O Che, um homem novo para a humanidade
Primeiro foi Ernestito, mais tarde Che Guevara e, depois de seu desaparecimento físico, chegou a se converter em San Ernesto da Higuera o argentino que nasceu em Rosario 85 anos atrás num dia como hoje.
Em Cuba, como em boa parte do mundo, é lembrado nesse dia como umÂáícone da justiça e do homem novo com o qual tanto sonhava para a humanidade e pelo qual lutou.
Uma revista e um documentário sobre sua vida e sua obra dirão mais sobre o homem que advertia que não se pode confiar noÂáimperialismo "nem um poquinho assim".
Che, médico, jornalista, ministro, guerrilheiro, jogador de xadrez, comandante, diplomata, economista, escritor... "não tinha papas na língua", diria um bom cubano para reconhecer a transparência no seu trato com as pessoas.
Milhares de histórias sobre sua vida são contadas, mas nesta ilha, cuja cidadania assumiu como sua, lembram da "inovação" do argentino ao criar os chamados trabalhos voluntários, aos quais contribuía com uma jornada de trabalho para fortalecer a economia.
Os fotógrafos de imprensa garantem que quando iam atrás das notícias doÂáChe trabalhando em uma fábrica ou em uma construção, sem camisa, eram obrigados a contribuir com o trabalho antes da primeira foto e avisava que ali os operários eram as pessoas mais importantes. Aquilo ele tinha aprendido cedo, quando decidiu se lançar a uma aventura de motocicleta com seu amigo AlbertoÂáGranados e pôde apreciar com seus olhos as tristes realidades de um continenteÂároubado de suas riquezas.
Os rostos envelhecidos prematuramente pelo trabalho na mineração e a miséria de seus povos deram sólidos argumentos aos pensamentos que ele vinha organizando desde dantes de estudar Medicina.
O ENCONTRO COM CUBA
Em 1954, oÂáChe se encontrou com Cuba quando conheceu no México o jovem Raúl Castro, por intermediário do revolucionário cubanoÂáÑico López. Raúl o apresenta depois a Fidel Castro, uma amizade que acabou só com a morte do argentino na Bolívia em 1967.
O líder do movimento revolucionário cubano compreendeu em poucas horas a grandeza de seu interlocutor e o convidou a ser oÂámédico dos expedicionários do iateÂáGranma que sairia de Tuxpan, no México, em uma das ações que levariam à vitória de 1959.
Che Guevara chegou a ser um dos comandantes do grupo armado e ao descer da Serra Maestra no dia 1 de janeiro daquele ano, ocupou vários cargos no governo cubano, como o de ministro de Indústrias e presidente do Banco Central de Cuba.
Entre as histórias que o povo conta, dizem que foi designado para essa tarefa porque em uma reunião Fidel Castro perguntou aos assistentes quem era economista e oÂáChe levantou a mão porque pensou que o líder tinha dito "um comunista".
Durante esta etapa, amadureceram nele conceitos econômicos, desenvolvidos em profundas reflexões que deixou para aÂáposteridade e que são estudados atualmente por sua vigência.
BOLÍVIA, DESTINO FINAL DO COME
Mas oÂáChe soube compreender o valor da liderança queÂásua pessoa representava e não a guardou para si, mas decidiu promover a libertação desses povosÂáexplorados dos quais falava, na África e na América Latina.
Em seu continente, ainda o mais desigual na distribuição das riquezas, tinha visto com seus próprios olhos a miséria humana e entendeu que era possível mudar essa realidade, como tinha acontecido em Cuba, onde ofereceu seus serviços internacionalistas sem pedir nada em troca.
Outras terras convocavam seus modestos esforços, segundo admite em sua carta de despedida lida por Fidel Castro perante seu povo, que já era dele também.
Não pediu, no entanto, nada para seus filhos que deixava em Cuba, porque considerava que a Revolução era tão profunda que saberia dar o abrigo e alimento necessários.
A morte o surpreendeu foi na Bolívia, como líder de um movimento revolucionário, e onde passou à outra dimensão. Converteu-se em um exemplo para os seguidores da justiça.
Uma foto em preto e branco feita pelo cubano AlbertoÂáKorda nos primeiros anos da Revolução cubana o traz de volta à imaginação perpétua da humanidade, com suaÂáboina negra e a estrela solitária.
Sua miradaÂáserena e profunda parece avisar que ainda é possível e necessário criar o homem novo que ele forjou em si mesmo, dizendo que se deve lutar sem individualismos... e até a vitória sempre.