Discursos e Intervenciones

PROGRAMA ESPECIAL PERANTE A IMPRENSA PARA EXPLICAR AO POVO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO PARA A 2ª ASSEMBLEIA-GERAL DO POVO DE CUBA; 22 DE JANEIRO DE 1962, “ANO DA PLANIFICAÇÃO”

Fecha: 

22/01/1962

Jornalistas:    Ithiel León (Revolución)
Raúl Valdés (Hoy)
Ernesto Vera (La Calle)
Moderador:    Luis Gómez Vangüemert
Moderador.- Muito boa noite, senhores telespectadores. A Cadeia Nacional de Rádio e Televisão tem a honra de apresentar-lhes esta noite uma comparência especial do doutor Fidel Castro, Primeiro-Ministro do Governo Revolucionário, perante um painel de jornalistas formado por Ithiel León, diretor interino do jornal Revolución, Raúl Valdés Vivó, diretor interino do jornal Hoy, e Ernesto Vera, diretor do Jornal La Calle, que perguntarão ao Primeiro-Ministro sobre a organização da concentração para a Segunda Assembléia-Geral do Povo Cubano que será celebrada no dia 28 deste mês na Praça da Revolução “José Martí”.
Tem a palavra o companheiro Valdés Vivó.
Raúl Valdés Vivó.- Comandante Fidel Castro: ninguém pode negar a importância extraordinária da Segunda Assembléia-Geral Nacional do Povo de Cuba, tendo em conta a situação da América Latina, que luta contra as muitas agressões do imperialismo ianque, e em defesa do direito de autodeterminação.
O quê nos poderia dizer esta noite no que se refere à convocatória da Segunda Assembléia para o dia 28 de Janeiro, o dia de José Martí?
Fidel Castro.- Precisamente, estava interessado na comparência desta noite por uma razão fundamental, que é a seguinte: não realizar a assembléia no dia 28.
Nós temos estado discutindo —mas não se preocupem, a assembléia vai ser feita, que ninguém fique desiludido—,discutimos isto amplamente, os companheiros da Direção das ORI e do governo, antes de sair o presidente Dorticós, inclusive sobre a situação seguinte: em primeiro lugar, surgira a idéia de convocar a Assembléia-Geral do povo simultaneamente com a Conferência de Punta del Este; ao mesmo tempo, um grupo de latino-americanos lançou a idéia de convocar a uma conferência dos povos em Havana; mas ao mesmo tempo, outro grupo de personalidades da América Latina convocou para outra conferência de representantes dos povos em Montevidéu.
Então, ia ser realizada simultaneamente a Conferência de Punta del Este, a Conferência dos Povos em Havana e a Conferência dos Povos em Montevidéu. Que não era correto realizar a assembléia no dia 22, entre outras razões, por isso.
Outra razão mais em favor de não realizá-la no mesmo dia 22 é que a Assembléia Nacional do Povo devia ser uma resposta aos acordos de Punta del Este.
E então se pensou mais uma razão, que era escolher uma data que não fosse nesse dia, que permitisse recolher os pronunciamentos de Punta del Este nos debates, a Declaração de Punta del Este, com tempo suficiente para respondê-la na Assembléia-Geral do Povo.
Portanto, a data que parecia a melhor de todas, por uma razão, por uma razão de tipo patriótica, era o dia 28, dia do nascimento de Martí. Então, decidiu-se adiar a assembléia para o dia 28, dia do natalício de Martí, magnífica data, para responder aos pronunciamentos de Punta del Este, e que, ao mesmo tempo, não tivesse lugar a assembléia quando se estavam realizando outros atos aqui mesmo em Havana, tais como a Assembléia dos Povos que começa amanhã.
Mas tudo parece indicar que a Conferência de Punta del Este não vai concluir antes do dia 28. Em um programa que eles enunciaram há dias, a conferência terminava no dia 29. Mas além disso, ontem adiaram o início da conferência, em vez de hoje, para amanhã terça-feira. Aliás, tudo parece indicar que a conferência pode prolongar-se.
Nessa situação sabendo já que de qualquer maneira a conferência vai findar no início da próxima semana, ou talvez nos meados de semana, é evidente que a data de 28, que era a data que tivéssemos preferido, por ser a data do natalício de Martí, já não seja o dia mais adequado para celebrar a Assembléia Nacional do Povo, e, em conseqüência, devamos adiar a assembléia do domingo 28 para o domingo 4 de fevereiro.
Então, teremos tempo de recolher todos os incidentes, a polêmica ideológica de Punta del Este; além disso, já estará de regresso o Presidente e então estaremos em condições de formular a Declaração de Havana, ao mesmo tempo que toda uma série de princípios de ordem geral que tenha uma resposta clara e diáfana aos acordos de Punta del Este, uma resposta à Conferência de Punta del Este.
Portanto, somos da opinião de que a melhor data para celebrar a assembléia seja, não no dia 28, mas no dia 4 de fevereiro. Naturalmente, é preciso um grande esforço por parte de todas as organizações populares; todos os manifestos, todos os slogans, todos os chamamentos estão feitos para o dia 28, mas isso não é obstáculo. Precisamente, queríamos colocar com tempo, pelo menos seis dias antes, a conveniência de adiar a assembléia para o dia 4 de fevereiro, de tal maneira que não importe que estejam colocados já todos os cartazes: sabe-se que onde aparece dia 28, quer dizer dia 4 de fevereiro. E além disso, há mais tempo inclusive para realizar o trabalho de organização e de mobilização e de explicação.
Visto que há um outro fator: que durante todos esses dias o povo se vai informando do que é discutido em Punta del Este. Durante toda esta semana, fim de semana e princípios da outra semana, o povo estará informando-se, tendo uma idéia, uma opinião de todos os acontecimentos e de todas as questões que lá se estão discutindo.
Mas, é lamentável que não seja realizada no mesmo dia do natalício de Martí; de qualquer maneira, é uma necessidade, e nunca deixará de ser também uma homenagem a Martí, como todos os grandes comícios da Revolução. Portanto, informarei que acordamos adiar a Assembléia-Geral Nacional para domingo 4 de fevereiro. Essa é a questão mais importante, por essas razões que acabei de explicar, que penso que vocês compreendem perfeitamente bem, e o povo também as compreenderá perfeitamente bem.
É importante que não se perca nenhum acontecimento de Punta del Este, visto que lá vai ser desatada uma batalha ideológica, uma grande batalha ideológica. Esse é o significado que tem Punta del Este: que é o cenário onde vai ser liberada uma batalha entre a Revolução Cubana e o imperialismo.
 
É uma grande batalha de idéias, das idéias revolucionárias, as idéias de progresso, as idéias de justiça, representadas por Cuba, e as idéias de exploração, de domínio, de opressão dos povos, representadas pelo imperialismo ianque.
Evidentemente, Cuba não está desatando em Punta del Este uma batalha por Cuba. Cuba vai levar a cabo em Punta del Este uma batalha por toda a América, pois essa batalha se está liberando ao redor de um princípio chave, fundamental: o direito da autodeterminação dos povos, o direito à soberania dos povos, dos povos da América. E logicamente, quando se defende a soberania dos povos da América se está defendendo também a soberania de qualquer povo em qualquer lugar; o direito de cada povo a ter a forma de governo que quiser.
Isso está implícito dentro do direito de autodeterminação e do direito à soberania de cada povo. O direito dos povos a fazer a Revolução, naturalmente, visto que o contrário a isso seria que os povos renunciassem ao direito à Revolução, e que as formações econômicas e sociais, os regimes sociais, os regimes sociais se perpetuariam definitivamente.
Ou seja, se os ianques tivessem pensado realizar esta conferência em 1800, teriam colocado a congelação do status quo da América Latina, Canadá uma colônia e o resto dos países da América Latina tornado em colônias espanholas. E essa tem sido sempre a eterna luta entre as idéias revolucionárias e as idéias reacionárias.
A Santa Aliança foi, precisamente, uma aliança para congelar o “status quo” de todas as monarquias absolutas, e o feudalismo, as condições de vida feudais a que estavam submetidos os povos na Europa.
Daí que, ao mesmo tempo, se eles tivessem pensado realizar essa conferência durante... bom, quatro séculos, teriam tido que defender o “status quo” existente. Se tivessem pensado realizar essa conferência na Ásia, há 15 ou 20 anos, teria implicado o domínio colonial sobre a Índia, sobre a Indonésia, sobre a península Malaia, sobre todos os países do sudeste e da Ásia Central, e do Oriente Próximo. Se tivessem pensado realizar a conferência na África, então teriam defendido o “status quo” da África.
 
O quê pretendem os imperialistas? Pois congelar o “status quo” imperialista, isto é, de exploração imperialista, que existe na América Latina. E então, desde o momento em que um povo não pudesse dar a forma de governo que achasse conveniente, desde o momento em que um povo não pudesse realizar sua revolução, significaria que todos os povos teriam que se resignar ao “status quo” existente. Isto é, os 30 milhões de indígenas que há na América Latina teriam que resignar-se às condições de pobreza, de miséria em que vivem, de escravatura, de semi-escravatura; as massas camponesas, as massas operárias.
Inclusive, não só as massas camponesas nem operárias, mas os intelectuais, os profissionais, as camadas médias da população da América Latina teriam que se resignar a esse “status quo”. É o que dizem os imperialistas.
Como o querem colocar? Querem coloca-lo na base de que Cuba não tem direito a fazer sua Revolução. O país que faça uma revolução deve ser punido e se deve obter o acordo, o apoio da OEA, precisamente, para que o imperialismo possa agir a seu bel-prazer na América Latina!
O quê se está discutindo em Punta del Este? Está-se discutindo o direito dos povos a sua soberania; está-se discutindo o direito dos povos à autodeterminação. Dai que os povos da América se preocupem e lhe dêem tanta importância à Conferência de Punta del Este.
Desde logo, quem vão discutir esses direitos? Os povos? Em primeiro lugar, os imperialistas ianques vão discutir os problemas da América Latina, sendo como são dois pólos absolutamente opostos, com a diferença que existe entre um país altamente industrializado, um país capitalista, monopolista, que é dono da maioria das riquezas do mundo, e os povos empobrecidos e explorados da América Latina; mediando tal diferença, e sendo a América Latina um pólo oposto por completo no econômico e no social, aos Estados Unidos, que representa o país mais industrializado, o baluarte do monopolismo e do imperialismo no mundo; então, já o simples fato de que os imperialistas ianques estejam discutindo problemas da América Latina é uma intervenção na América Latina.
 
Porque, quem vão estar discutindo? O tubarão vai estar discutindo com as sardinhas, os ricos vão estar discutindo com os pés-rapados, os multimilionários com os povos famintos! Então, os milionários que estão explorando esses povos famintos; o mero fato de que estejam discutindo com eles sobre o quê têm que fazer os povos famintos, implica uma intromissão que não é extracontinental, é ainda pior, porque nas intromissões extracontinentais pelo menos pode-se dizer: bom, há mares, oceanos pelo meio. Porém, ainda mais perigosa que toda suposta intervenção ou interferência extracontinental é uma interferência intra-continental entre o país mais poderoso do mundo, o país que é sede do imperialismo, o país altamente industrializado, a interferência desse país nos povos que são pólos opostos, famintos, povos subdesenvolvidos, povos explorados, povos que têm massas enormes de camponeses sem terra, de trabalhadores ganhando salários de miséria, de indígenas que inclusive não falam ainda o idioma, de populações onde o analfabetismo é de 60,70, e de 80%.
A simples Conferência de Punta del Este, a presença desse senhor ianque, do Ministro de Relações Exteriores dos Estados Unidos, do Secretário de Relações Exteriores, só isso já é uma interferência dos Estados Unidos nos problemas da América Latina.
Mas, logicamente, eles vão participar dessa conferência. Qual é o objetivo? Simplesmente, querem sentar um precedente. Qual é o precedente? Nenhum povo da América Latina pode fazer sua revolução. A situação, é o “status quo” econômico e social, que é um “status quo” de fome e de exploração, tem que manter-se da maneira em que está: “Venham, governos da América Latina, e acordem aqui, junto de nós, que não se pode fazer revolução na América Latina.”
Isto é, os povos da América Latina não têm direito a fazer uma revolução, não têm soberania para fazer uma revolução. Então, isso implica a renúncia à soberania dos povos da América Latina; é o que pretendem os Estados Unidos neste momento, e é aquilo que se está discutindo, em essência, em Punta del Este: se os povos da América Latina são ou não soberanos; e eles não escondem isso, porque todos os telex da UPI e da AP, todas as publicações norte-americanas, todas as declarações da reação, a polêmica é entre os governos da América Latina, que defendem o direito de autodeterminação dos povos; isto é, que defendem o princípio de não intervenção, e toda a reação da América, da América saxônica e da América Latina; todos os reacionários do continente, todos os jornais reacionários, todos os políticos reacionários do continente colocam essa questão nesses termos. E então, criticam os governos do México, o governo do Brasil, o governo do Chile, o governo da Bolívia, todos os governos que defendem o princípio de autodeterminação e o princípio de não intervenção, são atacados duramente na prensa reacionária e nos telexes, simplesmente por defender o princípio de autodeterminação e por defender o princípio da não intervenção.
Então, essa é a polêmica colocada publicamente. Quem defendem o princípio de não intervenção, o direito de autodeterminação, e quem não concordam; e de fato, toda a reação, todos os jornais reacionários perguntam como vai ser respeitado esse princípio?, como vai ser respeitado esse direito?, pois não, é preciso intervir, é preciso sancionar Cuba. Isto é, é preciso imiscuir-se nos assuntos internos de Cuba e há que proibir a Cuba fazer sua Revolução; e isso já não é um segredo, isso é uma polêmica pública, onde nós estamos sendo testemunhas de uma discussão da máxima transcendência para todos os povos; é uma das polêmicas de tipo ideológico mais importantes que teve lugar, em primeiro lugar, na América, pelo princípio que se está discutindo.
E daí a importância que tem, não só para nós, porque na última hora, nós nos defendemos aqui; autodeterminação de Cuba não se defende em Punta del Este, nem o direito à soberania nem o direito de autodeterminação. Esse direito de autodeterminação, o direito à soberania de Cuba, os cubanos defendemo-nos com nossos canhões, com nossos tanques, com nossos exércitos, com nossas divisões! (Ovação.)
Quando aqui a Comissão Interamericana de Paz... veja que piada; uma comissão interamericana de paz integrada pelo representante dos Estados Unidos, da Venezuela, da Colômbia, e sei lá que outro país também, e o senhor esse, esse senhor Clulow, que, inclusive, contravindo as ordens e as instruções do seu governo, vota ali pela conferência. Os imperialistas precisavam de um voto, compraram um fantoche, e obtiveram esse voto comprado; e então convocam à conferência. Bom, ao mesmo tempo, o Peru —imaginem só, Peru! no Peru há vários milhões de indígenas morrendo de fome, explorados. Quase todo o território cultivável do Peru pertence a 300 famílias de exploradores desalmados; as condições de miséria e de fome em que vivem os indígenas do Peru são inexplicáveis. Então, o Peru pede uma comissão investigadora, e ai estão os Estados Unidos na Comissão Investigadora de Paz; isto é, um representante de um governo que esteve três anos intervindo, atacando, fustigando, enviando armas, organizando mercenários, queimando canaviais, enviando explosivos e, por último, invadindo-nos e preparando novas invasões. Então aparece uma comissão de paz integrada, entre outros, pelo representante dos Estados Unidos, a Venezuela, a Colômbia e todos esses palhaços, e um senhor que se tinha vendido.
E então, são tão descarados que pedem licença para vir a investigar aqui, e o quê lhes respondeu o governo cubano? Bom, se vierem a Cuba, venham prontos para o combate (Aplausos prolongados). Porque aqui, aqui, tudo o que cheirar a intervencionismo, a ingerência, tudo o que vier aqui com intenções intervencionistas, com intenções de ingerência e de qualquer índole, o receberemos com canhonaços; portanto, é uma coisa terminante.
Nós temos com que defender nossa soberania, porque temos as armas para defendê-la e, sobretudo, temos o mais importante, temos todo um povo para defender essa soberania. Daí que, a soberania de Cuba e o princípio de autodeterminação o estamos defendendo aqui, em primeiro lugar; não obstante, lá Cuba não está levando a cabo uma batalha por Cuba, está liberando uma batalha por toda a América, porque o resto dos povos está desarmado, o resto dos povos, muitos dos povos da América Latina, estão indefesos perante a ingerência e face ao intervencionismo.
Como vamos conceder ao amo milionário, aos imperialistas milionários, exploradores da América e do mundo, o direito de intervir nos povos da América Latina? Isso é absurdo, e nós estamos preocupados, sobretudo, a sorte do resto dos povos da América Latina. O quê estão procurando ali os imperialistas? O direito de intervir em qualquer povo da América Latina. Onde quer que o povo começar a revoltar-se, onde quer que o povo começar a se mostrar inconforme contra a exploração imperialista, terem eles o direito de intervir, inclusive, com suas forças armadas.
É claro que, os imperialistas não têm por hábito pedir permissão a ninguém para intervir, porque quando eles lançaram seus navios e os enviaram frente a São Domingos para tentar manter ali o Trujillismo, eles não lhe pediram permissão a ninguém; quando eles organizaram a força armada ali e a mandaram frente a São Domingos numa atitude cominatória, e inclusive declararam que se Balaguer lhes pedia ajuda eles desembarcavam; e quem era Balaguer para pedir ajuda? Se Balaguer não representava ninguém, Balaguer, sozinho, e o defunto Trujillo. E Trujillo não tinha representado outra coisa do que ao imperialismo lá mesmo, dos Estados Unidos.
E então, declaram tranqüilamente esses senhores —porque são descarados demais — declaram tranqüilamente, o Departamento de Estado norte-americano, que se Balaguer lhes solicitava a intervenção, eles intervinham. Ou seja, o quê quer dizer isso? Que qualquer palhaço desses, qualquer sem-vergonha, qualquer depravado pode servir de pretexto para que os imperialistas intervenham! Então eles, quando adotaram essa determinação, não consultaram ninguém em Punta del Este; quando organizaram sua invasão contra Cuba no mês de abril, também não reuniram os chanceles para lhes pedir permissão, mas como sabem que “tudo lhes correu mal”, como se diz vulgarmente, e que perderam de verdade em Praia Girón, então, o quê pensam?, que a coisa não é tão fácil em Cuba, e então agora vão pedir permissão; agora o que vão fazer é pedir permissão. Mas, desde quando pedem permissão? Quem lhes deu permissão aos imperialistas para intervir no Vietnã do Sul? Contudo, os imperialistas estão aí, no Vietnã do Sul, onde o povo luta heroicamente contra o governo fantoche, contra a exploração imperialista, e eles têm milhares de oficiais ali, aviões, helicópteros, de vez em quando sua Sétima Frota, essa Sétima Frota famosa, que, além disso, sem que ninguém lhe desse permissão, está metida entre China Continental e Formosa; ninguém lhes deu permissão em nenhuma conferência e eles se meteram.
Eles também não pedem permissão; por quê estão pedindo permissão agora? Quer dizer que querem dar a volta por cima e cobrir certa forma, mas é pura hipocrisia deles; o que querem é ser cúmplices das suas malfeitorias e dos seus planos intervencionistas dos idiotas esses, palhaços miseráveis!, da América Central e da Venezuela, do Peru, da Colômbia; esses parvos.
Então, trata-se disso. Eles intervieram em todas partes sem pedir licença, mas agora querem ter a cumplicidade desses governos para intervir, e não só em Cuba! Eles estão interessados em sentar o precedente, e que os próprios governos da América lhes dêem licença para intervir em qualquer país onde existir uma revolução, questão essa que eles vão fazer sem pedir permissão a ninguém, como o fizeram em São Domingos. Então, eles estão ameaçando seriamente os povos de que têm que resignar-se à exploração, e se os povos se cansarem da exploração, e se as nações da América decidirem pôr fim à exploração imperialista, eles intervirão. É o ponto de vista que nós temos sustentado: que a América Latina está ameaçada da invasão imperialista, por que? Porque há uma grande inquietação na América Latina, porque os povos vêm à realidade, e os povos se cansam já da exploração; e nos países —nesses países, precisamente, onde há condições de miséria, de exploração, onde os governos estão entregados ao imperialismo— cujos governos não têm o mais elementar sentido da dignidade nacional, e que são os que formam o coro de fariseus em Punta del Este, e o coro de cúmplices dos Estados Unidos nos planos contra Cuba. Os povos inquietam-se cada vez mais; a consciência revolucionária cresce. E como é impossível que os povos se resignem a viver nas condições de miséria a que o imperialismo os tem submetidos e se resignem à congelação dessa situação, é lógico que os povos  
—mais tarde ou mais cedo— se levantem contra essas condições, e então os imperialistas vão intervir em qualquer nação da América Latina, onde os povos se cansem da exploração.
E nós temos dito isso, na reunião com os jornalistas da OIP colocamos essa questão: que é necessário denunciar internacionalmente que a política agressiva dos Estados Unidos está conduzindo a uma situação na América Latina em que as nações da América Latina vão-se ver agredidas; os povos da América Latina vão-se ver agredidos diretamente pelo imperialismo, porque nunca faltará um Balaguer. Se eles declararam que se Balaguer lhes pedia ajuda eles o iam ajudar, pois da mesma maneira quando um Lleras Camargo, um Betancourt, um Prado, um miserável qualquer desses lhe peça ajuda, quando já não lhes alcancem os soldados que têm para manter a opressão em suas respectivas nações, e lhes peçam ajuda aos imperialistas, os imperialistas lhes vão emprestar a ajuda logo.
Painelista.- Como um Carlos Lacenda.
Fidel Castro.- Bom, esse já nem... não acredito que esse... pelo menos, foram por dinheiro e saíram esquilados quando da crise no Brasil. Claro, Lacenda é um miserável, um indivíduo repugnante, não vale a pena. Chefe dos bandos fascistas, porque outra coisa que estão fazendo os imperialistas é organizar bandos fascistas em todos os países da América Latina. A sede da Organização dos Estudantes do Brasil  
—que é muito combativa— e das organizações progressistas, tem estado sendo atacada por bandos fascistas organizados pela embaixada norte-americana; no Uruguai têm organizado bandos fascistas; em quase todos os países da América Latina, a embaixada norte-americana está organizando bandos fascistas, está introduzindo armas, e está organizando grupos de gângsteres fascistas destinados a semear o terror contra as organizações progressistas, contra as organizações populares.
Evidentemente, essa é uma política chamada ao fracasso, porque isso não assusta ninguém, nem muito menos. Aqui também a Embaixada organizou seus bandos; hoje mesmo comemoramos, por exemplo, o assassinato de Jesús Menéndez, vítima das ações do imperialismo, embora neste caso não foi um bando fascista, mas foi o outro bando, o “bando amarelo” do imperialismo aqui, que perpetrou aquele crime repugnante; mas outros dirigentes operários foram assinados por bandos.
Agora, já os imperialistas ianques, que antes dissimulavam mais ou menos as coisas —organizavam antes o SIM, organizavam os organismos repressivos, o BRAC e tudo isso—, já constituíram bandos armados, e oficializaram o gangsterismo numa série de países da América Latina para perseguir às organizações progressistas.
Mas, voltando à idéia anterior: os imperialistas declararam abertamente que eles estão dispostos a enviar sua infantaria de marinha a qualquer lugar onde um palhaço, ou qualquer, lhe solicitar para conter o povo. Que aconteceu em São Domingos? O povo estava levantado contra o Trujillismo, o povo estava levantado contra Balaguer, e os imperialistas declararam, colocaram seus navios ali enfrente para intimidar; o fato de colocar os navios frente a São Domingos é uma ameaça para forçar os acontecimentos e, ao mesmo tempo, declaram que se Balaguer lhes solicitava ajuda eles desembarcariam a infantaria de marinha. E na América Latina, em qualquer país, nunca falta um Balaguer capaz de chamar à infantaria da marinha.
E esse é o perigo dos passos que estão dando os imperialistas, e essa é a importância que tem a batalha de Punta del Este, porque se está defendendo o direito de autodeterminação dos povos, que é o que Cuba representa; e um direito que o estão defendendo governos importantes da América Latina, o está defendendo o governo do México, o governo do Brasil; o governo do Chile tem declarado estar em favor da autodeterminação, também o tem feito o governo do Equador, o governo da Bolívia, também o governo do Uruguai, isto é, seis ou sete países estiveram defendendo esse princípio, porque é um dever; têm um sentido da dignidade nacional, da soberania nacional e, por conseguinte, sabem do perigo que tem o fato de que numa conferência desse tipo os imperialistas consigam a aceitação de seu direito de intervir nos assuntos internos de um povo da América Latina. Lá se está discutindo o direito à soberania dos povos da América Latina.
Portanto, não é tão grave para nós, porque nós temos com que defender nossa soberania, como para todos os povos irmãos da América Latina, que estão expostos no futuro... Porque também aqui parecia que nunca seria feita uma revolução, e foi feita! Quem pode predizer que vai ser eterno o regime econômico e social de outros povos que vivem em condições de miséria? Ninguém pode afirmar isso, porque a história demonstra que não há nenhum sistema econômico e social baseado na exploração que tenha podido perdurar. A humanidade conheceu diferentes formações econômicas e sociais, e a história as ultrapassou, como ultrapassará inexoravelmente o estado atual de miséria, de fome e de exploração dos povos da América Latina.
Assim sendo, há duas questões: por um lado, a realidade de uma América que se levanta e, por outro, a realidade de um imperialismo agressivo contra os povos da América Latina, que em Punta del Este quer sentar o precedente de que um povo não pode fazer sua Revolução. E essa é a importância que tem Punta del Este, e esta é a batalha que Cuba vai concretizar ali; que vai concretizar por Cuba e vai concretizar pelo resto dos povos da América Latina; inclusive, a vai concretizar em favor desses povos cujos governos traem América: a vai concretizar em favor do povo da Venezuela, do Peru, da Colômbia; em favor dos povos da América Central, em favor de todos esses povos explorados, cujos governos se juntaram aos planos intervencionistas ianques, cujos governos estão renunciando à cidadania.
Não estamos preocupados por Betancourt, nem por Lleras Camargo, nem por Prado; mas estamos preocupados pelo dia em que os povos se decidam começar a combater esses miseráveis, então esses povos serão vítimas da agressão dos imperialistas. E é por isso que nós estamos defendendo, ali em Punta del Este, o direito dos povos da América Latina.
Isso de uma parte. Já houve muitas especulações sobre os imperialistas, e as agências de notícias se dedicam a fazer especulações; por não deixar de especular, especularam de que nestes dias íamos deixar em liberdade os mercenários para dar um golpe de efeito. Saibam: o golpe de efeito o demos capturando todos os mercenários. Demo-lo há muito tempo! (Aplausos.)
Portanto, que nem sequer sonhem, esses são “sonhos de uma noite de verão”; não fiquem com ilusões: Punta del Este não nos vai amedrontar, nem vamos render nenhuma preitesia à mogiganga essa dos norte-americanos. Esses mercenários não vão sair daí até não pagarem a indenização que têm que pagar pelos prejuízos que provocaram, e que cada ano que passar terá que ser maior.
Portanto, as agências de notícias não devem ter nenhuma ilusão, nem façam intrigas com isso, que isso não lhe tem passado pela mente a ninguém, nem passará. Mas, bom, uma das tantas especulações. Agora que foi Dorticós, por que não foi o outro... estão também especulando sobre a posição de Cuba. A posição de Cuba é uma posição muito clara, é uma posição muito firme. Vamos ali a Punta del Este representados, bem representados, na pessoa do Presidente da República, do companheiro Roa, do companheiro Carlos Rafael, e do resto dos companheiros que fazem parte da delegação; muito bem representados, a manter a posição firme, de defesa do direito de autodeterminação dos povos. Cuba vai defender esse direito, mas além disso, vai acusar duramente os imperialistas ali, vai acusar duramente os imperialistas, vai denunciar a política de ingerência, intervencionista dos Estados Unidos em Cuba, em São Domingos e no resto dos povos da América Latina.
Esse senhor, Dean Rusk, possivelmente nunca vai ouvir em sua vida as verdades mais claras, mais diáfanas e mais terminantes do que as que vai pronunciar nossa delegação ali, chefiada pelo presidente Dorticós; e ali bem de perto, vai ter que explicar, porque ali este senhor vai ter que explicar o quê aconteceu em Praia Girón; isto é, em virtude de que teoria, de que direito, fundamentaram os imperialistas sua invasão de Praia Girón. Porque, quais são as provas...? Inclusive dizia a UPI, perdão, a AP, uma destas agências há dias, que nós tínhamos dito que íamos apresentar provas, mas que até agora não a tínhamos apresentado. Mas, há um princípio de direito que diz que “a confissão de parte relevo de provas”. E então, Dean Rusk terá que dizer ali que Kennedy é um mentiroso, porque o que declarou, que ele se responsabilizava pela invasão de Praia Girón, era mentira; e que o que disse Allem Dulles era mentira também; que o que disse Idígoras era mentira. E estão, está em um discurso publicado, transmitido pela UPI, a AP, que Idígoras disse que lá se tinham treinado os mercenários! O quê vão dizer esses senhores ali? Como vão explicar aos povos e à Conferência de Chanceleres...? Penso que vão tentar de que não se ouça uma palavra do que lá se diz, porque lá vão ser ditas coisas claras, verdades incontestáveis.
Lá terão que enfrentar-se a Cuba. Cuba não vai lá com o objetivo de que “lhe perdoem a vida”, de maneira nenhuma; Cuba vai ali acusar os imperialistas, a nossa vida está perdoada há muito tempo, nós próprios nos a perdoamos, o povo de Cuba, com sua decisão de vontade, com seu valor, com a solidariedade de todos os povos do mundo, com a solidariedade de todos os homens de consciência, de pensamento digno da América, da África, da Ásia, com a solidariedade do mundo socialista; isto é, com a solidariedade dos povos e a dignidade do nosso, e a decisão de lutar, nós nos temos perdoado a vida há muito tempo. Não vamos lá com o objetivo de que os imperialistas nos perdoem.
Parece que eles têm ilusões. E com certeza acham que nos têm preocupados. Vamos acusar lá os imperialistas, e pedir que sancionem lá os Estados Unidos, a Guatemala e a Nicarágua; não a Guatemala e a Nicarágua, que sancionem os governos dos Estados Unidos, da Guatemala e da Nicarágua. Que expliquem lá, para ver como justificam eles seus atos de intervenção anteriores a Praia Girón e posteriores a Praia Girón.
E a delegação cubana vai lá denunciar toda a verdade da exploração, toda a verdade da intervenção e da opressão que os monopólios dos Estados Unidos mantêm sobre a América Latina.
Essa é a posição de Cuba. Cuba vai lá a denunciar os imperialistas, e vai a denunciar os imperialistas com toda a força moral que tem; sua verdade, saber além disso que está representando e defendendo, um grande direito para o continente, e que está defendendo, um direito dos povos da América e que conta com o apoio dos homens e das mulheres dignos da América.
Essa é a posição de Cuba: de ir lá dizer aos palhaços todas as verdades, de ir lá dizer ao representante do imperialismo todas as verdades, de ir denunciar seus crimes, suas malfeitorias, suas investidas, suas chantagens: a chantagem, inclusive, que nestes momentos mantêm sobre os povos da América. Porque os imperialistas, inclusive, a ajuda que lhes têm oferecido a alguns governos tem sido a custa de seu desprestígio; e nalguns casos os têm desprestigiado e não lhes deram ajuda alguma. E ao resto, que mantém uma posição firme, tenta chantageá-lo de uma maneira cínica, descarada. Até seus próprios jornais o publicam!
E Cuba vai denunciar tudo isso ali, terminantemente, claramente e transparentemente; e se não o quiserem ouvir, que cancelem sua conferência e fim da história. Mas se já convocaram a conferência, agora que escutem verdades de Cuba.
Ah, então prepararam o show de Punta del Este? Então vai acontecer o mesmo que aconteceu em Praia Girón, igual, porque vai ser um cenário onde Cuba, diante do mundo inteiro, vai denunciar o imperialismo. E seja lá qualquer que for o resultado de Punta del Este, sabemos que conseguimos garantir nossa soberania. Mas os imperialistas tiveram que colocar seus próprios aliados numa posição muito dura, seus próprios títeres, porque enquanto mais traidora é a posição desses governos em Punta del Este, maior é seu descrédito interno. Então convocaram uma conferência chamada ao fracasso por muito que pressionem e seja qual for a declaração adotada ali; porque, em primeiro lugar, vejam a reação dos povos, vejam cá mesmo uma conferência do nível daquela que amanhã se inicia em nosso país, com representações de todos os povos da América Latina, onde está representado o melhor da intelectualidade, da política da América; outra reunião no próprio Montevidéu.
Em Punta del Este, por um lado, a marcha das juventudes para Punta del Este, o recebimento multitudinário ao Presidente da República e, aliás, a Conferência dos Povos lá mesmo em Montevidéu, aprecia-se o afã, o entusiasmo, o fervor, a decisão de todas as organizações progressistas, de todas as organizações democráticas, de todas as organizações revolucionárias do continente..., porque Cuba é defendida por uma frente ampla de organizações políticas e revolucionárias, de organizações democráticas, de organizações progressistas, de organizações populares da América Latina; uma ampla frente, uma amplíssima frente!
Se alguma coisa caracteriza a defesa de Cuba é a amplitude da frente que a defende. De maneira que, os próprios imperialistas não podem esconder isso. Ontem o li numa notícia da AP e dizia que havia uma grande agitação em toda a América; que uma multidão tinha ido receber o presidente Dorticós. Essa notícia não a achei, mas encontrei uma outra que é engraçada. Diz o seguinte —é da UPI—: “A propaganda comunista e castrista, que têm dirigido seus canhões de grande calibre...” —qualificam de grande calibre os canhões ideológicos dos simpatizantes da Revolução— “sobre a Conferência de Chanceleres de Punta del Este, tem organizado uma reunião paralela, com o objetivo de distrair a atenção pública. A conferência paralela começará na terça-feira, com um grande comício público, que programam todas as esquerdas, e continuará em comissões nos dias 24 e 25. Assistirão destacados elementos de esquerda da Argentina, do Brasil e do Uruguai, no intuito de debater e defender o princípio da não intervenção e da autodeterminação dos povos...” —eles próprios explicam o princípio que se está defendendo—, diz assim: “Os organizadores da conferência paralela, ou de Montevidéu, como tem sido denominada, afirmam que ela simbolizará o sentimento latino-americano, solidário com esses princípios, e a rejeição de toda tentativa de vulnerá-lo. Assistirá à conferência uma numerosa delegação argentina formada por 54 elementos, que inclui a Juan A. Bortagaray, Fermín Meléndez e A. Pértoga; também assistirão o deputado e líder brasileiro do norte, Francisco Julião; os chilenos Salomón Corvalán e Humberto Marconi; o escritor guatemalteco Miguel Angel Asturias e o peruano Ezequiel Ramírez Novoa.”
Eles próprios têm que reconhecer a amplitude do movimento intelectual, do movimento popular que está defendendo a Revolução Cubana!
“A reunião começará com um comício público de repúdio à Conferência de Chanceleres, e continuará no Paraninfo da Universidade.”
“Montevidéu, 20, AP —esta é outra notícia, para que não pensem que nós... Nós utilizamos estas mesmas notícias, eles têm que reconhecê-lo—, que diz: “Entre gritos de Cuba sim, ianques não”, a delegação de Havana à Conferência Interamericana, aterrou esta noite no aeroporto de Montevidéu e pouco depois tomou o caminho que vai para Punta del Este. Uma multidão de umas 2 000 pessoas” —vocês já sabem a maneira em que eles contam— “em sua maioria jovens de esquerda da Universidade de Montevidéu” —compadre, que coisa!; porque aqui na Universidade em minha época, não havia nem 30 esquerdistas, que eu lembre, e a situação ficava difícil!, como será aqui que há 2 000 contados pela AP!— “que estava esperando a chegada, gritando lemas anti-ianques, erguendo as bandeirinhas cubanas e do movimento 26 de Julho. A polícia uruguaia, momentos antes tinha persuadido um grupo de manifestantes contrários, que se dirigiam para o aeroporto, para que fossem embora para outra parte, evitando incidentes. No grupo de oposição havia só uma centena aproximadamente” —contada pela AP, devem ter sido 30 ou 15, uma coisa dessas.
Isso foi o que explicou a AP. Quantos foram receber Dean Rusk ali? Ninguém! Nem 100 desses foram recebê-lo, nem esses 100 da AP, foram receber o Chanceler! Têm que viajar clandestino pela América Latina: quando foi o senhor Stevenson de visita pela América Latina, não podia anunciar a hora, por temor a congregar uma manifestação, mas não de apoio, mas de repúdio; quando o senhor Kennedy foi a Venezuela e a Colômbia, tiveram que deixar os povos desguarnecidos e tiveram que encher as ruas de soldados. Conta uma piada venezuelana que Kennedy disse: “Ah, que esquisito! Como veste o pessoal de Caracas! Vi que aqui todas as pessoas andam de capacete e fuzil e vestem de farda” (Risos e aplausos). Porque não viram nenhum cidadão por ali, dizem que o único que vestia igual do que ele era Rómulo Betancourt! (Risos.) Essas foram as conclusões.
 
E então, essa é a democracia representativa? Que democracia mais esquisita essa!, Não é?, de soldados, de baionetas, de tiros contra os estudantes, de tiros contra os operários, de tiros e de pancadas contra os camponeses, de bandos fascistas. Bom, e que diferente a democracia representativa da democracia proletária de Cuba! Onde, enquanto em Caracas você só ouve notícias, “os estudantes reunidos, os estudantes protestando, os estudantes baleados pela força pública”, aqui as notícias são: “Os estudantes chegando a Baracoa, os estudantes chegando a Sagua de Tánamo, os estudantes chegando ao Escambray, os estudantes chegando à Sierra Maestra, para alfabetizar.”
Quer dizer que esses senhores que comparecem ali para combater Cuba, não são capazes..., este senhor Rusk não é capaz de que o receba nem sequer uma centena de pessoas; como esses governos fantoches não reúnem nem 500 pessoas em um ato público. A Revolução Cubana pode reunir em qualquer ato mais população que os governos dos 13 países que votaram contra nós. Se tudo o que eles podem reunir em apoio de sua política em seus países, o juntassem, não chegaria à magnitude que tem uma reunião popular em Cuba, um movimento de Cuba. Essa é a diferença tamanha entre a democracia representativa e a democracia proletária; do governo que realmente representa o povo, aos populares, em relação ao sistema de governo e ao sistema social em que as massas participam diretamente de todos os problemas; como em Cuba: as funções que desempenham as massas operárias organizadas, os jovens, as mulheres, todos os organismos. Quer dizer que, inclusive em nosso país, muitas das funções do Estado foram transferidas às organizações populares. A CTC (Central de Trabalhadores de Cuba) é responsável da distribuição das moradias; a Federação de Mulheres sob sua responsabilidade toda a organização das bolsas de estudos; e têm cada vez mais tarefas e mais funções. E entre outras questões, os populares constituem o poder e defendem o poder, essa é a milícia, esse é o exército; é a população armada.
E, evidentemente, esse não é o contexto desses países e desses governos que querem condenar Cuba em Punta del Este; acontecem-lhes essas coisas, não têm calor de povo, o que encontram é gelo puro, frio de povo em qualquer lugar onde chegam! Têm os povos em contra, e como vão impedir essa situação? Daí que eles temam tanto, por isso temem tanto o exemplo de Cuba. Mas então, o quê vamos fazer?! Será uma desgraça para os imperialistas!, mas que alternativa têm a não ser resignar-se, ou trazer sobre eles desgraças maiores.
Porque, o que conseguiram com toda sua guerra contra Cuba, é ganhar-se cada vez mais o ódio! É que os povos prestem cada vez mais atenção às questões de Cuba!, mais importância; porque os povos dizem por exemplo: “Bom, mas que luta é essa, tão titânica entre esse —é o que falam os povos da América Latina— povo pequeno da América Latina, irmão nosso, Cuba, um país pequeno, que se enfrenta, que se negou a acatar os poderosos imperialistas, tão poderosos com seus exércitos e suas forças armadas; tão poderosos com suas dezenas de milhares de milhões, para subornar, para comprar, para chantagear; milhares de milhões, que naturalmente, os extraíram do suor dos povos explorados.” E os povos da América Latina se perguntam: “Que luta epopéica é essa, que está concretizando esse povo?”
E enquanto mais salientar essa luta, enquanto mais sobressair, enquanto se esforçarem os imperialistas por destruir esta Revolução, mais provocará a admiração e o interesse dos povos. É lógico. Isso é simplesmente, uma coisa lógica; porque os povos medem as forças do imperialismo e a força de Cuba. Então, os Estados Unidos empenhados... pela primeira vez não têm conseguido destruir uma revolução em tempos contemporâneos; pela primeira vez não têm conseguido submeter os povos. E perante esse fenômeno novo, os povos pensam, meditam, analisam e cada vez sentem mais simpatia para com a Revolução Cubana.
E isso já não acontece apenas entre os povos! Isso acontece apenas quando se tem a razão, como neste caso! Que todos os povos compreendem as razões de Cuba porque as estão vendo, e cada vez que vêem um desempregado, quando vêem um camponês sem terra, um operário sem trabalho, um cidadão analfabeto, um doente sem hospital, e isso estão vendo todos os dias a todas horas, compreendem a razão de Cuba. Cuba, que hoje já tem até problemas por falta de braços; Cuba, que tem alfabetizado o povo todo, toda a parte analfabeta do povo em um ano; Cuba, que tem levado os hospitais e os médicos a todos os cantos; que tem levado os professores a cada criança; que tem buscado emprego; cuja economia se desenvolve vertiginosamente; que tem já 50 000 bolseiros, como uma promessa extraordinária do futuro, nas dezenas e nas centenas de milhares de técnicos que vamos preparar no curso de uma ou duas décadas.
Isto é, essas coisas as vêem os povos claramente. Isso não tem nada de esquisito. Mas não apenas nesses casos. Até na vida prática, quando se vê que o poderoso, como neste caso os Estados Unidos contra o povo pequeno, pois, também não lhes podem dar a razão os povos da América aos imperialistas, nem a darão jamais. Isso para além doutras coisas, os vínculos que existem entre os latino-americanos e nós: falamos a mesma língua, temos mais ou menos a mesma cultura, similares tradições, similares problemas. Ou seja, existem grandes vínculos espirituais entre os povos da América, entendemo-nos, falamo-nos, compreendemo-nos, porque falamos o mesmo idioma. Ao passo que... ali, por exemplo, Rusk, não vai entender nada; estarão falando os outros e ele estará pedindo ao tradutor que diga o quê quer dizer aquilo. É possível que quando Dorticós esteja falando aí, não saiba de que se trata e tenha que procurar um tradutor que lhe traduza. Não nos entendemos, nem no idioma nem em nada nos podemos entender! Como a corda vai se entender com o enforcado, a cadeia com o escravo!, e isso é o imperialismo, as cadeias; não se podem entender.
Enquanto nós falamos um idioma que nos entendem: entendem o idioma e entendem a mensagem espiritual de Cuba; a luta que Cuba está realizando contra o poderoso império; que não tem nenhum vínculo conosco, nem cultural, nem de sangue, nem de língua, nem de nada. Somos tão diferentes, que não há entre nós vínculos; há cadeias entre os povos, algum dia haverá vínculos, quando acontecer uma revolução nos Estados Unidos.
Há pessoas que riem quando se fala de revolução nos Estados Unidos. Bom, a própria decomposição do imperialismo determinará mudanças internas nos Estados Unidos inevitavelmente, porque o mundo imperialista se desaba; desaba-se!, e quando o mundo imperialista se desabar, isto é, quando o mundo externo mudar, porque o mundo interno também irá mudar, e algum dia entrarão em crise e em descrédito total todos esses chantagistas: os monopólios, a política monopolista, a política de mentiras. Algum dia os fatos farão variar e produzir mudanças de opinião nos próprios Estados Unidos.
Então no dia em que acontecerem mudanças nos Estados Unidos, haverá vínculos também entre os operários; isto é, entre o regime social, o regime social novo, que terá que acontecer também nos Estados Unidos, e então haverá vínculos de tipo ideológico, haverá possibilidades, haverá as condições objetivas que permitam uma estreita solidariedade e intercâmbio entre os povos latino-americanos e os saxônios, mas, como pode existir isso entre o explorador e os explorados? Que comunidade de interesses pode existir entre os monopólios ianques que se levam o petróleo, o cobre, o ferro, as matérias-primas da América Latina, que nos vendem caro e compram-nos barato, que com o produto de uma hora de trabalho ali, compram o que aqui custam  
10 horas de trabalho produzi-lo? Que vínculos podem existir entre os exploradores e os explorados, entre os monopólios ianques e os povos da América Latina? Nenhum vínculo. Não existe nem o vínculo econômico, porque a relação econômica que existe é de exploradores e explorados.
E precisamente isso faz com que a solidariedade com Cuba cresça, seja visível, seja potente, e isso não se pode deter. Eles estão desesperados por detê-lo, não sabem o quê fazer para o conter; mas essa solidariedade com Cuba não a poderão deter. Não têm que ficar zangados com os cubanos, fiquem zangados com a história; isto é um acontecimento determinado pela história, uma mudança determinada pela história, pelo progresso da humanidade, de uma humanidade que não se congelou nunca nem se irá congelar jamais.
Tinha que chegar o dia da liberdade de um povo da América; tinha que aproximar-se o dia da libertação do resto dos povos da América; esse dia aproxima-se, e os atos dos imperialistas são atos de desesperados, e em seu desespero não fazem mais do que concentrar a atenção do mundo em Cuba, a atenção da América em Cuba, e onde nesse “match” entre os imperialistas e nós, temos por cenário, temos de testemunha o mundo todo, e a razão está do nosso lado. Evidentemente, os imperialistas têm criado uma polêmica ideológica onde têm todas as possibilidades de perder e, simplesmente, vão perder, independentemente da pressão e dos acordos.
 
Em Punta del Este, nossa delegação está combatendo lá. A representação do melhor do pensamento da América reunida em Havana, e o melhor do pensamento da América, reunido também em Montevidéu. Podemos sentir-nos verdadeiramente satisfeitos da onda de solidariedade que há em toda a América com a Revolução e com Cuba, com o direito de Cuba a fazer sua Revolução.
Então nós organizaremos e realizaremos a grande Assembléia-Geral Nacional do Povo, a segunda, que será, e deve ser, ainda maior do que a anterior. Quer dizer, temos também que envidar nossos esforços, e nesse dia lançaremos nossa mensagem para a América, nossa mensagem ao mundo, e nossa resposta aos imperialistas, nossa resposta à Declaração de Punta del Este, e por isso, todo o povo irá ali a falar, todo o povo revolucionário de Cuba, a aprovar a Segunda Declaração de Havana, que será uma mensagem aos povos, que será uma resposta aos imperialistas; por isso devemos propor-nos a meta de que seja ainda maior, maior do que a outra Assembléia-Geral, que foi gigantesca, para que os imperialistas vejam o que é um povo revolucionário, o que é um povo democrático, o que é um povo decidido, o que é um povo que representa um sentimento de dignidade, e que representa, além disso, um direito, e que é uma bandeira; porque nosso povo é hoje a bandeira de todo o continente, é a bandeira de todos os povos da América Latina, é a bandeira dos homens honestos, dos rebeldes, dos homens dignos, dos homens sofridos!, é a bandeira dos camponeses, das enormes massas de camponeses sem terras, de operários ganhando salários de miséria, de cidadãos desempregados!
Significa que nossa pátria hoje, nosso povo, é a bandeira que levantam todos os homens que querem o melhor para sua pátria. Ao mesmo tempo, essa é a bandeira que concita o ódio dos exploradores, dos reacionários, dos capangas, dos assassinos, dos ladrões, de tudo o mais imoral que há no continente. Quer dizer que existem dois pólos, e diferenciaram-se os campos: junto de Cuba todo o nobre, todo o digno, todo o limpo; contra Cuba todo o imoral, todo o egoísta, todo o corrompido, todo o traidor, todo o explorador que há na América Latina.
 
Temos chegado a este ponto, e estamos, realmente, muito satisfeitos de termos chegado a este ponto, e estamos muito contentes de todos os acontecimentos. Não estamos tristes, nem muito menos, e vamos realizar uma grande assembléia, uma gigantesca assembléia, e vamos enviar uma mensagem aos povos, e uma resposta aos imperialistas. Cuba, pela segunda vez, enviará uma mensagem aos povos, e essa mensagem com certeza terá eco, com certeza que será lida em todos os cantos do mundo. E então, nós fomos os culpados? Não, os imperialistas foram os que organizaram as agressões, o cenário; e Cuba aproveita esse cenário, e Cuba falará nesse cenário, e dirá sua verdade e falará ao mundo.
E, moralmente, nós ganharemos esta batalha, ideologicamente ganharemos esta batalha contra os imperialistas; e os imperialistas, o que vão ganhar?, desprestigiar ainda mais alguns governos que o apoiam; ficar inimigos de outros governos que não estão dispostos a passar sob suas “forças caudinas”, suas condições de chantagem. E, além disso, o quê mais vão fazer? Vão destruir-nos? Não, porque não nos podem destruir; nós estamos, cada dia melhor preparados e mais armados e, aliás, alertas!, porque enquanto a conferência discute lá, nós, estamos alertas aqui!, e prontos para vencer!, como diria o companheiro Llanusa (Aplausos prolongados).
Essa é a situação. Agora, como nós devemos informar? Devemos informar através de todos os jornais da Revolução o que vai acontecendo em Punta del Este —aproveito a oportunidade para intercambiar opiniões aqui com vocês—, para que o povo saiba o que acontece. Não devemos ficar com ilusões, porque lá há uma grande pressão do imperialismo, uma chantagem aberta, mas nós, não aceitamos sanções, nem sequer aceitamos condenação ao regime revolucionário de Cuba! Declarações de condenação, também não as aceitamos! Desde agora o dizemos. Como vão condenar a Revolução Cubana, o acontecimento mais justo e o acontecimento histórico inevitável destes tempos?, Aliás, o acontecimento que representa a justiça dos povos, a reivindicação dos povos, a esperança dos povos. Não aceitamos, não só sanções!, não aceitamos, nem nos adscrevemos a absolutamente nada que entranhar um átomo de condenação à Revolução Cubana! Portanto, essa é nossa posição, e independentemente da declaração de Punta del Este, nós emitiremos a Declaração do Povo de Cuba. Essa será a que ficará para a história, a outra ficará arquivada entre os papéis velhos, entre os acontecimentos anódinos, entre os esforços inúteis dos exploradores para que seu mundo de exploração não desapareça, e a Declaração de Havana, a segunda, igual do que a primeira, será lida nos livros de história da América; não estará arquivada, estará nos livros de história.
Nos anos vindouros, nos séculos vindouros, será lida a Declaração de Havana. E ninguém saberá o que era aquilo de Punta del Este, nem sequer vão ouvir falar disso; esses nomes não vão aparecer. Quem vai mencionar Idígoras dentro de 20 anos? Nem sequer como símbolo da depravação, nem nada disso, houve tantos que não sobressaem, que sobram.
É mesmo assim. Eu pensava fazer uma alocução breve hoje. Mas, se quiserem podem formular uma ou mais duas perguntas.
Moderador. - Companheiro Ithiel.
Fidel Castro. - Porque, fundamentalmente, era colocar a questão da Assembléia-Geral e o adiamento dela.
Ithiel León.- Comandante, há um pormenor nas notícias de hoje...
Fidel Castro.- As notícias de hoje, sabe que ainda não as li, li as de ontem.
Ithiel León.- Veja, os correspondentes que cobrem a informação de Punta del Este informaram que o delegado norte-americano, Dean Rusk, passou o dia a correr no hotel San Rafael de um quatro para outro, onde estão alojadas as delegações, com um argumento parecido a isto: ou alguns governos se adirem às demandas norte-americanas, ou periga a famosa “Aliança para o Progresso”. Não acredita que é ainda mais vergonhosa esta atitude do governo dos Estados Unidos?
Fidel Castro.- Bom, do governo dos Estados Unidos devemos acreditar qualquer coisa; essa é a política que, com certeza, têm estado seguindo, porque: veja que da Aliança para o Progresso..., quando falou Kennedy?, depois de Praia Girón. Ele tentou poupar esses centavos porque, também, os Estados Unidos têm um problema econômico sério, problema de divisas sério, uma crise econômica que se lhes aproxima, uma situação de concorrência e de contradição —cada dia mais— com seus próprios aliados ocidentais, de concorrência com a indústria japonesa, com a indústria alemã, a indústria francesa, belga, inglesa; tremenda concorrência. Onde vão ir e onde vão colocar seus produtos?, porque, inclusive, os remédios que encontraram até agora, que é militarizar a economia norte-americana, virar o Estado numa agência de seguros dos possuidores de ações dos monopólios, cobrando impostos ao operário, para poder garantir as receitas dos milionários, donos dos monopólios, cobrando impostos a um operário que ganha seis, sete pesos, tirando-lhe um peso, dois pesos, três pesos, para lhe pagar a um latifundiário para que não cultive mais do que a metade, visto que eles já têm uma série de problemas de superprodução e não têm mercado, e por isso vêem-se as disputas entre os imperialistas ianques e os imperialistas ingleses no Congo, e os belgas; eles querem tirar dali os ingleses e os belgas; no norte da África querem tirar os franceses; na Indonésia, pois não sabem o quê fazer entre a demanda, a justa demanda da Indonésia sobre Irian. Eles hesitam, porque, por um lado, são os aliados dos imperialistas holandeses, e por outro lado, querem tirar do mercado os imperialistas holandeses. Então, têm uns problemas muito sérios, e têm problemas econômicos sérios.
Eles queriam poupar uns centavos, porque estão gastando alguns centavos no problema de resolver a questão de Cuba.
Então, quando fala Kennedy de “Aliança para o Progresso”, ou fala em termos objetivos de ajuda? Esperou o ataque de Girón. Eles pensavam que iam poupar esse dinheiro, no caso em que o ataque de Girón não tivesse fracassado; mas fracassou, e foram logo à ofensiva: realizaram a conferência econômica. E, o quê aconteceu nessa conferência econômica? Em primeiro lugar, tiveram que ceder em alguns aspectos, tiveram que começar a falar de reforma agrária. Mas veja: Os imperialistas falando de reforma agraria! O quê aconteceu? Alvoroçaram o vespeiro da oligarquia latifundiária da América Latina.
Qual é o apoio mais importante que deram os imperialistas na América Latina? A oligarquia latifundiária, a oligarquia feudal, os donos da terra, os latifundiários, e, por sua vez, tiveram o controle dos Estados, e tiveram a força armada para defender seus interesses oligárquicos.
 
Quando os imperialistas começaram a falar de reforma agrária, começaram a alvoroçar o vespeiro. E, o quê aconteceu? Pois, por exemplo, um senhor da reação do Chile, que é um senhor inteligente, latifundiário, disse: Bom, os americanos estão falando de distribuir as terras, por que não falam também de distribuir as minas de cobre? E colocaram a questão: o quê é isso de que os latifundiários querem resolver os problemas a nossa custa? Por que não os resolvem a custa deles, e partilham o petróleo, e partilham as minas, e partilham as empresas e partilham os negócios dos monopólios americanos? Então, Kennedy, “homem progressista”, vocês sabem, “muito culto”, fala de uma “Aliança para o Progresso” depois de Girón. Mas acontece que a “orelha de burro” sobressai de longe, e vê-se (Risos e aplausos).
Conste —permitam-me dizer— o de “burro” não o digo por Kennedy, não, não confundam; estou falando da “orelha de burro” do burro que estão tentando de levar aí disfarçado de vaca, ou de qualquer coisa.
Isto é, que se descobre todo o truque. Chegam com uma “Aliança para o Progresso”, e dizem: vamos dar dinheiro; mas o dinheiro não chega, em primeiro lugar. Mas depois que falam de 20 000, dizem: sim, 20 000 milhões, uns tostões que vai dar o governo dos Estados Unidos e o resto o darão  os investidores privados.
O que lhes estão oferecendo aos povos da América Latina? Estão oferecendo-lhes fortalecer o investimento privado; isto é, mais investimentos monopolistas. Desde quando não há investidores monopolistas na América Latina? Se os monopólios foram precisamente a investir ali onde pagavam menos dinheiro, onde era mais barata a matéria-prima, para obter maiores lucros; e os maiores lucros os obtiveram os monopólios em todos os países colonizados e subdesenvolvidos, mais do que nos Estados Unidos. E essa é, precisamente, a causa da miséria, do subdesenvolvimento, porque esses monopólios não se desenvolvem para a economia de um país; desenvolvem alguns ramos, tais como as indústrias de extração mineira, as indústrias de matérias-primas, mas não estabelecem nem sequer fábricas que possam concorrer com as fábricas da metrópole, porque a metrópole se preocupa de que esse dinheiro não seja investido em fábricas noutro país que se tornem competidoras. Não, o que fazem os monopólios é procurar algum tipo de atividade econômica, e por isso criam a monocultura, e deformam por completo a economia dos povos.
E o quê lhes oferece Kennedy? Mais monopólios, mais investimentos privados. Então, mas como? Kennedy diz: aqui há que disfarçar-se um pouco de mais democratas, de mais progressistas; vamos fazer uma reforma agrária. Já vocês sabem, é a reforma agrária como aquela de que falam... aqui também os latifundiários falam de reforma agrária. Vocês não se lembram? Lembram que ofereceram 10 000 novilhas pejadas? Lembram-se?, os donos, os criadores de gado? E todo esse pessoal o quê queria? Bom, uma reforma agrária de espinho-de-cristo; que não mexessem nas melhores terras, nas terras que estavam nas mãos deles.
Pois eles falam então de reforma agrária, mas não gostam disso, isso não cheira bem para a oligarquia latifundiária que é sua aliada. Então, que aliados vão procurar? Vão procurar à burguesia nacional? Quer dizer, os industriais da América Latina? Não podem procurar esse aliado por uma outra questão, porque os monopólios, os interesses monopolistas estão em contradição com os interesses da burguesia industrial, porque os monopolistas vendem artigos mais baratos, fazem o “dumping”, e fazem a concorrência a essa indústria; os monopolistas não vão desenvolver indústrias da burguesia nacional, vão desenvolver indústrias dos monopólios.
Então, o imperialismo tem seu melhor aliado na oligarquia; fala de reforma agrária, a oligarquia fica zangada e, em troca, não lhe pode oferecer nada à burguesia nacional, não lhes podem oferecer nada aos industriais, porque o que lhes oferece é mais concorrência, mais monopólio.
E, então, essa “Aliança para o Progresso” que tipo de “aliança” é? Então, alguma ajuda lhe vai dar, algum financiamento público. Mas como? “Veja, dou-lhe xis quantidade se votares por aqui, dou-te tanto...” e colocam os governos numa situação, que quando lhes dão a ajuda os desprestigiaram e os desacreditaram. Oferecem-lhe uns miseráveis cêntimos, uns tostões, que não prestam senão para pagar exércitos, satisfazer as ambições dos comerciantes, dos importadores, da alta burguesia, dos latifundiários, dos especuladores, dos banqueiros, porque essa mesma ajuda também não chega ao povo, toda ela fica no caminho.
 
Então, realmente, estão os imperialistas ianques perante uma situação econômica e social sem saída, porque o próprio imperialismo não tem saída no mundo; o imperialismo não tem saída no mundo, o imperialismo não tem saída histórica. É uma coisa anacrônica, o imperialismo não tem outro remédio do que deixar de ser imperialismo, não tem outra alternativa do que deixar de existir. E esse é o porquê andam a correr por aqui, chantagem lá, intriga acolá, e têm uma política cada dia mais desprestigiada no mundo inteiro.
A grande verdade é que o imperialismo não pode subsistir, o imperialismo está em decomposição e o imperialismo desaparecerá. E não vai demorar muito tempo, tendo em conta a situação!, porque, realmente, o movimento de libertação dos povos se acelera; o imperialismo não tem saída. Por isso está com essas fofocas em toda parte, do quarto andar para o quinto, do quinto para o primeiro; do quarto de um para o quarto de outro. E esse é o papel ridículo, ridículo, vergonhoso, penoso, da delegação ianque ali em Punta del Este.
E o povo agitado. O povo em marcha pelas estradas, em atos, em comícios. E eles o reconhecem. Mas, por que? Isto é, por que esse apoio? Esse apoio é apoio espontâneo dos povos, a espontaneidade com que os povos apoiam uma causa justa; é o apoio a Cuba, o ódio à exploração, o ódio ao imperialismo.
Assim que isso é consubstancial, a chantagem; a chantagem é consubstancial da política imperialista.
Moderador.- Senhor Ernesto Vera.
Ernesto Vera.- Além das manifestações conhecidas de solidariedade para com Cuba na reunião de chanceleres de Punta del Este, esta noite chegaram noticias a Havana de que Caracas e Maracaibo —as duas principais cidades da Venezuela— estão praticamente paralisadas por causa das greves e manifestações em protesto pela Conferência de Punta del Este.
Isso demonstra um grau de consciência alto dos povos latino-americanos, demonstra que têm uma compreensão cabal do que o senhor falava há um momento, no relativo ao perigo maior que paira sobre esses povos.
Se eles conseguissem uma maioria mecânica de palhaços e tentassem algum acordo contra nossa pátria, como seria a atitude desses povos, segundo sua opinião?
Fidel Castro.- Pois, simplesmente, não fariam mais do que agudizar o descontentamento e a rebeldia dos povos. Inclusive, uma invasão a Cuba não seria tranqüilamente: uma invasão a Cuba pode ser a faísca que acenda a rebelião em muitos povos da América Latina, logicamente.
Os imperialistas estão planejando um acordo para obter uma espécie de apoio moral aos planos posteriores. Aqui o importante são os planos posteriores dos imperialistas depois que conseguirem o acordo, o apoio moral, a cumplicidade de uns quantos palhaços. E isso é o que eles estão procurando. Mas a rebeldia dos povos é manifesta, precisamente falava que eles, com todas essas manobras, não fizeram mais do que incitar, pôr-se ao descoberto, pôr-se ao desnudo entre os povos da América Latina e despertar cada dia mais a solidariedade com Cuba. E aí estão os resultados. Essa é a força da idéia, a força do exemplo, a força da razão.
Porque, que tem Cuba frente ao poder dos imperialistas, frente a seus enormes exércitos, seus enormes recursos econômicos? Tem a força de sua razão, a força de uma idéia. Cuba é uma idéia, mas a idéia que entranha a Revolução Cubana, semeada; ou seja, idéia que é vista como exemplo para os povos da América Latina, o exemplo de Cuba nas condições objetivas é tremenda.
Qual seria a repercussão que poderia ter o exemplo de Cuba, se os países da América Latina fossem países industrializados, povos com todas as necessidades satisfeitas, não houvesse desemprego, se não houvessem camponeses sem terras, operários sem trabalho, povos famintos, sem hospitais, sem professores, sem condições de vida, com um padrão de vida ínfimo? Que importância teria a Revolução Cubana se nesses países existisse um regime social avançado? Não teria nenhuma importância.
A importância que tem a Revolução Cubana é a importância que tem um fósforo junto de um tanque de gasolina. Mas, se em vez de gasolina fosse água —ou fosse leite, por exemplo—, não ardia. Porque, o quê há na América Latina? Camponeses sem terras, que ouvem dizer que aqui os camponeses já não têm que pagar renda, que têm crédito, que têm escolas; milhões de desempregados que ouvem dizer que em Cuba todos têm trabalho; milhões de analfabetos que ouvem dizer que em Cuba todas as crianças já têm professor, que todas sabem ler e escrever; milhões de pessoas desesperadas, em uma situação econômica cada vez pior, que sabem que o povo de Cuba se está forjando um futuro; milhões, dezenas de milhões de oprimidos, oprimidos pela polícia repressiva, pelas forças armadas, que vêem que em Cuba o povo é a força armada. E cada vez que espancam alguém na América Latina, lembra-se de Cuba; cada vez que cometem um abuso, lembra-se de Cuba; cada vez que desalojam um camponês, lembra-se de Cuba; cada vez que adoece um filho e não tem nem hospital nem medicamento, lembra-se de Cuba. Então, a miséria constante faz com que tenha sempre presente a Cuba.
É por isso, e não por nenhuma outra razão, que Cuba influi na América Latina, porque existem condições de fome e de miséria que se não existissem não haveria motivos para se preocupar com Cuba. Ou será que se acredite que um país que faça uma revolução pode ameaçar, como aí dizia...?, Veja, por aí há uma notícia, a propósito do senhor Miró Cardona, que diz: “AP.- A decisão dos chanceleres americanos não pode ser outra do que acordar uma ação coletiva armada contra o regime comunista de Fidel Castro, disse o presidente do Conselho Revolucionário Cubano, José Miró Cardona.”
Vejam que classe...; aqui é onde esse pessoal acaba de desprestigiar-se, se for possível que o desprestígio possa ser desprestigiado. (Risos).
Acrescentou: “O destino da América e do mundo livre está nas mãos dos chanceleres”, ouçam bem, o destino da América e do “mundo livre”. Mas, acreditem, isso também o afirmaram os porta-vozes do imperialismo.
Mas, será tão fraco esse “mundo livre” que a presença de um povo revolucionário, alfabetizando, construindo escolas, hospitais, realizando uma reforma agrária, construindo casas e fazendo justiça, seja um perigo para esse mundo livre? Eles lhe dizem aos governos: um perigo!, se não destruímos a Revolução Cubana, é um perigo para todo o continente. E, por que então não é um perigo que exista todo um continente e nós sozinhos aqui? Por que o latifúndio que há em toda a América, a exploração e os monopólios, não são um perigo para nós? Porém, o fato de que não existam monopólios nem exploração em Cuba é um perigo para todo o continente?
O quê estão demostrando com isso, o quê estão confessando? Que o imperialismo e todos os sistemas que o acompanham se sustentam unicamente, estão no “bico do urubu”, estão em uma situação de crise, de verdadeira crise, porque confessam que o fato de que exista uma Revolução em Cuba, é perigo para todos. E Cuba nunca disse que a presença do imperialismo dos Estados Unidos... é um perigo pelo fato de que nos estão agredindo. E, aliás, não há tal perigo, porque os rechaçamos!
O problema é que eles estão confessando que a existência de uma revolução coloca em perigo todo seu regime. E este chega a dizer que coloca em perigo não apenas o destino da América, e “do mundo livre”; então confessam que até seu “mundo livre”, não só latino-americano, está em perigo, pelo fato de que um país faça uma revolução. O quê estão demostrando com isso? Terror aos povos! Estão confessando com isso que seu regime hesita, abala-se; porque o fato de que exista uma revolução, coloca em perigo até seu regime, embora essa revolução tenha acontecido numa pequena ilha. Mas, essa pequena ilha não pensa que pelo fato de que existam latifúndios em outros países, exista perigo, nem ninguém se contagie. Eles afirmam: “Isto é como uma epidemia.” E então, como a epidemia do latifúndio e do monopólio não nos afeta?
Então, a epidemia do socialismo, do marxismo os afeta! E como a epidemia da “livre empresa” não nos afeta e não nos contagia? Como não tememos que pelo fato de que existam latifúndios, monopólios, exploração, incultura, analfabetismo, em outros povos, nos contagiemos com isso? Não, senhor, nós cá tínhamos tudo isso e o eliminamos! Então, o quê acontece? Que eles estão confessando, com a teoria essa de vírus, de epidemia, perigo, tudo isso, é ridículo; tudo isso no fundo não entranha mais do que a confissão de que não acreditam em seu regime, de que não acreditam em seu sistema, de que não acreditam em suas idéias. Já eles estão confessando de que não têm idéias! Eles estão confessando que esse regime se mantém sobre uma arena movediça; qual é essa areia movediça, essa terra que se afunda, esse pântano que têm debaixo? Pois simplesmente, a exploração, a fome, a miséria, o padrão de vida pobríssimo de todos os povos da América. Então a areia movediça, o pântano o têm debaixo, e afundam-se!
 
Então falam de que nós somos um perigo. Não há nenhum perigo! Nós somos a primeira coluna do imperialismo que se afundou; mas, o resto vai-se afundar também. Disso não há nenhuma dúvida; e isso não o vão evitar, nem destruindo a Revolução Cubana, questão, aliás, impossível; continuariam as condições que originaram uma revolução em Cuba. E o mesmo que surgiu uma revolução em Cuba, pode surgir em qualquer outro país da América. Sobretudo, onde? Nesses países que têm governos entregues completamente ao imperialismo; que sacrificam a honra e a dignidade nacional. Vejam como os governos que têm uma postura nacional digna, têm mais apoio popular; e que os governos da América Latina que não têm uma postura digna, têm os povos em contra e cada dia têm mais os povos em contra e cada dia estão mais isolados dos povos.
Betancourt, está como “o galo de Morón”, sozinho. Sem jeito. Assim está Betancourt! Todas as organizações populares, todas as organizações, seu próprio Partido; isto é, a própria Federação Camponesa afastou-se dele; e seu próprio Partido se dividiu. Já Betancourt só tem gatunos, só larápios, os mais ladrões, esses que se beneficiam com os cargos e roubam. O pessoal de COPEI, reacionário até a medula e os elementos mais reacionários das forças armadas. Isso é o que tem Betancourt! Quer dizer, em duas palavras, a Betancourt não lhe resta nada.
Quem o levou a essa situação? A obediência cega ao imperialismo, a obediência cega ao Departamento de Estado ianque. Os ianques utilizam um senhor destes e o primeiro que fazem e desprestigiá-lo. E em poucos meses está sem povo.
Então, todos esses governos que entregaram completamente esses países aos interesses imperialistas; que sacrificaram a dignidade nacional, são os que têm uma situação mais crítica; e os governos que têm uma posição nacional digna, têm melhor situação, melhor opinião no mundo inteiro; o mundo inteiro opina melhor deles, os povos têm melhor opinião. Porque, independentemente do regime social, não é o mesmo a atitude de um governo entregue completamente, que sacrifica a dignidade nacional à vontade do imperialismo, do que um governo que sabe respeitar a dignidade nacional. E os povos são sensíveis a essa conduta.
E essa é a situação. A situação é má para os imperialistas, boa para a Revolução. Contudo, vocês devem ir descrevendo o que vai acontecendo. Não fiquem com ilusões sobre o resultado ali.
O valor que tem Punta del Este, é, sobretudo, o valor da polêmica ideológica, que vai ser travada entre o imperialismo e Cuba. E de qualquer maneira, eles não têm uma tarefa fácil, nem muito menos. A tarefa que têm os imperialistas vai ser uma tarefa muito difícil moralmente. E os imperialistas vão estar no “banco dos réus”. Porque Cuba vai sentar o imperialismo ianque em Punta del Este no “banco dos réus”! Essa é a missão e a posição de Cuba em Punta del Este. A de vocês, é informar tudo, orientar o povo, explicar tudo, para que o povo receba a máxima informação e o povo fique assim informado, adquira um conhecimento mais cabal e prepare a grande e extraordinária mobilização para o dia 4 de fevereiro; e temos a certeza de que todo o povo tomará como uma questão de honra, como um grande dever, mobilizar-se esse dia, e que vamos realizar o maior comício que teve lugar na história de Cuba (Aplausos).

(Departamento de Versões Taquigráficas do Governo Revolucionário)