Com a imprensa nacional e estrangeira no Encerramento do II Festival Internacional do Havano
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Jornalista.- O que acha da actividade em geral, foi emocionante?
Fidel Castro.- Interessante.
A questão é que no ano passado estive a participar, mas neste momento estamos engajados numa luta dura, e não queria aparecer no leilão, visto que poderia paracer un coisa frívola. Nem todos compreendem, e na verdade o interesse é que o arrecadado aqui neste festival seja empregue, na íntegra -o mesmo aconteceu no ano passado-, em medicamentos para as crianças; esse é uso que tem.
Neste ano não quis vir ao jantar e tampouco o fiz no ano passado; no ano passado participei do leilão, mas agora não.
Jornalista.- Contudo, desta vez teve um elemento importante, isto é, a reclamação do Elián.
Fidel Castro.- Bom, foi adicional.
Jornalista.- É adicional.
Fidel Castro.- A nossa ideia é a importância que tem o leilão para a promoção das exportações neste domínio. Vim a pensar nisso. Outro aspecto é que não devemos deixar de fazer um esforço, quando pode significar algumas centenas de milhares de dólares para medicamentos para as crianças; é por isso que eu vim, mas não quis falar. Pedi a Lage que falasse ele.
Também foi muito emocionante porque Pupi, a pessoa que Lage mencionou, que acrescentou 50 000 dólares, é representante da Palestina em importantes actividades internacionais.
Jornalista.- Pois é, pois é.
Fidel Castro.- Tem um simbolismo e foi expontâneo da sua parte, e da empresa espanhola-francesa também, acho que eles fizeram uma fusão, e afirmaram que iriam acrescentar aquilo que fosse necessário para ultrapassar o que foi arrecadado no ano passado.
No ano passado foram por volta de setecentos mil e tal, e neste ano, graças a essa decisão deles, atingiram-se 800 000 dólares. E são muitas as coisas que podem ser adquiridas: matérias-primas para medicamentos; isso o transformamos em milhões, porque quando trazemos a matéria-prima e produzimos tudo isso, multiplicamos o valor desse dinheiro.
Jornalista.- Na prática é um golpe ao bloqueio.
Fidel Castro.- Sim. Na prática tiraremos daí dois ou três milhões, se for matéria-prima; se forem medicamentos elaborados, que é preciso importar, resulta menos. Porém, sempre, de alguma maneira, conseguimos multiplicar o seu valor.
Como estamos debruçados nessa luta e todos os dias andamos nisso, não apareci em tribuna alguma, e também não é necessário. Todas são caras novas. Há uma infinidade de jovens, com talento, que são os que falaram. No decurso destes dias não participei em nenhuma das tribunas.
É claro que os jovens comunistas e os estudantes recebem a orientação estratégica da Revolução através dos seus dirigentes mais experientes, devido a complexidade, importância e transcendência desta luta, mas eles, com o pleno apoio das organizações de massas e sociais, e dos organismos pertinentes do Estado, são responsáveis da organização das ações e da direcção operacional das mesmas.
Jornalista.- Mas surgiram milhares de oradores.
Fidel Castro.- Não, os que vão surgir são ainda mais. Isto significa uma nova etapa doravante, porque esta luta, como diz o Juramento de Baraguá, não se deterá. Não fazemos nada com que a criança volte e amanhã tenhamos outros casos iguais ou piores.
Olha, nestes dias morreram dois cubanos. Há por volta de quatro dias, iam seis numa embarcação e dois deles morreram. Ah!, essa é a Lei de Ajuste Cubano.
Hoje de manhã li num telex que quinze homens, três mulheres e duas meninas tinham chegado às costas dos Estados Unidos numa embarcação rústica. Esse barco pode se afundar; estão a estimular isso. E nós os acusamos de que estão a estimular as saídas ilegáis, e essa batalha manter-se-á enquanto exista a Lei de Ajuste Cubano; bom, não é necessário acrescentar nada mais, no Juramento de Baraguá está este ponto e o resto, enquanto exista a Lei Torricelli, a Lei Helms-Burton, bloqueio, guerra económica, subversão e todas as conspirações contra a Revolução. Portanto, isto não se deterá. É o que posso dizer-lhes.
Não é preciso que eu fale nas tribunas abertas. É claro que esta é uma responsabilidade de todos, de todo o país; é responsabilidade da direcção da Revolução e assumimo-la plenamente. Mas tem sido uma coisa quase milagrosa, como surgiu um número ilimitado de oradores onde quer, e quantas coisas foram vistas!
Jornalista.- Desde Baracoa até Guane.
Fidel Castro.- Os Estados Unidos foram conduzidos pela máfia a três grandes erros: um, ficar com o menino; dois, inventar uma história de espionagem. Não culpamos o governo dos Estados Unidos, realmente este é um conluio organizado em Miami pela organização anexionista chamada cubano-americana, com a cumplicidade do Chefe do FBI da estação local; não estamos a culpar nem sequer à direcção do FBI, mas aqueles que idearam uma pérfida armadilha. Enganaram Faget, que era um funcionário importante de imigração, e lhe montaram a armadilha. Dizeram-lhe que Imperatori iria desertar, portanto, devia preparar uns papéis. Só uma vez o vice-cônsul o vira por motivos de trabalho. Falei com Imperatori mais pormenorizadamente. Uma vez, no mês de Outubro o viu, não me lembro agora do dia exacto. Inclusive, em Julho, quando ele substituiu o outro funcionário, que duas vezes o viu em Miami, como ele vê e fala com muitas pessoas quando viaja a essa cidade, do mesmo modo que o Chefe da Missão e outros funcionários falam com legisladores e os seus assistentes, jornalistas e personalidades de todo gênero. O que digo é que o invento da espionagem é uma mentira total.
Pode ser que tivessem algum motivo de vingança contra Faget. Quando algum vice-cônsul nosso aparece-em qualquer parte-, num aeroporto, lá com certeza estão três organismos -isso toda a gente sabe-, devem aparecer a CIA, o FBI, deve haver três o quatro serviços verificando tudo o que faz, e ele não entra em nenhum apartamento ou lugar misterioso a falar com alguém. Por vezes se detém em um hotel ou na casa de alguma amizade, e, quando fala com alguém, fala em público, não há nada de conspiração. Na verdade, resulta intrascendente o conteúdo dos breves encontros que tiveram Molina e Imperatori com o Senhor Faget, em Miami. Três em 14 meses.
Isso é falso a tal ponto, que o vice-cônsul José Imperatori, que conversou com ele só uma vez, chamou-o em Outubro de 1999, para o cumprimentar, porque desde Julho, o anterior vice-cônsul, tinha falado dele. Um funcionário importante do INS, é uma pessoa com a qual qualquer vice-cônsul tentar falar, visto que mais de 100 000 cubanos vão e vêm desde os Estados Unidos para Cuba; outros 20 000 vão para lá todos os anos com visto de residência; de vez em quando pode chegar um barco que alguém roubou.
Inclusive, não há muito tempo, dois paquistanianos e um indiano seqüestraram uma embarcação e levaram consigo dois homens e por um triz não os assassinaram; estavam felizes quando enxergaram as luzes da costa, sabem por quê? Porque houvem falar nessa lei, que aquele que de Cuba chegar ali, tem direito à residência, ninguém explicou que isso apenas é para os cidadãos cubanos. E isso deu lugar a golpes, quase assassinam os nossos dois trabalhadores. Além disso, está o contrabando, eles não estão a lutar contra o contrabando; nós é que estamos a lutar contra o contrabando de migrantes. Há aproximadamente 60 réus residentes em Miami, que com embarcações da Flórida vieram aqui à procura de emigrantes e foram detidos. Tornamos a lei mais rígida, até cadeia perpétua, contra o contrabando de pessoas. Eles lá têm condenas de dez anos, mas não se atrevem a aplicar nem isso. Dos que temos apreendido por essa causa, apenas temos julgado ou condenado dois ou três, porque o acidente ocorreu aqui e houve perda de vidas; outros vieram, tiveram alguma avaria ou foram capturados quando chegaram às águas ou costas cubanas, por medidas preventivas adoptadas, e esses ainda estão pendentes de serem julgados.
Residem em Miami, recebem o dinheiro em Miami, o barco é de Miami, e já lhes dissemos: O principal crime foi cometido lá e não cá. Há meses que estamos a pedir respostas. Quando vão levar estes cavalheiros para julgá-los lá?, e não querem fazê-lo. Mas, sabem por quê não querem? Ah!, porque há medo; não há um juiz que tenha a coragem de julgar algum residente dali.
Jornalista.- Nesse caso, Comandante, os julgaríamos aqui?
Fidel Castro.- Ora bom, isso ainda não foi decidido. Aí estão os homens à espera de que eles os levem. A outra questão é ajudá-los a resolver um problema. Também é ajudar à cobardia, e não estamos dispostos a ajudar à cobardia, percebem? E estão aqui congelados. O que cabe é que sejam conduzidos e julgados; mas têm medo. Lá ninguém foi condenado por contrabando; fizeram algumas advertências, e só isso; lá não tem um juiz com coragem suficiente, já trocaram umas quatro vezes o juiz, estadual ou federal. Tinha que ser um juiz de lá quem os julgasse. Não são julgados e cá estão congelados.
Os únicos que temos lutado contra o contrabando somos nós, percebem?; eles nada fizeram. Está a Lei de Ajuste, à qual acrescentaram outras prerrogativas: maior estímulo, as rádio emissoras que lá incentivam as saídas ilegáis, e estavam a aumentar.
Somos nós unicamente os que tomamos as medidas de controle dentro: fizemos uma lei, regulamentamos muito bem tudo o relativo com os que têm ou fabricam embarcações, foi reforçada a cooperação da população para obstar essas ações. As saídas foram reduzidas, mas foi pela nossa ação. Eles devem eliminar a Lei de Ajuste, simplesmente porque constitui um crime consciente. Digo-lhes que hoje chegou um barco desses a um ilhéu ajudado pela corrente marítima, mas havia duas meninas e várias mulheres; portanto, com isto estão a promover o crime, a morte de crianças e mães.
Jornalista.- Comandante, há um elemento interessante, que é o apoio internacional a Cuba neste assunto de Elián.
Fidel Castro.- Sim, no assunto de Elián. Mas a Lei de Ajuste Cubano é a fábrica de morte que eles criaram e têm que eliminar. Somos intransigentes nisso, a nossa posição é mais firme: Estaremos a lutar até o desaparecimento não só da Lei de Ajuste, mas também da Lei Torricelli, a Helms-Burton, o bloqueio e todas as conspirações contra o nosso país, que já duram mais de quarenta anos. Essa é a nossa posição, digo-o francamente.
Na verdade, não estamos a culpar à administração Clinton do delicado problema criado, embora houve fràqueza da sua parte, visto que essa criança devia ter sido devolvida. Mas, habituados a fazer tantas barbaridades, sabe-se lá quantos pais perderam o direito ao Pátrio Poder, porque por vezes tem sido o pai quem levou o filho e deixou a mãe aqui, ou é a mãe que leva o filho, estando divorciados, e o pai fica aqui. Desses casos há um montão.
Nós não proibimos as saídas; autorizamos vinte mil ao ano e recebem vistos. Querem mais? Pois tem mais. Respeitamos o direito do Pátrio Poder. Doe-nos quando uma criança abandona a escola, visto que muda de ambiente, perde a sua identidade, é uma criança, é uma criatura inocente; mas repeitamos o direito do pai se quiser viajar com a criança. Respeitamo-lo com tanta firmeza como defendemos com toda firmeza o direito deste pai que permaneceu aqui, que pediu que o apoiassem na sua luta pelo seu filho. Mas milhares de crianças viajam e lhes acontece a mesma coisa, são desenraizadas. É doloroso, mas respeitamos o direito do Pátrio Poder. Uma família tem uma, duas, três crianças, e nos doe que abandonem a escola e que percam a sua identidade, porém, respeitamos esse direito sem excepção.
E mais; ao começo da Revolução levaram de contrabando 14 000 crianças. Primeiro inventaram um decreto infame, falso, apócrifo; assinaram-no como se fosse um decreto real que estivesse em projecto; era quando havia lei de reforma agrária, de reforma urbana e outras, nesse espírito e nesse ambiente, para atemorizar as pessoas. Inventaram uma lei e a divulgaram. Inventaram uma coisa que depois eu vi em um romance de Cholojov. Lembro-me que nesse romance, "O Dom ensangrentado", de Cholojov, ou outra desse autor, ao qual lhe outorgaram depois o Prémio Nobel, descobri que desde aquela época o invento do Pátrio Poder já tinha sido utilizado contra a revolução russa; não era um invento novo. Empregaram-no aqui e teve tremendo efeito, conseguiram atemorizar a muitas pessoas.
Há um livro que vai sair sobre isso. Toda a história do seqüestro em massa, desta vez com o apoio dos pais, porque os enganaram e foi uma operação organizada lá por eles, pelos órgãos de inteligência dos Estados Unidos.
Jornalista.- Mas muitas dessas crianças que hoje são homens, reagiram e hoje estão a defender...
Fidel Castro.- Agora reagiram; são alguns dos que mais estão a protestar. Esse advogado que teve tremenda posição e mais outros, são dessas crianças que ainda sentem a dor de terem sido levados. E o quê se passou? Veio a Crise de Outubro e suspenderam aquelas viagens, e muitas daquelas crianças ficaram lá com os pais cá.
Nunca proibimos as saídas legais, nunca!, as que quiserem. Fomos nós os que em mais de uma ocasião, quando dividiram as famílias, pressionamos para que se possam reunir. Isto é, respeitamos de forma absoluta o direito do Pátrio Poder.
Portanto, digo-te o que fizeram, foi uma coisa infame: 14 000 crianças. Muitas delas tomaram consciência do que lhes fizeram. Há um advogado, que é um dos que fala com maior claridade e se pronuncia contra o seqüestro de Elián, é José Pertierra, um deles; assim como muitos outros.
Somos nós quem temos demonstrado respeito pelo Pátrio Poder, e não eles. E nos arrancam um pedaço do coração cada vez que uma criança sai da sua escola, aqui onde existe um sistema de educação melhor do que o nos Estados Unidos; um sistema de saúde para o atendimento das crianças muito melhor, menos mortalidade infantil do que nos Estados Unidos; e não tem droga nem risco de que uma criança assassina outra.
Mesmo ontem chegou a notícia de que um menino de sete anos matou uma menina de seis anos na escola. Foi diante da professora que o menino chegou com um revólver e matou a menina. Porque, além disso, a ultradireita se opõe ao controle de armas.
Embora não estamos culpando o governo com a maior responsabilidade, tem parte de culpa, não vou dizer que não, mas é a anarquia o que lá impera. Os juizes da Flórida fazem aquilo que quiserem. Como eu já disse, eles tiveram que mudar quatro, é um escándalo. O primeiro da Corte Federal é impugnado; nomeiam outro, dizem que é um homem recto, mas agora eles dizem que adoeceu. Ninguém sabe se é doença real ou se deram de beber qualquer coisa a esse homem, a questão que se põe é que dizem que teve um sério problema de saúde. Deitaram fora o homem porque dizem que não podia; mais um juiz, a audiência adiou de 6 para 9 de Março. É uma desordem, um caos, um desprestígio que não existe em nenhum país civilizado do mundo.
Mas vou-lhe dizer mais uma coisa, e isso está na denúncia que fez Imperatori, a história daquele cavalheiro. Não queríamos falar desse tema e não o temos feito, simplesmente; mas a história do cavalheiro é sinistra, a história desse tio-avô. Reparem na palavra que emprego: sinistra! não é por ter tido bêbado dois ou três acidentes de trânsito, nem por ser um alcólico; é ainda mais grave, e o disse Imperatori na mensagem ao povo do Canadá, é simplesmente um homem corrupto, um homem viciado por determinadas tendências morbosas. A verdade é que esteve como professor de Educação Física em duas escolas -ainda estamos a procurar mais pormenores- inclusive, acho que em três escolas da EIDE -Escolas de Iniciação Desportiva-, e foram jornalistas norte-americanos que lá ouviram falar alguma coisa, os que encontraram os primeiros vestígios das suas piores faltas. Sabíamos muitas coisas da sua conduta pessoal, mas tínhamos reservado esse material, não usamos ainda esse material; depois surgiram testemunhos de algo mais sério: que o homem, como professor de Educação Física e Desportos, em duas palavras, abusava sexualmente dos seus alunos. Tinha degenerado de tal maneira que chegara a cometer actos de abuso sexual, e a esse cavalheiro sinistro lhe deram o menino nos Estados Unidos.
Imperatori, que arriscou a sua vida e arriscou tudo na defesa da verdade, por acabar com o conluio, lá, na mensagem ao povo de Canadá o expressa claramente. O que foi publicado em Granma: "Ainda não se conhece a que classe de pessoa lhe deram a custódia do menino." O povo norte-americano está perante um problema muito sério. Acho que uma das coisas que mais repugnam ao povo norte-americano é o abuso sexual com crianças e adolescentes.
A nossa imprensa apenas fez a referência mencionada, porque não desejava que parecesse que estávamos a inventar coisas, ou recorrendo a determinados antecedentes. E não fomos nós, há vários jornalistas que têm a história; mas o tema é tão delicado que ninguém se animou, até agora, a publicá-lo. O nosso anterior vice-cônsul, com toda a moral e com toda a dignidade com que partiu de Canadá, deixou ali uma carta a dizê-lo, visto que o problema do menino foi a causa de que se inventasse a conspiração, e é a causa da tragédia e dos riscos que ele correu. Desafiou os riscos que foram necessários e permaneceu nos Estados Unidos, iniciando uma greve de fome.
Digo-lhes que esse é um problema sério, sério, que eles têm que meditar, porque nós temos muitos, mesmo muitos dados. Porém o que quero saber é o quê farão no dia 9, porque deram tempo para que fossem apresentados os referidos recursos. O que procedia com dignidade, se não estivessem em campanhas políticas e a politicagem no meio, era que administrativamente procedessem de imediato à devolução do menino quando a Comissionada do INS reconheceu os direitos do pai. Eles deram uma chance para todos os pleitos e mais mil pleitos. E claro que mantê-lo ali, de forma indefinida, é um dano terrível para o menino, um sofrimento terrível para a família e para todo o povo de Cuba; são onze milhões de habitantes, até os inimigos da Revolução condenam isso.
Agora haverá um julgamento no dia 9, se o juiz não adoecer, se não matam ele. Essa máfia é capaz de matar juizes; Já mataram a mais de uma pessoa.
Não sei se vocês viram na mesa redonda de hoje, a quantidade de actividades terroristas cometidas pela máfia lá; quando se estava produzindo uma aproximação da imigração com o seu país de origem, mataram algumas pessoas, e eles sabem disso, porque os que têm cometido esses crimes são os seus alunos, especializados em técnicas para matar que eles prepararam durante anos. Essa é a verdade, a velha verdade.
Não vou culpar Clinton do que se passou antes, mas devia ser um bocado mais firme, digo-o francamente. Ele tem tido uma boa posição nisto, no sentido de que a Procuradora apoiou à Meissner, o Presidente apoiou à Procuradora, até a Secretaria do Departamento de Estado a apoiou.
Agora eles inventaram um caso de espionagem que tornaram público quatro dias antes do julgamento; inventaram-no no dia 11 de Fevereiro. Nesse dia foi que montaram a armadilha a esse alto funcionário, a esse suposto espião; e não têm provas, acontece que não podem tê-las! Eu posso dizer-lhes isto visto que falei com Molina e agora com Imperatori, e já conhecemos tudo, conhecemos até cada palavra. Não lhe tinham feito nem uma pergunta a esse homem, nem uma sugestão, porque, inclusive, teriam cometido uma grave indisciplina. É por isso que nós dissemos: Demonstrem-nos que isso é assim e nós próprios estamos dispostos a julgá-los, porque seria uma grave e comprometedora indisciplina, e isso não aconteceu em 22 anos.
Não têm nada, nada!, estão no zero absoluto de evidências para isso; enganaram-se. Houve três enganos da máfia para com o governo. Já mencionei dois. Montaram a tramóia contra esse funcionário; ninguém pode ser sancionado porque, mediante engano, foi induzido a cometer uma indiscreção com um amigo íntimo.
Este funcionário era induvitavelmente muito amigo, inclusive, parceiro económico do empresário Font, que tem fama de milionário. Dizem que chamou o outro aos quinze minutos; induziram-no mediante o engano a que lhe contasse ao outro aquilo que lhe tinham contado. Quem tinha apresentado esse funcionário numa reunião de homens de negócios em Connecticut, ao nosso Chefe da Repartição de Interesses, era o senhor Font, e nesse lugar haviam vários empresários, entre eles um colombiano. Font, que organizara a reunião, tinha convidado este funcionário que era seu sócio. Ali trocaram-se cartões entre os presentes.
Molina falou duas vezes com Faget posteriormente. Pessoalmente, Molina me contou com bastante exactidão os pormenores que ele lembra; mas os papéis têm ainda mais memória do que os homens, não é?, e como lá, por norma, cada vez que alguém tem uma actividade faz algumas anotações e comunica, percebe?, esses papéis têm mais memória do que os próprios autores.
Com Molina falei quando surgiu o invento da espionagem: Diz lá como foi, todos os detalhes, a quê horas, como é o homem, qual o seu carácter? A vida ensina-nos um bocado de psicologia, e já ficou bem claro. Mas agora falei com o outro, que foi o seu sucesor, José Imperatori. É por isso que posso afirmar que não têm nem um palito para se segurarem. Tudo isso é falso, estão afundados. Enganaram à administração com este caso.
Primeiro, adoptam uma boa decisão em relação ao menino e em lugar de cumpri-la logo e regressá-lo a Cuba, "já estava a andar o conflito", esperam três ou quatro dias e lhes dão todo o tempo do mundo para que começassem todas as manobras e julgamentos do mundo.
Segundo, o chefe do FBI de Miami, Héctor Pesquera, junto de outro membro de essa estação, Paul Mallet, que era quem levava o caso, visto que parece que eles tinham suspeitas talvez porque viram o funcionário do INS, Faget, uma ou duas vezes com o vice-cônsul, e decidiram que Mallet lhe seguisse os passos. Segundo eles dizem, levavam um ano vigiando Faget. Mas, que casualidade!, onze dias antes do julgamento montam a tramóia e formulam uma denúncia pública precipitada e escandalosa quatro dias antes do julgamento. Se o chefe do FBI de Miami, que é a quinta estação do FBI, lhes envia aos seus chefes superiores o relatório e lhes mostra a conversa telefônica de Faget com o seu sócio Font, gravações, fotos, ou vídeos de Faget com Molina ou Font, falando com qualquer um dos vice-cônsules cubanos, acreditaram nisso. Nada, realmente acreditaram no truque grosseiro, e a partir de aí agiram.
Ao se receber isso nos níveis superiores, adoptam a decisão de declarar pessoa non grata a Imperatori, mas ao meu ver, enganados. Porque sabemos o efeito que tem o facto de um desses chefes dizer: "Oiça esta conversa, olhe esta foto, este é um espião, este está a dar tais e tais informações." Talvez trechos de conversas; eles depois falaram de trechos é preciso dizer-lhes que publiquem tudo, tudo, que não tirem nem uma palavra fora de contexto. O homem, relamente, estava a defender os interesses do INS, e preocupado pelas imigrações ilegáis; visto que praticamente acusa Cuba quando lhe disse ao vice-cônsul: "Lá no aeroporto tem gente corrupta, que permitiram que pessoas sem documentos peguem um avião dos que viajam normalmente de Havana para Miami." Isso pode acontecer, se um indivíduo é subornado.
Eu não tinha ouvido falar nisso, posso garantir, até este problema, e logo mandei perguntar quais casos, aqui não eram conhecidos. Porque qualquer um monta num avião normal e quando desce là diz: "Não, eu estou em território norte-americano, existe a Lei de Ajuste Cubano, peço acolher-me a ela." Estão lixados.
É por isso que digo que não estamos a culpar o governo, nem ao Departamento de Estado, nem à Procuradoria, e o digo com toda seriedade; sei quais são as suas fraquezas; não deveriam ter-lhe dado os quatro ou cinco dias à máfia para entrar em determinados problemas judiciários. Todos os candidatos presidenciais embarcados com a demagogia habitual pré-eleitoral, a dizer coisas que eram do agrado dos da Flórida, quando lá a máfia não decide eleições; é um mito. Todos os candidatos a apoiar o disparate, e o Presidente a apoiar à Procuradoria e dizendo ao mesmo tempo que seriam os juizes quem iriam determinar. Porém, por quê lhe deram quatro ou cinco dias àquela gente para terem possibilidade ao recurso? Há muita cobardia em tudo isso.
No que se refere ao contrabando de pessoas, posso afirmar-lhes que não julgaram ninguém; cá estão. Estamos a colocá-los nas suas mãos mas não julgaram ninguém em Miami; não são capazes de o fazer. Essa máfia é a dona de Miami. Os juizes e toda a gente são subornados por ela, são terroristas, são capazes de matar. Dessa máfia possivelmente saiu o pessoal que matou Kennedy.
Jornalista.- Comandante, então o dia 9 é um dia chave?
Fidel Castro.- Bom, qualquer dia é chave, mas cada dia que passa é mais grave, porque estão a trabalhar na mente do menino, torturando àquele menino. Eles gostariam de tê-lo lá seis meses.
O governo dos Estados Unidos é cúmplice disso. Bom, interpretem leis: um governo que declara guerra sem pedir-lhe licença a ninguém, bombardeia, lança mísseis e outras vinte coisas, acho que bem poderia interpretar as suas faculdades de uma maneira correcta e valente. Inclusive, trata-se de um caso em que os tribunais norte-americanos não têm jurisdicção. Cabe-lhes decidir apenas aos do país de procedência do menino, percebem? Mas, ora bom, vamos ver o quê faz aquele juiz.
Se este juiz falhar não em favor do menino, e não vejo como pode falhar em contra, o prestígio dos Estados Unidos ficaria pelo chão. Pode ser que falhe em favor da Procuradora e do INS, mas então os outros podem recorrer ao Tribunal de Apelações em Atlanta. O governo tem faculdades para acelerar o processo. Isto já é um período que poderia ser prolongado talvez mais algumas semanas; mas resulta que o prestígio desse país não resiste isso, e então não podem inventar agora que vão ao Supremo.
Segundo a lei ianque, supõe-se que já na segunda apelação, em Atlanta, seja decidido, e soe ser o que decide o juiz.
Jornalista.- Se ratificarem...
Fidel Castro.- Bom, iriam se afundar. Sabe-se lá até onde se afundarão com tudo isso; mas eles serão os culpados.
Consta-nos -não porque nos lho tenham dito, vimo-lo, constatamo-lo, vemo-lo, porque não é necessário sermos adivinhos, os anos ensinam- que eles têm vontade de devolver o menino, mas há medo; queriam resolver, mas têm medo. Agora, embora falhassem em favor deles, não se atrevem a ir buscá-lo na casa da personagem que o tem. De tal maneira que temos um tipo sinistro, com antecedentes inconsebíveis, que recebeu a custódia do menino, e um governo que nem ousa ir buscá-lo ali, porque os outros ameaçam com um escándalo. Essa é a situação real.
Estou a falar e não desejo ofender nem lastimar o presidente, nem à Procuradora, nem sequer à senhora Albright, porque sou testemunho daquilo que vi, e eles compreendem que tudo é um disparate. Mas, que falte esse mínimo de decisão para se atrever a dar um ultimatum a esse cavalheiro?, porém, com o que eles têm sabem bem o que lhe podem dizer. Se lá chegar o FBI, por exemplo, e lhe diz: "Oiça, tem que entregar esse menino, não nos obrigue a usar a força", o homem fica aterrorizado, e os seus parceiros também estão desmoralizados, porque realmente resulta insustentável o facto de que esse senhor sinistro tenha essa criança.
Não têm nem a mais remota prova da acusação de espionagem que têm formulado. Terceiro erro: viram-se obrigados, sem contar com a vontade do nosso país -aí estão todos os documentos que o demonstram- a enviar Imperatori, pela força, para outro país; expulsaram-no para Canadá. E esse é um homem de honra. Permitam-me lhes dizer que nos dois primeiros dias não bebeu nem água. No segundo dia da greve não tinha bebido nem água; resultado: no domingo teve uma febre alta, desidratação, urina densa. Então, no domingo já estava a beber líquidos, mas não tinha bebido água em mais de trinta horas. Ele não tem nem um pingo de reserva, porque é mais delgado que o Quixote, era como se Dom Quixote estivesse em greve de fome, esse era Imperatori, e com uma firmeza tremenda.
Falou connosco; ao chegar a Montreal me comuniquei com ele, porque nem sabíamos para onde iria. Quando soubemos que já lá estava, falei com o cônsul, com o embaixador e com ele. Cumprimento-o e lhe digo: "como o trataram no avião?" disse: "Bom, com respeito. Dizeram-me que sabiam que eu estava em greve e me perguntaram se desejava beber algum líquido e eu disse que não." e disse-me logo: "quero comunicar-lhe que continuarei a greve." Foi para a embaixada e continuou a greve, não contra o Canadá, mas contra aqueles que o tinham conduzido, como disse na sua mensagem ao povo canadiano, à força; ele não pediu isso, não solicitou isso.
Até lhe fizeram uma tramóia com o passaporte. Ele não tinha o passaporte, tinham-no os advogados. As autoridades pediram o passaporte aos advogados e não lhes disseram nem para o quê era. Pediram-lhes o passaporte e lhes disseram: "Cá o têm." Isso não é um problema; é um homem mais do que identificado. Àquele que vão expulsar vai ser expulso com ou sem passaporte. Porém, ele realmente não sabia, não tinha o passaporte. Ao chegar ao Canadá a primeira coisa que comunica é que iria continuar a greve. Aí foi para a embaixada cubana em Ottawa.
As autoridades canadianas o receberam bem. Tenho a impressão de que eles pensavam que estavam a ajudar à solução de um problema, mas o problema não ficava resolvido, o homem tinha-se declarado em greve de fome. Nesse dia, sábado, não tinha nem tomado o café. Às 11h:00 lê uma declaração em que informava que estava em greve de fome. Às 20h:35 ou 20h:33, apareceu o FBI, seria necessário precisar o pormenor, mas em cinco minutos -o que se diz- pediram-lhe que vestisse um abrigo. Perguntaram-lhe pela bagagem. Disse-lhes: "Não tenho." Depois conduziram-no até a porão. Com respeito; devemos dizer que foi tratado com respeito, não foi algemado. Entrou no automóvel com muita dignidade; levaram-no para um avião e depois parece que demoraram no aeroporto, chegou aproximadamente às 24h:00 a Montreal. Lá foi recebido pelo cônsul cubano no consulado, conversamos com ele; eu, como já disse, falei com ele, cumprimentei-o, perguntei-lhe como tinha sido tratado, tudo, repito mais uma vez o que ele disse: "vou continuar a greve." Ele não tinha sido consultado e explicou-lhes aos canadianos, ao se despedir, que não pediu entrar ali. Foi para a embaixada e continuou com a greve, até que, enfim, já na nota do governo cubano se explica, e não explico mais nada, porque todas estas coisas devem ser manejadas com a maior confidencialidade.
Sei que todo o mundo, em todas partes, queriam saber, mas na carta dele explica-se. Sei, por exemplo, qual é a opinião nas Nações Unidas. Porque nas Nações Unidas todo o mundo recebeu a mensagem e dizem: "agora entendemos." Ninguém entendia o porquê duma greve em Canadá, e é que foi levado à força, nem ele próprio sabia nada.
Os canadianos não são culpados. Diria que os canadianos foram implicados neste assunto. Mas contra o Canadá não temos nada em absoluto, não há protesto contra os canadianos, e julgo realmente que contribuíram à resolução do problema. Além disso, todas as partes contribuíram para encontrar uma solução, que é a que aí aparece a grosso modo, com honra e dignidade. Foi uma solução que se alcançou depois das 24h:00 ou por volta das 24h:00, de quarta para quinta-feira. É por isso que os que viajaram fizeram-no sem informação.
Tínhamos dito que iria um grupo, que não era preciso descer do avião. Foi enviado um grupo em representação dos que têm estado a lutar pelo menino e pelo próprio Imperatori, dos mais destacados, para além de um grupo da imprensa. E todos permaneceram no avião; os familiares, um grupo de oito médicos, dez ou doze jornalistas e quarenta companheiros e companheiras destacados na luta, para o receber no avião e acompanhá-lo. Acho que no domingo vão publicar a história gráfica da viagem de ida e volta. Hoje foram publicados oito minutos.
Porém, tudo o que aconteceu resulta emocionante, e quando ele chegou e subiu ao avião com uma dignidade impresionante. Eu estava a sua espera. Levámo-lo para uma clínica e, na verdade, amanhã publicaremos alguma coisa do que dizem os médicos. Perdeu 12 libras (quase 6 quilos) em cinco dias, cifra que está muito por em cima dos parâmetros de perda de peso de um homem delgado.
Jornalista.- Comandante, eu lhe fizera uma pergunta e amavelmente nos tem concedido tanto tempo, que acho que já...
Fidel Castro.- Sinto pena porque várias pessoas estão à minha espera.
De qual imprensa são vocês?
Jornalista.- Bom, disse-lhe que sou da Agência de Informação Nacional, e também, há de Rádio Rebelde e da Televisão Cubana.
Fidel Castro.- Podem publicar textualmente o que eu disse e retransmiti-lo esta mesma noite. Como falei com total objectividade, assim fico responsável por tudo aquilo que disse. E digo que não posso dizer mais porque temos o dever de ser discretos. Não é preciso dizer uma palavra a mais. Foi difícil encontrar uma solução que fosse satisfatória para ele, e como aí se diz, preserva-se o máximo de possibilidades que podia se conseguir de viajar aos Estados Unidos para participar nesse processo. E, realmente, não estávamos a pedir mais, senão a possibilidade, não podemos dizer que seja a garantia total, porque isso não pode ser garantido nem ali. Há um montão de organismos que participam. Mas, assim é como o definimos: o máximo de possibilidades que poderia ser atingido. É claro que então ele cessa; porque o que ele estava a demandar era isso. Lá estava sem imunidade alguma. Colocou-se nas mãos deles.
Contudo, eles têm uma situação muito difícil, porque não podem provar absolutamente nada. Encontram-se perante o zero absoluto, daí que a mentira seja também total e absoluta. Mas não digo que foi isso inventado pelo governo; esse é o meu ponto de vista. Havia três possibilidades e me perguntava: Teriam tentado fazer uma provocação desde há tempo? porque a nossa gente tem ordens precisas de não realizar inteligência na nossa Repartição de Interesses. Isso foi, como se explicara, há vinte e dois anos. E me encarreguei disso pessoalmente, porque aquando Carter esse Repartição foi estabelecida, e eu disse: "Isto vai ficar cheio de agentes da CIA e é bem melhor termos a moral alta", percebem? Demos-lhes uma instrução categórica, contra todo tipo de actividade de inteligência de parte da Repartição de Interesses.
Como sabem, temos sido um país muito espiado por muitas partes e temos boa experiência em tudo isso, e sabemos muito sobre estas coisas.
Eu próprio revi os dossiers dos que iam para lá, era um pessoal experiente, não vou dizer o contrário. Os que eu pessoalmente revia, era pessoal que tinha conhecimento sobre esse tema. Fiz a selecção e os pedi, e não há um só dos funcionários que não lhe tenha revisto o expediente. Nem todos, é claro, digamos, mas a maioria das pessoas tinha conhecimentos, preparação e disciplina. Em vinte e dois anos não foi violada essa instrução. Que casualidade que aparece um caso quatro dias antes do julgamento! Uma denúncia que destroi a moral da Procuradora, destroi o INS, que crédito lhes restava para esse julgamento?
E se o homem decide vir para cá, então, toda a gente disse: "então, aceita". Isso não podia ser aceite; não por um funcionário expulso, senão porque, ao nosso ver, a sorte do menino dependia disso. Destroem o prestígio do INS, desmoralizam-no porque tem aparecido um espião, um importante funcionário do INS, o que iria acreditar toda a gente nos Estados Unidos? Esse era um golpe contra o INS, contra a Procuradora, até contra o Presidente, digamos, e contra a Albright, porque eles apoiaram a decisão do INS. E, de súbito, nem eles próprios sabem o quê fazer. Talvez sejamos nós os únicos que podemos demonstrar a falsidade.
Nem sequer acusamos à direcção nacional do FBI. Foi uma das estações mais importantes dessa instituição, e o chefe da mesma é irmão do advogado que defendeu a um dos indivíduos, em Porto Rico, acusados do plano de atentado contra mim em Ilha Margarita, com todas as provas. Era raro que sendo um dos dois fuzis propriedade de um tal de Hernández, um dos principais chefes da Fundação, esse não foi incluído no julgamento. E é em virtude da ligação que tinha esse senhor, que é o chefe do FBI em Miami, por intermédio do seu irmão como advogado naquele julgamento, com a Fundação Cubano-Americana que pagou generosamente todas as despesas da defesa.
Digo-o e o repito, o homem e a máfia meteram o FBI num beco sem saída. Eles terão que esclarecer isso, ou nos encarregaremos de lho fazer lembrar todas as vezes que forem necessárias, e exigir-lhes que apresentem provas.
A outra ocasião foi a invasão a Playa Girón; agora desembarcaram nos Pântanos de Zapata, essa é a questão. Digo-o assim, com as duas coisas, com a questão de Elián e com a questão da denúncia. E nos encarregaremos de o demonstrar.
O povo tem regido de uma maneira extraordinária, e dizemos: Bom, temos levado a cabo uma batalha e levamos três meses. Mas, o quê fazemos com que regresse o menino se todos os dias pode morrer uma criança ali, na medida em que lhe oferecem tremendos estímulos a pessoas irresponsáveis, aos que não lhes outorgam visto legal?
É muito mais importante fazer desaparecer a lei que causa e tem causado sabe-se lá quantas vítimas. Essa lei deve ser desaparecida. Lutaremos por isso. E sabemos lutar, ninguém tenha dúvidas disso, sabemos lutar.
Repare quantos talentos têm surgido. E eu leio os inquéritos todos os dias.
Há muitos que se perguntam por quê eu não falei, e não quis subir nem a uma tribuna aberta, porque não é preciso que eu fale; que fale o povo, que falem os jovens, que falem todos. Nem pensamos fazer uma festa quando voltar o menino, já o temos dito: recebê-lo-emos, o menino irá para um hospital, como fizemos com Imperatori, para ser examinado e atendido.
Faltaria apenas acrescentar que falei hoje com Imperatori e com os médicos, e eles tinham a preocupação de conhecer o seu estado geral. Fizeram-lhe vários testes dos mais urgentes. A ele, um médico amigo em Canadá lhe tomou amostras na quarta-feira para fazer alguns testes; aqui também foram feitos de imediato, para comparar parâmetros, e talvez saia com melhor saúde no futuro, porque ele fuma muito, muito mesmo.
Jornalista.- Charuto?
Fidel Castro.- Cigarro. Fuma muito, é a verdade, e aspira a fumaça. No domingo em Canadá teve uma situação um bocado complicada, havia dois dias que não bebia líquido, não bebeu água, e supunha-se que devia beber algum líquido com vitaminas e alguns elementos essenciais.
Acho que amanhã à tarde o enviam para a sua casa, e a idéia dos médicos é que possa descansar quinze dias. É o que posso dizer.
Obrigado. Vou-me embora, que estão à minha espera. Para vocês é suficiente?
Jornalista.- Sim, mais do que suficiente.
Fidel Castro.- Podem dizer tudo isto no meu nome, e expliquem que eu não preciso falar, porque temos um povo instruído e consciente, capaz de falar por si só, e, além disso, lutar. Só isso. Até já.
Fidel Castro.- Interessante.
A questão é que no ano passado estive a participar, mas neste momento estamos engajados numa luta dura, e não queria aparecer no leilão, visto que poderia paracer un coisa frívola. Nem todos compreendem, e na verdade o interesse é que o arrecadado aqui neste festival seja empregue, na íntegra -o mesmo aconteceu no ano passado-, em medicamentos para as crianças; esse é uso que tem.
Neste ano não quis vir ao jantar e tampouco o fiz no ano passado; no ano passado participei do leilão, mas agora não.
Jornalista.- Contudo, desta vez teve um elemento importante, isto é, a reclamação do Elián.
Fidel Castro.- Bom, foi adicional.
Jornalista.- É adicional.
Fidel Castro.- A nossa ideia é a importância que tem o leilão para a promoção das exportações neste domínio. Vim a pensar nisso. Outro aspecto é que não devemos deixar de fazer um esforço, quando pode significar algumas centenas de milhares de dólares para medicamentos para as crianças; é por isso que eu vim, mas não quis falar. Pedi a Lage que falasse ele.
Também foi muito emocionante porque Pupi, a pessoa que Lage mencionou, que acrescentou 50 000 dólares, é representante da Palestina em importantes actividades internacionais.
Jornalista.- Pois é, pois é.
Fidel Castro.- Tem um simbolismo e foi expontâneo da sua parte, e da empresa espanhola-francesa também, acho que eles fizeram uma fusão, e afirmaram que iriam acrescentar aquilo que fosse necessário para ultrapassar o que foi arrecadado no ano passado.
No ano passado foram por volta de setecentos mil e tal, e neste ano, graças a essa decisão deles, atingiram-se 800 000 dólares. E são muitas as coisas que podem ser adquiridas: matérias-primas para medicamentos; isso o transformamos em milhões, porque quando trazemos a matéria-prima e produzimos tudo isso, multiplicamos o valor desse dinheiro.
Jornalista.- Na prática é um golpe ao bloqueio.
Fidel Castro.- Sim. Na prática tiraremos daí dois ou três milhões, se for matéria-prima; se forem medicamentos elaborados, que é preciso importar, resulta menos. Porém, sempre, de alguma maneira, conseguimos multiplicar o seu valor.
Como estamos debruçados nessa luta e todos os dias andamos nisso, não apareci em tribuna alguma, e também não é necessário. Todas são caras novas. Há uma infinidade de jovens, com talento, que são os que falaram. No decurso destes dias não participei em nenhuma das tribunas.
É claro que os jovens comunistas e os estudantes recebem a orientação estratégica da Revolução através dos seus dirigentes mais experientes, devido a complexidade, importância e transcendência desta luta, mas eles, com o pleno apoio das organizações de massas e sociais, e dos organismos pertinentes do Estado, são responsáveis da organização das ações e da direcção operacional das mesmas.
Jornalista.- Mas surgiram milhares de oradores.
Fidel Castro.- Não, os que vão surgir são ainda mais. Isto significa uma nova etapa doravante, porque esta luta, como diz o Juramento de Baraguá, não se deterá. Não fazemos nada com que a criança volte e amanhã tenhamos outros casos iguais ou piores.
Olha, nestes dias morreram dois cubanos. Há por volta de quatro dias, iam seis numa embarcação e dois deles morreram. Ah!, essa é a Lei de Ajuste Cubano.
Hoje de manhã li num telex que quinze homens, três mulheres e duas meninas tinham chegado às costas dos Estados Unidos numa embarcação rústica. Esse barco pode se afundar; estão a estimular isso. E nós os acusamos de que estão a estimular as saídas ilegáis, e essa batalha manter-se-á enquanto exista a Lei de Ajuste Cubano; bom, não é necessário acrescentar nada mais, no Juramento de Baraguá está este ponto e o resto, enquanto exista a Lei Torricelli, a Lei Helms-Burton, bloqueio, guerra económica, subversão e todas as conspirações contra a Revolução. Portanto, isto não se deterá. É o que posso dizer-lhes.
Não é preciso que eu fale nas tribunas abertas. É claro que esta é uma responsabilidade de todos, de todo o país; é responsabilidade da direcção da Revolução e assumimo-la plenamente. Mas tem sido uma coisa quase milagrosa, como surgiu um número ilimitado de oradores onde quer, e quantas coisas foram vistas!
Jornalista.- Desde Baracoa até Guane.
Fidel Castro.- Os Estados Unidos foram conduzidos pela máfia a três grandes erros: um, ficar com o menino; dois, inventar uma história de espionagem. Não culpamos o governo dos Estados Unidos, realmente este é um conluio organizado em Miami pela organização anexionista chamada cubano-americana, com a cumplicidade do Chefe do FBI da estação local; não estamos a culpar nem sequer à direcção do FBI, mas aqueles que idearam uma pérfida armadilha. Enganaram Faget, que era um funcionário importante de imigração, e lhe montaram a armadilha. Dizeram-lhe que Imperatori iria desertar, portanto, devia preparar uns papéis. Só uma vez o vice-cônsul o vira por motivos de trabalho. Falei com Imperatori mais pormenorizadamente. Uma vez, no mês de Outubro o viu, não me lembro agora do dia exacto. Inclusive, em Julho, quando ele substituiu o outro funcionário, que duas vezes o viu em Miami, como ele vê e fala com muitas pessoas quando viaja a essa cidade, do mesmo modo que o Chefe da Missão e outros funcionários falam com legisladores e os seus assistentes, jornalistas e personalidades de todo gênero. O que digo é que o invento da espionagem é uma mentira total.
Pode ser que tivessem algum motivo de vingança contra Faget. Quando algum vice-cônsul nosso aparece-em qualquer parte-, num aeroporto, lá com certeza estão três organismos -isso toda a gente sabe-, devem aparecer a CIA, o FBI, deve haver três o quatro serviços verificando tudo o que faz, e ele não entra em nenhum apartamento ou lugar misterioso a falar com alguém. Por vezes se detém em um hotel ou na casa de alguma amizade, e, quando fala com alguém, fala em público, não há nada de conspiração. Na verdade, resulta intrascendente o conteúdo dos breves encontros que tiveram Molina e Imperatori com o Senhor Faget, em Miami. Três em 14 meses.
Isso é falso a tal ponto, que o vice-cônsul José Imperatori, que conversou com ele só uma vez, chamou-o em Outubro de 1999, para o cumprimentar, porque desde Julho, o anterior vice-cônsul, tinha falado dele. Um funcionário importante do INS, é uma pessoa com a qual qualquer vice-cônsul tentar falar, visto que mais de 100 000 cubanos vão e vêm desde os Estados Unidos para Cuba; outros 20 000 vão para lá todos os anos com visto de residência; de vez em quando pode chegar um barco que alguém roubou.
Inclusive, não há muito tempo, dois paquistanianos e um indiano seqüestraram uma embarcação e levaram consigo dois homens e por um triz não os assassinaram; estavam felizes quando enxergaram as luzes da costa, sabem por quê? Porque houvem falar nessa lei, que aquele que de Cuba chegar ali, tem direito à residência, ninguém explicou que isso apenas é para os cidadãos cubanos. E isso deu lugar a golpes, quase assassinam os nossos dois trabalhadores. Além disso, está o contrabando, eles não estão a lutar contra o contrabando; nós é que estamos a lutar contra o contrabando de migrantes. Há aproximadamente 60 réus residentes em Miami, que com embarcações da Flórida vieram aqui à procura de emigrantes e foram detidos. Tornamos a lei mais rígida, até cadeia perpétua, contra o contrabando de pessoas. Eles lá têm condenas de dez anos, mas não se atrevem a aplicar nem isso. Dos que temos apreendido por essa causa, apenas temos julgado ou condenado dois ou três, porque o acidente ocorreu aqui e houve perda de vidas; outros vieram, tiveram alguma avaria ou foram capturados quando chegaram às águas ou costas cubanas, por medidas preventivas adoptadas, e esses ainda estão pendentes de serem julgados.
Residem em Miami, recebem o dinheiro em Miami, o barco é de Miami, e já lhes dissemos: O principal crime foi cometido lá e não cá. Há meses que estamos a pedir respostas. Quando vão levar estes cavalheiros para julgá-los lá?, e não querem fazê-lo. Mas, sabem por quê não querem? Ah!, porque há medo; não há um juiz que tenha a coragem de julgar algum residente dali.
Jornalista.- Nesse caso, Comandante, os julgaríamos aqui?
Fidel Castro.- Ora bom, isso ainda não foi decidido. Aí estão os homens à espera de que eles os levem. A outra questão é ajudá-los a resolver um problema. Também é ajudar à cobardia, e não estamos dispostos a ajudar à cobardia, percebem? E estão aqui congelados. O que cabe é que sejam conduzidos e julgados; mas têm medo. Lá ninguém foi condenado por contrabando; fizeram algumas advertências, e só isso; lá não tem um juiz com coragem suficiente, já trocaram umas quatro vezes o juiz, estadual ou federal. Tinha que ser um juiz de lá quem os julgasse. Não são julgados e cá estão congelados.
Os únicos que temos lutado contra o contrabando somos nós, percebem?; eles nada fizeram. Está a Lei de Ajuste, à qual acrescentaram outras prerrogativas: maior estímulo, as rádio emissoras que lá incentivam as saídas ilegáis, e estavam a aumentar.
Somos nós unicamente os que tomamos as medidas de controle dentro: fizemos uma lei, regulamentamos muito bem tudo o relativo com os que têm ou fabricam embarcações, foi reforçada a cooperação da população para obstar essas ações. As saídas foram reduzidas, mas foi pela nossa ação. Eles devem eliminar a Lei de Ajuste, simplesmente porque constitui um crime consciente. Digo-lhes que hoje chegou um barco desses a um ilhéu ajudado pela corrente marítima, mas havia duas meninas e várias mulheres; portanto, com isto estão a promover o crime, a morte de crianças e mães.
Jornalista.- Comandante, há um elemento interessante, que é o apoio internacional a Cuba neste assunto de Elián.
Fidel Castro.- Sim, no assunto de Elián. Mas a Lei de Ajuste Cubano é a fábrica de morte que eles criaram e têm que eliminar. Somos intransigentes nisso, a nossa posição é mais firme: Estaremos a lutar até o desaparecimento não só da Lei de Ajuste, mas também da Lei Torricelli, a Helms-Burton, o bloqueio e todas as conspirações contra o nosso país, que já duram mais de quarenta anos. Essa é a nossa posição, digo-o francamente.
Na verdade, não estamos a culpar à administração Clinton do delicado problema criado, embora houve fràqueza da sua parte, visto que essa criança devia ter sido devolvida. Mas, habituados a fazer tantas barbaridades, sabe-se lá quantos pais perderam o direito ao Pátrio Poder, porque por vezes tem sido o pai quem levou o filho e deixou a mãe aqui, ou é a mãe que leva o filho, estando divorciados, e o pai fica aqui. Desses casos há um montão.
Nós não proibimos as saídas; autorizamos vinte mil ao ano e recebem vistos. Querem mais? Pois tem mais. Respeitamos o direito do Pátrio Poder. Doe-nos quando uma criança abandona a escola, visto que muda de ambiente, perde a sua identidade, é uma criança, é uma criatura inocente; mas repeitamos o direito do pai se quiser viajar com a criança. Respeitamo-lo com tanta firmeza como defendemos com toda firmeza o direito deste pai que permaneceu aqui, que pediu que o apoiassem na sua luta pelo seu filho. Mas milhares de crianças viajam e lhes acontece a mesma coisa, são desenraizadas. É doloroso, mas respeitamos o direito do Pátrio Poder. Uma família tem uma, duas, três crianças, e nos doe que abandonem a escola e que percam a sua identidade, porém, respeitamos esse direito sem excepção.
E mais; ao começo da Revolução levaram de contrabando 14 000 crianças. Primeiro inventaram um decreto infame, falso, apócrifo; assinaram-no como se fosse um decreto real que estivesse em projecto; era quando havia lei de reforma agrária, de reforma urbana e outras, nesse espírito e nesse ambiente, para atemorizar as pessoas. Inventaram uma lei e a divulgaram. Inventaram uma coisa que depois eu vi em um romance de Cholojov. Lembro-me que nesse romance, "O Dom ensangrentado", de Cholojov, ou outra desse autor, ao qual lhe outorgaram depois o Prémio Nobel, descobri que desde aquela época o invento do Pátrio Poder já tinha sido utilizado contra a revolução russa; não era um invento novo. Empregaram-no aqui e teve tremendo efeito, conseguiram atemorizar a muitas pessoas.
Há um livro que vai sair sobre isso. Toda a história do seqüestro em massa, desta vez com o apoio dos pais, porque os enganaram e foi uma operação organizada lá por eles, pelos órgãos de inteligência dos Estados Unidos.
Jornalista.- Mas muitas dessas crianças que hoje são homens, reagiram e hoje estão a defender...
Fidel Castro.- Agora reagiram; são alguns dos que mais estão a protestar. Esse advogado que teve tremenda posição e mais outros, são dessas crianças que ainda sentem a dor de terem sido levados. E o quê se passou? Veio a Crise de Outubro e suspenderam aquelas viagens, e muitas daquelas crianças ficaram lá com os pais cá.
Nunca proibimos as saídas legais, nunca!, as que quiserem. Fomos nós os que em mais de uma ocasião, quando dividiram as famílias, pressionamos para que se possam reunir. Isto é, respeitamos de forma absoluta o direito do Pátrio Poder.
Portanto, digo-te o que fizeram, foi uma coisa infame: 14 000 crianças. Muitas delas tomaram consciência do que lhes fizeram. Há um advogado, que é um dos que fala com maior claridade e se pronuncia contra o seqüestro de Elián, é José Pertierra, um deles; assim como muitos outros.
Somos nós quem temos demonstrado respeito pelo Pátrio Poder, e não eles. E nos arrancam um pedaço do coração cada vez que uma criança sai da sua escola, aqui onde existe um sistema de educação melhor do que o nos Estados Unidos; um sistema de saúde para o atendimento das crianças muito melhor, menos mortalidade infantil do que nos Estados Unidos; e não tem droga nem risco de que uma criança assassina outra.
Mesmo ontem chegou a notícia de que um menino de sete anos matou uma menina de seis anos na escola. Foi diante da professora que o menino chegou com um revólver e matou a menina. Porque, além disso, a ultradireita se opõe ao controle de armas.
Embora não estamos culpando o governo com a maior responsabilidade, tem parte de culpa, não vou dizer que não, mas é a anarquia o que lá impera. Os juizes da Flórida fazem aquilo que quiserem. Como eu já disse, eles tiveram que mudar quatro, é um escándalo. O primeiro da Corte Federal é impugnado; nomeiam outro, dizem que é um homem recto, mas agora eles dizem que adoeceu. Ninguém sabe se é doença real ou se deram de beber qualquer coisa a esse homem, a questão que se põe é que dizem que teve um sério problema de saúde. Deitaram fora o homem porque dizem que não podia; mais um juiz, a audiência adiou de 6 para 9 de Março. É uma desordem, um caos, um desprestígio que não existe em nenhum país civilizado do mundo.
Mas vou-lhe dizer mais uma coisa, e isso está na denúncia que fez Imperatori, a história daquele cavalheiro. Não queríamos falar desse tema e não o temos feito, simplesmente; mas a história do cavalheiro é sinistra, a história desse tio-avô. Reparem na palavra que emprego: sinistra! não é por ter tido bêbado dois ou três acidentes de trânsito, nem por ser um alcólico; é ainda mais grave, e o disse Imperatori na mensagem ao povo do Canadá, é simplesmente um homem corrupto, um homem viciado por determinadas tendências morbosas. A verdade é que esteve como professor de Educação Física em duas escolas -ainda estamos a procurar mais pormenores- inclusive, acho que em três escolas da EIDE -Escolas de Iniciação Desportiva-, e foram jornalistas norte-americanos que lá ouviram falar alguma coisa, os que encontraram os primeiros vestígios das suas piores faltas. Sabíamos muitas coisas da sua conduta pessoal, mas tínhamos reservado esse material, não usamos ainda esse material; depois surgiram testemunhos de algo mais sério: que o homem, como professor de Educação Física e Desportos, em duas palavras, abusava sexualmente dos seus alunos. Tinha degenerado de tal maneira que chegara a cometer actos de abuso sexual, e a esse cavalheiro sinistro lhe deram o menino nos Estados Unidos.
Imperatori, que arriscou a sua vida e arriscou tudo na defesa da verdade, por acabar com o conluio, lá, na mensagem ao povo de Canadá o expressa claramente. O que foi publicado em Granma: "Ainda não se conhece a que classe de pessoa lhe deram a custódia do menino." O povo norte-americano está perante um problema muito sério. Acho que uma das coisas que mais repugnam ao povo norte-americano é o abuso sexual com crianças e adolescentes.
A nossa imprensa apenas fez a referência mencionada, porque não desejava que parecesse que estávamos a inventar coisas, ou recorrendo a determinados antecedentes. E não fomos nós, há vários jornalistas que têm a história; mas o tema é tão delicado que ninguém se animou, até agora, a publicá-lo. O nosso anterior vice-cônsul, com toda a moral e com toda a dignidade com que partiu de Canadá, deixou ali uma carta a dizê-lo, visto que o problema do menino foi a causa de que se inventasse a conspiração, e é a causa da tragédia e dos riscos que ele correu. Desafiou os riscos que foram necessários e permaneceu nos Estados Unidos, iniciando uma greve de fome.
Digo-lhes que esse é um problema sério, sério, que eles têm que meditar, porque nós temos muitos, mesmo muitos dados. Porém o que quero saber é o quê farão no dia 9, porque deram tempo para que fossem apresentados os referidos recursos. O que procedia com dignidade, se não estivessem em campanhas políticas e a politicagem no meio, era que administrativamente procedessem de imediato à devolução do menino quando a Comissionada do INS reconheceu os direitos do pai. Eles deram uma chance para todos os pleitos e mais mil pleitos. E claro que mantê-lo ali, de forma indefinida, é um dano terrível para o menino, um sofrimento terrível para a família e para todo o povo de Cuba; são onze milhões de habitantes, até os inimigos da Revolução condenam isso.
Agora haverá um julgamento no dia 9, se o juiz não adoecer, se não matam ele. Essa máfia é capaz de matar juizes; Já mataram a mais de uma pessoa.
Não sei se vocês viram na mesa redonda de hoje, a quantidade de actividades terroristas cometidas pela máfia lá; quando se estava produzindo uma aproximação da imigração com o seu país de origem, mataram algumas pessoas, e eles sabem disso, porque os que têm cometido esses crimes são os seus alunos, especializados em técnicas para matar que eles prepararam durante anos. Essa é a verdade, a velha verdade.
Não vou culpar Clinton do que se passou antes, mas devia ser um bocado mais firme, digo-o francamente. Ele tem tido uma boa posição nisto, no sentido de que a Procuradora apoiou à Meissner, o Presidente apoiou à Procuradora, até a Secretaria do Departamento de Estado a apoiou.
Agora eles inventaram um caso de espionagem que tornaram público quatro dias antes do julgamento; inventaram-no no dia 11 de Fevereiro. Nesse dia foi que montaram a armadilha a esse alto funcionário, a esse suposto espião; e não têm provas, acontece que não podem tê-las! Eu posso dizer-lhes isto visto que falei com Molina e agora com Imperatori, e já conhecemos tudo, conhecemos até cada palavra. Não lhe tinham feito nem uma pergunta a esse homem, nem uma sugestão, porque, inclusive, teriam cometido uma grave indisciplina. É por isso que nós dissemos: Demonstrem-nos que isso é assim e nós próprios estamos dispostos a julgá-los, porque seria uma grave e comprometedora indisciplina, e isso não aconteceu em 22 anos.
Não têm nada, nada!, estão no zero absoluto de evidências para isso; enganaram-se. Houve três enganos da máfia para com o governo. Já mencionei dois. Montaram a tramóia contra esse funcionário; ninguém pode ser sancionado porque, mediante engano, foi induzido a cometer uma indiscreção com um amigo íntimo.
Este funcionário era induvitavelmente muito amigo, inclusive, parceiro económico do empresário Font, que tem fama de milionário. Dizem que chamou o outro aos quinze minutos; induziram-no mediante o engano a que lhe contasse ao outro aquilo que lhe tinham contado. Quem tinha apresentado esse funcionário numa reunião de homens de negócios em Connecticut, ao nosso Chefe da Repartição de Interesses, era o senhor Font, e nesse lugar haviam vários empresários, entre eles um colombiano. Font, que organizara a reunião, tinha convidado este funcionário que era seu sócio. Ali trocaram-se cartões entre os presentes.
Molina falou duas vezes com Faget posteriormente. Pessoalmente, Molina me contou com bastante exactidão os pormenores que ele lembra; mas os papéis têm ainda mais memória do que os homens, não é?, e como lá, por norma, cada vez que alguém tem uma actividade faz algumas anotações e comunica, percebe?, esses papéis têm mais memória do que os próprios autores.
Com Molina falei quando surgiu o invento da espionagem: Diz lá como foi, todos os detalhes, a quê horas, como é o homem, qual o seu carácter? A vida ensina-nos um bocado de psicologia, e já ficou bem claro. Mas agora falei com o outro, que foi o seu sucesor, José Imperatori. É por isso que posso afirmar que não têm nem um palito para se segurarem. Tudo isso é falso, estão afundados. Enganaram à administração com este caso.
Primeiro, adoptam uma boa decisão em relação ao menino e em lugar de cumpri-la logo e regressá-lo a Cuba, "já estava a andar o conflito", esperam três ou quatro dias e lhes dão todo o tempo do mundo para que começassem todas as manobras e julgamentos do mundo.
Segundo, o chefe do FBI de Miami, Héctor Pesquera, junto de outro membro de essa estação, Paul Mallet, que era quem levava o caso, visto que parece que eles tinham suspeitas talvez porque viram o funcionário do INS, Faget, uma ou duas vezes com o vice-cônsul, e decidiram que Mallet lhe seguisse os passos. Segundo eles dizem, levavam um ano vigiando Faget. Mas, que casualidade!, onze dias antes do julgamento montam a tramóia e formulam uma denúncia pública precipitada e escandalosa quatro dias antes do julgamento. Se o chefe do FBI de Miami, que é a quinta estação do FBI, lhes envia aos seus chefes superiores o relatório e lhes mostra a conversa telefônica de Faget com o seu sócio Font, gravações, fotos, ou vídeos de Faget com Molina ou Font, falando com qualquer um dos vice-cônsules cubanos, acreditaram nisso. Nada, realmente acreditaram no truque grosseiro, e a partir de aí agiram.
Ao se receber isso nos níveis superiores, adoptam a decisão de declarar pessoa non grata a Imperatori, mas ao meu ver, enganados. Porque sabemos o efeito que tem o facto de um desses chefes dizer: "Oiça esta conversa, olhe esta foto, este é um espião, este está a dar tais e tais informações." Talvez trechos de conversas; eles depois falaram de trechos é preciso dizer-lhes que publiquem tudo, tudo, que não tirem nem uma palavra fora de contexto. O homem, relamente, estava a defender os interesses do INS, e preocupado pelas imigrações ilegáis; visto que praticamente acusa Cuba quando lhe disse ao vice-cônsul: "Lá no aeroporto tem gente corrupta, que permitiram que pessoas sem documentos peguem um avião dos que viajam normalmente de Havana para Miami." Isso pode acontecer, se um indivíduo é subornado.
Eu não tinha ouvido falar nisso, posso garantir, até este problema, e logo mandei perguntar quais casos, aqui não eram conhecidos. Porque qualquer um monta num avião normal e quando desce là diz: "Não, eu estou em território norte-americano, existe a Lei de Ajuste Cubano, peço acolher-me a ela." Estão lixados.
É por isso que digo que não estamos a culpar o governo, nem ao Departamento de Estado, nem à Procuradoria, e o digo com toda seriedade; sei quais são as suas fraquezas; não deveriam ter-lhe dado os quatro ou cinco dias à máfia para entrar em determinados problemas judiciários. Todos os candidatos presidenciais embarcados com a demagogia habitual pré-eleitoral, a dizer coisas que eram do agrado dos da Flórida, quando lá a máfia não decide eleições; é um mito. Todos os candidatos a apoiar o disparate, e o Presidente a apoiar à Procuradoria e dizendo ao mesmo tempo que seriam os juizes quem iriam determinar. Porém, por quê lhe deram quatro ou cinco dias àquela gente para terem possibilidade ao recurso? Há muita cobardia em tudo isso.
No que se refere ao contrabando de pessoas, posso afirmar-lhes que não julgaram ninguém; cá estão. Estamos a colocá-los nas suas mãos mas não julgaram ninguém em Miami; não são capazes de o fazer. Essa máfia é a dona de Miami. Os juizes e toda a gente são subornados por ela, são terroristas, são capazes de matar. Dessa máfia possivelmente saiu o pessoal que matou Kennedy.
Jornalista.- Comandante, então o dia 9 é um dia chave?
Fidel Castro.- Bom, qualquer dia é chave, mas cada dia que passa é mais grave, porque estão a trabalhar na mente do menino, torturando àquele menino. Eles gostariam de tê-lo lá seis meses.
O governo dos Estados Unidos é cúmplice disso. Bom, interpretem leis: um governo que declara guerra sem pedir-lhe licença a ninguém, bombardeia, lança mísseis e outras vinte coisas, acho que bem poderia interpretar as suas faculdades de uma maneira correcta e valente. Inclusive, trata-se de um caso em que os tribunais norte-americanos não têm jurisdicção. Cabe-lhes decidir apenas aos do país de procedência do menino, percebem? Mas, ora bom, vamos ver o quê faz aquele juiz.
Se este juiz falhar não em favor do menino, e não vejo como pode falhar em contra, o prestígio dos Estados Unidos ficaria pelo chão. Pode ser que falhe em favor da Procuradora e do INS, mas então os outros podem recorrer ao Tribunal de Apelações em Atlanta. O governo tem faculdades para acelerar o processo. Isto já é um período que poderia ser prolongado talvez mais algumas semanas; mas resulta que o prestígio desse país não resiste isso, e então não podem inventar agora que vão ao Supremo.
Segundo a lei ianque, supõe-se que já na segunda apelação, em Atlanta, seja decidido, e soe ser o que decide o juiz.
Jornalista.- Se ratificarem...
Fidel Castro.- Bom, iriam se afundar. Sabe-se lá até onde se afundarão com tudo isso; mas eles serão os culpados.
Consta-nos -não porque nos lho tenham dito, vimo-lo, constatamo-lo, vemo-lo, porque não é necessário sermos adivinhos, os anos ensinam- que eles têm vontade de devolver o menino, mas há medo; queriam resolver, mas têm medo. Agora, embora falhassem em favor deles, não se atrevem a ir buscá-lo na casa da personagem que o tem. De tal maneira que temos um tipo sinistro, com antecedentes inconsebíveis, que recebeu a custódia do menino, e um governo que nem ousa ir buscá-lo ali, porque os outros ameaçam com um escándalo. Essa é a situação real.
Estou a falar e não desejo ofender nem lastimar o presidente, nem à Procuradora, nem sequer à senhora Albright, porque sou testemunho daquilo que vi, e eles compreendem que tudo é um disparate. Mas, que falte esse mínimo de decisão para se atrever a dar um ultimatum a esse cavalheiro?, porém, com o que eles têm sabem bem o que lhe podem dizer. Se lá chegar o FBI, por exemplo, e lhe diz: "Oiça, tem que entregar esse menino, não nos obrigue a usar a força", o homem fica aterrorizado, e os seus parceiros também estão desmoralizados, porque realmente resulta insustentável o facto de que esse senhor sinistro tenha essa criança.
Não têm nem a mais remota prova da acusação de espionagem que têm formulado. Terceiro erro: viram-se obrigados, sem contar com a vontade do nosso país -aí estão todos os documentos que o demonstram- a enviar Imperatori, pela força, para outro país; expulsaram-no para Canadá. E esse é um homem de honra. Permitam-me lhes dizer que nos dois primeiros dias não bebeu nem água. No segundo dia da greve não tinha bebido nem água; resultado: no domingo teve uma febre alta, desidratação, urina densa. Então, no domingo já estava a beber líquidos, mas não tinha bebido água em mais de trinta horas. Ele não tem nem um pingo de reserva, porque é mais delgado que o Quixote, era como se Dom Quixote estivesse em greve de fome, esse era Imperatori, e com uma firmeza tremenda.
Falou connosco; ao chegar a Montreal me comuniquei com ele, porque nem sabíamos para onde iria. Quando soubemos que já lá estava, falei com o cônsul, com o embaixador e com ele. Cumprimento-o e lhe digo: "como o trataram no avião?" disse: "Bom, com respeito. Dizeram-me que sabiam que eu estava em greve e me perguntaram se desejava beber algum líquido e eu disse que não." e disse-me logo: "quero comunicar-lhe que continuarei a greve." Foi para a embaixada e continuou a greve, não contra o Canadá, mas contra aqueles que o tinham conduzido, como disse na sua mensagem ao povo canadiano, à força; ele não pediu isso, não solicitou isso.
Até lhe fizeram uma tramóia com o passaporte. Ele não tinha o passaporte, tinham-no os advogados. As autoridades pediram o passaporte aos advogados e não lhes disseram nem para o quê era. Pediram-lhes o passaporte e lhes disseram: "Cá o têm." Isso não é um problema; é um homem mais do que identificado. Àquele que vão expulsar vai ser expulso com ou sem passaporte. Porém, ele realmente não sabia, não tinha o passaporte. Ao chegar ao Canadá a primeira coisa que comunica é que iria continuar a greve. Aí foi para a embaixada cubana em Ottawa.
As autoridades canadianas o receberam bem. Tenho a impressão de que eles pensavam que estavam a ajudar à solução de um problema, mas o problema não ficava resolvido, o homem tinha-se declarado em greve de fome. Nesse dia, sábado, não tinha nem tomado o café. Às 11h:00 lê uma declaração em que informava que estava em greve de fome. Às 20h:35 ou 20h:33, apareceu o FBI, seria necessário precisar o pormenor, mas em cinco minutos -o que se diz- pediram-lhe que vestisse um abrigo. Perguntaram-lhe pela bagagem. Disse-lhes: "Não tenho." Depois conduziram-no até a porão. Com respeito; devemos dizer que foi tratado com respeito, não foi algemado. Entrou no automóvel com muita dignidade; levaram-no para um avião e depois parece que demoraram no aeroporto, chegou aproximadamente às 24h:00 a Montreal. Lá foi recebido pelo cônsul cubano no consulado, conversamos com ele; eu, como já disse, falei com ele, cumprimentei-o, perguntei-lhe como tinha sido tratado, tudo, repito mais uma vez o que ele disse: "vou continuar a greve." Ele não tinha sido consultado e explicou-lhes aos canadianos, ao se despedir, que não pediu entrar ali. Foi para a embaixada e continuou com a greve, até que, enfim, já na nota do governo cubano se explica, e não explico mais nada, porque todas estas coisas devem ser manejadas com a maior confidencialidade.
Sei que todo o mundo, em todas partes, queriam saber, mas na carta dele explica-se. Sei, por exemplo, qual é a opinião nas Nações Unidas. Porque nas Nações Unidas todo o mundo recebeu a mensagem e dizem: "agora entendemos." Ninguém entendia o porquê duma greve em Canadá, e é que foi levado à força, nem ele próprio sabia nada.
Os canadianos não são culpados. Diria que os canadianos foram implicados neste assunto. Mas contra o Canadá não temos nada em absoluto, não há protesto contra os canadianos, e julgo realmente que contribuíram à resolução do problema. Além disso, todas as partes contribuíram para encontrar uma solução, que é a que aí aparece a grosso modo, com honra e dignidade. Foi uma solução que se alcançou depois das 24h:00 ou por volta das 24h:00, de quarta para quinta-feira. É por isso que os que viajaram fizeram-no sem informação.
Tínhamos dito que iria um grupo, que não era preciso descer do avião. Foi enviado um grupo em representação dos que têm estado a lutar pelo menino e pelo próprio Imperatori, dos mais destacados, para além de um grupo da imprensa. E todos permaneceram no avião; os familiares, um grupo de oito médicos, dez ou doze jornalistas e quarenta companheiros e companheiras destacados na luta, para o receber no avião e acompanhá-lo. Acho que no domingo vão publicar a história gráfica da viagem de ida e volta. Hoje foram publicados oito minutos.
Porém, tudo o que aconteceu resulta emocionante, e quando ele chegou e subiu ao avião com uma dignidade impresionante. Eu estava a sua espera. Levámo-lo para uma clínica e, na verdade, amanhã publicaremos alguma coisa do que dizem os médicos. Perdeu 12 libras (quase 6 quilos) em cinco dias, cifra que está muito por em cima dos parâmetros de perda de peso de um homem delgado.
Jornalista.- Comandante, eu lhe fizera uma pergunta e amavelmente nos tem concedido tanto tempo, que acho que já...
Fidel Castro.- Sinto pena porque várias pessoas estão à minha espera.
De qual imprensa são vocês?
Jornalista.- Bom, disse-lhe que sou da Agência de Informação Nacional, e também, há de Rádio Rebelde e da Televisão Cubana.
Fidel Castro.- Podem publicar textualmente o que eu disse e retransmiti-lo esta mesma noite. Como falei com total objectividade, assim fico responsável por tudo aquilo que disse. E digo que não posso dizer mais porque temos o dever de ser discretos. Não é preciso dizer uma palavra a mais. Foi difícil encontrar uma solução que fosse satisfatória para ele, e como aí se diz, preserva-se o máximo de possibilidades que podia se conseguir de viajar aos Estados Unidos para participar nesse processo. E, realmente, não estávamos a pedir mais, senão a possibilidade, não podemos dizer que seja a garantia total, porque isso não pode ser garantido nem ali. Há um montão de organismos que participam. Mas, assim é como o definimos: o máximo de possibilidades que poderia ser atingido. É claro que então ele cessa; porque o que ele estava a demandar era isso. Lá estava sem imunidade alguma. Colocou-se nas mãos deles.
Contudo, eles têm uma situação muito difícil, porque não podem provar absolutamente nada. Encontram-se perante o zero absoluto, daí que a mentira seja também total e absoluta. Mas não digo que foi isso inventado pelo governo; esse é o meu ponto de vista. Havia três possibilidades e me perguntava: Teriam tentado fazer uma provocação desde há tempo? porque a nossa gente tem ordens precisas de não realizar inteligência na nossa Repartição de Interesses. Isso foi, como se explicara, há vinte e dois anos. E me encarreguei disso pessoalmente, porque aquando Carter esse Repartição foi estabelecida, e eu disse: "Isto vai ficar cheio de agentes da CIA e é bem melhor termos a moral alta", percebem? Demos-lhes uma instrução categórica, contra todo tipo de actividade de inteligência de parte da Repartição de Interesses.
Como sabem, temos sido um país muito espiado por muitas partes e temos boa experiência em tudo isso, e sabemos muito sobre estas coisas.
Eu próprio revi os dossiers dos que iam para lá, era um pessoal experiente, não vou dizer o contrário. Os que eu pessoalmente revia, era pessoal que tinha conhecimento sobre esse tema. Fiz a selecção e os pedi, e não há um só dos funcionários que não lhe tenha revisto o expediente. Nem todos, é claro, digamos, mas a maioria das pessoas tinha conhecimentos, preparação e disciplina. Em vinte e dois anos não foi violada essa instrução. Que casualidade que aparece um caso quatro dias antes do julgamento! Uma denúncia que destroi a moral da Procuradora, destroi o INS, que crédito lhes restava para esse julgamento?
E se o homem decide vir para cá, então, toda a gente disse: "então, aceita". Isso não podia ser aceite; não por um funcionário expulso, senão porque, ao nosso ver, a sorte do menino dependia disso. Destroem o prestígio do INS, desmoralizam-no porque tem aparecido um espião, um importante funcionário do INS, o que iria acreditar toda a gente nos Estados Unidos? Esse era um golpe contra o INS, contra a Procuradora, até contra o Presidente, digamos, e contra a Albright, porque eles apoiaram a decisão do INS. E, de súbito, nem eles próprios sabem o quê fazer. Talvez sejamos nós os únicos que podemos demonstrar a falsidade.
Nem sequer acusamos à direcção nacional do FBI. Foi uma das estações mais importantes dessa instituição, e o chefe da mesma é irmão do advogado que defendeu a um dos indivíduos, em Porto Rico, acusados do plano de atentado contra mim em Ilha Margarita, com todas as provas. Era raro que sendo um dos dois fuzis propriedade de um tal de Hernández, um dos principais chefes da Fundação, esse não foi incluído no julgamento. E é em virtude da ligação que tinha esse senhor, que é o chefe do FBI em Miami, por intermédio do seu irmão como advogado naquele julgamento, com a Fundação Cubano-Americana que pagou generosamente todas as despesas da defesa.
Digo-o e o repito, o homem e a máfia meteram o FBI num beco sem saída. Eles terão que esclarecer isso, ou nos encarregaremos de lho fazer lembrar todas as vezes que forem necessárias, e exigir-lhes que apresentem provas.
A outra ocasião foi a invasão a Playa Girón; agora desembarcaram nos Pântanos de Zapata, essa é a questão. Digo-o assim, com as duas coisas, com a questão de Elián e com a questão da denúncia. E nos encarregaremos de o demonstrar.
O povo tem regido de uma maneira extraordinária, e dizemos: Bom, temos levado a cabo uma batalha e levamos três meses. Mas, o quê fazemos com que regresse o menino se todos os dias pode morrer uma criança ali, na medida em que lhe oferecem tremendos estímulos a pessoas irresponsáveis, aos que não lhes outorgam visto legal?
É muito mais importante fazer desaparecer a lei que causa e tem causado sabe-se lá quantas vítimas. Essa lei deve ser desaparecida. Lutaremos por isso. E sabemos lutar, ninguém tenha dúvidas disso, sabemos lutar.
Repare quantos talentos têm surgido. E eu leio os inquéritos todos os dias.
Há muitos que se perguntam por quê eu não falei, e não quis subir nem a uma tribuna aberta, porque não é preciso que eu fale; que fale o povo, que falem os jovens, que falem todos. Nem pensamos fazer uma festa quando voltar o menino, já o temos dito: recebê-lo-emos, o menino irá para um hospital, como fizemos com Imperatori, para ser examinado e atendido.
Faltaria apenas acrescentar que falei hoje com Imperatori e com os médicos, e eles tinham a preocupação de conhecer o seu estado geral. Fizeram-lhe vários testes dos mais urgentes. A ele, um médico amigo em Canadá lhe tomou amostras na quarta-feira para fazer alguns testes; aqui também foram feitos de imediato, para comparar parâmetros, e talvez saia com melhor saúde no futuro, porque ele fuma muito, muito mesmo.
Jornalista.- Charuto?
Fidel Castro.- Cigarro. Fuma muito, é a verdade, e aspira a fumaça. No domingo em Canadá teve uma situação um bocado complicada, havia dois dias que não bebia líquido, não bebeu água, e supunha-se que devia beber algum líquido com vitaminas e alguns elementos essenciais.
Acho que amanhã à tarde o enviam para a sua casa, e a idéia dos médicos é que possa descansar quinze dias. É o que posso dizer.
Obrigado. Vou-me embora, que estão à minha espera. Para vocês é suficiente?
Jornalista.- Sim, mais do que suficiente.
Fidel Castro.- Podem dizer tudo isto no meu nome, e expliquem que eu não preciso falar, porque temos um povo instruído e consciente, capaz de falar por si só, e, além disso, lutar. Só isso. Até já.
Lugar:
Pabexpo, Ciudad de la Habana, Cuba
Fecha:
04/03/2000