Discurso pronunciado no ato central pelo quadragésimo aniversário do triunfo da Revolução, realizado na Praça Céspedes, em Sancti Spíritus
Data:
Santiagueiros;
Compatriotas de toda Cuba:
Tento recordar aquela noite de Primeiro de Janeiro de 1959; vivo e percebo novamente as impressões e detalhes como se tudo estivesse acontecendo neste mesmo instante. Parece irreal que o destino nos reservou o raro privilégio de voltar a falar ao povo de Santiago de Cuba deste mesmo lugar, quarenta anos depois.
Antes da alvorada desse dia, ao chegar a notícia da fuga do tirano e dos principais chefes de seu vergonhoso regime, diante do avanço irreprimível de nossas forças, senti por alguns segundos uma estranha sensação de vazio. Como tinha sido possível aquela incrível vitória em apenas um pouco mais de 24 meses, a partir do instante em que conseguimos reunir sete fuzis, no dia 18 de dezembro de 1956, depois da duríssima derrota que praticamente aniquilou nosso destacamento, para retomar a luta contra um conjunto de forças militares que contava com 80 mil homens em armas, milhares de chefes militares com preparação acadêmica, moral elevada, atraentes privilégios, mito de invencibilidade jamais questionado, assessoramento infalível e fornecimento seguro dos Estados Unidos? Idéias justas que um povo valente as fez suas obraram o milagre militar e político. As tentativas ulteriores, inúteis e ridículas para salvar o que restava daquele sistema explorador e opressor, foram varridos pelo Exército Rebelde, pelos trabalhadores e pelo resto do povo em 24 horas.
Nossa tristeza passageira na vitória era a nostalgia da experiência vivida, a lembrança fresca dos companheiros caídos ao longo da luta, a consciência plena de que aqueles anos tão extraordinariamente difíceis e adversos nos obrigaram a ser melhores do que éramos e a nos tornar os mais frutíferos e criadores de nossas vidas. Tínhamos que abandonar nossas montanhas, nossos campos, nossos costumes de absoluta e obrigatória austeridade, nossa vida tensa de perene vigilância frente a um inimigo que podia aparecer por terra ou por ar, em qualquer instante dos 761 dias que durou a guerra; a vida sã, dura, pura e de grandes sacrifícios e perigos compartidos que irmanam homens e que faz florescer suas melhores virtudes, a infinita capacidade de entrega, desinteresse e altruísmo que cada ser humano pode levar em si.
A enorme diferença de meios e forças entre o inimigo e nós, obrigou-nos a realizar o impossível. Basta dizer que com fuzis e minas antitanques ganhamos a guerra, lutando sempre em cada ação importante contra a artilharia, os blindados e, em especial, contra a aviação inimiga, sempre presente em qualquer ação de guerra.
Os fuzis e outras armas semi-automáticas e automáticas de infantaria ligeira eram os que arrebatávamos aos inimigos no combate, e o explosivo com que fabricávamos, em rústicas oficinas, as minas contra os blindados e a infantaria acompanhante provieram sempre da chuva de bombas que lançavam contra nós, algumas das quais não explodiam. A tática infalível de atacar o inimigo em movimento foi fator-chave. A arte de provocá-lo a mover-se de suas bem fortificadas e, em geral, invulneráveis posições, se converteu numa das maiores habilidades de nossos comandos.
As unidades inimigas de operações ou suas guarnições eram cercadas, destruídos os reforços e obrigados a render-se por fome e sede sob o fogo constante de nossos atiradores, que, dia a dia, estreitavam o cerco sem ataques frontais, à custa de muitas vidas, por não contar com os meios e armas adequados para isso. O que se aprendeu nas montanhas e nas florestas fechadas terminou aplicando-se em plena planície junto a rodovias asfaltadas, à sombra de plantações de cítricos, de pomares e inclusive de canaviais que serviam de camuflagem das tropas, em geral, inexperientes, dado o acelerado crescimento de nossas fileiras à medida que se ocupavam as armas, ainda que sempre sob a direção de combatentes mais experimentados, para assestar os golpes de surpresa aos reforços. O mesmo método se acabou aplicando dentro das próprias cidades, isolando as diversas posições dos quartéis.
Assim se tomou em apenas três dias a cidade de Palma Soriano e se concebeu o plano de atacar e render a guarnição de cinco mil homens de Santiago de Cuba com mil e duzentos combatentes rebeldes. Através da baía de Santiago já se havia introduzido cem armas das ocupadas em Palma Soriano para iniciar o levantamento, no quinto dia do início das operações que cercariam sucessivamente os quatro batalhões que defendiam a periferia. Omito detalhes mais precisos da idéia concebida. Só assinalo que havia um combatente rebelde por quatro soldados inimigos. Jamais havíamos contado com uma correlação mais favorável.
Em Guisa, a poucos quilômetros de Bayamo se iniciaram os combates com 180 homens que deveram lutar contra os reforços enviados por uma rodovia asfaltada e outras vias dessa cidade onde se localizavam a chefia de operações do exército inimigo e milhares de seus melhores soldados com apoio de tanques pesados. Depois de onze dias de intensos combates, em que nossas forças foram crescendo com as armas que se apreendiam e alguns pequenos reforços, em 30 de novembro de 1958, Guisa caiu em nossas mãos.
Esta batalha foi mais uma demonstração da extraordinária combatividade que adquiriram nossos soldados e da celeridade com que atuavam. Cinco meses antes, em junho desse mesmo ano, o inimigo havia lançado sua última e aparentemente imbatível ofensiva contra o quartel-general de La Plata na Sierra Maestra. Mas já não éramos os bisonhos combatentes que desembarcamos em 2 de dezembro de 1956. Tampouco éramos tão numerosos. A defesa foi iniciada com 170 homens aproximadamente. Reunidas as tropas, ainda muito reduzidas, do Che, Camilo, Ramiro e Almeida, que receberam instruções prévias de movimentar-se para as posições da Coluna 1, objetivo estratégico da ofensiva inimiga – isto é, todas as nossas colunas, exceto as forças da Segunda Frente Oriental, ao comando de Raul, longe demais, nas montanhas do nordeste para apoiar nossa frente –, somávamos, quatro semanas mais tarde, ao redor de trezentos combatentes. Centenas de jovens voluntários, sem armas, se treinavam na escola de recrutas de Minas del Frío.
Depois de setenta e quatro dias de intensos combates, os batalhões inimigos sofreram cerca de mil baixas entre mortos, feridos e prisioneiros das quais ficaram em nosso poder mais de 440 prisioneiros, que foram devolvidos poucos dias depois, através da Cruz Vermelha Internacional. Escrevo o que me lembro. Talvez os historiadores possam precisar melhor estes dados a partir de nossos documentos que se conservaram e os que, mais tarde, foram encontrados nos arquivos inimigos. Sim, posso afirmar que foram capturadas mais de quinhentas armas que serviram para ir equipando os alunos da escola, à medida que as arrebatávamos ao inimigo e, finalizados os combates, sem perda de tempo, com apenas 900 homens armados, avançando em distintas direções, as colunas rebeldes invadiram o território dominado pelo inimigo até o centro do País, com exceção da extensa zona oriental já controlada firmemente pela Segunda Frente Oriental Frank País e criaram novas frentes de guerra que, rapidamente se desenvolveram. Fiquei no posto de comando com uns poucos homens. Foi no desenvolvimento daquelas operações, quando Che e Camilo, com aproximadamente 140 homens o primeiro – segundo minhas lembranças, sem consultar documento algum – e ao redor de 100 o segundo, realizaram uma das maiores proezas entre as muitas conhecidas nos livros de História: avançar mais de 400 quilômetros da Sierra Maestra, depois de um furacão, até o Escambray, por terrenos baixos, pantanosos, infestados de mosquitos e de soldados inimigos, sob constante vigilância aérea, sem guias, sem alimentos, sem apoio logístico de nosso movimento clandestino, debilmente organizado na zona de seu longo roteiro. Burlando cercos, emboscadas, linhas sucessivas de contenção, bombardeios, chegaram a sua meta. Tal era nossa confiança nos combatentes que derrotaram a ofensiva inimiga; e o mais importante de tudo, tal era a infinita confiança neles mesmos e em seus legendários chefes. Eram homens de ferro. Recomendo aos jovens ler e reler as lindas narrações contidas nas Pasajes de la Guerra Revolucionaria, escritas por Che.
E já que quase involuntariamente caí nestas reflexões de nossas lutas na Serra, para completar a história dos acontecimentos que me conduziram de novo a esta querida cidade, daquele primeiro de janeiro, cujo aniversário quadragésimo comemoramos hoje, lhes direi que em onze de novembro saí de La Plata com 30 homens armados e mil recrutas desarmados.
Aqueles valorosos e abnegados homens estavam mais treinados na fome, nos bombardeios e na carência de tudo que nas armas, já que nunca havia uma só bala disponível para treinamento em tiro real. Chegavam em ondas entusiastas à escola, de toda parte; mas naqueles tempos, só um de cada dez suportava aquelas condições. Eles nutriam nossas fileiras, eram mais temerários que nossos velhos combatentes. Inspirados já nas tradições e nas histórias que escutavam, queriam escrever num dia o que outros fizeram em anos.
Recolhendo pequenas unidades rebeldes ao longo da marcha, mais as armas de dois pelotões do exército inimigo que passaram a nossas fileiras, persuadidos pelo então comandante Quevedo, que fora nosso digno e valente adversário na batalha de Jigüe, e sob o acordo de que não combateriam contra seus antigos companheiros de armas, reuniu nossa grande coluna uma vanguarda de 180 homens com armas de guerra. Em Guisa, Jiguani, Maffo e Palma Soriano, cenários de numerosas ações, já com o apoio de outras forças, à medida que avançávamos, os recrutas satisfaziam seus sonhos de luta. Cobrindo em parte baixas por mortes, feridas ou enfermidades de outros combatentes já equipados, e com as armas capturadas, calculo que ao redor de 700, tomada Palma, todos os recrutas que saíram comigo de La Plata, seis semanas antes, estavam armados e constituíam uma formidável tropa. Só em Palma se ocuparam 350 armas.
Devo assinalar o fato de que não todas as armas que ajudaram a converter em soldados de primeira linha aos jovens de nossa escola de Minas del Frío, fora fruto exclusivo de nossos troféus. Em meados de dezembro recebemos o que, a meu juízo, constituiu a mais valiosa ajuda em armas vinda do Exterior: 150 fuzis semi-automáticos e um FAL automático para mim, enviados em nome do povo venezuelano pelo contra-almirante Larrazábal e pela junta revolucionária que havia tomado o poder na Venezuela, meses antes do triunfo cubano. Como é de supor, essas armas entraram rapidamente em ação e participaram dos combates de Jiguani, Maffo e Palma Soriano.
Por isso, ao cair em nosso poder Palma e Maffo, as armas não só foram suficientes, mas até sobraram para armar os combatentes desarmados e pudemos enviar as 100 mencionadas para o levantamento de Santiago e um número importante a Belarmino Castilla, com instruções de cortar a retirada ao batalhão localizado em Mayarí.
Já que mencionei a ajuda venezuelana, devo expressar que em nossa luta revolucionária não recebemos abastecimento de armas e munições do Exterior, salvo em contados casos, dos quais, o mais numeroso, quase tanto como os demais que me lembro ou ouvi mencionar, foi o da Venezuela. Mais de 90% das armas e munições com que fizemos e ganhamos a guerra, foram arrebatadas ao inimigo, em combate. Eram só uns poucos milhares, porém por princípio inviolável, todas absolutamente estavam sempre em primeira linha.
Durante todo o ano que acaba de transcorrer, foram comemorados os fatos que só recordei em breves traços.
Honra e glória eterna, respeito infinito e carinho para os que então caíram para tornar possível a independência definitiva da pátria; para todos os que escreveram aquela epopéia nas montanhas, nos campos e cidades, guerrilheiros ou lutadores clandestinos, aos que depois do triunfo morreram em outras missões gloriosas, ou entregaram lealmente sua juventude e suas energias pela causa da justiça, da soberania e da redenção de seu povo, aos que já morreram e aos que ainda vivem, pois se naquele Primeiro de Janeiro se podia falar do triunfo alcançado a cinco anos, cinco meses e cinco dias do 26 de julho de 1953, neste aniversário é preciso falar, tomando o mesmo ponto de partida, de uma luta heróica e admirável de 45 anos, cinco meses e cinco dias. (Aplausos)
Ainda hoje, para as gerações mais novas, a Revolução apenas começa. Um dia como este não teria sentido se não se fala para elas.
Quem são os que estão aqui presentes? A imensa maioria não são os mesmos homens, mulheres e jovens daquele dia. O povo ao qual me dirijo não é o povo daquele Primeiro de Janeiro. Não são os mesmos homens e mulheres. É outro povo distinto e, ao mesmo tempo, o mesmo povo eterno. (Aplausos)
O que assim se expressa desta tribuna, tampouco é exatamente o mesmo homem daquele dia. É só alguém muito menos jovem, que tem o mesmo nome, que se veste, pensa e sonha da mesma maneira. (Aplausos)
Dos 11 142 700 habitantes que constituem a população atual do País, 7 190 400 não haviam nascido ainda; 1 359 698 tinham menos de 10 anos de idade; a imensa maioria dos que então tinham 50 anos e agora teriam no mínimo 90 – ainda que são cada vez mais numerosos os que ultrapassam essa idade – já faleceram.
Um 30% daqueles compatriotas não sabiam ler e escrever; penso que talvez outros 60% não tinham a sexta série. Existiam só algumas dezenas de escolas técnicas, institutos pré-universitários, não todos ao alcance do povo, e centros para a formação de professores, três universidades públicas e uma particular.
Professores e mestres, 22 mil. Por acaso, 5% dos adultos, isto é, mais ou menos 250 mil pessoas podiam ter mais de sexta série?
Há alguns dados que me lembro.
Hoje, mestres com muito maior nível e professores na ativa são mais de 250 mil; médicos, 64 mil; graduados universitários, 600 mil. Não existe um analfabeto, é raríssimo que alguém tenha menos de sexta série. É obrigatório o ensino até a nona série; todos os que a alcançam, sem exceção, podem continuar gratuitamente estudos de nível médio superior. Não vale a pena buscar dados absolutamente precisos e absolutamente exatos. Há fatos que ninguém se atreve a negar. Somos hoje, com orgulho, o país do mundo com maior índice per cápita de educadores, de médicos e de professores de educação física e esporte, e a mais baixa taxa de mortalidade infantil e materna do Terceiro Mundo.
Não me proponho, contudo, falar destes e de outros muitos avanços sociais. Há coisas mais importantes que estas. O que é absolutamente real é que não existe comparação possível entre o povo de hoje e o de ontem.
O povo de ontem, analfabeto e semi-analfabeto, sem ao menos uma verdadeira e mínima cultura política, foi capaz de fazer a Revolução, defender a Pátria, alcançar depois uma extraordinária consciência política e iniciar um processo revolucionário que não tem paralelo neste hemisfério nem no mundo. Digo não por ridículo espírito chauvinista, ou com a absurda pretensão de crermos ser melhores que outros; digo porque, quis o acaso ou o destino que a Revolução que nascia naquele Primeiro de Janeiro fosse submetida à mais dura prova a que tenha sido submetido processo revolucionário algum no mundo.
Nosso povo heróico de ontem e de hoje, nosso povo eterno, com a participação já de três gerações, tem resistido 40 anos de agressões, bloqueio, guerra econômica, política e ideológica da mais poderosa e rica potência imperialista que jamais existiu na história do mundo. Sua mais extraordinária página de glória e de firmeza patriótica e revolucionária tem sido escrita nestes anos de período especial, quando ficamos absolutamente sós no meio do Ocidente, a 90 milhas dos Estados Unidos, e decidimos seguir adiante.
Nosso povo não é melhor que outros; sua imensa grandeza se deriva do fato singular de se ter submetido a essa prova e de ter sido capaz de resistir. Não se trata de um grande povo de per se, mas de um povo engrandecido por si mesmo, e sua capacidade de fazê-lo nasce da grandeza das idéias e da justeza das causas que defende. Não há outras iguais; não as têm havido jamais. Não se trata hoje de defender com egoísmo uma causa nacional; uma causa exclusivamente nacional no mundo de hoje, não pode ser por si só uma grande causa; nosso mundo, como conseqüência de seu próprio desenvolvimento e evolução histórica, se globaliza de maneira rápida, irreprimível e irreversível. Sem deixar de lado identidades nacionais e culturais e, inclusive os interesses legítimos dos povos de cada país, nenhuma causa é mais importante que as causas globais, isto é, a causa da própria humanidade.
Tampouco é nossa culpa ou nosso mérito que para os povos de hoje e de amanhã a luta iniciada em Primeiro de Janeiro tenha que converter-se inexoravelmente numa luta junto aos demais povos pelos interesses de toda a humanidade. Nenhum povo por si só, por grande e rico que seja – menos ainda um médio ou pequeno país –, pode resolver por si mesmo seus problemas. Unicamente por visão estreita, por miopia ou cegueira política, ou ausência total de preocupação e sensibilidade pelo destino humano, se pode negar esta realidade.
Porém as soluções para a humanidade não virão da boa vontade dos que hoje se apoderam do mundo e o exploram, ainda que não possam sonhar ou conceber outra coisa que o caráter perene do que constitui o céu para eles e um inferno para o resto da humanidade; inferno real e sem remédio possível.
A ordem econômica que hoje prevalece no planeta cairá inevitavelmente. Isso poderia compreendê-lo até um colegial que saiba somar, diminuir, multiplicar e dividir o suficiente para obter uma simples aprovação em aritmética.
Muitos apelam ao infantil recurso de chamar cépticos a quem fala desses temas. Não faltam inclusive os que sonham com estabelecer colônias na Lua ou no planeta Marte. Não os critico por sonhar. Talvez, se o logram, seria o lugar onde alguns possam refugiar-se, se não se detém a brutal e crescente agressão ao planeta em que habitamos.
O sistema atual é insustentável, porque se apóia sobre leis cegas, caóticas, ruinosas e destruidoras da sociedade e da natureza.
Os próprios teóricos da globalização neoliberal, seus melhores acadêmicos, expositores e defensores do sistema, mostram-se duvidosos, hesitantes, contraditórios. Há milhares de questões que não podem ser respondidas. Seria bem hipócrita a afirmação de que a liberdade do homem e a absoluta liberdade do mercado são conceitos inseparáveis, como se as leis deste último, que deram origem aos sistemas sociais mais egoistas, desiguais e despiedosos que tem conhecido o homem, fossem compatíveis com a liberdade do ser humano, ao qual o sistema transforna numa simples mercadoria.
Seria muito mais exato dizer que sem igualdade e fraternidade, que foram sacrossantas palavras de ordem da própria revolução burguesa, não pode jamais existir liberdade, e que a igualdade e a fraternidade são absolutamente incompatíveis com as leis do mercado.
As dezenas de milhões de crianças que no mundo são obrigadas a trabalhar, a se prostituir, fornecer órgãos, vender drogas para sobreviverem; as centenas de milhões de pessoas sem emprego, a pobreza crítica, o tráfico de drogas, de imigrantes, de órgãos humanos, como o colonialismo outrora, e sua atual dramática seqüela de subdesenvolvimento; e toda calamidade social que existe no mundo de hoje, foram originadas em sistemas baseados nessas leis. Não é possível esquecer que a luta pelos mercados originou a espantosa carnificina das duas guerras mundiais deste século.
Também não pode ser ignorado o fato de que os princípios do mercado fazem parte inseparável do desenvolvimento histórico da humanidade, mas qualquer homem racional tem todo o direito de rejeitar a pretensa perenidade de tais princípios de caráter social, como base do desenvolvimento ulterior da espécie humana.
Os mais fanáticos defensores e crentes do mercado terminaram convertendo-o numa nova religião. Assim surge a teologia do mercado. Seus acadêmicos, mais do que cientistas, são teólogos. Para eles é uma questão de fé. Por respeito às verdadeiras religiões praticadas honestamente por bilhões de pessoas no mundo e aos verdadeiros teólogos, poderíamos simplesmente acrescentar que a teologia do mercado é sectária, fundamentalista e anti-ecumênica.
Por muitas outras razões, a atual ordem mundial é insustentável. Um biotecnologo diria que no mapa genético dela aparecem numerosos gens que a conduzem à sua própria destruição.
Surgem novos e insuspeitados fenómenos que fogem a todo controle de governos e instituições financeiras internacionais. Já não se trata apenas da criação artificial de fabulosas riquezas sem nenhuma relação com a economia real. Tal o caso das centenas de novos multi-milionários que surgem ao multiplicar-se nos últimos anos o preço das ações das bolsas de valores nos Estados Unidos, como um gigantesco balão que é inflado até o absurdo, com grave risco de que tarde ou cedo estoure. Já aconteceu em 1929, originando uma profunda depressão que durou toda uma década.
Em Agosto deste ano, a simples crise financeira da Rússia, que só produz 2% do Produto Interno Bruto do mundo, fez baixar o Dow Jones -indicador emblemático da bolsa de valores de Nova Iorque- 512 pontos num dia. Propagou-se o pânico; divisou-se um Sueste Asiático na América Latina, e com isso um grande risco para a economia norte-americana. A duras penas conseguiram deter a catástrofe até agora. Nessas ações que são cotadas nas bolsas, estão as poupanças e fundos de pensões de 50% dos norte-americanos. Durante a crise de 1929 que era apenas de 5%, e houve numerosos suicídios.
No mundo globalizado, aquilo que acontece em qualquer lugar repercute imediatamente no resto do planeta. O susto recente tem sido grande. Os recursos dos países mais ricos do mundo, convocados pelos Estados Unidos, foram mobilizados para bloquear ou atenuar o incêndio. Entretanto, desejam manter Rússia na borda do abismo, e ao Brasil lhe são exigidas condições duras de mais. O Fundo Monetário Internacional não se afasta um milímetro de seus princípios fundamentalistas. O Banco Mundial se insubordina e denuncia.
O mundo todo fala de uma crise financeira internacional; os únicos que nada sabem são os cidadãos norte-americanos: gastaram mais do que nunca e suas poupanças estão abaixo de zero. Não importa, suas transnacionais investem o dinheiro dos outros. Também não importa o crescente déficit comercial, que atinge 240 bilhões. Privilégios do império que imprime a moeda de reserva do mundo. Nos bônus de sua Tesouraria se refugiam em massa os especuladores quando há crises. Como o mercado interno é grande, e se gasta mais, a economia se mantém aparentemente bem, ainda que os lucros das corporações se tenham reduzido. Megafusões, euforia: sobem de novo os preços das ações. A jogar de novo na roleta russa. Tudo continuará eternamente bem. Os teóricos do sistema descobriram a pedra filosofal. Todos os acessos estão interceptados para que não penetrem fantasmas que tirem o sono. Já não é impossível a quadratura do círculo. Jamais haverá crise.
Mas, por acaso o balão que foi inflado é a única ameaça e o único jogo especulativo? Um fenómeno que adquire cada dia proporções fabulosas e incontroláveis são as operações especualtivas com as moedas. Como mínimo ascendem a um trilhão de dólares por dia. Há quem diga que é 1,5 trilhões. Apenas a catorze anos, esta cifra especulativa ascendia só a 150 biliões por ano. Possível confusão com as cifras. É difícil exprimi-las e ainda mais, traduzi-las do inglês para o espanhol. O que em Espanhol se chama bilião, isto é, um milhão de milhões, em inglês é o trilhão. Por sua vez, o bilhão, em inglês, significa 1 000 milhões. Agora é inventado o milhardo, que significa 1 000 milhões, tanto em espanhol quanto em inglês. Estas dificuldades da linguagem exprimem quão difícil é o acompanhamento e a compreensão das fabulosas cifras que refletem o nível de especulação na atual ordem econômica mundial. Isto é pago com o risco perene de ruína para a maioria esmagadora dos povos do mundo. Ao menor descuido, o assalto dos especuladores desvaloriza a moeda de qualquer um deles, e em questão de dias liquidam suas reservas em divisas, acumuladas talvez em dezenas de anos. A ordem mundial tem criado as condições para tal. Absolutamente ninguém está nem pode estar seguro. Os lobos, agrupados em manadas e apoiados por programas computadorizados, sabem onde atacam, quando atacam e por que atacam.
Há 14 anos, um Prêmio Nobel de Economia propôs, quando estas especulações eram duas mil vezes menores, um imposto de 1% por operação especulativa deste tipo. Hoje, o custo desse 1% seria suficiente para desenvolver todos os países do Terceiro Mundo. Seria uma forma de regulamentação e freio a tão nociva especulação. Mas, regular? Isso choca com a doutrina fundamentalista mais pura. Há palavras que não podem ser pronunciadas no templo dos fanáticos da ordem mundial imposta. Exemplos: regulamentação, empresa pública, programa de desenvolvimento econômico, qualquer forma de planificação mínima, participação ou influência do Estado na área econômica. Tudo isso perturba o idílico sono do paraíso do livre mercado e a empresa privada. Tudo deve ser desregulamentado, inclusive o mercado da força de trabalho. A ajuda ao desemprego deve ser reduzida ao indispensável e ao mínimo para não sustentar "vadios" e "folgazões"; o sistema de pensões deve ser reestruturado e privatizado. O Estado só se deve ocupar da Polícia e do Exército, para manter a ordem, reprimir protestos e fazer a guerra. Nem sequer se admite a sua participação nas políticas monetárias do Banco Central. Este deve ser absolutamente independente. Luis XIV realmente sofreria muito, porque se ele disse "O Estado sou eu", agora teria que acrescentar: "Não sou absolutamente nada".
Além da assombrosa especulação com as moedas, crescem de forma acelerada e incrível os chamados fundos de cobertura e o mercado de derivados, outra palavrinha bastante nova. Não tentarei explicar. É complicado, precisaria de tempo. Basta dizer-lhes que se trata de um sistema adicional de jogos especulativos, outro enorme cassino em que se aposta com tudo e de tudo, baseado em cálculos sofisticados de riscos, com emprego de computadores, programadores de alto nível e eminências econômicas. Exploram a incerteza e empregam o dinheiro daqueles que poupam nos bancos; não têm praticamente nenhuma restrição, obtêm enormes lucros e podem criar catástrofes.
Que a atual ordem econômica é insustentável, é evidenciado pela própria vulnerabilidade e debilidade do sistema que transformou o planeta num cassino gigantesco, milhões de cidadãos e, as vezes, sociedades inteiras em jogadores de azar, desvirtuando a função do dinheiro e dos investimentos, visto que aqueles procuram a todo custo não a produção nem o aumento das riquezas do mundo, mas ganhar dinheiro com dinheiro. Tal deformação conduzirá a economia mundial para um desastre inevitável.
Um fato recente, acontecido nos Estados Unidos, tem sido motivo de escândalo e profunda preocupação. Um dos fundos de cobertura dos que falei e tentei explicar em essência, precisamente o mais famoso dos Estados Unidos, cujo nome, traduzido para o espanhol é Administração de Capital a Longo Prazo, e que conta com dois Prémios Nobel de Economia e vários dos melhores programadores do mundo, e lucros anuais superiores a 30% esteve próximo de uma falência cujas consequências teriam sido, ao que parece, incalculáveis.
Apoiando-se no prestígio adquirido e confiado cegamente na infalibilidade dos seus afamados programadores e seus Prêmios Nobel de Economia, com um fundo próprio de apenas 4,5 bilhões de dólares, mobilizou fundos de 75 bancos diferentes, ascendentes a 120 bilhões de dólares para suas operações especulativas, isto é, obteve mais de 25 dólares de empréstimos por cada dólar próprio do fundo. Tal procedimento rompia todos os parâmetros e supostas práticas financeiras. Os cálculos e os programas falharam. As perdas foram consideráveis; a falência, palavra dramática nesse domínio, inevitável. Era apenas uma questão de dias. O Sistema da Reserva Federal dos Estados Unidos recorreu ao resgate do fundo de cobertura. Isto estava em contradição com tudo o que é predicado pelos Estados Unidos e sustentado pela filosofia neoliberal, a partir do que se considera uma conduta irresponsável de uma instituição desse gênero. Segundo os princípios estabelecidos, o famoso fundo de resguardo devia ficar arruinado, a lei do mercado lhe daria uma lição ao impor o corretivo pertinente. Originou-se o escándalo. O Senado citou Greenspan, Diretor do Sistema da Reserva Federal. Foi chamado para depor. Este alto funcionário, surgido de Wall Street, é considerado um dos mais experientes e eminentes responsáveis da economia dos Estados Unidos. Atribui-se-lhe o mérito principal dos sucessos econômicos da atual administração, e neste momento recebe uma homenagem especial nos círculos financeiros e na imprensa como o homem que estagnou a crise na bolsa dos Estados Unidos, ao rebaixar três vezes consecutivas a taxa de juros. Depois do Presidente, é considerada a pessoa mais importante do país. Pois bem, esse famoso e reconhecido Diretor declarou no Senado que, se não salvasse o fundo, produzir-se-ia uma catástrofe económica que atingiria os Estados Unidos e o mundo inteiro.
Qual é a solidez de uma ordem econômica em que a ação, qualificada de aventureira e irresponsável, de uma instituição especulativa que apenas possuia 4,5 bilhões de dólares, pode conduzir os Estados Unidos e o mundo a um desastre econômico?
Quando se observa tal debilidade e tal falha imunológica do sistema, poderia diagnosticar-se-lhe que sofre de algo muito parecida com a AIDS.
Nesta ocasião, não desejo utilizar mais argumentos. Existem muitos outros problemas na economia mundial. A ordem prevalecente se debate entre inflação, recessão, deflação, possíveis crises de superprodução, baixas sustentadas dos produtos básicos. Países tão imensamente ricos como Arábia Saudita já têm déficits orçamentários e comerciais, apesar de que exporta 8 milhões de barris de petróleo por dia. Os prognósticos otimistas de crescimento, se esfumam. Não há a menor idéia de como serão resolvidos os problemas do Terceiro Mundo. Com que bens de capital, tecnologias, redes de distribuição, créditos para exportação contam para buscar mercados, concorrer e exportar? Onde estão os consumidores dos seus produtos? Como se encontrarão os recursos para a saúde da África, cujos 22 milhões de pessoas atingidas pelo HIV precisariam, com os preços atuais, 200 bilhões de dólares por ano para controlar uma só doença? Quantos morrerão até que apareça uma vacina protetora ou um medicamento que elimine a doença?
O mundo precisa de uma certa direção para fazer face às suas atuais realidades. Já somos 6 bilhões de habitantes no planeta. É quase certo que em apenas cinco décadas mais, seremos 9,5 bilhões. Garantir alimentos, saúde, educação, emprego, roupa, calçado, teto, água potável, eletricidade e transporte para tão extraordinário número de pessoas que viverão precisamente nos países mais pobres, será um desafio colossal. Em primeiro lugar, haverá que definir padrões de consumo. Não podemos continuar a implantar os gostos e modos de vida inspirados no modelo esbanjador das sociedades industrializadas, o que seria suicida e além do mais impossível.
É preciso programar o desenvolvimento do mundo. Essa tarefa não pode ficar nas mãos das transnacionais e das cegas e caóticas leis do mercado. A Organização das Nações Unidas é uma boa base, reúne muita informação e experiência. Simplesmente devemos lutar para democratizá-la, pôr fim à ditadura do Conselho de Segurança e à ditadura dentro do próprio Conselho, pelo menos, ampliando-o com novos membros permanentes onde o Terceiro Mundo esteja devidamente representado, com todas as prerrogativas que possuem os atuais membros que ostentam esse caráter, e mudando as regras para a tomada de decisões. É, além disso, é preciso ampliar as funções e a autoridade da Assembleia Geral.
Tomara que não seja mediante crises econômicas catastróficas que apareçam as soluções. Bilhões de pessoas do Terceiro Mundo seriam as mais atingidas. Um elementar sentido das realidades tecnológicas e do poder destruidor das armas modernas, nos obriga a pensar no dever de impedir que os conflitos de interesses, que inevitavelmente se desatarão, conduzam a guerras sangrentas.
A existência de uma só superpotência, uma ordem econômica global e asfixiante, torna difícil -talvez impossível- que inclusive, uma Revolução como a nossa pudesse sustentar-se, na suposiçãp de que nascesse hoje e não quando pôde contar com um ponto de apoio, num mundo que naquela altura, era bipolar. Por isso, nosso País contou com o tempo necessário para desenvolver uma invencível capacidade de resistência e, ao mesmo tempo, desdobrar, na arena internacional, uma forte influência do seu exemplo e de seu heroísmo para levar a todas as tribunas uma grande batalha de idéias.
Os povos lutarão, as massas desempenharão um importante e decisivo papel nessas lutas, que no fundo será sua resposta à pobreza e aos sofrimentos que lhes foram impostos; mil formas criadoras e engenhosas de pressão e ação política surgirão. Muitos governos ver-se-ão desestabilizados pelas crises económicas e pela ausência de saídas dentro do sistema económico internacional estabelecido.
Vivemos numa etapa em que os acontecimentos caminham à frente da consciência das realidades que estamos padecendo. É preciso semear idéias, desmascarar enganos, sofismas e hipocrisias, usando métodos e meios que possam contrarrestar a desinformação e as mentiras institucionalizadas. A experiência de 40 anos de calúnias que caíram sobre Cuba como chuvas torrenciais nos ensinou a confiar no instinto e na inteligência dos povos.
Os países da Europa deram ao mundo um bom exemplo do que pode ser conseguido mediante o exercício da racionalidade e o emprego da inteligência. Depois de séculos guerreando entre si, compreenderam que inclusive eles, países industrializados e ricos, não poderiam sobreviver isolados. Soros, um conhecido personagem do mundo das finanças e seu grupo, com um assalto especulativo, colocaram de joelhos a Grã Bretanha, outrora dona de um grande império, rainha inquestionável das finanças e possuidora da moeda de reserva, papel que agora desempenham o dólar e os Estados Unidos.
O franco, a peseta e a lira também sofreram os embates da especulação. O dólar e o euro se vigiam mutuamente. Um adversário com perspectivas surgiu à privilegiada moeda norte-americana. Os Estados Unidos apostam ansiosamente nas suas dificuldades e fracasso. Acompanhemos de perto os acontecimentos.
Alguns, em suas angústias, incertezas e dúvidas, procuram alternativas ecléticas. O mundo, porém, não tem outra alternativa perante a globalização neoliberal, desumana, moral e socialmente indefensível, ecológica e economicamente insustentável, que uma distribuição justa das riquezas que os seres humanos sejam capazes de criar com suas mãos laboriosas e sua fecunda inteligência. Cesse a tirania de uma ordem que impõe princípios cegos, anárquicos e caóticos que conduz a espécie humana para o abismo! Salve-se a natureza! Preservem-se as identidades nacionais! Protejam-se as culturas de cada país! Que prevaleçam a igualdade, a fraternidade e com elas, a verdadeira liberdade! Não podem continuar crescendo as insondáveis diferenças entre ricos e pobres dentro de cada país e entre os países. Devem, ao contrário, diminuir progressivamente até que um dia termine. Que seja o mérito, a capacidade, o espírito criativo, e o que o homem realmente ofereça para o bem-estar da humanidade e não o roubo, a especulação ou a exploração dos mais fracos, o que determine o limite das diferenças. Pratique-se verdadeiramente o humanismo, com fatos e não com lemas hipócritas!
Caros compatriotas:
O povo que leva a cabo a heróica luta do período especial para salvar a Pátria, a Revolução e as conquistas do socialismo, avança incessantemente em prol das suas metas, como fizeram os combatentes de Camilo e Che, desde a Serra Maestra até ao Escambrai. Como disse Mella, todo tempo futuro tem que ser melhor. Comprovemo-lo nas metas que nos traçamos para 1999. Consolidemos e aprofundemos, trabalhemos, lutemos, combatamos com o espírito com que o fizeram os nossos heróicos compatriotas em Uvero, nos dias gloriosos da grande ofensiva inimiga, nas batalhas e nos fatos que recordamos hoje. Já deixamos atrás a derrota de Alegria de Pio, passamos Cinco Palmas, já temos reunido forças, já somos capazes de vencer como 300 venceram 10 000; já somos muito mais fortes, já estamos certos da vitória! (Aplausos).
A todos os nossos compatriotas, especialmente aos jovens, lhes asseguro que os próximos 40 anos serão decisivos para o mundo. À frente, tem tarefas incomparavelmente mais complexas e difíceis. Novas metas gloriosas os esperam, a imensa honra de revolucionários cubanos o exige. Lutaremos pelo nosso povo e pela humanidade. A nossa voz pode chegar e chegará muito longe.
A batalha atual é dura e difícil. Na guerra ideológica, como nas contendas bélicas, também se produzem baixas. Nem todos têm a têmpera necessária para resistir os tempos duros e nas condições difíceis.
Lembrava-lhes hoje que, no meio da guerra, sob os bombardeios, e sofrendo todo tipo de privações, dentre os jovens voluntários que ingressavam na escola, um de cada dez o resistia; mas esse um valia por dez, por cem, por mil. Aprofundar a consciência, formar o caráter, educar na dura escola da vida da nossa época, plantar idéias sólidas, utilizar argumentos irrebatíveis, predicar com o exemplo e confiar na honra do homem, pode fazer com que, de cada dez, nove permaneçam em seus postos de combate junto da bandeira, junto da Revolução e junto da Pátria. (Aplausos)
Socialismo ou Morte!
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(Ovação)