Discursos e Intervenções

DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ, NO RESUMO DO ATO CELEBRADO NO ESTÁDIO LATINO-AMERICANO, EM 20 DE NOVEMBRO DE 1964

Data: 

20/11/1964

Companheiros professores;
Companheiros trabalhadores-estudantes;

Este conceito, o de trabalhador-estudante, é um conceito novo na nossa pátria, é um conceito verdadeiramente revolucionário. A presença de um número tão extraordinário de trabalhadores, matriculados nos cursos de Educação Operária e Camponesa, que estão presentes neste ato, neste estádio, é algo que se não se tem vivido, se não se tem a chance de viver, não se pensaria que é real.

Quando chegamos aqui nesta noite, lembramos outras ocasiões em que este estádio ficou lotado. Lembrávamos que este estádio não ficava lotado facilmente, e como campo esportivo ou centro esportivo que é, as arquibancadas deste estádio ficavam lotadas quando havia um jogo muito importante, quando tinha lugar um evento que tivesse atraído o interesse do povo todo, podia dizer-se o fanatismo do povo todo. E ao chegamos nesta noite, nós expressávamos a alguns companheiros que nos perguntavam a opinião acerca do ato e eu lhes dizia: Vejo que há mais público do que nos jogos de beisebol.

E é que, realmente, teria parecido impossível que acontecesse algo semelhante, teria parecido impossível que uma reunião de trabalhadores da capital, que estão participando destes cursos, pudesse congregar um número tão elevado de cidadãos.

E se ainda existem em nosso país pessoas que não entendessem, que não compreendessem, ou não pudessem saber o que significa a palavra revolução, o que é uma revolução, bastaria que assistissem a este ato desta noite e meditassem um segundo, sequer, para que soubessem, para que acabassem sabendo o que é uma revolução (APLAUSOS).

Porque isto, isto que estamos vendo, ensina muito mais do que qualquer livro, demonstra muito melhor do que qualquer palavra o que é uma revolução, e como os povos revolucionários se transformam, como os povos fazem as revoluções e, ao mesmo tempo, como as revoluções fazem os povos (APLAUSOS). Porque o povo que começou a fazer a Revolução é esse mesmo povo de agora, e, contudo, há diferenças significativas; porque este povo que a Revolução vai forjando, a mesma Revolução que o povo faz, é um povo cujo auge, cuja educação, cuja consciência, cresce dia a dia.

O que está ocorrendo com milhões de pessoas hoje em dia é o que no passado umas poucas famílias aspiravam para seus filhos. O que ocorre hoje com milhões de pessoas foi a aspiração ou o sonho que milhões de pessoas tinham e que não puderam realizar.

Em geral, os pais desejavam que seus filhos estudassem. Por quê? Porque previam, pensavam, que o nível de vida, a prosperidade, a felicidade de seu filho, estariam relacionados com seus conhecimentos, com sua capacidade. E os pais aspiravam que os filhos estudassem para que triunfassem na vida. E é lógico, ou era lógico — embora nem sempre exato — aquele pensamento. Nem sempre se triunfava quando se estudava. Nem sempre atingiam o sucesso aqueles que estudavam. Muitas vezes atingiam o sucesso os inescrupulosos, muitas vezes viviam melhor aqueles que eram caracterizados por uma falta de moral, por uma falta de princípios.

Mas, ainda naquelas circunstâncias, ainda em meio daquela sociedade na qual praticamente cada homem era um inimigo dos demais, em que cada homem tentava ascender, embora fosse espezinhando os demais, ainda naquele meio os homens que tinham a chance de adquirir uma qualificação técnica, os homens que tinham a chance de adquirir uma qualificação universitária, tinham muitas mais possibilidades que aqueles que não aprendiam a ler e a escrever, que aqueles que não passavam das primeiras séries escolares. Hoje se pode dizer, com muita mais justiça, que um povo que está dedicado ao estudo é um povo que, necessariamente, tem um magnífico porvir, é um povo que, inevitavelmente, terá um grandioso porvir.

Neste caso não se está falando de um projeto, de uma ideia, se está falando de uma realidade. E caso forem analisados os aspectos estatísticos, se poderia verificar que, possivelmente, nós somos hoje, quanto à educação, quanto à educação em massa, quanto ao estudo, possivelmente o primeiro país do mundo (APLAUSOS).

Ao falarmos de que em alguma coisa atingimos um lugar de honra, não o dizemos com um falso orgulho nacional, não o dizemos como uma presunção; o dizemos como — se for o caso — uma comparação, uma palavra para dar uma ideia do que o movimento educativo tem avançado na nossa pátria. E, sobretudo, para dar uma ideia do que os povos podem fazer quando são donos de seu destino, do que os povos podem conseguir através das revoluções.
Nosso povo é tal como os demais povos, mas a Revolução permitiu que nosso povo atingisse esses sucessos, permitiu essa meta, essa incrível meta de que, depois de cinco anos e meio de Revolução, quer dizer, quando apenas decorreram uns poucos anos depois do triunfo da Revolução, se possa afirmar em que nosso país haja praticamente uma pessoa estudando sistematicamente em cada três habitantes. E estou quase certo de que em nenhum outro lugar, em nenhum outro instante, se conseguiu um auge tão extraordinário do estudo.

É possível e tomara que outros povos possam fazer igual, tomara que ainda possam fazer mais. O que importa não é que nós possamos declarar-nos campeões, mas o que importa é que nosso exemplo sirva para estimular os demais (APLAUSOS).

O companheiro ministro da Educação falava de alguns números: falava dos 800.155 matriculados nestes cursos; falava de quase 1,3 milhão de alunos que esperavam ou que já tinham matriculado no ensino primário. E acrescentava os alunos dos níveis médios e os estudantes universitários, para calcular que — com uma estimativa conservadora — o número total chegava a 2,2 milhões de cidadãos.

E, sem dúvida, que esse número é conservador; porque nesse número, por exemplo, não estão incluídos dezenas de milhares de alunos ou de jovens que estudam nas Forças Armadas Revolucionárias (APLAUSOS); que nesses números não estavam incluídas as pessoas que frequentam as antigas escolas noturnas; nesses números não estão incluídos alguns dados correspondentes às regiões montanhosas; nesses números não estão incluídas as 10 mil jovens camponesas das montanhas de Cuba que estão estudando também na capital (APLAUSOS); nesses números não estão incluídos os companheiros que estudam nas escolas de instrução revolucionária de nosso Partido (APLAUSOS); nesses números não estão incluídos os milhares de jovens que estão estudando noutros países amigos (APLAUSOS); e finalmente, nesses números não estão incluídos os companheiros do Partido e das organizações de massa que, em número cada vez maior, participam dos círculos de estudo que estão sendo organizados ao longo da Ilha (APLAUSOS). Quer dizer, que os números ultrapassam amplamente os citados pelo companheiro Hart, que falam de 2,2 milhões de pessoas.

Porém, não chamemos educação somente à instrução primária, ou à instrução tecnológica, ou à instrução universitária, ou à instrução política, é preciso chamar educação, também, por exemplo, à educação física, que também faz parte essencial da educação de um povo. Se for analisado o número de pessoas que praticam esportes ativamente em nosso país, o tamanho auge da educação física e dos esportes, se pode apreciar que a educação tem outras dimensões.

Se se considera, por exemplo, as atividades culturais, as centenas de instrutores da arte que organizam grupos de amadores na Ilha toda, se se analisa o incremento das atividades culturais em geral, se se analisa a função que desempenham hoje em nosso país a televisão, a rádio e a imprensa, que antes eram instrumentos de propaganda mercantil. Porque era inaugurada uma estação de rádio e uma parte considerável do tempo era empregada em anúncios comerciais. Mas não só em anúncios comerciais; empregava-se para propugnar verdadeiros vícios. Por exemplo, muitos desses anúncios comerciais estavam relacionados com leilões, com loterias, com toda uma série de jogos de azar, os quais iam incutindo em muitos cidadãos esse vício que anula a vontade, esse vício que anula o esforço, esse vício que mata o espírito de superação, que é o do jogo, o de esperar tudo não do esforço, não do trabalho, não da capacidade, mas sim do azar, da sorte.

E assim, aqueles instrumentos de divulgação, à parte de que estavam ao serviço das ideias dos exploradores, dos causadores e dos que mantinham todos aqueles vícios, eram empregues não para educar o povo, mas para corromper o povo.

É possível e, ao mesmo tempo lógico, que nossos órgãos de divulgação ainda não tenham atingido o máximo nível técnico. É possível e é lógico que ainda não tenham atingido a máxima eficácia, o máximo aperfeiçoamento. Neste campo, tal como em todos os demais, ainda devemos trabalhar muito. Mas, sem dúvida, hoje há uma grande diferença, sem dúvida hoje há infinidade de programas que elevam o nível cultural do povo, os conhecimentos gerais; programas para crianças, programas que, ao mesmo tempo em que distraem, ensinam. De certeza que ainda, é preciso reconhecê-lo, ainda existem fraquezas, existem deficiências e que ainda não estivemos fazendo um uso pleno desses meios todos. Mas é preciso admitir que todos esses órgãos que antigamente estavam ao serviço do engano, da mentira, da exploração e da corrupção, hoje fazem parte dos instrumentos e dos meios que alargam os conhecimentos e a cultura do povo todo.

O movimento educacional é amplíssimo e alicerça em todos os recursos da Revolução, em todos os recursos do povo. Em geral, este movimento veio adquirindo uma magnitude extraordinária, mas, como continuar crescendo em magnitude? Não poderá ser no mesmo grau em que foi até hoje. Porque na medida em que nos aproximemos de números verdadeiramente perto do limite, quanto ao número de pessoas estudando, deveremos avançar noutro sentido, devemos avançar no sentido da qualidade. O grande esforço, futuramente, deverá ser feito não só na magnitude, mas também na qualidade deste movimento educacional.

Naturalmente que o primeiro esforço de todos nesse sentido foi a campanha de alfabetização. Nem sonhar, sequer, em começar por onde estamos hoje. Nem sonhar sequer no começo em universidades operárias, em faculdades operárias, nem sonhar no ensino de segundo grau, nem sonhar em cursos de acompanhamento. Foi necessário começar pelo primeiro, foi necessário começar pela alfabetização.

E aliás, antes de começar pela educação dos adultos, foi necessário completar a educação das crianças. Por ordem de tempo, o primeiro que foi necessário fazer foi resolver o número de salas de aula e de professores necessários para todas as crianças de Cuba. Esse foi o primeiro passo. Logicamente, se haviam centenas de milhar de crianças sem professores e sem salas de aulas, o mais peremptório e o mais urgente foi resolver essa primeira necessidade. Quando essa primeira necessidade foi resolvida, apresentou-se a segunda: O quê fazer com um milhão e tanto de adultos que não tinham podido aprender a ler nem a escrever? E então foi organizada aquela histórica campanha de alfabetização que, praticamente, erradicou em um ano aquele vício que vinha acontecendo, aquela mazela que vinha acontecendo através dos séculos.

Mas já a partir daquele momento se expôs a necessidade de não parar aí, tornou-se patente a necessidade da continuação dos estudos. Depois da alfabetização veio continuar estudando. Mas se a alfabetização podia ser colocada como tarefa de um ano, a continuação dos estudos não podia ser exposta como a tarefa de um ano, não podia ser exposta como um problema de tempo. A continuação dos estudos é uma coisa que não tem limite de tempo, a continuação dos estudos é algo que nunca acaba; continuar os estudos, em um sentido mais amplo, é praticamente um dever ou uma tarefa de cada cidadão durante a vida toda. Porque não se trata só de que o recém-alfabetizado continue estudando, trata-se, ainda, de que o recém-graduado universitário não se pode conformar com o título obtido e com os ensinamentos recebidos na universidade. O graduado universitário vê-se diante da necessidade de continuar estudando depois de se ter graduado, vê-se na necessidade de continuar estudando durante a vida toda.

Por quê? Por uma série de razões. Porque, em primeiro lugar, o conhecimento humano e a experiência humana se vão acumulando através da vida toda, porém, ainda mais, porque o conhecimento objetivamente considerado, os conhecimentos que a humanidade atinge em cada ramo da ciência crescem cada dia, mudam dia a dia. É possível que um graduado de medicina no ano 1920, quer dizer, um graduado de medicina no ano 1920, que se tivesse conformado com o que aprendeu da medicina no ano 1920, ou até o ano de 1920 em que se graduou, hoje em dia estaria totalmente desqualificado para atender a um paciente. Nos últimos 30 anos, por exemplo, as técnicas na medicina mudaram muito, a cirurgia obteve grandes avanços, a medicina preventiva e a medicina terapêutica. Praticamente os remédios que são usados hoje, em sua imensa maioria, são bem diferentes dos que eram utilizados naquela data.

Mas o que se pode dizer de um médico também pode ser dito acerca de um engenheiro, pode ser dito acerca de um químico, pode ser dito acerca de um professor de educação física, de um pedagogo, de um professor; porque as ciências estão progredindo constantemente, os conhecimentos vão sendo renovados constantemente e ainda se modificando; determinadas teorias são substituídas por teorias novas, determinadas técnicas são substituídas por técnicas novas.
Então, o ser humano, a sociedade humana vê-se diante da necessidade vital de avançar ao mesmo ritmo em que avançam os conhecimentos técnicos, os conhecimentos científicos; a sociedade humana sente uma necessidade vital nesse sentido.

Se avançarmos ao compasso da ciência e da técnica se avança rumo a insuspeitas metas de progresso e de bem-estar; caso não avançarmos ao compasso da ciência e da técnica e dos conhecimentos em geral, o preço é a estagnação, a pobreza, a escassez, a miséria.

Qual é o problema fundamental de nosso país? Quando no passado alguém queria explicar qual era o problema fundamental de nosso país, dizia: “Bem, não temos usinas, não temos desenvolvimento industrial, não temos capital, não temos instrumentos de trabalho, somos um país meio colonizado, somos um país explorado pelo imperialismo”. Mas aquelas razões podiam ser mais ou menos compreendidas.

Hoje em dia se pode expressar algo que explica melhor do que qualquer outro conceito as causas — não as causas mediatas, não as últimas causas, mas sim as causas imediatas — mas, sobretudo, se poderia expressar algo que nos permite compreender melhor que nada que era lógica nossa pobreza, nossa estagnação econômica, nosso desemprego crescente, nossa pobreza crescente, e é bem simples: em nosso país, por exemplo, em cada dez trabalhadores do campo, ainda hoje, nove estão abaixo da terceira série, estão da  terceira série para abaixo. Não sei exatamente qual é a situação nas cidades, mas não é muito diferente. Logicamente havia mais desenvolvimento educativo nas cidades, porém não era muito diferente.

E é preciso ver o que isso significa que nove em cada dez operários no campo e possivelmente seis ou sete em cada dez trabalhadores na cidade não ultrapassavam o nível da terceira série escolar.

Quando não se possui um nível nem da terceira série, o que é que se sabe? O que é que se conhece? Que técnica pode ser aplicada? Qual é o jeito para resolver os problemas da vida material? Qual é a forma que há para resolver os problemas materiais de um país com esses níveis de educação? O que é que pode fazer um homem com um nível educativo correspondente à primeira série? O que é que pode fazer um homem com um nível escolar de primeira série?
Em certo sentido, com um nível escolar da primeira série, com a segunda ou com a terceira séries, e ainda com menos da primeira série, se pode fazer muito, em certo sentido. Por exemplo, muitos homens que mal sabiam ler e escrever, tinham o instinto de conhecer as causas das mazelas do seu país, tinham o sentido da dignidade, tinham o sentido da rebeldia, sentiam a força do dever em tal grau que muitos deles deram sua vida no campo de batalha e morreram pela Revolução (APLAUSOS). Como combatente, como revolucionário, podem ser feitas muitas coisas. Um homem sem essa preparação pode chegar a ser um herói, pode chegar a muitas coisas; porém, o que é que pode fazer um homem no campo da produção? Bem, um homem com muita pouca capacitação pode chegar a adquirir certos conhecimentos empíricos na produção, mas não pode manipular um torno, não pode manipular uma maquinaria levemente complicada, não pode desenvolver uma agricultura técnica.

Um homem com a primeira série, naturalmente, pode chegar a aprender a conduzir — digamos — um caminhão, mas vamos colocar o caso que tínhamos de muitos homens que eram analfabetos. Se a este homem analfabeto o ensinam a conduzir um caminhão e vai por uma estrada, pela primeira vez e há um cartaz que diz: “Por aqui vai para Santiago de Cuba e por aqui vai para Holguín”, já não sabe o quê fazer no primeiro cruzamento ao que chega, porque nem sequer é capaz de ler o cartaz que lhe indica o rumo.

Um homem analfabeto, ou um homem com habilitações da primeira, segunda ou terceira séries, que apenas sabe somar ou multiplicar ou dividir, que mal sabe escrever, que quando escreve, pois escreve mal, se expressa mal, que é difícil que possa ser entendido, o que é que pode fazer em uma época como esta na qual, praticamente toda a produção, sobretudo a produção em massa, é regida pela ciência, pela técnica, pelas matemáticas, pela física, pela química, pela biologia, o que é que poderá fazer esse homem?

Ainda que nós tivéssemos tido — uma hipótese — milhares de usinas, milhares de máquinas elétricas, milhares de equipamentos muito modernos, centenas de laboratórios, o que teríamos podido fazer com tudo isso? Se agora mesmo nós, de repente, da noite para a manhã, pudéssemos adquirir cem usinas, usinas químicas, usinas mecânicas, o que poderíamos fazer com elas? Se nos entregassem milhares de tornos, de tornos — digamos — automáticos, o que poderíamos fazer com eles? Se nós dispuséssemos de todos os fertilizantes, por exemplo, nas quantidades que nós desejássemos, o que poderíamos fazer com esses fertilizantes? O que é que nós poderíamos fazer com nossa terra, ainda que dispuséssemos de todas as maquinarias, ainda que dispuséssemos de todos os meios, se não conhecemos as técnicas agrícolas?

Então o problema, um problema essencial não é só o problema dos instrumentos de trabalho, é o problema da capacidade técnica. Nós, por exemplo, precisamos de fertilizantes nitrogenados; quando a Revolução triunfou, nós nos deparamos com uma fábrica de fertilizantes nitrogenados a ser construída. Bem. Tivemos inúmeras dificuldades e tão só depois de vários anos, começará a produzir essa fábrica de fertilizantes químicos. Nós temos inaugurado uma usina mecânica em Santa Clara, uma usina magnífica, com magníficos equipamentos. Bem. Não me lembro exatamente do número, mas o número de operários qualificados e técnicos de que precisa essa usina é aproximadamente três vezes superior ao número de operários qualificados e técnicos que temos nessa usina.

As necessidades de técnicos na produção, as necessidades de técnicos na agricultura são verdadeiramente fabulosas. E já tivemos experiências de usinas pouco utilizadas, usinas utilizadas a menos de 50% de sua capacidade, por falta de operários qualificados, por falta de capacidade técnica. E cada vez mais as usinas, as indústrias em geral, cada vez mais a produção precisa de uma porcentagem maior de pessoal qualificado. Muitas vezes quando nós temos perguntado em algumas repartições porque é que dispõem de muito pessoal nos têm respondido — em parte como justificação e em parte com razão — que como não sabem, três pessoas devem fazer o trabalho de uma. Vejam tamanha solução! Vejam essa solução, que onde 100 podem fazer um trabalho administrativo, então tenhamos que empregar 300. Qual será o porvir deste país!, que terá que gastar três vezes mais salários para conseguir a mesma produção, que poderia conseguir uma pessoa com mais capacidade.

Qualquer pessoa compreende que dessa forma não cresce o padrão de vida de um povo; qualquer pessoa compreende que dessa forma não se pode ter os bens de que precisamos na abundância que precisamos deles. Porque se se recebe salário por três ou é preciso gastar por três, é preciso pagar três salários, para produzir como um, então nunca nos poderemos livrar da caderneta de racionamento; nunca nos livraríamos dessa caderneta porque sempre a quantidade de bens, a quantidade de produtos estaria abaixo do volume do dinheiro em circulação, do montante dos salários.

E se um povo não supera essas deficiências, se sempre há de estar pagando três salários, quer dizer que o que uma pessoa produz deve ser partilhado entre três; quer dizer que se não fosse assim, se uma pessoa produzisse como três, ou se uma pessoa produzisse como dez, o que caberia a cada trabalhador seria incomparavelmente mais do que lhe corresponder, caso termos três pessoas trabalhando como uma.

E isso não se pode conseguir a não ser capacitando-se, a não ser estudando. O homem como força bruta, sem dúvida que pode fazer muito, mas tem um limite; quer dizer, um homem por sua força, por sua energia pessoal, por seu caráter, por seu espírito, por seu entusiasmo, por seu amor ao trabalho, pode chegar a fazer três vezes mais daquilo que faz um homem normal. Temos o caso do companheiro Reinaldo Castro (APLAUSOS) que corta tanta cana como três bons trabalhadores cortando cana; e é um exemplo extraordinário: chega a cortar até mais de 25 toneladas de cana em um dia. Essa é uma quantidade quase incrível. Bem. Mas aí acaba a força do homem. Para ultrapassar esse limite é preciso então a máquina, e se precisa da técnica; se se quer cortar tanto como 125 toneladas ou 150 toneladas, ou 200 toneladas por dia é preciso ter a máquina, mas é preciso saber manipular a máquina; para que a máquina funcione bem, para que esteja bem utilizada, para que seja consertada imediatamente caso sofrer uma avaria, precisa já de um mecânico. Isso à parte de que uma máquina deve ser desenhada por engenheiros mecânicos; as oficinas de reparação devem ser organizadas por engenheiros mecânicos. Quer dizer, que uma máquina requer já de uma série de operários qualificados, desde o que a manipula — que é possivelmente o que menos qualificação precisa — até o que a repara, o que organiza as oficinas.

Uma máquina já deve trabalhar com uma brigada, quer dizer, com um grupo de trabalhadores. Precisa-se de um homem que dirija essa brigada, mas acaso um homem com a primeira ou terceira série, que não saiba nem somar nem multiplicar nem dividir, pode dirigir essa brigada?

Precisa-se de um homem com mais capacidade, com mais conhecimentos, com mais preparação. Precisa-se de uma boa organização, para ter uma boa organização se precisa saber calcular bem, saber prever e estimar adequadamente uma série de fatores, é preciso achar as fórmulas adequadas. Aqui muitas vezes temos recebido máquinas, mas as máquinas têm funcionado apenas a 50% de sua capacidade, porque as máquinas precisam de manutenção, precisam de reparações, precisam de organização, e nesses fatores todos, constantemente, estamos achando o limite das possibilidades.

Mas não basta com que tenhamos uma boa máquina, um bom operador da máquina, um bom chefe de brigada; não basta com que tenhamos uma boa oficina, bons mecânicos, bons engenheiros. Não. Se aquela cana estiver mal cultivada, a máquina não funciona; se aquela cana é uma cana de produz 750 toneladas em cada 14 hectares, aquela máquina rende menos, aquele esforço rende menos; se a cana não estiver plantada adequadamente a máquina enguiça; quer dizer, que não basta que por um lado a técnica progrida: a técnica tem que progredir ali também, onde se produz aquela cana.

Mas não basta com que haja boa cana, boas máquinas, bons operadores; temos a usina, temos a indústria. E, ainda, antes da usina e depois da usina está o transporte; precisa-se de um bom sistema de transporte, uma boa organização, e todos esses aspectos do processo de chegar a produzir uma tonelada de açúcar, pois constantemente estão colocando a necessidade da qualificação.

Se nós nos resignamos a chegar até onde permitam nossas próprias forças, nos teríamos que resignar a que um homem produzisse sempre sete toneladas e meia de cana ao dia; se conseguíssemos o milagre — e não vejo como é que se poderia conseguir esse milagre — de que todos fossem como Reinaldo Castro, então os cortadores de cana produziriam três vezes mais, mas daí não passam. Tão só a técnica nos poderá permitir ultrapassar esses limites. Até onde? Ninguém sabe.

Atualmente, há usinas automáticas que empregam uma dúzia de homens e, inclusive, menos homens, onde noutros tempos se empregavam centenas e, às vezes, milhares de homens.

O que acontece no capitalismo? No capitalismo acontece que os trabalhadores têm que estarem lutando contra as máquinas, os trabalhadores têm que estar lutando contra a técnica. Por quê? Porque a técnica os deixa sem trabalho, a técnica os desloca, a técnica cria o desemprego; a automatização é vista pelos trabalhadores dos países capitalistas como um terrível inimigo, porque dizem: “Como é isso? Aqui trabalhamos 500. Se o que nós fazemos o podem fazer 12 trabalhadores, do que é que nós vamos viver?”. E então têm que viver de um subsídio, de uma esmola, de um seguro para os desempregados, que é o que inventam os capitalistas para poder automatizar, para poder introduzir a técnica.

Mas vocês sabem que, por exemplo, em nosso país se dizia que se o açúcar fosse despachado a granel se pouparia muita divisa quanto aos sacos e, ainda, pouparíamos muitos homens e muito custo no embarque do açúcar. Mas era impossível; se havia centenas de milhar de desempregados; os operários portuários jamais teriam concordado em que fosse estabelecido o embarque de açúcar a granel; igualmente, teriam estado contra a mecanização dos portos. Igualmente, os tabaqueiros seriam contra a introdução das máquinas de fazer charutos, porque o charuto todo era elaborado à mão; uma máquina podia fazer o trabalho de dezenas, talvez de centenas de operários. Qualquer companheiro tabaqueiro deve saber melhor do que eu quantos. Mas segundo sei, uma máquina de fabricar charutos os fabricava por muitos operários; os tabaqueiros se opunham à introdução da máquina de fazer charutos.

Quando no transporte se falava em poupar ou diminuir o número de empregados, falava-se, por exemplo, em suspender o cobrador, mas aí se deparavam com a recusa justificada dos operários do transporte. E se alguém tivesse falado de introduzir uma máquina de cortar cana, o teriam linchado!, o teriam linchado neste país! Porque os operários teriam visto aquela máquina como uma inimiga, uma verdadeira inimiga, teriam visto que aquela máquina significava fome para ele e para sua família.

Qual é a nossa situação? Acaso vemos a máquina como uma inimiga? Não! Como é que vemos nas condições do socialismo a técnica e a máquina? Vemos a técnica e a máquina como o grande recurso, como o grande instrumento de progresso do país, de elevação do padrão de vida; vemos na máquina de cortar cana a possibilidade de poder chegar a produzir 10 milhões de toneladas de açúcar. Vemos em uma máquina colheitadeira de algodão a possibilidade de elevar a nossa produção de tecidos. Vemos em qualquer máquina uma solução, um remédio.  

Por quê? Porque no socialismo não há contradição social entre os proprietários das máquinas, os proprietários das usinas e os trabalhadores. No socialismo, trabalhador e dono é a mesma coisa (APLAUSOS); no socialismo, trabalhador e proprietário é a mesma coisa (APLAUSOS).

Karl Marx dizia aos capitalistas: “Vocês querem acusar-nos de querer abolir a propriedade privada, mas a propriedade privada ficou abolida para as nove décimas partes da população, e só pode existir para a outra décima parte, sob a condição de que não exista para os demais trabalhadores.” Realmente, em certo sentido, o socialismo liquida, o socialismo suprime a propriedade sobre os meios de produção, a propriedade das usinas açucareiras, das linhas de transporte, das usinas, o socialismo não suprime as propriedades pessoais, nem a propriedade do pequeno agricultor mas, em geral, a grande propriedade fica abolida no socialismo.

Em certo sentido abolimos a propriedade, mas noutro sentido estabelecemos, criamos propriedade. Fica abolida a propriedade individual sobre os meios de produção, sobre as usinas, mas de fato o povo todo se torna proprietário, o povo todo se torna dono dos meios de produção e do fruto do seu trabalho.

Que problemas tem pela frente hoje o cidadão? O cidadão quer que haja mais sapatos, o cidadão quer que haja mais leite, mais carne, mais peixe, mais alimentos, mais roupa, mais casas; quer dizer, o cidadão sabe hoje que quando se produz mais leite, esse leite vai para o povo; sabe que quando se produz mais roupa, mais sapatos, mais bens em geral, esses bens vão parar às mãos do povo. Quer dizer, que a preocupação de cada cidadão hoje é que haja mais, a preocupação de cada cidadão hoje não é que se deixe de introduzir uma máquina, mas que sejam introduzidas todas as máquinas e todas as técnicas possíveis para que haja mais, porque se houver mais sabe que lhe vai corresponder mais, sabe que vai receber mais (APLAUSOS).

Por exemplo, um só exemplo, muito corrente: se perguntamos quantas pessoas precisam de uma casa ou quantas pessoas precisam de uma casa melhor da que têm, se pergunto isso estou certo de que aqui quase todo mundo diria: “Eu preciso de uma casa”. Há algum que não precise dela aqui?  
(EXCLAMAÇÕES). Porque aquele que mora em um quarto quer uma casa de dois ou três cômodos; aquele que tem uma casa de dois ou três cômodos, mas que é um pouco antiga, deseja uma casa mais nova. E enfim, praticamente, não há um cidadão que não tenha necessidade de algo em matéria de habitação. E quando não a precisa para ele, quer a casa para a filha que se vai casar, ou a quer para o filho que se vai casar e a mãe não quer que a namorada venha viver para a casa da sogra. E, enfim, quem não a necessita para ele, necessita dela ou a deseja para alguém.

Pois, se nos remontamos para outro tempo vemos que estes não são os problemas dantes; noutro sentido já quando, por exemplo, complete o quinto ano, daqui a uns meses, daqui a um ano aproximadamente após ter sido estabelecida, de ter sido decretada a Lei de Reforma Urbana, então, muitas famílias estarão liberadas do pagamento de alugueis. E, naturalmente, isso de se liberar do pagamento de alugueis possivelmente foi uma das coisas que mais desejava qualquer família, porque nenhum dinheiro doía tanto como aquele dinheiro que tinha que estar pagando todos os meses pelo aluguel.

É claro que já essas coisas não nos preocupam, já não preocupam essas coisas, hoje preocupam outras coisas, mas eu punha este exemplo. As necessidades de moradias são enormes, não só as atuais, as necessidades futuras. No congresso dos construtores foram expostas as necessidades de moradias, não só para agora, mas também para o ano 1970, para o ano 1980, o ano 1990 e creio que até para o ano 2000.

É claro que as necessidades do ano 2000 não preocupam tanto as pessoas; preocupam-se mais pelas necessidades de agora, e a alguns as necessidades do ano que vem. E me deparei com algumas pessoas que me disseram: ”Eu perdi uma casa, mas você sabe quando é meu turno? Daqui a cinco anos, porque na lista eu tenho sei lá qual número...”

Se, por exemplo, desenvolvemos a indústria dos materiais básicos para a construção e mecanizamos a construção, o mesmo número de operários que hoje constrói uma casa poderia construir dez, quinze ou vinte vezes mais casas. Agora nós nos perguntamos: como resolvemos neste país o problema da habitação para todas as necessidades, se não mecanizamos a construção, se não tecnificamos a construção, se não chegamos a ter 20, 30 ou 40 fábricas de casas? Não há outro caminho, não há outro caminho.

Punha-lhes este exemplo porque nós temos necessidades de muitas coisas, mas é preciso ter sempre presente, sempre muito presente, que só há um caminho para ter essas coisas, que é a técnica, que é a capacitação técnica e, naturalmente, o trabalho. Às vezes, há cidadãos que quando estão precisando de uma casa se desesperam e dizem: “O médico recomendou-me uma casa nova, porque não me faz bem o outro lugar, porque somos tantos na família, porque moramos todos em um quarto, estamos precisando de uma casa.”

Mas, talvez, o esposo da senhora que está pedindo a casa é um dos que constroem casas. É possível que a senhora que pede a casa, quando se encontra com o esposo não o incita tão prementemente para que ponha 500 tijolos mais em cada jornada de trabalho. Com certeza que se a senhora que está precisando de uma casa tem um primo que trabalha na construção e vê que o primo está “desperdiçando o tempo”, não se detém aí onde está o primo para dizer-lhe. “Epa, se você continua colocando tijolos a esse ritmo, eu nunca vou poder ter uma casa” (APLAUSOS).

Em geral, cada pessoa produz algo e cada pessoa quer ter algo que quase nunca é o que produz. Aquele que trabalha em uma usina têxtil quer mais sapatos; aquele que trabalha em uma usina de sapatos quer mais roupa, aquele que ordenha as vacas quer mais roupa e mais sapatos e aquele que faz as roupas e os sapatos quer mais leite. Ao mesmo tempo, aquele que está plantando legumes quer sabonete, quer roupas, quer sapatos, quer medicamentos, quer de tudo; aquele que está produzindo roupas, sapatos, medicinas e o outro, quer legumes. E cada pessoa quer muitas coisas e produz algo.

E uma boa fórmula seria que cada vez que alguém pense em seu trabalho, pense nessa coisa que produz, que passe por sua mente a ideia de que isso que ele está produzindo há muitos que o desejam e pedem mais, tal como ele pede mais de outras muitas coisas, e que se ele quer que alguma vez haja muitas de todas essas coisas, há um remédio: Que cada um faça mais daquelas coisas que faz! (APLAUSOS). Aquele que produz leite, aquele que produz carne, aquele que produz peixe, aquele que produz legumes, aquele que produz roupa, aquele que produz sapatos, aquele que produz remédios, enfim, todos aqueles que produzem algo, pensem que esse é o único caminho. “Como é que eu me aperfeiçoo, como eu posso produzir mais leite?”, assim deve dizer o leiteiro. Como é que eu posso produzir mais legumes?”, deve dizer o trabalhador agrícola. “Como é que eu posso produzir mais sapatos, mais tecidos...?”

E, naturalmente, tudo isso está relacionado, porque se não houver mais vacas não haverá mais couros para os sapatos; e se não houver algodão, ali no campo, não haverá mais linha para os tecidos. E, assim, toda a produção está relacionada.

Mas, seria bom que cada cidadão pensasse que é o que deve fazer, qual é seu dever, e assumir esse dever com a mesma angústia que mostra quando pede algo para ele, quando precisa algo para ele.

Hoje mesmo eu tive uma experiência. Passava por um pequeno povoado ali onde há uma leiteria, umas vacas... E então, no pequeno povoado, nós tínhamos dito aos companheiros dessa leiteria — porque havia umas vacas novas que tinham sido trazidas para ali — que distribuíssem o leite no povoado que, com certeza, teria algumas necessidades, já que ali se tinha disposto que o centro distribuísse o leite naquele povoado. Passamos pelo povoado, perguntei pelo leite, alguns me disseram: “Bem, quanto ao leite, há tal problema com a refrigeração, algumas dificuldades. E conversando, há uma senhora que quer falar, e me diz algo, eu paro e ela me diz: “Escute, por que é que não fazem os pacotes menores?” Eu digo: Quais pacotes? “Bem, os pacotes dos comércios, porque eu sou uma empregada do comércio e os pacotes que enviam aqui são de 150 quilos, pesam muito.”

E eu digo: Esta senhora tem razão, mas, porque é que me diz isso a mim? Não seria melhor que o diga ao funcionário do MINCIN (Ministério do Comércio Interior. Nota do Trad.) quando venha por aqui, ao chefe regional, a outro e procurem uma solução?

Pois deve dizer isso aos que organizam os pacotes, aos que servem os pacotes e aos outros: “Escute, você que faz os pacotes, não se esqueça que eu, que sou uma mulher que peso apenas 55 quilos, não posso carregar um pacote de 150 quilos. E, ao mesmo tempo, aquele que está confeccionando o pacote de 150 quilos, que talvez deve ser um homem forte, que aliás, até pode ter ganhado uma medalha em uma competição de levantamento de pesos, tenha que pensar que ali há uma mulher de apenas 55 quilos que, ao todo, apenas pode carregar 25 quilos, quando mais.

Bem, eu me lembrava deste exemplo, porque algumas vezes quando alguém nos expõe esses problemas das casas, eu penso igual.

E não é que eu não compreenda, eu compreendo que não se pode estar raciocinando com alguém que tenha uma necessidade, não se pode estar filosofando, não se pode estar arguindo, porque ainda que você exponha muitas coisas e raciocine muitas coisas, embora você tenha a maior razão do mundo, a pessoa continua sem aquilo que quer, continua sem ter a casa. E então a gente pensa com sentido prático: “Como é que eu vou começar a expor argumentos se, afinal, ele o que sente, mais fortemente que nada, é a necessidade da casa, porque tem um grande problema. A gente compreende isso, por isso todo mundo tem que compreendê-lo.    

E é necessário que no trabalho ponhamos a mesma ênfase, a mesma angústia por fazer as coisas, a mesma que empregamos quando pedimos as coisas, quando precisamos das coisas (APLAUSOS).

Com certeza que quando um trabalhador, digamos, que produz algo — carne ou leite, ou algo — tem um familiar doente e precisa de um médico, ou tem um acidente, e pede uma ambulância, e quer que a ambulância vá a toda a velocidade, e as ambulâncias vão a toda a velocidade rumo ao hospital, e deseja que o médico esteja pronto rapidamente, que esse médico preste toda a atenção rapidamente a esse familiar seu, que o atenda e lhe salve a vida, porque caso se perderem uns minutos se pode perder a vida, e qualquer pessoa pensa que nesse momento o motorista da ambulância deve correr, o médico deve correr também, o enfermeiro, todo mundo deve correr, e caso não correrem aquele familiar querido pode perder a vida.

Pois da mesma maneira em que pedimos aos demais, que exigimos dos demais, da mesma maneira em que se vamos a um café, a um restaurante, desejamos que nos atendam rápido e bem, e muito chique, e não nos despejem a comida na roupa, e se vamos a uma loja não nos façam demorar em uma fila muito longa, da mesma maneira que quando estamos prestando um serviço aos demais e quando estamos trabalhando com os demais, devemos desejar fazer as coisas com toda a pressa, com toda a urgência e com toda a perfeição.

Porque muitas pessoas exigem muito e dão muito pouco. E o primeiro que devemos perguntar aos exigentes é: “Escute, você dá tanto quanto exige? Porque se aqui todo mundo desse tanto quanto exigisse, todos os problemas ficariam resolvidos (APLAUSOS).

A fórmula social justa é que cada pessoa dê tanto de si como deseja que os demais deem para ela. E se esse princípio elementar fosse cumprido e cada pessoa cumprisse em seu trabalho, andaríamos muito bem! Não é que não vamos andar bem, vamos andar bem de todas as maneiras, porque a vontade dos que têm consciência sempre será mais poderosa do que a vontade dos inconscientes ou que a fraqueza dos inconscientes (APLAUSOS). A força e a moral dos que compreendem se imporá sobre a invalidez dos ignorantes e dos que não compreendem.

Quer dizer, que não há a mínima dúvida de que — com trabalho, sim, porque nada se consegue sem trabalho — lutando com força, iremos avançando cada vez melhor, teremos cada vez mais uma massa de trabalhadores capacitados e conscientes.

Naturalmente que este tema, ou estes raciocínios, se afastam um pouquinho, se se quer, das questões que estávamos falando acerca da educação operário-camponesa. Mas em certo sentido, quando meditamos acerca destas questões, também estamos aprendendo e também nos estamos educando. Tinha-me esquecido que a tribuna também é uma maneira de utilizá-la para melhorar, quer dizer que antes a tribuna era utilizada para estar fazendo demagogia e politiquice, e hoje é usada para discutir os problemas do país (APLAUSOS).

Bem, voltando ao tema da educação operária e camponesa. Eu dizia que o essencial, de agora em diante, é a qualidade; tem-se estado trabalhando em favor da qualidade. É claro que para preencher todas as necessidades de professores, ainda que no triunfo da Revolução houvesse 10 mil professores sem aulas, não foram suficientes esses 10 mil professores, foi necessário organizar cursos especiais, converter muitos estudantes em professores, converter trabalhadores em professores. E isso não foi suficiente.

Quando se apresentou o problema da educação operário-camponesa, pois é, participaram vários milhares dos professores de instrução primária, mas, ainda, se incorporaram muitos professores amadores. Mas isso não bastava. E os companheiros que foram responsáveis pela educação operário-camponesa inventaram outro tipo de professor, que segundo conheço foi chamado de trabalhador-professor. Quando cresceu o número de operários estudando pensaram como resolver isso, e o resolveram de uma maneira muito correta. E tomara que sempre pudéssemos resolver as coisas assim, de maneira tão correta.

Qual foi a ideia que tiveram? Não havia mais professores, não havia de onde tirar o pessoal, então tiveram a ideia de lançar mão daqueles trabalhadores mais conscientes e com maior nível de educação para que dessem aulas aos operários que estavam nos escalões inferiores. E assim puderam resolver o problema; extraindo os professores dentre os próprios trabalhadores, sem abrir mão da produção resolveram as novas necessidades de professores que surgiram quando aumentou o número de trabalhadores estudando. Essa foi uma solução boa, uma solução revolucionária, uma solução de massa.

Este movimento de estudo com os trabalhadores tem algo também muito interessante. E é que, praticamente, foram resolvidos todos os problemas, improvisando salas de aulas, lançando mão de materiais e resíduos para resolver os problemas dos quadros-negros, os problemas das cadeiras.

Quando se pergunta: quanto custou tudo isso? Pois é quase incrível. Centenas de trabalhadores foram postos a estudar, sem se ter feito praticamente, nenhum investimento em locais novos, utilizando salões, utilizando espaços nas usinas. Porque, praticamente, tiveram que fazer tudo, até fizeram os quadros-negros nem sei com quais materiais aí, e fizeram os quadros-negros, fizeram as cadeiras, fizeram tudo. Centenas de milhares de trabalhadores estudando praticamente com os mesmos recursos que estavam aí. Foi suficiente o espírito dos trabalhadores, a iniciativa dos trabalhadores, a iniciativa das massas, o espírito criador e empreendedor das massas. Frequentemente, nós escutamos essa palavra: as massas, e as massas fazem a história e as massas resolvem. Pois sim, esse é um magnífico exemplo.

Estou certo de que se se tivesse ido procurar uma solução burocrática a esse problema, quantos burocratas se teriam sentado atrás de uma secretária, teriam começado a escrever números — porque, às vezes, parece mentira, a sabedoria se emprega muito mal — e teriam começado a escrever números e mais números, e teriam dito: Bem, para termos 800 mil trabalhadores estudando, precisamos de tanto, de mais quanto, de mais quanto, trinta mil salas de aulas! Tantos milhões, tantas centenas de milhões de orçamento, tanto de cimento, tanto de vigas; ainda, seria preciso importar 200 mil quadros-negros, tantos milhões de pés de madeira pra fazer bancos; tanto disto, tanto do outro. Total: 500 milhões de pesos, dez anos para fazê-lo. E daí começar a discutir com o Ministério das Obras Públicas, com o outro, com o outro, e com os de mais cá e o de mais lá. Pois é incrível.

Sabemos que há centenas de trabalhadores estudando, e se conseguiu resolver com o que havia, resolveu-se de uma maneira revolucionária, resolveu-se de acordo com o espírito das massas, foi uma solução de massa, as massas resolveram. Felizmente, não foram os burocratas os que resolveram o problema porque, caso contrário, nem teríamos centenas de milhar, haveria... bem, não haveria nada. Os burocratas escrevem muitos números e custam muito dinheiro. E o curioso é que, o mais das vezes, o fazem invocando a necessidade de economizar e outras razões.

É preciso entender bem as coisas. Isto não quer dizer — e sempre é preciso estar fazendo esclarecimentos — que seja necessário resolver todos os problemas assim, ou que haja que abolir os números e que... Não, não, isso não quer dizer pôr como exemplo a maneira em que as massas resolvem um problema quando podem, de quantas riquezas, de quantas iniciativas, quantas soluções possíveis há. E assim é como foram resolvidas essas questões.

E porque se resolveu assim? Ah! Porque os companheiros do ministério e os companheiros dos sindicatos trabalharam com espírito de massa. Quer dizer, que se os companheiros que tinham a responsabilidade tivessem agido com espírito burocrático não teriam resolvido nada. E, contudo, resolveram mesmo.
Bem, acharam soluções para os materiais, para os professores; acharam, inventaram e resolveram.

Não podíamos ficar esperando a termos 30 mil professores; porque se ficamos esperando a ter 30 mil professores, perdíamos dez anos. E, com certeza, vamos ter esses 30 mil professores, mas os vamos ter, sobretudo, para toda essa população infantil que está crescendo, vamos ter os professores para essa população infantil que se vem incrementando, os vamos ter para poder dar chance a que os atuais professores de ensino primário se superem e ensinem nas escolas do ensino secundário, e os professores do secundário se superem e ensinem nos institutos pré-universitários e nos institutos tecnológicos. Estamos trabalhando intensamente nisso.

Por exemplo, de 6 mil a 7 mil jovens ingressam em Minas del Frio todos os anos, para se converterem em professores. E no ano que vem uns mil novos professores graduados sairão do Instituto Pedagógico “Makarenko” (APLAUSOS), depois de receberem uma preparação esmerada. De maneira tal que, dentro de alguns meses, temos mil novos professores. Quer dizer, o primeiro contingente das escolas de professores dos planos revolucionários. No outro, sairão outros mil. E um pouco mais em diante já não sairão mil em cada vez, sairão 2 mil em cada graduação, 3 mil em cada graduação, e um pouquinho mais em diante sairão uns 5 mil. Quer dizer, que coisa magnífica!

E não estamos muito longe. Porque já no primeiro curso de Topes de Collantes ingressam, pelo menos, entre 4 mil e 5 mil alunos (ALGUÉM LHE DIZ: “Três mil e quinhentos”) Quanto? Dizem que são menos. Alguns deles teriam ficado a meio do caminho, porque começaram uns cinco mil e tantos. Ora bem, isto é sinal de que estão exigindo mais.

Quer dizer, deste primeiro grupo, quantos entraram nesse curso? (DIZEM-LHE ALGO DO PÚBLICO) Entraram uns seis mil; ficaram uns cinco mil; e acabaram uns 3,500. Então, teremos que fazer ingressar 10 mil; caso contrário não se chega aos cinco mil. Não há outra solução. Faz-se um esforço grande, e se não for suficiente teremos que fazer um esforço maior. E não será difícil porque cada vez é maior o número de graduados da sexta série.
Pensamos que devemos graduar não menos de 5 mil professores primários cada ano. E isso, bom, serão 3.500, mas já é um aumento notável.
Mas devemos tentar chegar a graduar uns cinco mil professores do ensino primário em cada ano. Isso significa uma perspectiva formidável de elevar a qualidade na educação.

Más, além do mais, além do mais, ano após ano se vem estabelecendo a política de ter maior rigor e maior exigência para os graduados da sexta série, do ensino secundário, do pré-universitário. Isto é, que a exigência será cada vez maior, se exigidrá maior preparação. Isso que expôs aqui o companheiro Lázaro é muito correto: que a questão da sexta série seja uma sexta série de verdade.

Não importa quantos se graduem cada ano, mas que se graduem com um nível adequado. É necessário que os companheiros que estão à frente destes trabalhos compreendam que é muito mais importante a qualidade do que o número dos que se formem, e que devemos, persistentemente, perseguir esse propósito; de tal maneira que cada vez sejamos mais exigentes na instrução primária, para podermos ser mais exigentes na instrução de segundo grau, para podermos ser mais exigentes na instrução pré-universitária, e mais exigentes na instrução universitária, ano após ano.

Assim, por exemplo, já na universidade é possível que se comece a ir transferindo o programa de cinco anos para seis anos na escola de medicina. E assim que pudermos, se é preciso estudar sete anos, sete; e se houvesse que estudar dez, dez anos. Quando já muitas das atuais necessidades estiverem satisfeitas, então queremos um médico ainda mais capacitado e um médico com muitos mais conhecimentos. Já não teremos, como hoje, necessidades prementes. Contudo, essas necessidades prementes não nos têm levado a formar médicos com menos capacidade do que antes. Porque é muito importante consignar que, apesar dessas necessidades prementes, hoje se estão formando estudantes de medicina com um nível muito mais alto daquele que se graduavam no passado (APLAUSOS).

Senhores, porque há questões que não se sabem. Aqui tínhamos casos que, às vezes, no passado era tão teórico o ensino que, às vezes, um aluno recebia qualificações brilhantes em partos, e nunca tinha visto uma mulher nem sequer levemente grossa com bata de maternidade. Outros ganhavam prêmios não sei em que matéria, cirurgia de não sei que coisa, e não havia operado ninguém; tinham estudado as matérias pelos livros.

Hoje, combina-se em partes proporcionais a teoria e a prática nos hospitais. E, apesar da urgência, não caiu o nível; elevou-se o nível. Mas esse nível terá que se elevar mais e mais. Isto, apesar de que com os companheiros do Ministério da Saúde Pública nós temos estabelecido uma concorrência. Concorrência entre o quê? Uma concorrência entre a medicina e a agricultura. E alguns dirão: “O que tem a ver a agricultura com a medicina?” E nós dizíamos aos companheiros do Ministério da Saúde Pública que com os 40 mil técnicos agrícolas íamos produzir mais saúde que o Ministério da Saúde Pública e todos os médicos que tivesse para o ano 1974. E que íamos, sobretudo, desenvolver a medicina preventiva. Quer dizer, que íamos procurar que as pessoas não adoecessem para que não passassem pelas mãos dos médicos.

Porque lhes dizíamos que esta medicina terapêutica é uma medicina cruel; claro, cruel em um sentido e muito humana em outro sentido. Porém, quando se visita um hospital se percebe que em um hospital há até 20 operações diárias. É claro que em um hospital se pode apreciar que as pessoas que se vão operar se sentem muito confiadas, muito mais tranquilas, muito mais seguras. Mas, de qualquer forma que seja, têm que passar por um momento desagradável, difícil, a família, o paciente, tudo. E o que devíamos procurar é que o cidadão não adoeça.

Naturalmente, os companheiros do Ministério da Saúde Pública sempre expuseram isso, e sempre puseram a medicina preventiva como a verdadeira solução. E não só colocaram isso, mas também desenvolveram magníficos programas contra as epidemias, prevendo as epidemias têm erradicado praticamente a poliomielite e reduziram extraordinariamente o índice de outras doenças, mediante a medicina preventiva com os planos de vacinação.
Mas, ainda há outro aspecto da medicina preventiva, na alimentação. Isto é, que a medicina preventiva mais profunda é a que é preciso realizar não só nas condições higiênicas, não só nas campanhas de vacinação, mas também na qualidade dos alimentos do cidadão.

Que nós poderíamos, daqui a alguns anos, produzir não só quantidade, mas também qualidade.

Como nós estamos, a fim de contas, em um ato de educação operário-camponesa, me permitem que eu faça uma pequena explicação sobre isso. O que quer dizer a qualidade nos alimentos? Pois quer dizer o seguinte. Talvez muitas pessoas pensem que um tomate maduro, vermelho, bonito, tem as mesmas proteínas que outro tomate igualmente vermelho, maduro e bonito, e pode ocorrer que esse tomate tenha três vezes mais vitaminas do que o outro tomate. E ao ter três vezes mais vitaminas que o outro tomate, o soro sanguíneo das crianças, das pessoas que consomem esse tomate, tenha mais vitaminas que as que consome outro, a saúde, o aumento de peso, seja superior.

No capitalismo as apreciações exteriores se regiam pela quantidade. Os alimentos eram vendidos por libras; não se tinha nada em conta a qualidade do alimento.

E é perfeitamente possível com uma agricultura científica, produzir não só em quantidade, mas também com qualidade, mas não a qualidade pela cor, mas sim pelo valor em elementos, em vitaminas, em proteínas de cada um dos produtos. E isso, naturalmente, só se pode conseguir com uma economia não capitalista, porque a economia capitalista é baseada na quantidade. E nós podemos chegar a desenvolver uma agricultura científica que tenha em conta a quantidade e a qualidade.   

E nós dizíamos aos companheiros do Ministério da Saúde Pública que íamos trabalhar nesse sentido. Quer dizer, não era uma concorrência no sentido de que eles não entendessem isso, porque eles concordam mesmo com isso, foi mais do que uma concorrência, um gracejo competitivo. Porque os companheiros do Ministério da Saúde Pública compreendem isso perfeitamente bem.

E vamos tentar despertar nos estudantes de medicina o interesse pela pesquisa. Não só por formar médicos, mas sim por escolher um grupo de estudantes todos os anos, para as pesquisas médicas. Sobretudo, para que se desenvolvam nas questões da medicina preventiva, e a medicina preventiva tendo em conta as condições do meio.

Porque há zonas de Cuba, por exemplo, onde a maior parte da população possui uma dentição magnífica, e isso obedece a determinados elementos minerais desse solo. Isso quer dizer que as cáries dentais, por exemplo, é um problema que se pode melhorar, se pode superar consideravelmente com medidas preventivas. E em muitos aspectos da medicina se pode fazer a medicina preventiva.

E, futuramente, mais do que magníficos hospitais — embora sempre tenhamos magníficos hospitais, e cada vez melhores e com pessoal com cada vez maior experiência — deveremos trabalhar no outro sentido, no da medicina preventiva.

Bem, tanto no ensino primário com as crianças, como no ensino dos adultos, como em todos os escalões da educação é preciso lutar pela qualidade. Nesse sentido devemos concentrar nossos esforços.

E me falta um detalhe, poderia dizer-se que me faltam duas coisas que queria expor aqui: uma delas é a seguinte. Estes cursos se devem desenvolver a custa da produção? Não. Não deve desenvolver-se a educação a custa da produção.

Por que digo isto? Porque no começo se apresentavam muitas demandas, no sentido de suprimir meia hora de trabalho, ou uma hora de trabalho, para poder dedicá-la aos estudos. Isso seria um erro em muitos casos, não vou dizer em todos os casos. Por quê? Porque, de fato, representaria reduzir o horário do trabalho para sete horas ou para sete horas e meia. E, realmente, estaríamos bem se começamos a reduzir o horário de trabalho antes de desenvolver a técnica, porque seria fazer as coisas ao avesso. Primeiramente, temos que desenvolver a técnica, elevar a produtividade, e depois poderemos reduzir o horário do trabalho. O que não podemos fazer é reduzir o horário do trabalho antes de desenvolver a técnica, porque seria um erro.

Naturalmente, há locais de trabalho que, por razões de matéria prima, ou por dadas circunstâncias, não se perde, não se afeta a produção acabando meia hora antes nesses casos, porque segundo me informaram foram resolvidos determinados casos desses. Mas em todos aqueles casos em que reduzir meia hora ou uma hora seja reduzir as horas de trabalho, seja reduzir a produção, não deve ser aplicada essa fórmula. E que não nos digam que vão achar uma solução, porque nessas sete horas e meia vão trabalhar mais, porque então lhes diríamos: bem, nessas oito horas trabalhem tanto como vão trabalhar nessas sete horas e meia, e depois estudem uma hora. Porque, definitivamente, se alguém confessa que pode fazer um esforço maior, por que não o faz? Acaso não é seu dever fazê-lo? Ou o faz só se lhe dão meia hora para estudar?

Portanto, é necessário que os programas de estudo não sejam feitos a custa da produção. E qualquer pessoa compreende que isso é justo e razoável, porque com um milhão, aproximadamente um milhão de pessoas estudando, imaginemos 800 mil trabalhadores, 800 mil trabalhadores com uma hora que percam significam 800 mil horas de trabalho; 800 mil horas de trabalho seria o trabalho de 100 mil trabalhadores, cem mil trabalhadores! Cem mil trabalhadores podem produzir valores por 500 mil pesos ou mais, ou algo menos, mas bem, poderia colocar-se uma média de 500 mil pesos diários; 500 mil pesos diários em um ano significam uma produção de perto de 200 milhões de pesos em um ano.

Uma hora, meia hora, um minuto que se tira à produção significa milhões de pesos de perdas para o país. Por isso, o mérito assenta em desenvolver esse plano e não sacrificar a produção, porque o outro não seria um mérito e nossos trabalhadores não mereceriam nenhum elogio especial se começassem agora, fazendo as coisas ao avesso, diminuindo a produção, diminuindo a jornada de trabalho, antes de elevar a técnica, antes de desenvolver a produção e, sobretudo, a produtividade do trabalho. Porque estudamos por muitas razões mas, entre elas, estudamos para elevar a produtividade do trabalho, e este é um dos objetivos fundamentais do estudo: a elevação da produtividade do trabalho. Portanto, é bom que se tenha presente este critério: que nunca deve fazer-se este programa a custa da produção.

E há outra coisa: estamos engajados nesta batalha da sexta série. Estamos engajados nesta batalha da sexta série, mas em breve temos pela frente uma grande batalha que é a batalha da safra (APLAUSOS). E deveras que não fazemos nada se aprendemos muito e não produzimos muito açúcar também, porque não fazemos nada se aprendemos muito e não desenvolvemos nossa economia, se não adquirimos os recursos econômicos para poder empregar nossos conhecimentos técnicos.

E por isso, com o mesmo ímpeto, com o mesmo entusiasmo com que nossas organizações de massa, com que nossas organizações sindicais estão travando esta batalha, sem separarmos uma coisa doutra, como parte da mesma coisa, como parte do mesmo propósito, temos é que travar a batalha da safra.

Eu repito o que dissemos há alguns dias: vencer a batalha da safra é vencermos a batalha da economia. E com muita mais razão, nos próximos anos, em que não teremos máquinas, com muita mais razão se consideramos que os preços do açúcar têm baixado consideravelmente e que parte das consequências desta redução dos preços a podemos compensar com aumentos da produção. E cana há o bastante, não vamos dizer quanta há, mais ou menos, quando acabarmos a safra, se acaso não resulta outra coisa mais conveniente, diremos quantas toneladas de açúcar temos produzido; mas lhes posso dizer que cana há o bastante, o problema é cortá-la, transportá-la e moê-la (APLAUSOS). E nosso povo tem que ter o propósito de que não fique uma cana em pé.

E, finalmente, eu quero dizer o seguinte. Os companheiros do ministério têm estado muito preocupados porque, na medida em que crescia o movimento educativo, se deparavam com que necessitavam mais e mais e mais milhões. Mas os milhões não se podem fabricar em uma tipografia, não podemos continuar avançando e para poder continuar avançando fabricar papéis. Eles estavam calculando que, atualmente, já a educação operário-camponesa custava 12 milhões de pesos e que os recursos econômicos estavam limitados. Então eu lhes propus uma ideia, a ideia não é das mais simpáticas, naturalmente, mas como nós não estamos para dizer coisas simpáticas, mas sim coisas justas, eu a vou dizer. E eu lhes propunha que por que não expor aos trabalhadores, a todos aqueles que estão na educação operário-camponesa, que contribuam cm um peso mensal aos programas da educação operário-camponesa (APLAUSOS).

Mas isso não pode ser por decreto porque, afinal, na educação o país gasta centenas de milhões de pesos, logicamente os recursos nossos estão limitados. Se nós queremos fazer mais não podemos fazê-lo simplesmente inventando o dinheiro; se queremos continuar avançando é necessário que haja uma contribuição do povo.

O ensino, como vocês sabem, é gratuito em todos os níveis, mas penso que bem vale a pena que um esforço como o que se está fazendo, que um movimento de tamanhas perspectivas como este, venha acompanhado de um bocado de sacrifício e que o povo participe de uma maneira direta nas despesas que o programa ocasiona. E seria bom para estes planos e bom para a economia do país, ao mesmo tempo, que os trabalhadores contribuíssem.   

Mas como isto não é correto que se faça mediante um decreto, o que propomos é que em cada sala de aula organizem uma assembleia e considerem a iniciativa; quer dizer, de que todos aqueles que estejam participando dos programas de educação operária e camponesa contribuam com um peso para sufragar as despesas deste programa (APLAUSOS). Mas tem que ser, realmente, uma coisa consciente dos trabalhadores, não porque o companheiro do sindicato se ponha em pé e proponha, e então os companheiros pensem que estão no dever de apoiar isso, não porque os companheiros da organização de base do Partido se ponham em pé e proponham, mas simplesmente se os alunos que estão frequentando qualquer sala de aula, de uma maneira majoritária, plenamente majoritária e consciente, pensem que é justo, pensem que é correto, discutam essa medida e a aprovem se pensem que devem aprová-la, se não pensem que devem aprová-la, porque os salários sejam muito baixos, porque represente muitos sacrifícios, ou porque algum não possa, realmente não possa, então resolvam o problema como estimarem conveniente: se devem pagar todos, ou se devem pagar aqueles que possam, ou se aqueles que podem mais possam pagar, inclusive, por aquele que não pode, em definitiva, que procurem uma solução examinada, discutida e plenamente voluntária. Quer dizer, que essa decisão seja adotada por um grupo de operários que a adotem de maneira espontânea, de maneira consciente, porque compreendem que é justo e é correto.

Um peso pode significar mais para alguns, para outros pode significar menos. Mas nós estamos certos de que na mesma medida em que os trabalhadores que estejam frequentando as aulas façam um esforço pessoal, apreciarão mais o que estão fazendo. Com certeza que, inclusive, se esforçarão mais, porque perceberão de uma maneira mais clara e mais direta o que isso custa, que isso custa dinheiro.

Naturalmente, que com a política que está aplicando a Revolução — que não é uma política inflacionária, mas tudo ao contrário — com o propósito que tem a Revolução de economizar, de poupar, com o propósito que tem a Revolução de combater o esbanjamento, com o propósito que tem a Revolução de impedir todas essas tendências de injetar mais e mais dinheiro na circulação, se torna necessário esse esforço, se torna necessário esse sacrifício para impulsioná-lo. Porque se atualmente se investem 12 milhões e se podem arrecadar cinco milhões mais, seis milhões mais, ou dez milhões de pesos mais, isto significará que se poderão investir neste movimento, e poderemos ter mais materiais e poderemos ter mais livros, e poderemos ter mais recursos, poderemos desenvolver e ampliar em todas suas possibilidades este formidável movimento revolucionário que se está estendendo.

E por isso, ninguém gosta ter que estar colocando coisas acerca do dinheiro, mas eu assumi a responsabilidade de expor esta questão aqui, nesta assembleia. E se vocês concordam, a economia do país sairá ganhando, o que quer dizer que a economia dos trabalhadores sairá ganhando (APLAUSOS).

Nós estamos certos de que com a força que tem este movimento, com o entusiasmo que há, isso não é nada, não será nada comparado com o entusiasmo dos anos vindouros. Nós estamos completamente certos de que esse interesse, esta consciência da necessidade de estudar irá crescendo dia a dia, que será cada vez maior. E, sinceramente, nenhuma outra coisa pode dar-nos mais confiança, nenhuma outra coisa pode dar-nos mais segurança, nenhuma outra coisa pode oferecer ao nosso país maiores perspectivas, nenhuma outra coisa pode dar-nos mais o direito de dizer:

Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado