. Porque assim falam, como falou em dias recentes o senhor Rusk, secretário de Estado, que dizia que o problema de Cuba era um problema hemisférico. O problema hemisférico é deles, que têm problemas com todo um hemisfério escravizado! E em tom ameaçador, falava em forma ameaçadora.
Uma Revolução não pode ser esmagada nem por um nem por dez hemisférios, e ainda menos um hemisfério de exploradores, hemisfério onde os povos estão espoliados pelos reacionários.
E ainda se dedicam à brincadeira de treinar e recrutar mercenários. Há alguns contrarrevolucionários que se ofendem de que os chamem de mercenários, e lemos uma informação, na qual pilotos contrarrevolucionários aparecem no Congo voando aviões norte-americanos e reprimindo o povo congolês, alugados por dinheiro. Vejam que baixa categoria! E não querem que os chamem de mercenários.
E continuam recrutando e treinando mercenários, os do Pentágono, os da CIA; e continuam treinando contrarrevolucionários na Nicarágua e na Guatemala; continuam organizando ninhos de piratas para dedicar-se a essa covarde tarefa, como o ataque que perpetraram contra um navio espanhol, onde demonstraram toda a selvajaria de que são capazes. Identificaram o navio, não se podiam ter enganado, todo mundo viu as letras enormes que dizem: “Sierra Aránzazu, Santander”, com letra enorme; não podiam confundi-lo com o “Sierra Maestra”. Eram marinheiros indefesos e os metralharam; centenas de balas. Deixaram o navio incendiado, e quando aqueles indefesos marinheiros tentavam salvar a vida em uma balsa, metralharam também a balsa salva-vidas. E a quem eles atacavam? Homens armados? Não! Aqueles marinheiros eram trabalhadores; não eram nem donos do navio nem donos da mercadoria. É preciso ter, verdadeiramente, alma de criminosos para cometer semelhante ato de barbárie!
E, é claro, nós sabemos como são esses ataques, nós sabemos que esses ataques são feitos com navios da CIA do tipo REX, com lanchas que são jogadas na água a partir desses navios com gruas, lanchas rápidas, são manejadas pela CIA.
E quando os espanhóis reclamam o fato ao governo dos Estados Unidos, este declara que não sabe, mas que pode assegurar que não saiu do território americano. E se não sabem como podem garantir que não saíram do território americano? E se asseguram e podem assegurar que não saíram do território americano é porque sabem perfeitamente quem foi, perfeitamente. Ato vandálico que os desmascara ante o mundo todo. Lançam mão destes atos cobardes.
Aqueles senhores que vocês viram — não sei se foi aqui mesmo — comparecer na televisão e se declararem todos infelizes cozinheiros, que não tinham nenhuma culpa, que os tinham “enganado”, aqueles senhores que se renderam como mulherzinhas (RISOS), digo mal, sou vítima de um preconceito, porque isso de chamá-los de mulherzinhas... As mulheres são valentes, e são mil vezes mais valentes que esses senhores (APLAUSOS). Suprimo, portanto, esse epíteto danoso, pois eles não podem ser comparados nem com homens nem com mulheres (EXCLAMAÇÕES).
Ninguém sabe que sonhos estranhos eles têm, as ilusões que têm. E vão ver se algum dia cometem outra agressão, vão ver que com apoio ou sem apoio aéreo — porque diziam que na ocasião anterior foram derrotados, porque não traziam aviões, apoio aéreo — com apoio ou sem apoio aéreo o que vai ficar deles (RISOS).
Hoje, quando nós percorríamos os campos, sentíamos uma prática de artilharia, soavam os disparos de nossa artilharia, soavam com ritmo, soavam com força, soavam com tamanho impacto, e lembrávamos os dias da invasão pela Baía dos Porcos e eu imaginava a recepção que terá qualquer nova tentativa aventureira que se faça contra nosso país, com apoio ou sem apoio aéreo! Afinal os vietnamitas, os patriotas vietnamitas derribam todos os dias muitos aviões ianques (APLAUSOS PROLONGADOS).
Tão grande é a crise do imperialismo e seus lacaios que, como vocês sabem, recentemente o presidente da França fez um percurso por vários países da América Latina, pois bem, nessa visita de boa vontade pelos países da América Latina, tão crítica é a situação de alguns governos que a viagem de Charles de Gaulle deixou dois governos em crise (RISOS); não podem nem receber uma personalidade, porque caem em uma crise. Um deles é o da Colômbia, tamanha crise na Colômbia depois da viagem de De Gaulle; tamanhas críticas, tamanhas divisões, tamanhas queixas, porque aquele senhor — que dizem que é um bárbaro, que dizem que é um idiota, um cretinoide total — que preside este país, em virtude deste arranjo entre as oligarquias, em um jantar diante de De Gaulle parece que sentiu uma sorte de complexo e se sentiu na necessidade de fazer grandes elogios aos Estados Unidos. E de uma maneira extemporânea, e possivelmente temendo que depois no outro dia lhe puxassem das orelhas, “por acaso”, em um jantar, começou a falar desbocado, fazendo elogios aos Estados Unidos, falando da amizade com os Estados Unidos, após o qual se diz que De Gaulle retrucou em um tom breve e sóbrio, falando das relações entre a França e a Colômbia.
E, ainda, dizem que em vários brindes esse senhor se enganou, e em vez de dizer: brindo pela amizade com a França, dizia: brindo pela amizade com a Espanha (RISOS). E para que saibam, eu li isso nas informações da UPI e da AP, não quero que ninguém pense que são invenções, ou que são contos, piadas. Não. E quando eles são obrigados a contar isso...
E vejam, o país sentiu-se humilhado, sentiram-se humilhados os políticos, e tem-se criado uma situação de crise. E ficou em crise um governo que visitou De Gaulle.
E outro governo que ficou em crise foi o da Argentina. Aquilo foi de arromba. Na Argentina é o governo dos gorilas — esse senhor que é médico e preside esse país, mas que deve ser um péssimo cirurgião, dos piores, um péssimo cirurgião social, porque é um médico social de mercurocromo (RISOS), e àquilo é preciso aplicar a cirurgia — é um governo fraco, tamanhamente fraco, um biombo, atrás dele está o imperialismo, e atrás estão os americanos, os gorilas, que são a mesma coisa.
E, naturalmente, há um enorme descontentamento popular; as forças da esquerda e os simpatizantes de Perón são muito numerosos nesse país e têm sofrido muito a política entreguista dos governos argentinos.
E ocorreu que Charles de Gaulle chegou à Argentina e pouco tempo depois começaram a se produzir manifestações do peronismo. E tal parece que De Gaulle acabou percebendo bem claro a situação ali, ao ponto que na embaixada da França conversou não só com o governo, conversou com os diferentes candidatos da oposição, os chefes dos partidos da oposição. Mas isso não é o grave, o grave é que ao chegar a Córdova, não sei se vocês terão lido nos jornais o grande problema que se formou com as massas, não contra De Gaulle mas sim aproveitando a viagem de De Gaulle; a multidão, aproveitando aquela chance, saiu à rua e, realmente, desmanchou aquela festa; creio que até o presidente da Argentina saiu com uma mão ferida por um cristal quebrado por uma pedra, ou algo disso, a cavalaria em cima do povo. E por aí apareceu um telexe, agora não me lembro qual foi a agência que o publicou, mas dizem que De Gaulle disse: “Mais um cavalo e vou partir” (RISOS), porque ali estava a polícia a cavalo, a golpes e cacetadas contra o povo. Resultado: o governo da Argentina ficou em crise.
Essa é a situação, esse é o grau de instabilidade desses governos que não representam os interesses dos povos; que recebem a visita de uma personalidade estrangeira, e caem em crise os governos. Resultado da viagem de De Gaulle: dois governos em crise na América Latina: o da Colômbia e o da Argentina. Realmente, seria bom que, todos os anos, De Gaulle fizesse um percurso pela América Latina (RISOS).
Os americanos não viam com muita simpatia a viagem de De Gaulle porém, mais ou menos se consolavam dizendo que “bem, que De Gaulle, que a tradição da França, e a história da França, e a cultura francesa”, etecétera, etecétera. Com o que não contavam os americanos, sem nenhuma classe de dúvida, era com esses problemas tão sérios que iam se produzir para dois países e que provam a instabilidade, a fraqueza e a falsidade da política imperialista e dos governos pró-imperialistas desses países.
E, ao mesmo tempo, a Revolução nossa se organiza vai avançando, trabalha com mais e mais seriedade, e tem cada vez mais e mais confiança em seu porvir, apesar de todas as pedras que tentaram pôr em nosso caminho, apesar de todos os esforços que fez o imperialismo, o poderoso e temível imperialismo ianque, o poderoso e temido imperialismo ianque, a quem nosso povo deu uma magnífica lição, uma boa lição.
Dizem que as esperanças do imperialismo estão na “Aliança para o Progresso”, que suas esperanças estão em que as esmolas que está dando à América Latina impeçam a Revolução. Pois bem: antes da Revolução Cubana nem esmolas davam a esses países; e se hoje dão esmolas a alguns governos, os governos não o dirão, mas o pensarão e dirão: Obrigada Cuba, obrigada a você, Revolução Cubana, agora nos estão dando umas esmolas! (APLAUSOS); se não fosse por você, Cuba revolucionária, nem esmolas nos dariam!
Triunfou a Revolução e começaram a dar algumas esmolas. Assim, quando a história seja escrita dentro de algum tempo, e os rapazes leiam na escola, e os que ensinam história ali não sejam os burgueses exploradores, então os rapazes dirão: bem, e quando começaram a dar algumas esmolas aqui os imperialistas? “Bem, depois de 1959, como dois anos ou três anos depois da derrota da Baía dos Porcos”; e relacionarão a “Aliança para o Progresso” com as esmolas que os imperialistas resolveram dar a seus lacaios, depois da Revolução Cubana, e muito especialmente depois da Baía dos Porcos.
Esperanças de esmagar-nos? Xi!... Ignoram a história, ignoram a física social, ignoram a força das revoluções. Se tivessem as ideias bem claras — que nada! — se pelo menos tivessem uns gramas de massa encefálica (RISOS), estariam percebendo que quando um país chegou a tais progressos e a tais avanços de consciência, em que ocorrem coisas como das que eu falava, há apenas uns instantes, de cem por cento dos trabalhadores estudando, quando em um país ocorre isso não há recuo possível, não há recuo possível! (APLAUSOS.)
Já nem os moradores mais próximos se lembram como se chamavam os donos das casas donde estão os alunos internos estudando há quatro anos, já nem se lembram! E já nem recordam os nomes das usinas.
Quando em um país se reúnem os trabalhadores, se reúnem já sem aquela distinção de antes, com uma plena identificação, total, os administradores e os trabalhadores, os que administram a usina ou os que administram o ministério, os trabalhadores e os técnicos, para fazer um programa; e se dispõem agora a discutir esse programa com os trabalhadores, naqueles locais de trabalho onde uma percentagem tão altíssima de operários está frequentando a escola e vão estudar agora os planos econômicos, e vão estudar o plano de cada usina, e vão participar todos nesta empresa, nesta grande tarefa.
Quando essas coisas estão ocorrendo em um país, quem pode fazer recuar a roda da história? Quando essas coisas ocorrem em um país o melhor é ir-se preparando para uma velhice resignada, ou aqueles burgueses e exploradores e contrarrevolucionários, melhor é que se vão prontificando para uma triste e resignada velhice, enquanto aqui nossos idosos se preparam para uma aposentadoria segura e feliz em sua pátria, rodeados de sua família, de todas as seguranças; enquanto a Revolução leva a previdência social a todos os trabalhadores, pois os inimigos dos trabalhadores, os que ontem exploravam os trabalhadores têm que ir pedindo aos imperialistas uma pequena aposentadoria também; ver como os inscrevem e como lhes garantem a velhice, porque a Revolução... Bem, os aposentou a eles, mas sem pensão.
E isto de deixá-los sem pensão não quero que pensem que é uma coisa desumana. Realmente se podia ter dado a todos os burgueses uma pensão, uma modesta pensão — e nem tão modesta — quando se fez a Reforma Urbana e algumas dessas medidas, entregaram-se pensões que não eram nem muito menos modestas.
Mas, claro, eles não se conformavam com isso, queriam ir e voltar, recuperar as casas, fazer méritos lá, tudo isso; alguns foram mais espertos, ficaram. Mas bem, a Revolução não era desumana, não estava disposta a levá-los a uma situação de que passassem fome; os antigos exploradores eram, afinal, um produto do desenvolvimento social passado do país; não estava disposta a permitir que continuassem explorando os trabalhadores, mas estava em disposição de não deixá-los morrer de fome. Partiram? Vamos ver se lá têm assegurada a velhice, e se não a têm que se vão prontificando. Entretanto, nós nos dedicamos a trabalhar. Estes planos são planos ambiciosos, mas são planos sérios; são planos difíceis, mas são planos possíveis.
Paralelamente a este esforço industrial tem que ir o esforço agrícola. Em muitas usinas, praticamente, já temos mais cana da que podemos moer, mas há zonas de usinas onde não temos toda a cana que se possa moer.
É preciso ir a uma integração entre as áreas industriais e as áreas agrícolas, é preciso ir a uma coordenação plena entre a agricultura e a indústria, e na medida em que avance este programa de investimentos na indústria, avance a técnica na agricultura, aumente a produtividade de cana e de açúcar por hectare.
Lendo uma informação do ano 1953, entre 16 países produtores de açúcar, Cuba aparecia na 14ª colocação no item da produtividade por hectare e, contudo, no primeiro lugar de porcentagem de açúcar por quintais de cana. Isso demonstrava que se juntava a circunstância de nós sermos o país melhor dotado pela natureza para produzir açúcar e, contudo, o país mais tecnicamente atrasado em nossa agricultura açucareira.
Nós temos que trabalhar até colocarmo-nos entre os primeiros, e ainda no primeiro lugar, que nós podemos colocar-nos no primeiro lugar em produtividade por hectare, em cana por hectare e em percentagem de açúcar em nossa cana; nada nos impede atingir isso, temos todas as possibilidades.
E agora avançamos rapidamente rumo à mecanização da cultura da cana, rumo à mecanização da colheita da cana. Nada nos impede colocar-nos no primeiro lugar em produção por hectare e em percentagem de açúcar. Essa deve ser também uma de nossas metas: colocarmo-nos no primeiro lugar, que para isso o que se precisa é da técnica, para isso do que se precisa é de aplicar a técnica correta, conhecer a técnica e aplicá-la.
E também devem receber uma grande divulgação todas as técnicas agrícolas, vão receber uma grande divulgação; e não tenho a mínima dúvida de que igualmente um dia terão que contar-nos entre os primeiros países, nas primeiras filas no alto rendimento de cana por hectare, no alto rendimento de açúcar e no baixo custo da produção, pela aplicação das máquinas, pela obtenção do máximo de produto, com o mínimo de gastos. Não tenho a mínima dúvida de que chegaremos a colocar-nos entre os primeiros lugares.
E eu sei que vocês, que conhecem bem a história de nosso açúcar, que conhecem as usinas, que conhecem estes planos, sairão daqui com o maior entusiasmo, sairão daqui certos de que podem realizar este ambicioso projeto, partirão para comunicar este entusiasmo a todos os operários das usinas açucareiras, a discutir com eles estes planos.
Tem-se organizado o Ministério da Indústria Açucareira, a indústria açucareira tem sido colocada no lugar hierárquico que lhe cabe dentro de nossa economia, e o trabalho dos açucareiros já é o trabalho mais importante da nossa economia.
Eu sei que vocês amam a indústria açucareira, eu sei que vocês amam a cana, eu sei que vocês amam o açúcar, eu sei que vocês estavam anelando esta oportunidade; esta oportunidade finalmente se apresenta (APLAUSOS).
Agora, vamos cumprir os acordos, assumir estes acordos com espírito, assumir estes acordos com honra! Comprometamos nossa honra de revolucionários neste programa e veremos como se cumpre!
E eu, da minha parte, não vacilo em arriscar, mais uma vez, minha honra de revolucionário neste plano, junto com os trabalhadores açucareiros.
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)