DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE EM CHEFE FIDEL CASTRO RUZ, EM CIUDAD LIBERTAD, EM 31 DE DEZEMBRO DE 1960
Data:
Distintos visitantes que nos acompanham esta noite;
Professores e professoras;º
Companheiros e companheiras:
A Revolução entra hoje no seu terceiro ano. Felizmente, os cubanos poderemos ir contando os anos da Revolução com o calendário. Felizmente, um dia Primeiro de Janeiro chegou ao poder a Revolução. E este terceiro ano é o “Ano da Educação” (APLAUSOS).
Para os homens que, há dois anos, vimos terminar uma etapa de luta, para começar uma etapa de trabalho, é realmente emocionante poder reunir-nos aqui, esta noite, com dez mil professores (APLAUSOS), e esperar o “Ano da Educação” com dez mil professores. E esperá-lo, justamente aqui... aqui, onde, por tantos anos, imperou a força que manteve a injustiça e o crime; aqui, justamente, ante o Ministério da Educação, que era para o nosso país, antes, não o edifício da educação, mas o da opressão.
Este edifício era o “Pentágono” da tirania (EXCLAMAÇÕES), e este acampamento era o acampamento básico da tirania, e sempre foi um desejo do povo, sempre foi um sonho do povo – como tantos sonhos teve o povo, e que os viu realizados – era um sonho, converter, algum dia, este acampamento, em uma grande escola, e era um sonho de todos nós.
Nenhum lugar mais representativo e simbólico, para esperar o “Ano da Educação”, que este acampamento, convertido em Ministério da Educação, Cidade Escolar (APLAUSOS), residência de numerosos bolsistas universitários (APLAUSOS) e que chegará a ser um grande centro de pesquisas pedagógicas.
Das obras da Revolução, poucas tão emocionantes como esta, poucas tão extraordinariamente espirituais como esta, porque, sem esta, que é a primeira pedra, não seria possível edificar todo o resto. Acampamentos convertidos em escolas, ou seja, opressão convertida em educação, força convertida em persuasão e em razão; lápis onde havia baionetas, livros onde havia tratados militares. Já há 40 mil crianças, neste momento, estudando em antigos acampamentos militares, e já não resta nenhuma das grandes fortalezas militares do país, que não esteja convertida em centro escolar (APLAUSOS).
Mas isso era suficiente para ficarmos satisfeitos? Não. A Revolução, ao chegar ao poder, encontrou 22 mil professores e cerca de um milhão de crianças que ainda não tinham escolas nem professores. E hoje, neste momento, o nosso país conta com 33 mil professores (APLAUSOS). Quer dizer que a Revolução aumentou, em apenas dois anos, 30% dos professores que tinham conseguido juntar em 50 anos, ou melhor, em 58 anos. E não resta hoje uma só região de Cuba sem professores.
Quantas vezes clamamos pelos professores! E foi tão simples dar professores ao povo. Era difícil resolver o problema nas montanhas, e chamamos o povo, para pedir voluntários que estivessem dispostos a educar, nos mais afastados recantos do país; e estudantes responderam em massa, oferecendo-se; e neste momento já há um professor em cada um dos mais afastados recantos do país (APLAUSOS). E nossa pátria é o primeiro país da América que atende a cem por cento das suas necessidades escolares. Conseguimos isso, em dois anos, com a Revolução.
E um organismo internacional que se dedicou ao estudo e à busca de soluções para este problema na América Latina, considerou – esse organismo das Nações Unidas – que se podia fazer um programa para resolver o problema em vários anos, em mais de 10 anos, e contemplava a possibilidade de que, para o ano de 1970 – mais que a possibilidade, a aspiração –, fossem satisfeitas todas as necessidades escolares dos povos da América Latina. E dizemos que isto é uma possibilidade, simplesmente uma aspiração. Aspiração que nós realizamos em apenas dois anos, ou seja, nós economizamos oito anos, em relação ao que se considerava um grande programa de solução dos problemas da educação, neste continente. E essa possibilidade de que se resolvam também, em toda a América, e que, inclusive, o resolvam antes de 1970, de que o resolvam em dois anos, como nós, dependerá de que, em toda a América, haja também uma revolução capaz de realizar a obra que fizemos aqui (APLAUSOS).
E a esses governantes submissos, que rompem connosco, a esses governantes submissos que querem proscrever-nos deste continente, hoje, Primeiro de Janeiro, início do terceiro ano da Revolução em Cuba, “Ano da Educação”, nós lhes perguntamos: Quando vão enviar professores aos seus povos? Quando vão enviar professores – no Peru, por exemplo –, até os mais afastados recantos das montanhas?
Hoje, aos que traiçoeiramente romperam com o nosso país, cumprindo ordens do Pentágono ianque (EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”), nós queremos fazer uma só pergunta. Poderíamos fazer-lhes mil perguntas, mas hoje vamos fazer-lhes apenas uma, e é suficiente: em que ano, a rançada aristocracia que explora aquele país, a quadrilha politiqueira e militar que explora aquele país vai satisfazer todas as necessidades da educação? Que diga quando. Que não exponha razões para romper connosco. Que diga: quando vai fazer pela educação do povo peruano o que fizemos pelo povo cubano? Porque, no Peru, também há milhões de crianças sem professores; no Peru também esperam pelo dia em que os governantes possam anunciar ao povo o que nós, em apenas dois anos, anunciamos esta noite. E, além disso, queremos afirmar aqui que é totalmente impossível que governantes lacaios, exploradores e vendidos, que é impossível que alguma oligarquia exploradora possa, nem em dois anos, nem em um século, resolver este problema, nem nenhum outro problema, porque, na verdade, desde que as últimas batalhas travadas por Bolívar iniciaram a independência da América, já decorreu quase um século e meio, e em um século e meio as oligarquias exploradoras, as quadrilhas politiqueiras e as camarilhas sanguinárias de militares, em um século e meio, não puderam fazer o que a Revolução Cubana fez em dois anos (APLAUSOS).
Rompam connosco, não importa! O povo, um dia, os chamará a contas! (APLAUSOS.) Rompam connosco, não importa! Os povos, mais cedo ou mais tarde, conseguirão realizar, em dois anos, o que o privilégio e a exploração não puderam fazer em século e meio.
E estamos falando só da educação. Por acaso, achamos suficiente levar um professor a cada recanto do nosso país? Não. Havia centenas de milhares de analfabetos adultos que não estavam em condições de receber os mesmos benefícios que as crianças. E o Governo Revolucionário, junto com o povo, propôs uma meta mais ambiciosa ainda: a meta de erradicar, totalmente, o analfabetismo, em apenas um ano (APLAUSOS).
E por que nos propusemos a erradicar o analfabetismo em apenas um ano? Porque a Revolução... a Revolução realiza o seu trabalho depressa; a Revolução trabalha rápido e avança rápido. Por isso, vamos fazer em um ano, porque só as revoluções são capazes de realizar essas obras. E assim, quando tivermos cumprido o programa de erradicar o analfabetismo em um ano, poderemos também proclamar, no início do quarto ano da Revolução, que a Revolução Cubana realizou, em um ano, o que o privilégio e as oligarquias exploradoras não puderam realizar na América, em um século e meio (APLAUSOS).
Nos temos esse propósito e o cumpriremos. Estamos certos de que o cumpriremos, estamos certos de que poderemos proclamar, ante o mundo, que no nosso país não resta uma só pessoa que não saiba ler e escrever (APLAUSOS). E, para isso, vamos contar com vocês, com os professores, em primeiro lugar, e com todo o povo. E, se os esforços que já foram feitos na organização dessa campanha não forem suficientes, mobilizaremos mais recursos e mais esforços. E, se o número de professores e de pessoas que já estão alfabetizando não for suficiente, então adiantaremos o término do ano lectivo e mobilizaremos a todos os estudantes, do sexto ano em diante (APLAUSOS). E, do mês de Maio até 31 de Dezembro, do mesmo modo que organizamos e mobilizamos as milícias, organizaremos o exército dos educadores e o enviaremos a todos os recantos do país, de maneira que, se cada analfabeto necessitar um professor, poremos um professor a cada analfabeto! (APLAUSOS). E já está sendo realizada a impressão de dois milhões de cartilhas de alfabetização.
Por isso, temos a certeza de que a Revolução cumprirá também este propósito, como cumprirá todos os seus propósitos. Disso, íamos tratar esta noite, por isso nos reunimos esta noite, esse era o nosso propósito: falar aqui de educação, de alfabetização, de professores, de livros e de canetas. Para isso, nos reunimos esta noite, e só para fins como estes trabalha a Revolução; e obras como estas são os únicos propósitos da Revolução, obras como estas constituem a nossa “culpa”.
Queríamos celebrar este aniversário com a companhia de mil distintos e valiosos representantes do mundo todo (APLAUSOS) e com dez mil professores, e comemorar também, com o grande desfile do dia 2, a libertação do nosso país. Entretanto o nosso desejo de hoje falar de educação, e só de educação, não poderá ser cumprido, devido à necessidade de tratar também de outras questões.
Realizamos esta reunião e este banquete, em um momento de grande tensão e de grande perigo. E, assim, que contraste o desta noite! Que contraste, que mostra dois grandes esforços da pátria, duas grandes aspirações da pátria. O contraste entre este banquete de professores e a mobilização das milícias e das Forças Armadas Revolucionárias (APLAUSOS), que nos levou a realizar este esforço em defesa da integridade nacional.
E assim, neste instante, só nos arredores da capital e na capital, há dezenas de milhares de homens com as armas nas mãos, nas suas trincheiras! (APLAUSOS), e alertas! (EXCLAMAÇÕES de: “Venceremos!” “Venceremos!”). Dezenas de milhares de homens estão em posições estratégicas e em guarda, para que a nossa pátria não corra o risco de um ataque de surpresa, de um golpe traiçoeiro do imperialismo. Porque a diferença, ante uma agressão, entre um ataque ao país que surpreenda os combatentes nas suas casas, e um ataque que venha quando estão nas suas trincheiras, há uma diferença de um para cem, de um para mil, ou de um ao infinito, entre conseguirem cumprir um propósito criminal e não conseguirem cumprir, simplesmente. E nós não queremos que a história nos repreenda, ou possa repreender-nos; que, ante razões poderosas, nós nos deixássemos surpreender.
E, por isso, no mesmo minuto em que tivemos a certeza do perigo, pusemos em marcha toda a força do povo, em todo o território nacional (APLAUSOS). E, como prova de que os povos que lutam pela sua libertação não podem descuidar-se nunca, como prova de que os povos que lutam por uma grande aspiração, por uma muito justa aspiração, não podem se iludir, quando mais calma havia no ambiente, quando mais tranquilo e pacífico parecia o panorama, estávamos, na verdade, mais perto do perigo. E esse perigo obedece a essa lei que os exploradores dos povos querem impor ao mundo, essa lei que lhe impuseram ao longo da história: o emprego da força e do poder, para submeter os povos, sobretudo se são povos pequenos; o emprego do poder e da força, para manter a exploração sobre o nosso país, e mantê-la sobre toda a América.
É tão profundo o ressentimento do imperialismo, é tão grande o ódio contra a nossa justa Revolução, que não querem resignar-se a deixar de dar o golpe criminal contra o nosso país. E sobretudo neste momento, em que termina uma gestão nos Estados Unidos, e vai haver uma mudança de governo; esta administração que levou os Estados Unidos aos maiores reveses, que levou os Estados Unidos por um caminho de desacertos, que lhe granjeou a antipatia da imensa maioria do mundo – não ao povo norte-americano –, que vê com tristeza como foi conduzida e governada a nação, em direcção aos piores perigos para a humanidade; como foram aproximando-a, paulatinamente, dos imensos riscos da guerra, com uma política cada dia mais voraz, mais agressiva e mais inábil, da qual, para dar apenas um indício, basta dizer que um dos altos oficiais do exército nazista é hoje um dos principais chefes do exército da OTAN; basta dizer que oficiais nazistas, que invadiram a mais de uma dúzia de povos na Europa, são hoje chefes militares da OTAN, adoptados pelo imperialismo, que assim traiu, de maneira tão desprezível, às centenas de milhares de vidas norte-americanas que caíram lutando contra o fascismo e contra o nazismo (APLAUSOS).
Bastaria apenas isto, esta pergunta também – porque, para pôr em evidência as causas perversas, basta uma pergunta –, e poderíamos perguntar ao governo dos Estados Unidos: o que foi feito dos princípios em nome dos quais tantos norte-americanos deram a vida, lutando contra esses mesmos oficiais nazistas, para que hoje seja o governo dos Estados Unidos que os ponha à frente, já não apenas dos alemães, mas que os ponha, inclusive, a dirigir soldados norte-americanos? (APLAUSOS.) Como também poderíamos perguntar ao governo da França: o que foi feito da dignidade da França, depois que consentiu em que esses oficiais nazistas – que um dia invadiram o seu território, mataram a milhões de franceses e os fizeram viver sob terrível opressão, durante vários anos, que foram como séculos para a França –, em que esses mesmos oficiais fundem hoje bases militares no território nacional francês?
Para que os povos compreendam, para que as causas perversas sejam desmascaradas, não precisa de mais que uma pergunta. E poderiam ser feitas mil perguntas, para desmascará-los, não uma vez, mas mil vezes. As causas perversas não têm defesa possível, e por isso apelam à agressão e à força. E esse é, simplesmente, o nosso caso: a causa perversa do imperialismo, a causa perversa desse governo imperialista leva-o a aproveitar os seus últimos dias de mandato, para forjar uma cobarde e criminal agressão contra o nosso país.
Muitos se haviam perguntado se Eisenhower, nos seus últimos dias, e antes de entregar o governo, quer dizer, se o imperialismo, antes da mudança de administração, não decidiria tirar-nos do caminho e apresentar os factos consumados, aproveitando-se da conjuntura, para que a nova administração jogasse a responsabilidade sobre a velha administração, que está terminando.
E assim, nos últimos dias do mês de Dezembro, chegou-nos uma informação, de fonte muito veraz, comunicando-nos que a Agência Central de Inteligência, dirigida por Allen Dulles (EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”), tinha forjado um plano de provocação ao nosso país, isto é, tinha forjado um plano para criar um incidente fictício, viabilizar um incidente no nosso território, ou nas cercanias das nossas costas – escutem bem: um incidente em nosso território ou nas cercanias das nossas costas –, inventar o incidente, propiciá-lo, e de toda forma levar adiante o plano, que consistia em valer-se desse incidente provocado, para propiciar uma intervenção militar das forças imperialistas no território nacional.
A notícia e os dados nos preocuparam seriamente, a ponto de o governo Revolucionário decidir enviar o chanceler Raúl Roa, com toda a urgência (APLAUSOS), às Nações Unidas, para denunciar o plano e alertar a opinião pública mundial de que, nos últimos 18 dias do mandato da actual administração nos Estados Unidos, haviam decidido realizar a provocação e levar a agressão a vias de fato.
E, já com essa informação do governo Revolucionário, começaram a aparecer novos sintomas, novos indícios de que o plano praticamente estava em marcha. Eles haviam pensado o incidente provocador, mas, como consideravam necessário preparar previamente o terreno na América Latina; como consideravam necessário buscar a colaboração dos governos – de determinados governos da América Latina –, e como, para preparar essas condições, não se podia falar de um incidente futuro, porém tinham de dizer algo aos governos da América Latina, para prepará-los, para levá-los a determinados actos contra nós; e como não podiam dizer que ia acontecer um incidente – um incidente que naturalmente eles tinham planeado –, e tinham de dizer-lhes outra coisa, sem escrúpulo de nenhum tipo, apelaram a uma mentira absurda, que é uma verdadeira piada cínica com os próprios governos marionetas da América Latina, porque nem sequer lhes dizem a verdade; porque, inclusive com mentiras, tentavam preparar condições. E, depois de preparadas as condições e obtida a aprovação desses governos, passar a fabricar o incidente e levar a cabo a agressão.
Mas o que aconteceu? É que nós os surpreendemos no meio do caminho; nós os surpreendemos “com a mão na massa” e, no meio do caminho, conseguimos perceber o plano e as intenções e sair no seu encalço.
Qual foi o primeiro indício, além da informação veraz, que nós já tínhamos há alguns dias? Esse indício, que veio a demonstrar, de maneira patente, que se tramava algo grave, foi um cabograma procedente do Uruguai, que no dia de ontem comunicava o seguinte:
“Montevideu 30. O governo dos Estados Unidos comunicou aos governos latino-americanos que intervirá militarmente em Cuba ‘para impedir que se instalem na ilha 17 rampas para lançamento de mísseis russos’, segundo afirma hoje o vespertino El Diario.
“Segundo o periódico, o governo uruguaio foi informado oficialmente da decisão de Washington, por um informe que os Estados Unidos enviaram pessoalmente, por intermédio do embaixador uruguaio em Washington e na OEA, Carlos Clulow, que chegou recentemente aqui, em licença.
“O diário diz que se calcula que esse informe confidencial foi enviado também aos governos do resto da América Latina, para não pegar ninguém de surpresa, para que ninguém se surpreenda com a atitude dos Estados Unidos frente a Cuba.
“A informação publicada pelo citado vespertino afirma que ‘o informe dá a conhecer que, por enquanto, deteve-se a construção de rampas’, mas que ‘a intervenção dos Estados Unidos se fará efectiva, caso se continue com a referida construção’.
“No informe, que haviam enviado a todos os governos latino-americanos, os Estados Unidos acusam a Cuba de ‘fomentar’ todos os movimentos populares de inquietação que se realizam em toda a América.”
Simultaneamente se anunciou, no mesmo dia, sem que tivesse ocorrido o menor problema, nem mesmo a menor queixa, que o governo do Peru rompeu relações com o governo de Cuba. E, por outra fonte, soube-se dos informes que os Estados Unidos tinham enviado a esses governos. Mas, até o dia de ontem, foi um cabograma que reflectiu a informação de um periódico, foi um cabograma de Prensa Latina, que não está, precisamente, a serviço do imperialismo, que lançou a advertência (APLAUSOS).
Entretanto, no dia de hoje, não um cabograma de Prensa Latina, mas um cabograma da AP diz assim:
“O chanceler uruguaio, Homero Martínez Montero, hoje declinou confirmar ou negar informes atribuídos ao embaixador do seu país em Washington que diziam que ‘a União Soviética está instalando bases para mísseis guiados em Cuba’.
“O embaixador Carlos Clulow teve um encontro ontem, a portas fechadas, com o Conselho Nacional de governo.
“Os matutinos, citando fonte altamente fidedigna, disseram que Clulow ficou sabendo, em Washington, que foguetes nucleares estavam sendo estabelecidos em Cuba, dirigidos contra os Estados Unidos.
“Essas fontes assinalavam que o conselho estava visivelmente alarmado com o informe. Disseram que Clulow obteve a informação de círculos cuja honestidade está acima de qualquer suspeita.”
E outro cabograma:
“O chanceler Martínez Montero – ou seja, o Chanceler do Uruguai – reconheceu que Clulow havia apresentado um extenso informe ao Conselho Executivo. O Conselho – acrescentou – acordou que o informe era de natureza reservada. Não creio que, sob tais circunstâncias, eu possa dizer algo mais”.
Ou seja, o Chanceler do Uruguai declara oficialmente que o informe apresentado pelo Embaixador do Uruguai na OEA era de natureza reservada e que, sob tais circunstancias, ele não podia declarar mais. Mas o que ele não disse, foi dito pelos jornais, porque, evidentemente, a comunicação enviada de Washington produziu “comoção” no seio dos nove membros do Conselho do Governo do Uruguai, e, naturalmente, os distintos jornais relacionados com esses distintos funcionários políticos, funcionários e dirigentes políticos, divulgaram o conteúdo da informação.
E, assim, o cabo da AP continua:
“O habitualmente bem informado El País – diz a AP – diz que estão chegando a Cuba materiais para construir plataformas de lançamento que estão destinadas a mísseis nucleares.
“O diário acrescentou: ‘tão próximos às grandes cidades dos Estados Unidos, esses mísseis constituem um risco máximo; se estes fatos puderem ser confirmados, a calma admirável mostrada pelo governo dos Estados Unidos se desvanecerá; acções para rechaçar esses planos agressivos seriam tomadas de imediato.’
“O diário católico El Bien Público – continua dizendo o cabo da AP – citou fontes autorizadas, como se dissesse que Clulow, especificamente, acusou os russos de instalar as bases de mísseis, com o fim, eventual, de lançar uma agressão armada contra os Estados Unidos.”
E este era um cabo da AP já com versões de todos os periódicos, que explicavam o conteúdo do informe enviado de Washington. E o conteúdo do informe enviado ao governo do Uruguai, e enviado aos demais governos, é, simplesmente, que em Cuba estão sendo construídas 17 rampas de mísseis nucleares. E, claro, a conclusão: se estão construindo rampas de mísseis nucleares, então, simplesmente, “acções para rechaçar tais planos agressivos seriam tomadas de imediato”.
Ou seja que, forjado o plano de agressão mediante um incidente provocado – e nós tomamos todas as medidas possíveis, para evitar o menor atrito que pudesse ajudar o plano de provocação –, enquanto decidem uma acção, e a Agência Central de Inteligência a projecta, como têm de preparar as condições com os governos da América Latina e obter a sua aprovação prévia, não podem falar de um incidente, porque poderiam perguntar como eles sabem que vai acontecer um incidente. E o que eles dizem, então? Lançam a versão mais violenta, mais absurda e mais ridícula, inventam, sem qualquer escrúpulo, uma grande mentira; e, numa burla descomunal, informam aos governos, muito seriamente, e os embaixadores viajam de Washington até o Uruguai, e reúnem com urgência o Conselho de Governo, para comunicar a grande notícia de que, em Cuba, estão sendo construídas rampas e que, em consequência, diante desses planos de agressão, o governo dos Estados Unidos tinha decidido intervir em Cuba.
Ou seja, com uma mentira dessa índole, surpreendendo esses governos, já predispostos a serem surpreendidos, com essa bomba que jogam ali, logicamente obtêm o que obtiveram do Peru, o que possivelmente obterão do Uruguai e que obterão de uma grande parte dos governos da América Latina: a aprovação para intervir, e, como diz esse cabograma, “para que ninguém se surpreenda com a atitude dos Estados Unidos frente a Cuba”.
Eram fatos evidentes demais e que, unidos aos informes que o governo Revolucionário já tinha, eram um indício muito claro de que o plano já estava em marcha, pois, do nada, em 31 ou 30 de Dezembro, quando, em geral, os funcionários nem se reúnem; quando, em geral, estão de férias; quando, em geral, nem sequer se tomam medidas, de surpresa, fazem reuniões urgentes, os Conselhos de Ministros se reúnem, tomam decisões de rompimento; ou seja, actos de natureza extraordinária, justamente nos últimos dias de Dezembro, quando nós tínhamos informações dos planos de provocação e de agressão para os primeiros dias de Janeiro.
E, diante disso, o que fez o governo Revolucionário? Em primeiro lugar, enviou o seu Chanceler à ONU, para alertar a opinião pública mundial; em segundo lugar, alertou o povo e, simultaneamente, isto é, imediatamente, mobilizou as forças revolucionárias, para que, em todo caso, não surpreendam nenhum combatente em casa. Porque nós estamos conscientes de que há um grande erro de avaliação, na apreciação do governo imperialista, e esses erros de avaliação são os que levaram alguns governos, não só uma vez, mas muitas vezes, a realizar acções desastrosas. Temos certeza de que há um erro de avaliação, temos certeza de que os imperialistas pensam que a intervenção em Cuba é uma espécie de feriado; os imperialistas, com toda a certeza, pensam que é uma tarefa de horas, e que poderão apresentar-se ao mundo com os fatos consumados. Nós temos certeza de que alguma avaliação muito errónea está servindo de base a esses planos.
O que fizemos, então? Denunciamos o plano imperialista ao mundo, alertamos o mundo sobre o perigo que o nosso país está correndo, nestes últimos 18 dias da administração actual do governo imperialista e, ao mesmo tempo, preparamos o povo, mobilizamos o povo e adoptamos as medidas que podem ajudar a persuadir os imperialistas de que não será uma parada militar, de que não será um feriado (APLAUSOS), para persuadir os imperialistas de que estão equivocados.
Estamos fazendo um grande esforço para evitar que a agressão se concretize, e uma parte desse esforço é tornar difícil a agressão; uma parte do esforço é tomar todas as medidas possíveis, para que se persuadam de que estão cometendo um grande erro de avaliação e que, se querem invadir-nos, para invadir-nos e para destruir a resistência – que de nenhuma maneira poderiam destruí-la em algumas horas, e que nem a destruiriam nunca, porque, enquanto houver um homem ou uma mulher com vergonha neste país (APLAUSOS), haverá resistência –, para que se convençam de que, com alguns milhares de paraquedistas e alguns barcos, não vão tomar a capital da República (EXCLAMAÇÕES de: “Nunca!”), nem vão tomar a capital do Oriente (EXCLAMAÇÕES de: “Nunca!”), nem vão tomar as principais cidades de Cuba; porque, para atacar as posições que defendem a capital, teriam de empregar forças muito mais numerosas que as que, possivelmente, calcularam; porque, para tentar um ataque, tem de reunir grandes efectivos; e lhes custaria mais pôr um pé nos territórios que circundam a nossa capital, lhes custaria mais que o que lhes custou desembarcar na Normandia ou em Okinawa (APLAUSOS).
Essa é uma das coisas que fizemos: tornar difícil a agressão, e, para isso, trabalhamos intensamente. E por isso, neste momento, a nossa capital e os pontos fundamentais do nosso país podem sentir-se defendidos; e a nossa cidadania pode confiar nas dezenas e dezenas de milhares de homens que neste momento estão nos seus postos (APLAUSOS).
Nós temos a obrigação de defender, até a última gota de nossa energia, o que estamos fazendo (APLAUSOS). Querem destruir a obra da Revolução e querem destruir o exemplo da Revolução. E, assim, o povo que reúne os seus professores, o povo que, em dois anos, ofereceu professores a todas as crianças do país, o povo que se dispõe a esperar o novo ano com um formidável plano de erradicar a incultura, o povo que se reúne para levar a luz a todos os seus filhos, enquanto o povo forja os seus planos, os inimigos dos povos forjam os deles; e, enquanto nós trabalhamos para fazer luz, eles trabalham para mergulhar-nos na escuridão, na escravidão e no atraso.
Esses são os grandes contrastes, que nos obrigam a lançar mão de todas as nossas forças, para cumprir os nossos objectivos e não abandonar nenhum plano. E assim, nem mesmo essas circunstâncias fizeram que se suspendesse este acto; e nem mesmo essas circunstâncias fizeram que deixássemos de receber o “Ano da Educação”; nem mesmo essas circunstâncias impediram, nem impedirão, a reunião dos dez mil professores. Essas dezenas de milhares de homens estão no seus postos, para que todas as obras da Revolução – e esta não é mais que uma das tantas obras da Revolução – sejam levadas em frente. E as levaremos. E não poderão impedir porque, no peito de cada homem que hoje está no seu posto, no peito de cada combatente que, serenamente, espera qualquer ataque, há esse sentimento profundo de que está ali por algo e para algo; no peito e na mente desse homem está o pensamento da sua pátria; na obra realizada pela sua pátria estão esses sonhos, e estão todos os sonhos que idealizamos.
E esses homens serão sempre superiores aos que, sem razão, sem levar nada no coração nem na mente, levando apenas armas assassinas, levando apenas o estandarte do crime e da exploração dos povos, levando apenas o estandarte dos que ameaçam o progresso da humanidade, levando apenas o estandarte dos que ressuscitam o nazismo, levando apenas o estandarte dos que põem em perigo a paz do mundo, levando o estandarte do mal, do crime, da sem-razão e da injustiça (APLAUSOS), terão de enfrentar os homens que levam o estandarte da razão, que levam o peito e a mente cheios de nobres razões para lutar, que levam o estandarte do bem; e que, portanto, saberão morrer nos seus postos, saberão ter muito mais valor que os agressores. E porque, além de tudo, estão na sua terra! Sim, no seu pedaço de pátria! (APLAUSOS), defendendo este pedaço da pátria, e convertido em uma única coisa com ela, com a terra da pátria. Porque morrer defendendo a pátria, morrer com um estandarte justo levantado contra os que, sem nenhuma razão e guiados apenas pela ambição indigna e repugnante, nos agridem, isso será sempre, para qualquer cubano, uma grande glória! E para a pátria, uma grande glória! E para os agressores, uma grande desonra, e uma grande derrota! (APLAUSOS)
Nós denunciamos aqui, responsavelmente, esses planos. Nós negamos, categoricamente, a criminal mentira que inventaram para enganá-los, e conseguir que os governos da América Latina fizessem o seu jogo, porque, nunca se falou aqui de “rampa de mísseis” e de mísseis, nós só sabemos do míssil ianque que caiu sobre o território nacional (APLAUSOS).
E é digno de analisar que os mesmos que pagam aos terroristas; os mesmos que pretendem inundar o nosso país de explosivos, de material inflamável e de metralha; os mesmos que nem sequer apagam a marca dos explosivos do seu exército que mandam para cá; os mesmos que lhes facilitaram bases, desde as quais realizaram múltiplas agressões contra o nosso território; os mesmos que não passa uma semana sem que joguem armas de paraquedas ou tentem desembarcar armas; os mesmos que estão nos agredindo incessantemente, pondo em perigo a nossa segurança, violando o nosso território; os mesmos que, além disso, cercaram uma nação com bases nucleares; os mesmos que, no mundo todo, em inúmeras nações, construíram, descaradamente, bases nucleares apontando para a União Soviética; os mesmos que cercaram uma nação de bases nucleares, venham agora, para justificar uma agressão, inventar umas rampas nucleares em um país vizinho. Quer dizer que eles inventam o mesmo que fizeram com a União Soviética; eles inventam e constroem uma mentira que, ao contrário, é verdade em numerosos países.
E o que teria sido do mundo, se a União Soviética tivesse raciocinado da mesma maneira? O que teria acontecido, se a União Soviética, quando os imperialistas puseram ali, nas suas próprias fronteiras, muito mais perto que nós, uma base nuclear, e quando puseram dúzias de bases nucleares, tivessem dito: “Frente a tão ostensivo acto de agressão, vamos invadir esses países”? A União Soviética teve de contemplar como os imperialistas a cercavam de bases. Se tivesse raciocinado como o imperialismo, o mundo teria sido envolvido numa infernal conflagração. Essa conflagração que o mundo quer evitar, que todos os governos honestos querem evitar, que todos os povos querem evitar, e que os únicos interessados em não evitar são os que veem que o seu mundo desaba; são os que veem que o seu império desaba; são os que se veem condenados pelo veredicto inapelável da história; são os que vão em declive inevitável, e jogam com a guerra, e beiram os limites da guerra. E os povos não querem guerra, os governos honestos não querem guerra, e nós não queremos guerra. Porque o que nós queremos é empregar toda a nossa energia em obras como esta que nos reuniu aqui esta noite (APLAUSOS). Nós queremos viver em paz, e proclamamos este desejo ante o mundo, com a mesma certeza com que podemos proclamar ao mundo: os cubanos, em caso de agressão, lutarão até a última gota de sangue! (APLAUSOS)
E, na iminência do perigo, qual foi a reacção do nosso povo? Aqui se pode apreciar, e se pôde apreciar no dia de hoje, como, com um sorriso nos lábios e com a emoção dos que erguem uma causa justa, dezenas de milhares de homens marchavam às suas posições; dezenas de milhares de jovens, com as suas baterias de antitanques, de antiaéreas e de morteiros (APLAUSOS), marchavam aos seus postos; e o exército Rebelde, com as suas colunas especiais de combate, os seus tanques pesados e a sua artilharia, tomava posições, serenamente, sem alterar-se. Mesmo que nos digam que vêm os “poderosos marines”, aqui ninguém os esperará mortos de medo, senão, em todo caso, mortos de rir! (APLAUSOS E RISOS), serenamente.
Este povo, que traçou o seu destino e o levará adiante, não se altera, nem se assusta, nem sequer renuncia à sua alegria, e ri; nem sequer abandona a sua tradicional emoção, a maior, porque o novo ano é também um novo ano da Revolução. Não se paralisará a produção, porque, no dia 3, depois do grande desfile – esse desfile aonde o povo irá, para demonstrar que não tem medo –, depois desse dia, quando se abram as fábricas e os centros de trabalho, há que ocupar os postos de dezenas de milhares de homens que estão nas trincheiras, e que estarão nas trincheiras até o próprio dia 18 de Janeiro, enquanto houver o perigo do golpe criminal e traiçoeiro! (APLAUSOS); a ocupar os lugares desses homens, para que não pare nenhum serviço; para que nenhum centro de trabalho diminua o seu esforço; as mulheres, a ocupar também os seus postos no trabalho, a ocupar o lugar dos homens que estão nas suas posições, e a fazer o que eles não podem fazer.
Apresentemos mais uma prova do que é capaz a Revolução, e estabeleçamos a regra de que não se paralise nenhum serviço, nenhuma fábrica; e estabeleçamos o propósito de ir ocupar esses postos, para que se veja o que pode o povo e o que pode a Revolução! Para que estas medidas, que o dever e o sentido de responsabilidade nos obrigaram a tomar, não perturbem nem debilitem o resto do esforço, porque devemos ser capazes de seguir adiante em todos os sentidos.
O povo pode tudo. O povo é capaz das mais extraordinárias proezas, e os factos o estão demonstrando. E o que o nosso povo necessitava era a oportunidade, o que o nosso povo necessitava era a Revolução. E assim se comportam os povos revolucionários, e os revolucionários.
Há dois anos, ante o perigo dos que avançávamos com o estandarte de uma causa justa, dos que avançávamos com razão, aqui mesmo se reuniram, para fugir covardemente, os servidores do imperialismo. Ante o perigo dos que avançavam, lutando por uma causa justa, eles se reuniram para escapar. E hoje, o povo e nós, levantando uma causa justa, frente aos que, sem razão, querem retirar-nos o direito a viver em paz, e a progredir, e a desenvolver o nosso destino, não nos reunimos aqui para fugir (APLAUSOS). Os que têm a razão não fogem jamais! Os que têm a razão sabem morrer! E o que estamos fazendo é reunir-nos aqui para dizer:
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)
VERSÃO ESTENOGRÁFICA DOS ESCRITÓRIOS DO PRIMEIRO MINISTRO