DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NA INAUGURAÇÃO DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS E PRÉ-CLÍNICAS “VICTORIA DE GIRÓN”, em Marianao, em 17 de outubro de 1962
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Nós pensávamos que nesta reunião da família médica iam estar presentes os estudantes de medicina (EXCLAMAÇÕES DE: “Sim!”), mas depois temos visto que não somente estão presentes os estudantes de medicina, mas também estão presentes estudantes doutras carreiras universitárias; e, além do mais, estão presentes as meninas das escolas de enfermeiras (APLAUSOS). E nos alegramos muito, nos alegramos muito, porque eu não sei que era o que acontecia que quando se falava de todos os problemas da medicina e dos médicos, as enfermeiras eram esquecidas; quando se falava das associações estudantis, eram esquecidas as escolas de enfermeiras. As enfermeiras, as escolas de enfermeiras eram esquecidas, sendo assim que constituem uma parte importante, fundamentalmente também, de todo o trabalho médico, algo que à Revolução interessa muito, porque lhe interessa também formar enfermeiras revolucionárias (APLAUSOS).
Mas, caso as deixarem esquecidas, caso não aparecerem em nenhum congresso de estudantes, se ficarem sozinhas as enfermeiras, então…
Vejam quanto entusiasmo têm, apesar de tudo. Isso quer dizer que se as tomassem mais em conta, vão ter um bom resultado. Certo ou não? (EXCLAMAÇÕES DE: “Sim!”)
Mas não só se reuniram os estudantes. Quando nós vínhamos observávamos uma multidão que vinha para cá, e eu perguntava aos companheiros: bem, mas é que vamos inaugurar um Instituto das Ciências Médicas, ou é a Segunda Declaração ou a Terceira Declaração de Havana nesta noite (APLAUSOS). Realmente, o povo, o povo não falta, não falta nunca, vem sozinho (ALGUÉM DO PÚBLICO LHE DIZ QUE TAMBÉM ESTÃO OS COMITÊS DE DEFESA (DA REVOLUÇÃO: CDRs: Nota do Trad.). Bem, os Comitês vieram também, mas não me digam que são os Comitês os que trazem o povo, é mesmo o povo quem traz os Comitês aqui aos atos! (APLAUSOS).
E tem muita razão o povo ao estar presente aqui, porque ao povo tem que interessar muito este problema; e possivelmente seja um dos problemas que mais interesse ao povo. E digamos nem tanto o povo da cidade, ao que lhe interessa muito, como ainda mais ao povo do campo (APLAUSOS), porque se na cidade existe consciência acerca das necessidades médicas, a consciência acerca dessa necessidade ainda é muito maior nos campos, onde nunca tiveram nem hospitais, nem dentistas, nem médicos. E precisamente se trata de como atender a essa necessidade do povo.
Tudo aquilo que interesse ao povo é preocupação fundamental dos revolucionários; os revolucionários trabalham para isso, e só para isso: trabalham para o povo. E esta é uma questão, eu diria muito sensível, muito sensível, o problema da medicina e o problema da saúde.
Por que é que o Governo se interessa muito por este problema? Porque este é um dos problemas mais delicados, e é um dos problemas de maior transcendência humana para a Revolução.
E os inimigos da Revolução tentaram ferir nosso povo neste campo. Como os inimigos da Revolução não têm escrúpulos de nenhuma classe, nem se pode conceber que os reacionários tenham escrúpulos, porque; ah!, se os reacionários tivessem escrúpulos, se os exploradores tivessem escrúpulos, não teriam assassinado tantas centenas de milhões de seres humanos como os assassinaram com sua exploração, sua fome, sua miséria crônica, em todos os recantos do mundo, em todos os continentes.
Um dos argumentos que mais pode persuadir qualquer insensível — bem, caso seja um insensível ninguém o vai persuadir, de maneira nenhuma — eu diria qualquer ignorante, é este problema da saúde, porque uma análise bem simples e uma comparação entre a mortalidade infantil, por exemplo, de um país altamente industrializado e a de um país subdesenvolvido, esses próprios dados são tão impressionantes que deveriam bastar a qualquer ignorante somente para justificar a necessidade das revoluções.
Porque enquanto em alguns países essa mortalidade atinge só 20 por 1000, 30 por 1000, há países onde atinge centenas em cada mil crianças. E a média de vida entre, digamos, um país imperialista, os Estados Unidos, e os povos da Ásia e da África, a diferença que há é de 64 anos, ou 65, de expetativa de vida, para 30 anos como expetativa média de vida. Quer dizer, que em uma infinidade de países, a média de vida é de 30 anos; quem chegar a 30 pode-se dizer que chegou à média.
A causa disso assenta, simplesmente, na miséria, na falta das mais elementares condições de vida. Isso significa que uma parte da sociedade humana, uma parte da humanidade é virtualmente assassinada no mundo por parte dos exploradores. E esta é uma realidade que as estatísticas mostram aqui, em qualquer estatística mundial; essa tragédia que vive um grande número de povos no mundo.
Por isso eu dizia que a questão da saúde é um dos problemas mais sensíveis, que os nossos inimigos, que não têm escrúpulos, tentaram ferir nosso povo com isso. É muito lógico que os cubanos tenhamos a aspiração de que a mortalidade infantil se reduza; que a média de vida de cada cidadão se prolongue, combater as doenças, combater a morte. Não pode haver aspiração mais legítima que essa e, poderia dizer-se, mais sagrada que essa.
Pessoas sem escrúpulos, como são os reacionários, tentaram ferir nosso povo com isso. Quer dizer, tentaram, com o fim de servir aos seus fins inobres e odiosos, privar nosso país dos recursos para lutar por sua vida, para lutar contra as doenças, para salvar milhares, dezenas de milhares de vidas, centenas de milhares de vidas, sobretudo vidas de crianças.
E assim tentaram ferir nosso povo nesse aspecto tão sensível. Como? Levando-nos os médicos.
Entre todas as coisas que tem feito o imperialismo, pois tem cometido muitos crimes, e tem cometido muitas malfeitorias e muitos atos vandálicos, desde o primeiro dia, mostrando uma falta de escrúpulos incrível, perpetrou quantas malfeitorias e quanto atos vandálicos possa ter ideado contra nosso país, desde as sabotagens, como a explosão do navio La Coubre, até a queima de canaviais, os ataques piratas e sem contarmos as agressões econômicas e, ainda, as agressões militares.
Nós nunca poderemos esquecer — nunca! — e levaremos isso sempre dentro, e a recordação disso sempre estará presente, as intenções quando nos atacaram pela Baía dos Porcos, que para nós fica muito claro que a intenção que tinham era apoderar-se de um pedaço do território e, a partir dali, começar a bombardear todos os dias e todas as noites, submeter nosso país a uma guerra de desgaste que teria custado centenas de milhares de vidas. Mas com tudo isso, uma das ações mais canalhescas que o imperialismo tem realizado contra nosso país, foi a política de subornar médicos; e tentar conseguir o êxodo de médicos de nosso país para os Estados Unidos, quer dizer, privar nosso país do pessoal técnico qualificado para atender aos nossos doentes. E, efetivamente, conseguiu levar um dado número de médicos.
Preocupa esse problema à Revolução? Sim, lhe preocupa. Eles sabiam que estavam fazendo dano, não a nós, aos homens do governo, não aos líderes revolucionários, mas sim ao povo. E o que nos doía precisamente a nós era isso: o dano desumano, o dano cruel que faziam ao povo com essa política. Porque nós sabemos os anseios, a obsessão que têm os camponeses, por exemplo, pelo médico; o que agradecem os camponeses o serviço médico rural, os remédios que lhes são enviados, os hospitais que foram construídos.
Nós sabemos que uma das coisas nas quais se fez sentir o peso todo da Revolução é no campo da saúde, porque no nosso país havia 9 mil leitos em hospitais nacionais do Estado e uns 11 mil leitos nas clínicas privadas. Ao serviço do povo só havia 9 mil leitos; esses 9 mil aumentaram, nos hospitais do Estado, para 28 mil, o que unido às clínicas e aos hospitais mutualistas, há atualmente 38 mil leitos (APLAUSOS).
Todo mundo sabe como atendiam antes os doentes nos hospitais, que tinham que dormir muitas vezes no chão; o estado de pobreza, de espanto que havia em muitos hospitais.
Todo mundo sabe disso. E a esse hospital era o hospital aonde tinha que ir o homem e a mulher humilde do povo, e que essa situação mudou totalmente, e que esse quadro dantesco não se percebe hoje em nenhum hospital; que os únicos beneficiários disso são as famílias humildes do nosso povo (APLAUSOS).
Todo mundo sabe que aos nossos campos nunca ia um médico, nunca ia um médico; que a população rural estava virtualmente abandonada, que um camponês para ver um médico tinha primeiramente que começar vendendo um porquinho, meia dúzia de galinhas, qualquer coisa dessas. Todo mundo sabe disso.
E, contudo, assim que triunfou a Revolução e foi organizada a medicina rural, milhões de pessoas começaram a receber os serviços médicos. Naturalmente que essa era uma situação muito diferente da situação do passado; e naturalmente que então os imperialistas não tentavam levar nenhum médico, nenhum especialista.
Quando nosso povo não tinha atendimento médico, eles não se preocupavam de levar os médicos para os Estados Unidos, era indiferente para eles. Quando no nosso país começou um programa extraordinário de atendimento médico, que elevou de 21 milhões para 103 milhões de pesos as verbas destinadas à saúde pública (APLAUSOS) — de vinte e um para 103 milhões! — então se preocuparam por tentar privar nosso povo dos médicos.
Naturalmente que os médicos que eles levaram não eram uns ingênuos, nem eram uns santos, naturalmente.
Antes havia outra coisa: os estudantes terminavam na universidade após passarem milhares de trabalhos, porque tinham que viver em pensões, tinham que sofrer — sobretudo os estudantes do interior — dificuldades enormes para se poderem graduar, e depois não tinham emprego em lado nenhum. E os médicos se acumulavam na capital. E se podia considerar afortunado o médico recentemente graduado que lhe dessem um posto na Prefeitura, em um hospital, como médico, e lhe pagavam só 100 pesos, ou 120 pesos, qualquer coisa. Isso também é bem conhecido.
Então, não iam trabalhar noutros lugares, e quando alguns iam era fugindo do desemprego, fugindo do desemprego.
Eu creio que esses antecedentes servem para a gente ter uma ideia da falta de razão, da falta de moral que tem caracterizado a política, tanto dos imperialistas quanto dos médicos que embarcaram nesse jogo e partiram.
Já não vamos falar do médico especialista, que apenas um médico... porque é preciso ver que, em primeiro lugar, o medico não é um produto espontâneo; o médico é o produto de um processo de educação, de um ensino universitário em uma universidade que era gratuita; dessa universidade saíam... embora, naturalmente, nem todo mundo tinha acesso a essa universidade.
Quando um médico na sociedade de classes que tínhamos, na sociedade exploradora em que nós vivíamos, se tornava famoso, se convertia num grande especialista, já o povo não podia contar mais com esse médico, só por exceção; porque, sempre, naturalmente, há exceções. Mas costumava acontecer que se convertia num médico famoso e cobrava 100 pesos. Já era o médico dos mais ricos.
Para um pobre — a não ser em casos de exceção, de professores universitários, de médicos que prestavam serviços durante algumas horas, nalgumas instituições do Estado — era muito difícil, para um homem humilde do povo, receber os serviços de um médico especialista.
Muitos desses médicos eram os médicos dos donos das usinas açucareiras, dos milionários, e quando os milionários partiram... Bem, não vamos dizer que perderam sua freguesia, porque aqui nenhum médico perdeu seus clientes, mas perderam suas amizades; tiveram saudades delas e partiram.
Independentemente de que a muitos médicos dos que seduziram para ir para os Estados Unidos depois os puseram a lavar pratos e os puseram a manipular elevadores e a vender leite — dizem-me por ali e por algo é que o dizem — independentemente disso, não há dúvida de que a atitude dos médicos que partiram foi uma atitude muito imoral. E eu particularmente sempre disse: sou a favor de que nós nunca mais deixemos retornar um só desses médicos (APLAUSOS), porque entendo realmente que esse é um tipo de crime, esse é um tipo de crime que nunca pode ter perdão. Porque esse é um crime contra o povo, contra o doente, contra o infeliz, contra aquele que sofre; e esse crime jamais poderá ter perdão (APLAUSOS).
Nós todos sabemos, companheiras e companheiros, que os nossos inimigos ficarão com a cabeça cheia de cãs, que nossos inimigos envelhecerão fora da Pátria. Nós estamos certos disso (APLAUSOS). Nós estamos certos que algum dia eles chorarão amargamente sua falta de fé na Pátria, seus espíritos covardes, sua condição de traidores. Não duvido minimamente acerca disso. E no tenho nenhuma dúvida de algum dia muitos pedirão de joelhos retornar a Cuba! (APLAUSOS).
E se algum dia — escutem bem — fosse o povo indulgente com esses que um dia foram embora, creio que com os que nunca se pode ser indulgente é com os médicos que partiram (APLAUSOS). Esse é, pelo menos, um ponto de vista sincero e firme que eu sustento e já sustentei. Porque os caminhos para resolver nossos problemas não são esperar que retornem. Não. Essa classe de médicos não os queremos nunca (APLAUSOS).
Com quem devemos resolver os problemas? Em primeiro lugar, devemos resolver os problemas com os médicos bons (APLAUSOS). Porque é justo assinalar que se houve médicos muito corruptos, muito envilecidos e muito mercantilizados, houve também muitos, mas muitos, médicos bons (APLAUSOS), de consciência, humanos, que entendem a sua profissão como devem entendê-la.
Uns fizeram o juramento de Hipocrates e outros fizeram o juramento de hipócritas (RISOS E APLAUSOS). Aqueles que fizeram o juramento verdadeiro e entenderam a sua missão como uma missão sagrada, esses nem partiram nem partirão nunca (APLAUSOS). E, em primeiro lugar, com esses temos que resolver o problema.
Numa certa altura aqui, os companheiros do ministério tinham adotado uma medida, com o fim de que em certos hospitais a ação dos contrarrevolucionários e do imperialismo não privasse o povo de certos serviços, como foi a medida de não dar permissão aos médicos que quisessem partir.
Depois, quando nós discutimos e examinamos essa situação, prevaleceu o ponto de vista de que não se devia proibir a nenhum deles partir, não estabelecer um sistema de exceção, que se havia necessidades de tipo imediato, ou um dano imediato, seria resolvido mediante o procedimento de exigir a solicitação de permissão com um ano de antecedência, para dar tempo ao ministério a achar solução à deficiência que se pudesse produzir em algum hospital. Quer dizer, se mantém e se manterá a política de deixar sair àqueles que queiram sair (APLAUSOS); se mantém e será mantida.
Porque nós — repito — devemos resolver os problemas por outros caminhos; em primeiro lugar, com os médicos bons.
A sociedade cubana, no futuro, não produzirá esse tipo de homens, que vai embora. Os homens que em meio de uma sociedade de corrupção e de egoísmo permaneceram puros, com a certeza de que têm uma grande qualidade humana e que podem servir de semente e de professores.
Era lógico que a sociedade capitalista produzisse esse tipo de lixo — para não qualificá-lo de outra maneira (RISOS) —; daquela sociedade tinha que sair isso: aqueles superprivilegiados, aquele pessoal corrupto, mercantilizado.
O que significa aqueles que partiram? Falando em termos médicos — que eu sei muito pouco de medicina (RISOS) — é a mesma coisa do que quando se faz pressão num tumor.
Os imperialistas tentam fazer propaganda com aqueles que partiram. Isso equivale a fazer propaganda com o pus, porque o que partiu foi o pus da sociedade cubana, quando a Revolução fez pressão nessa sociedade (APLAUSOS). E o corpo começa a sentir-se muito bem quando elimina o pus! (APLAUSOS E RISOS).
Vejam vocês a forma em que o espírito revolucionário, o espírito proletário que é o espírito forte, rijo, combativo, disciplinado, entusiástico, firme, esse vai se elevando cada dia mais no nosso povo; e se percebe diariamente, percebe-se nas massas, as massas têm cada vez mais fio, mais força. E é impressionante, realmente, e temos sido testemunhas disso, porque temos vivido esse processo todo desde o primeiro dia, desde 1º de janeiro até hoje. E vemos hoje a força da massa, o espírito de aço que se vê no nosso povo (APLAUSOS).
Já aquele espírito pequeno-burguês, fraco, hesitante, dos primeiros tempos, não se vê por lado nenhum (APLAUSOS). Há outro povo, e numeroso, numeroso — dá a impressão de que fosse mais numeroso cada dia — forte, rijo, consciente. Já não é aquele entusiasmo espontâneo dos primeiros dias; hoje é o entusiasmo consciente. E isso se vê por todos lados: um entusiasmo de Pátria ou Morte (APLAUSOS).
Isso melhorou muito a atmosfera. Os gringos levaram o lixo, recolheram uma quantidade de lúmpens; quanto vicioso e corrupto havia neste país, o levaram (RISOS). Têm feito uma coleção verdadeiramente maravilhosa (RISOS). E, além do mais, fizeram-nos um grande favor, senhores, que é uma das poucas coisas que lhes podemos agradecer. Eles os quiseram? Lá os têm! Sem dúvida, o país ficou mais limpo.
Bem, o que devemos fazer? Continuar avançando, e resolver os problemas para sempre. Os tempos amargos já passaram, já passaram; agora vêm estes tempos, que são melhores.
O que é que compensa ante nosso povo, o que é que compensa ante nossos sentimentos de revolucionários, a repugnância e o nojo dos traidores e dos desertores? Isto: esta massa nova, este contingente que começa a estudar, e a massa atual o bastante apurada — embora ainda lhe falte apurar-se um pouquinho — dos atuais estudantes universitários (APLAUSOS).
Eu posso dizer e posso garantir que a Escola de Medicina conta, que nosso país conta hoje na Escola de Medicina com uma formidável massa de bons estudantes e de estudantes revolucionários (APLAUSOS). Ainda restam alguns, ainda restam alguns que ainda estão pensando revoltar-se com sua equipe (EXCLAMAÇÕES), e como a Escola de Medicina — tal como toda a universidade — conta com um magnífico grupo de dirigentes e de companheiros muito responsáveis e sérios, discutindo com eles todos estes problemas da medicina, nós temos defendido o ponto de vista — com o qual eles concordam totalmente — de que a esses elementos, que são conhecidos, não lhes permitam matricular na Escola de Medicina da Universidade (APLAUSOS).
É justo, é justo que o povo gaste seu dinheiro, o dinheiro dos que suam a camisa, o dinheiro dos trabalhadores para ensinar um ‘gusanito’ (gusano=verme: assim eram chamados os contrarrevolucionários. N. do Tradutor) (EXCLAMAÇÕES DE: “Não”!), em dar um título a um ‘gusanito’? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não”!) É justo que nossa gloriosa universidade e nossos professores universitários tenham que trabalhar arduamente, para que beneficie disso um ‘gusanito’, embrião de traidor? Não! E com o inimigo: Duro com o inimigo, duro! (APLAUSOS.)
Já com esses não vale a pena nenhum trabalho persuasivo, nem muito menos. Porque a esses seria preciso fazer-lhes a trepanação do crânio (EXCLAMAÇÕES), e esse tipo de operações não se faz aqui.
Então, o que devemos fazer na nossa universidade, na Escola de Medicina, com esses elementos conhecidos que restam? Não matriculá-los! (EXCLAMAÇÕES.) E que esteja disponível o material todo, todos os livros, todas as facilidades e todos os recursos do povo para estudantes que vão servir o povo (APLAUSOS).
Com que se pode contar já, desde agora? Com várias centenas de magníficos companheiros que se irão formando todos os anos, e que irão formando o contingente de médicos revolucionários (APLAUSOS), e que irão dando ao país a contribuição de uma mentalidade nova, de uma concepção nova da função do médico; função que, tal como a do professor, o povo deve ter na mais alta estimação, na mais alta estimação! E, claro, os maus médicos conspiram contra o bom conceito que o povo deve ter do médico.
E essa massa já significará uma contribuição, ano após ano e uma consciência firme, limpa, de médicos que trabalhem, que os salários que tenham os ganhem trabalhando, de médicos despojados de todo o sentido egoísta e mercantilista (APLAUSOS). Que o povo pode pagar perfeitamente bem a seus médicos, com o que necessitam e mais do que necessitam. E o povo remunera bem os médicos!
Este contingente irá criando um espírito que se oporá a esse espírito egoísta, ou aos restos do espírito egoísta, acomodado, que ainda restam, de médicos que cobram um salário muito alto e não vão mais do que uma hora — que há desses, que há desses! — esse espírito que tende a corromper o estudante, inclusive o estudante! Por que essa prática de pegar um estudante como ajudante para realizar determinadas operações, cobrá-las e dar-lhe algo, ou de empregar como médicos os estudantes, que algumas pequenas clínicas privadas praticavam?
E nós, discutindo com os companheiros da Escola de Medicina, dissemo-lhes: é necessário, custe o que custar — reparem bem: Custe o que custar! — pôr fim a essas práticas, custe o que custar! E quando a Revolução diz custe o que custar, diz isso a sério (APLAUSOS).
Os companheiros da direção estudantil nos expuseram: acontece que há bons companheiros estudantes que atualmente ganham a vida fazendo alguns desses tipos de trabalhos. E nós dizíamos: isso é lamentável, que bons estudantes e bons companheiros comecem a ser vítimas dessas práticas, além de que era um engano ao povo.
E por isso o Governo deu a orientação de irmos resolvendo o problema dessas clínicas que restavam, e que conspiravam contra uma política sadia nesse front que tanto interessa ao povo e que tanto tem a ver com o povo. Então nós expusemos: ao companheiro que esteja hoje trabalhando nisso lhe procuramos outro trabalho, ou lhe damos uma bolsa e ajudamos sua família; mas por uma via ou outra temos que resolver esse problema do estudante trabalhando, porque já começavam, inclusive, a corromper o estudante, a pagar-lhe 100, 200 e 300 pesos. Não tinham interesse em se graduarem, para que? Se já antes de se graduarem, nem de fazerem medicina rural, nem de tirarem o título... Isso era, realmente, uma prática na contramão da moral que se deve formar nos estudantes precisamente, que provocava a corrupção do estudante.
E nós expusemos que esse problema devia ser resolvido de forma resoluta; que como nós tínhamos muito interesse nos médicos, de formar médicos — e médicos bons — que, inclusive, todo estudante que estivesse trabalhando e não pudesse estudar o tempo todo, o país poderia ajudá-lo, de maneira tal que deixasse o trabalho e fosse subsidiado para que pudesse dedicar o tempo todo ao estudo. Porque também é lógico que um estudante que estuda cinco anos, e todos os dias tem que deixar de dedicar cinco horas ao estudo, não pode ser médico igual que aquele que dedicou ao estudo essas cinco horas todos os dias. E nos interessava ter médicos bons.
Então, foi adotado o acordo de subsidiar todos esses estudantes que estavam trabalhando, para que a partir desse momento, na Universidade de Havana, o estudante de Medicina fosse estudante o tempo todo. Não se fez essa prática nos do primeiro ano, quer dizer, nos que ingressam agora. Por que? Porque aquela política de subsidiar os estudantes que estivessem trabalhando se podia fazer com os que já estavam estudando, mas não se podia estabelecer o precedente de que aquele que ingressasse trabalhando já desde esse momento fosse subsidiado; porque, caso contrário, os estudantes de bacharelado iam estar trabalhando desde o quarto ano, desde o primeiro ou o segundo ano do pré-universitário, para quando chegassem à universidade, e quando chegassem à universidade aquilo se converteria num verdadeiro gravame para a economia nacional. Então, esse conceito não foi aplicado àqueles que ingressam agora na faculdade, mas sim a todos os que estavam estudando, ao efeito de podermos implementar uma política realmente correta e formar bons médicos (APLAUSOS).
Nós entendemos que isso é o que resulta verdadeiramente útil e benéfico para nosso país, e que a Revolução deve pôr fim a todas as práticas que conspirem contra os interesses presentes; mas, sobretudo, contra toda prática que conspire contra os interesses futuros do povo. Porque é preciso pensar, sobretudo, no futuro, no amanhã (APLAUSOS).
Já nosso povo pode ter a segurança de que todos os jovens que estão estudando na Faculdade de Medicina estão estudando o tempo todo, e que vamos criar, formar médicos, em quantidades em massa, muito melhores, muito melhores! E entendemos que esse é um dever que tem a Revolução com o povo (APLAUSOS).
Ora bem: A solução definitiva do problema assentava nisso? Não! Há, por exemplo, uma circunstância, qual é a seguinte: os médicos amontoavam-se em Havana, e em Havana hoje há médicos demais, e depois não queriam sair. Para Miami, sim; para a Serra Maestra, não! (APLAUSOS). E muitos deles enveredavam pelo caminho de fora antes que o caminho de servir ao povo. E amontoavam-se os médicos na capital e ainda há médicos demais na capital.
Os problemas não se resolviam sequer com esses problemas que se apontavam. Onde é que está a verdadeira e definitiva solução do problema, onde? Com vista ao futuro, a única, a verdadeira, a solução definitiva, é a formação em massa de médicos (APLAUSOS). E a Revolução tem hoje forças e tem recursos e tem organização e tem homens — homens!, que é o mais importante — para começar um plano de formação de médicos nas quantidades que sejam necessárias (APLAUSOS). E não só muitos, mas sobretudo bons; e não só bons como médicos, mas sim bons como homens e como mulheres, como patriotas e como revolucionários! (APLAUSOS).
E quem diz que a Revolução não pode fazer isso? Já estamos podendo! E a melhor prova é este ato desta noite.
Os professores da Universidade de Havana prepararam um formidável programa de formação de médicos. Claro que é um programa revolucionário e para fazê-lo numa hora como esta, mas um programa formidável, que vai formar médicos melhores e em menos tempo.
É claro que para entrar na universidade se precisa, pelo menos, de ser bacharel. Que é que se fez? Determinou-se aceitar como estudantes de medicina tanto estudantes das ciências como das letras, ou bacharéis em ciências como em letras, com um cursinho prévio que começa amanhã.
Em virtude disso, já ingressam neste Instituto das Ciências Básicas uns 800 estudantes; e na Universidade do Oriente, 240, que fazem um total de mais de 1000, mais de mil que começam a estudar! Isso, neste ano.
Mas, simultaneamente com este Instituto, amanhã começam um curso de 15 meses 1,3 mil estudantes de bacharelado (APLAUSOS) os que, unidos aos que se formam no bacharelado, permitirão que no ano próximo, contando as baixas acadêmicas, no ano próximo entrem aqui, ou comecem na universidade, quer dizer, aqui mesmo — mas como eles vão frequentar um curso de 15 meses, estes três meses que vocês vão estudar agora, eles os vão estudar na escola onde estão — 1,250.
Mas, simultaneamente, neste ano, pelo menos 2,5 mil jovens do ensino secundário básico começam a fazer um pré-universitário especial de dois anos para ingressarem, imediatamente depois, na Escola de Medicina (APLAUSOS).
E depois? Depois já será um rio de estudantes de medicina: 1.000 neste ano, que começarão a estudar em 1963; 1.250, que começarão em 1964; 2,5 mil que começarão em 1965 e, naturalmente, como a Revolução não tem trabalhado debalde, a Revolução pode fazer isso porque conta com enormes contingentes de bolsistas, onde pode escolher os estudantes por sua vocação e por sua capacidade, porque a Revolução vem fazendo uma obra educacional desde o começo. Devemos ter em conta que havia estudando no ensino secundário 120 mil jovens quando a Revolução galgou o poder, e que agora há perto de 250 mil (APLAUSOS). São números, são fatos e é o fruto da própria obra da Revolução. E agora temos que fazer cursos especiais, mas a partir de 1965 não caberão aqui nem no outro edifício como este os que poderão estudar medicina. E essa é a solução, a única e definitiva solução!
E que tipo de estudantes? Um tipo infinitamente superior ao estudante dantes — como tudo o de hoje é diferente ao dantes — como muito bem recalcava o Decano da Faculdade das Ciências Médicas, que já não é aquele caos, aquele costume americano odioso de rapar a cabeça dos novatos, mas sim que são recebidos com música, com todas as honras dos estudantes, do povo, em um ambiente fraternal, acolhedor, entusiástico, otimista: todos a preocupar-se por eles, pelo lugar onde vão morar, pelos equipamentos e os livros com que vão estudar, pela alimentação que vão ter, por seu programa. E estudantes que vão estudar o tempo todo, o tempo todo; porque o primeiro ano o fazem como internos.
E assim, a Revolução pode hoje, com satisfação, enxergar este magnífico edifício — cujos antigos estudantes ou antigas estudantes hão de estar, pelo menos em 90% do lado de lá — convertido em um centro docente, verdadeiro orgulho de nosso país, onde vão começar a estudar 800 do lado de cá (APLAUSOS). E a estudar de verdade!
São homens, companheiros e companheiras do povo, jovens cheios de otimismo, cheios de alegria, como é lógico, e que vão dispor de todos os recursos e do tempo todo para estudar; e vai existir o caso dalguns destes jovens que vão terminar de estudar medicina aos 20 anos — aos 20 anos e aos 21 anos — e que vão ter uma vida toda por diante para continuar estudando, para continuar aprendendo, para continuar capacitando-se, superando-se, adquirindo experiência. E esse é o porvir do nosso país, e esse é o panorama do futuro; futuro que não vem ele sozinho, mas que é preciso forjar, que é preciso fazer. E essas são as perspectivas que tem a medicina em nosso país.
E quando aqueles senhores cansados, fartos, desiludidos, reumáticos e cheios de cãs, fiquem de joelhos para pedir o retorno, lhes perguntaremos: Retorno para que? (APLAUSOS). Se cá temos legiões de médicos jovens, competentes, cheios de fé, cheios de entusiasmo, cheios de paixão, para que? Retornar? Dispor de uma casa para um deles? Não! Como é que vamos dar uma casa a um desses senhores enquanto houver um operário sem casa, um camponês sem casa? (APLAUSOS). Porque aqui não será construída uma única casa que não seja para entregá-la, em primeiríssimo lugar, a uma família das boas, das que trabalham, das que produzem, das que precisam da casa.
E então chegará o momento mais amargo para eles, e nós não precisaremos deles. Hoje não precisamos deles, amanhã muito menos precisaremos deles.
Mas, ainda, quero dizer-lhes algo: além dos médicos que temos, temos médicos de diferentes países (APLAUSOS), tal como professores de diferentes países, trabalhando no nosso país. Portanto, estes tempos os podemos defrontar perfeitamente bem. Não só isso, não só isso, mas que ainda podemos fazer algo — embora tenha, sobretudo, caráter simbólico, mais do que outra coisa — para ajudar outros países.
E assim por exemplo temos o caso da Argélia (APLAUSOS). Na Argélia a maior parte dos médicos eram franceses e muitos foram embora. E assim, com quatro milhões de habitantes mais que nós, grande número de doenças que deixou ali o colonialismo, dispõem da terceira parte, de menos da terceira parte dos médicos que nós temos. Eles têm uma situação verdadeiramente trágica no campo da saúde.
E por isso nós, conversando hoje com os estudantes, lhes expúnhamos que precisamos de 50 médicos voluntários para ir para a Argélia, para ir para a Argélia ajudar os argelinos (APLAUSOS). E estamos certos de que os voluntários não faltarão.
Cinquenta nada mais. Estamos certos de que se vão a oferecer mais, como expressão do espírito de solidariedade de nosso povo com um povo amigo que está pior que nós, pior do que nós!
Claro que hoje podemos mandar 50; daqui a oito ou dez anos nem se sabe quantos, e aos nossos povos irmãos poderemos dar-lhes ajuda. Porque cada ano que passar teremos mais médicos, e cada ano que passar mais estudantes ingressarão na Escola de Medicina; porque a Revolução tem direito a recolher o que planta, e tem direito de recolher os frutos que plantou (APLAUSOS).
E nosso país, muito em breve, muito em breve — e podemos proclamá-lo com orgulho — terá o maior número de técnicos que nenhum outro país da América Latina (APLAUSOS); e nossas universidades irão crescendo, e os estudantes nas nossas universidades serão dezenas e dezenas de milhares, e nossos corpos de professores serão cada vez mais experientes. Os anos passam, e passam rápido, e o esforço da Revolução se percebe.
Dizemos anos, mas anos que passarão e que nos permitirão ver esse quadro de 40 mil ou 50 mil estudantes universitários e de jovens graduando-se aos milhares e às dezenas de milhares, porque para isso a Revolução pode, porque é a Revolução e só a Revolução é a que pode realizar essas façanhas (APLAUSOS); e é um povo revolucionário e só um povo revolucionário é quem pode levar adiante semelhantes tarefas.
Por isso, companheiras e companheiros, hoje é um dia importante, hoje é um dia de júbilo para nosso povo, hoje é um dia de íntimo regozijo para os revolucionários, porque a Revolução não se concretiza a expor ideias, mas sim a realizar ideias; a Revolução não é teoria, é sobretudo fatos. E tudo aquilo que a Revolução se tem proposto, o tem conseguido; tudo aquilo que a Revolução tem iniciado, o levou adiante. E isto é produto de uma ideia convertida em realidade, da obra empreendida que se lava adiante, razão para sermos otimistas; razão para acreditarmos mais no dinamismo de uma Revolução e na capacidade criadoura de nosso povo.
E é motivo de júbilo, sobretudo, porque sabemos o que isto significa, porque sabemos que com isto nos defendemos dos golpes baixos do inimigo, no aspecto mais sensível de nosso povo, porque sabemos que isto significa centenas de milhares de crianças que serão salvas para a pátria (APLAUSOS), porque sabemos que isto significa saúde para nosso povo, porque sabemos que isto significa elevar a média de vida de cada cidadão da nossa pátria; porque sabemos que isto significa, unido a todo o restante do trabalho revolucionário, o aumento da produção de nosso povo, a criação das condições não só para combater as doenças, mas sim para preveni-las. Porque no futuro teremos cada dia mais médicos, e cada dia menos doentes (APLAUSOS).
E eis os fatos, eis os fatos; desde há seis meses não tem havido um único caso de poliomielite no nosso país (APLAUSOS); há seis meses nenhuma mãe, nenhuma família teve que sofrer a dor indescritível de ver seu filho inválido. E assim, centenas de crianças salvaram-se, centenas de vidas felizes salvaram-se; a felicidade e a alegria de centenas de famílias salvou-se. E não importa que fossem centenas, porque dentre essas centenas poderia estar qualquer família. É o benefício para toda a família, porque quando uma espada que paira sobre a cabeça de qualquer filho some — espada que pode ameaçar a uma ou a outra — quando essa espada se afasta das cabeças de todas as crianças de Cuba, todas as crianças e todas as famílias são beneficiadas pelo esforço do Ministério da Saúde Pública, apoiado nas massas, pelo esforço das organizações de massa com a vacinação (APLAUSOS).
E assim, de novo arremete a Revolução contra as doenças e se dispõe a salvar milhares de vidas do tétano, da difteria e da tosse convulsa, que são outras das tantas doenças que sacrificam milhares de crianças todos os anos, e que pode contrair qualquer criança de qualquer família. Como? Prevenindo através da vacinação esses tipos de doenças. E assim iremos combatendo doença por doença, assim iremos diminuindo o número de epidemias, o número de mortes, o número de vítimas. E assim se irá cumprindo esse grande propósito: irmos passando da medicina terapêutica para a preventiva, quer dizer, evitar que adoeçam os cidadãos.
E há de ser brilhante o porvir de nosso povo, brilhante a saúde de nosso povo quando, por um lado, combatemos as doenças, diminuímos suas vítimas, lutamos contra elas até fazê-las desaparecer, e, por outro lado, contingentes de jovens entusiásticos, que são esperanças da pátria, forjadores da saúde do nosso povo, salvadores de vidas, entram em uma instituição como esta.
Por isso podemos dizer hoje: Vivam nossos estudantes universitários! (EXCLAMAÇÕES DE: “Vivam!”) Vivam os jovens que ingressam nestes centros docentes! (EXCLAMAÇÕES DE: “Vivam!”)
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)