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Plano Condor: a CIA não é inocente

O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e o ditador argentino Jorge Rafael Videla, responsável pela morte de milhares de pessoas. Foto: El Diario.es
O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e o ditador argentino Jorge Rafael Videla, responsável pela morte de milhares de pessoas. Foto: El Diario.es

Date: 

26/02/2020

Source: 

Periódico Granma

Author: 

A Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos espionou durante anos as comunicações diplomáticas e militares de centenas de países, usando máquinas de criptografia de uma empresa suíça, de propriedade da CIA e da agência de serviços secretos alemã BND, revelaram documentos divulgados pelo centro independente do Arquivo Nacional de Segurança (NSA).
 
A pesquisa, publicada recentemente pelo Washington Post e pela rede pública alemã zZDF, teve um grande impacto na mídia; centenas de agências em todo o mundo ecoaram as notícias e referenciaram ou comentaram as informações desclassificadas pela NSA.
 
Acontece que, por décadas, a empresa suíça Crypto AG, de propriedade da CIA e do BND, vendeu e instalou milhares de máquinas de criptografia em vários países, incluindo Chile, Argentina, Brasil, Uruguai, México, Colômbia, Peru, Venezuela, Nicarágua, Espanha, Grécia, Egito, Arábia Saudita, Irã e Iraque, Indonésia e Filipinas, entre outros.
 
As máquinas de criptografia permitiram à CIA decodificar, por exemplo, milhares de mensagens relacionadas à operação do Condor; com o golpe militar de 1973 contra o governo da unidade popular no Chile; o golpe de 1976 na Argentina; o assassinato do ex-ministro das Relações Exteriores do Chile, Orlando Letelier, em Washington, em 1976; a guerra das Malvinas, e muitos mais.
 
Segundo a NSA (Agência de Segurança Nacional), os executores da Operação Condor, um plano coordenado de extermínio, realizado por várias ditaduras latino-americanas nas décadas de 1970 e 1980, para eliminar forças esquerdistas, democráticas e revolucionárias naquelas nações, foram espionados pela Agência, usando as máquinas da Crypto AG. Eles, os assassinos, criptografaram suas comunicações «sem saber que os Estados Unidos poderiam estar ouvindo».
 
O equipamento utilizado pela «Condortel», a rede de comunicações da Operação Condor, foi fornecido pela Crypto AG, mediante acordo da CIA e dos governos repressivos envolvidos na operação Condor.
 
O projeto de espionagem, de acordo com o The Washington Post e o ZDF, foi conhecido pela primeira vez sob o nome de «Thesaurus» e depois como «Rubicon». O Post destaca que desde 1970 a CIA e a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) controlavam quase todos os aspectos da Crypto AG, em colaboração com o BND.
 
A maioria da mídia que comentou ou simplesmente replicou a informação apresentou a incrível tese de que a CIA estava ciente dos crimes cometidos pelos executores da Condor, por meio da operação de espionagem acima mencionada. Seja chamada de «Thesaurus» ou «Rubicon», há aqueles que foram além em sua «ingenuidade» e acreditaram na história de que «alguns oficiais da CIA» ficaram assustados com as informações que receberam sobre os horrores perpetrados pelas ditaduras militares e queriam denunciá-las».
 
CONHECIA A AGÊNCIA OU NÃO ACERCA DO CONDOR?
 
Os planos de repressão, antecedentes da Operação Condor, surgiram na década de 1960, na Escola das Américas e nas Conferências dos Exércitos Americanos, através das quais os Estados Unidos patrocinaram ações «preventivas» na região, como parte de inteligência e operações de guerra psicológica e cultural, realizadas sob o lema «não mais Cubas».
 
Documentos desclassificados da CIA, datados de 23 de junho de 1976, divulgados pelo jornal uruguaio La República, em 29 de julho de 2007, revelam que «no início de 1974, agentes de segurança da Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e a Bolívia se reuniram em Buenos Aires para preparar ações coordenadas contra alvos subversivos».
 
O relatório Top Secret do National Intelligence Daily, preparado pelo diretor da CIA apenas para chefes de alto escalão da agência, acrescenta que «desde então (apagado) os argentinos realizam operações contra subversivos em conjunto com chilenos e uruguaios».
 
O documento, segundo a pesquisadora norte-americana Patrice McSherry, prova que a coordenação repressiva entre as ditaduras do Cone Sul começou em 1973 e 1974, antes que as operações extraterritoriais fossem batizadas como Plano Condor em uma reunião realizada no Chile, em 1975, e que A CIA esteve envolvida no planejamento e execução das ações.
 
A Operação Condor foi um plano de inteligência projetado e coordenado pela CIA com os serviços de segurança das ditaduras militares da América Latina, para aniquilar a esquerda; juntamente com a Gladio e a Phoenix fez parte, no meio da Guerra Fria, da estratégia global dos Estados Unidos para enfrentar «o avanço do comunismo no mundo».
 
Graças aos arquivos desclassificados da CIA, sabe-se que o ex-chefe da inteligência chilena, Manuel Contreras, foi convidado em 1975 para Langley, a sede da CIA, onde permaneceu por 15 dias. Após essa visita, Contreras se reuniu em 25 de novembro de 1975 com os líderes dos serviços de inteligência militar da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Mais tarde, o Brasil se juntou ao grupo avançado.
 
De acordo com os «arquivos de terror» descobertos no Paraguai, a Operação Condor deixou um saldo terrível de mais de 50 mil mortos, mais de 30 mil desaparecidos e cerca de 400 mil prisioneiros.
 
Gladio era uma estrutura secreta composta por militares e civis que, ligados à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e patrocinados pela Agência Central de Inteligência (CIA), atuaram na Europa desde o final da década de 1950 até outubro de 1990. Sob o pressuposto de enfrentar a ameaça de ocupação da região pelo Exército Vermelho em caso de Terceira Guerra Mundial, os exércitos secretos da Gladio na Europa, principalmente na Itália, realizaram múltiplas ações terroristas e crimes seletivos.
 
No ataque para assassinar em Roma, Bernardo Leighton, organizado pelo terrorista italiano Stefano Delle Chiaie, membro da Operação Gladio, foi o terrorista de origem cubana Orlando Bosch Ávila, envolvido com Luis Posada Carriles no Crime de Barbados, que fez funcionar a metralhadora que feriu gravemente Bernardo Leighton e sua esposa.
 
Phoenix era um programa altamente secreto, desenvolvido em 1967 pela CIA no Vietnã, a fim de «neutralizar» a infraestrutura vietcongue, matando civis do Sul do Vietnã, suspeitos de apoiar combatentes do Norte e do Vietcongue.
 
O então diretor da CIA, William Colby, admitiu em 1976 que as operações de Phoenix mataram mais de 20 mil pessoas, entre 1967 e 1972. A chacina de My Lai foi apenas mais uma operação do programa Phoenix.
 
Os métodos e técnicas de Phoenix foram utilizados na Operação Condor.
 
A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos não ouviu falar do Plano Condor mediante a espionagem. A CIA organizou, planejou, aconselhou e participou da execução das ações do macabro plano de extermínio, é responsável por crimes contra a humanidade, crimes pelos quais deveria comparecer perante os tribunais, mas goza de impunidade. De qualquer forma, ela não pode escapar do julgamento da história, que já a julga e condena.
 
NO CONTEXTO
 
Algumas das principais ações relacionadas ao Plano Condor:
 
Em Buenos Aires, o general do exército chileno Carlos Prats e sua esposa Sofia Cuthbert foram mortos por uma bomba ativada remotamente.
 
Oficiais do exército uruguaio viajaram secretamente para Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, e sequestraram dois militantes da oposição política uruguaia, Universindo Rodríguez Díaz e Lilian Celiberti, junto com seus dois filhos, Camilo e Francesca, de oito e três anos, respectivamente.
 
Orlando Letelier, ex-ministro do governo de Salvador Allende, foi morto por uma explosão de um carro-bomba em Washington. Seu assistente, Ronni Moffitt, cidadã dos EUA, também morreu na explosão.
 
Sequestro e desaparecimento do casal Zaffaroni, na Argentina.
 
Fonte: Ecured e Prensa Latina