Discurso proferido pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz na comemoração do Sétimo aniversário do Ataque ao Palácio Presidêncial, efetuada na escadaria da Universidade de Havana, em 13 de março de 1964
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Companheiros professores e estudantes universitários:
Um detalhe alentador ressalta na noite de hoje, com motivo desta comemoração, e é a circunstância de que há uma presença mais nutrida que em anos anteriores de estudantes e de povo neste ato. E embora sempre fosse nutrida a concorrência, desde aqui nós podemos apreciar que a escadaria e a pracinha que está mais lá da escadaria não bastam para dar cabimento às pessoas que têm vindo aqui esta noite. E isso, isso constitui uma homenagem profunda, uma homenagem sem palavras aos mártires de 13 de março (APLAUSOS). É, ao mesmo tempo, uma evidência de como cresce a vanguarda intelectual da Revolução, de como cresce a cultura e de como cresce o movimento educacional e de como aumenta a solidez e a força da Revolução.
Para nós é muito satisfatório observar isto. E ainda que nenhum de nós tivesse jamais, nem jamais terá a menor dúvida acerca da marcha vitoriosa desta Revolução, nos perguntamos: “O que dirão aqueles que duvidaram? O que dirão aqueles que se acobardaram? O que dirão aqueles que desertaram?”
É motivo de júbilo para nosso povo ver os frutos dos primeiros anos da Revolução, é motivo de esperança saber o que aqui se está formando, é um motivo profundo de satisfação! Frente aos inimigos de nossa causa e de nossa pátria, frente aos que um dia nos quiseram deixar sem técnicos, frente aos que um dia quiseram deixar a pátria sem médicos para atender a nossos doentes, sem engenheiros para atender a nossas indústrias, sem arquitetos para nossas edificações, sem professores para nossas universidades e centros de ensino superior, sem professores para nossas crianças, frente àqueles que lançaram mão de procedimentos tão pouco nobres e desumanos, há de ser motivo de regozijo e de satisfação muito grande para nosso povo ver como cresce esta nova maré intelectual, este mar de técnicos que ascende desde nosso povo rumo às colinas universitárias, colinas que outrora eram o lugar aonde se chegava por privilégio ou por impensáveis esforços e sacrifícios.
E da mesma forma em que nesta escadaria, a multidão que nesta escadaria se reúne hoje, é a marcha, é o movimento rumo à cultura, rumo à educação e rumo à técnica de nosso povo; e assim chegará o dia em que não só contemos com os técnicos que necessitemos, mas chegará o dia em que esta pequena Ilha tão ameaçada, tão fustigada por um inimigo poderoso, estará em condições de dar ajuda técnica a outros povos que, tal como nós, empreendam o caminho da Revolução (APLAUSOS).
Estou completamente certo de que nosso povo todo, sem exceção, viu com satisfação o dia em que 50 médicos saíram rumo à Argélia para prestar ali seus serviços na nova república (APLAUSOS); e embora fosse certo que nós tínhamos necessidades de médicos, ainda que nós aspirássemos a números incomparavelmente superiores de médicos por número de habitantes em nosso país, era tão terrível e tão desesperada a situação da Argélia, que um médico na Argélia significa incontáveis vidas que podem ser salvas. E se ainda nas condições nossas quando um país necessitou de nossa ajuda pudemos dá-la, o que será quando em vez de 300 se graduem 2 mil médicos por ano em nossa pátria? (APLAUSOS).
E já neste ano têm ingressado mais de mil estudantes no instituto de ciências básicas de medicina. Foi necessário construir aceleradamente novas instalações para eles. Os números superaram os cálculos! E já no próximo ano se espera que passe de dois mil o número de estudantes que ingressem no instituto de ciências básicas.
Sessenta e cinco mais cinco são setenta... Para 1970 estarão graduados esses novos estudantes; e para 1969 estarão graduados cerca de 1,5 mil jovens que começaram a estudar medicina neste ano (APLAUSOS). E assim, dentro de cinco anos graduaremos por ano tantos médicos como a terceira parte do total de médicos que havia em toda a república, ao triunfar a Revolução (APLAUSOS), pois se em Cuba havia uns 6 mil médicos estaremos graduando 2 mil por ano, e em três anos tantos como todos os que havia em Cuba, com diferenças quantitativas e ainda qualitativas (APLAUSOS), sem subestimarmos a capacidade de nossos atuais médicos, que é realmente alta.
Mas se nosso país tem sido capaz de dar muitos e magníficos médicos nas condições do passado, quando todo o ensino na universidade era absolutamente teórico, de forma tal que havia alunos que recebiam um prêmio em cirurgia sem ter realizado uma só operação, simplesmente pelos conhecimentos teóricos sobre a matéria, o que será? Qual será a qualidade de nossos futuros médicos em uma universidade onde o nível de estudos é incomparavelmente mais alto e onde se ensina e, ao mesmo tempo, se pratica a medicina, por jovens que a partir de que entram na universidade já não vão, como outrora, com o pensamento voltado — como era obrigado em épocas passadas — em buscar simplesmente um meio de ganhar a vida, mas que entra já com a consciência muito clara de que o mais importante da tarefa que há de realizar, já não será simplesmente ganhar a vida; porque ganhar a vida honradamente será um direito para todos e cada um dos cidadãos, mas sim realizar uma importantíssima função em benefício da sociedade? Quer dizer, surgirão legiões de novos técnicos com uma mentalidade absolutamente nova.
Quem pode negar que nossa universidade progredidu incrivelmente. E quem pode negar isso a nós que conhecemos a universidade do passado, que conhecemos os vícios daquela universidade do passado e que, inclusive, perdemos bastante tempo naquela universidade do passado, tal como quem lhes está falando, que nunca frequentava uma sala de aula, nunca abria um livro, nada mais que na véspera dos exames.
Não o digo como excusa para ninguém, ponho meu exemplo de estudante daquela época, como exemplo da falta de alicientes, da falta de sistema e da falta de tudo, naquele passado (APLAUSOS), e da falta de consciência em nós naquele tempo, dos estudantes daquele tempo porque, afinal, vínhamos parar à universidade por razões que não tinham nada a ver conosco, porque nos mandaram primeiro a uma escola e depois a outra, e depois a outra, e vínhamos parar aqui os que podíamos. Com que consciência nós vínhamos estudar? E que carreira? Qualquer uma! Para nós tanto fazia.
E assim nós escolhemos uma carreira que: para que a queríamos no meu caso? Quantas vezes eu não pensei que devia ter estudado outra coisa! Quando digo estas coisas sempre acontece que os estudantes de direito perguntam se eles não são úteis. E eu lhes digo que sim, certo, necessitamos técnicos em questões legais, técnicos em direito, advogados não! E não é preciso esquecer que antigamente os que estudávamos essas matérias — que não eram essas, mas eram outras — estudávamos para advogados não para técnicos em questões jurídicas. E eu matriculei nessa faculdade.
Ali nos punham estudar o Direito Romano. Muito bem para os interessados nessas questões históricas, a fonte do direito. Mas é que então o Direito Romano não se estudava como uma questão histórica, mas se estudava como uma questão básica, pois o direito que nós tínhamos aqui era ainda o Direito Romano em muitas coisas. Aí havia surgido o direito de propriedade, o conceito do direito de propriedade, e quase todas as instituições fundamentais do direito.
É claro que nós tínhamos que estudar todas as leis que correspondiam a uma sociedade capitalista: Direito Mercantil, Direito Hipotecário, o procedimento de despejo, de cobrança de dívidas, as obrigações e, enfim, todos os direitos relacionados com a propriedade, que era o que fundamentalmente se estudava, relacionado com a propriedade privada. E pensar que nos fizeram perder muitas horas estudando tudo isso! Quando a gente pensa que a punham estudar quase chega à conclusão de que o melhor que fez foi ser um mau estudante.
Nao era o mesmo, é claro, em todas as faculdades. Há outras carreiras universitárias nas quais se estudava com outro sentido mas, enfim, nisso investimos energias e tempo. Se nos tivéssemos dedicado a estudar questões científicas quão úteis teriam sido para nós nestes instantes.
Mas é claro que naquele tempo nas escolas de tecnologia e nas escolas de ciências ingressava um insignificante número de estudantes, e na escola de direito entravam milhares e milhares de estudantes. Por quê? Porque quase todos aqueles estudantes eram proprietários ou famíliares de proprietários, e estudavam direito. Eu nem sequer por isso, é a verdade, sou franco. Talvez estudei direito como contei em uma ocasião porque alguém se confundiu comigo, escolheu o rapaz errado e sei lá por quê. E devem ter dito a muitos rapazes quando se defendiam: este rapaz serve para advogado, esse vai ser advogado.
Sim, afinal, acabei sendo advogado, mas não defensor da propriedade privada, formei-me como advogado de causas muito diferentes daquelas das que muitos podiam ter imaginado (APLAUSOS).
Embora realmente não tenha relação, é verdade que estudando aquela economia política netamente capitalista comecei a converter-me em um socialista utópico, comecei a pensar com um pouco de lógica, comecei a compreender o absurdo que era tudo aquilo da superprodução, as crises econômicas, o desemprego, a fome periódica e, enfim, pude antever algumas luzinhas acerca da verdade ainda estudando aquelas matérias.
Mas ao que me quero referir é que a composição de nossos estudantes naquele tempo, de nossa juventude desorientada, de nossa juventude sem perspectiva, era muito diferente.
E se encaminhavam àqueles estudos que não iam conduzir rumo à produção de bens materiais, que não iam conduzir ao aumento das riquezas da nação, mas sim ao aumento do consumo. Porque um advogado era um consumidor, em primeiro lugar, e um produtor de papéis, de escritos, de memoránduns e de litígios.
Que porvir podia ter um país cuja universidade estava lotada desse tipo de estudantes? Quem faria aumentar a riqueza do país? Em todo o caso se preparavam técnicos para fortalecer o sistema de exploração capitalista. E porque, como afinal, teriam que viver do que lhes pagavam, e somente os que tinham dinheiro poderiam pagar-lhes, tinham que viver de estarem ao serviço dos poderosos e dos ricos contra os explorados e os pobres.
Esse era o destino daquela maioria que matriculava em tais faculdades, chamados a consolidar o poder das classes dominantes.
E a escravidão não ia incrementar as riquezas. Nosso país em sua universidade era um retrato do que era nossa estrutura econômica. Técnicos, para quê? Agricultura extensiva na cana, na pecuária e em quase todos os produtos, falta de mercado para esses produtos caso se desenvolverem. E a indústria jamais teria surgido em nosso país frente à concorrência dos produtos manufaturados ianques. Jamais naquelas condições se teria desenvolvido uma indústria.
Que lugar havia para nossa juventude naquela sociedade, que porvir? Claro que os que estavam acomodados não tinham problemas, os que eram donos de usinas açucareiras, de latifúndios ou de alguns negócios ou de edifícios de apartamentos. Mas naquela economia estagnada, que porvir esperava à juventude, que porvir esperava a vocês? Porque ainda esses graduados universitários, quando saíam graduados da universidade, tinham muitos problemas para obter um emprego. Se era advogado, acabava como ajudante em um cartório de fama conhecida; se era médico, ver como conseguia que algum vereador o recomendasse depois de um par de anos fazendo política e lhe dessem um trabalhinho no município, com 125 pesos; se era professor, estudante de pedagogia, de filosofia, não tinham emprego.
Porque vejam, por exemplo, o que ocorria com os professores. Ao triunfar a Revolução havia uns 10 mil professores sem emprego. Desde o triunfo da Revolução, um dos problemas mais sérios que teve a Revolução foi preparar pessoal para atender a todas as necessidades docentes do país. E desde o triunfo da Revolução têm sido abertas umas 20 mil novas salas de aulas.
Sob o capitalismo sobravam os professores e tínhamos que... Bem, muitas moças estudavam para professoras nas escolas normais que existiam nas capitais, e depois não tinham emprego, e em muitos casos quando se requeria uma sala de aula no campo, não havia pessoal preparado para isso.
Mas tem sido tão grande a mudança, e são tão claras as perspectivas, que neste mesmo problema dos professores pensem o que significa que já neste ano na escola de professores, no primeiro ano, escolas situadas nas montanhas, têm ingressado mais de 7 mil, mais de 7 mil jovens! (APLAUSOS). Porque se para 1970 estaremos graduando 2 mil médicos por ano, para 1968 estaremos graduando 6 mil professores primários por ano (APLAUSOS).
E professores de uma extraordinária qualidade, porque estarão estudando cinco anos internos começando pelas montanhas. E então já não teremos essa angústia destes primeiros anos, organizando cursos especiais para formar professores.
Acaso isso quer dizer que sobrarão professores? Sobrar?! Quando nossas crianças e nossos jovens estejam cursando o ensino secundário, estes rapazes todos, que matricularam no primário e onde hoje temos 1,25 milhão, calculem quantos professores do ensino secundário vamos necessitar (APLAUSOS), quantos professores do ensino pré-universitário necessitamos. O que significa isso? A possibilidade de que os atuais professores se possam superar, sejam substituídos nas salas de aula do primário pelos novos professores, e eles por sua vez se capacitem para ir ensinar nas escolas do ensino secundário, e ainda nas escolas do pré-universitário.
Este movimento educativo não somente significa a oportunidade de estudar para todas as crianças de nosso país, mas a oportunidade de progredir para todos os professores e professores de nosso país que antigamente tinham a concorrência de 10 mil professores desempregados, 10 mil professores desempregados lutavam por cada nova sala de aula que se abria. E se pode dizer que hoje dez aulas estão esperando por cada professor, porque hoje ainda não estão satisfeitas todas nossas necessidades de professores primários; e ainda no ano que vem quando se graduem no instituto pedagógico os primeiros mil estudantes que começaram em Minas de Frío... O que são mil professores graduados, o que são? Se somente a cidade escolar “Camilo Cienfuegos” necessita centenas de professores, e ainda que nosso volume de formação de especialistas para a educação seja grande, é maior o volume do movimento educativo que há em nosso país.
Que diferenças, que extraordinárias diferenças, e que diferença nas condições atuais de nossos professores universitários, na remuneração que recebem da sociedade e nos recursos que o país investe em universidades! Que diferença, que extraordinária diferença em todas as ordens e que porvir diferente para nosso país e para nossa juventude!
E ainda aqueles que entendem pouco, aqueles para os quais as razões não lhes entram pelo coração — porque para os revolucionários as razões vêm de dentro e de fora; de dentro o sentimento de solidariedade para os demais e de fora os fatos— têm que perceber que o futuro deste país vai ser um futuro muito diferente, e que o futuro que a Revolução oferece à nação com este quadro, é um futuro infinitamente diferente do que lhe oferecia o âmbito da sociedade capitalista.
É claro que nos primeiros anos da Revolução tivemos que suportar estoicamente a avalanche das campanhas dos reacionários contra a Revolução por cada coisa que faltava, por cada coisa que faltava com razão ou sem razão; que faltava devido à ação do inimigo e que faltava devido à incapacidade de nossos dirigentes. Estoicamente temos vindo a suportar os argumentos dos impugnadores de nossa causa. Bem: temos suportado isso, e alguns anos mais teremos que suportar. Mas frente a isso a segurança, a tranquilidade e a satisfação que nos oferece o espetáculo do amanhã, que aparece claro ante nossos olhos, porque esse terá que dar seus frutos.
Temos alguma escassez, como é que não íamos ter escassez?! Com o que havia aqui, onde íamos tirar para todos o que todos necessitam? Com a riqueza sem desenvolver, sem indústrias, sem técnica, como íamos produzir tudo o que necessitávamos? Se o primeiro que qualquer pessoa compreende hoje dia, em qualquer recanto do mundo onde estiver, é que a produção em grande escala, a produção em massa de bens materiais — seja o que for, desde casas até um litro de leite, roupa, sapatos, transporte, tudo — somente se pode obter em quantidades enormes — repito — como resultado da técnica, como resultado da capacidade técnica de um povo e dos meios de produção de que disponha. Porque é lógico que uma locomotiva carrega muito mais do que um carro puxado por animais e as locomotivas — para pôr um exemplo — nós não pensamos fabricá-las nem agora nem depois, e é possível que nunca, porque nós podemos fabricar outras coisas nas quais não tenhamos rivais. Mas ponho um exemplo. E não é o mesmo produzir o açúcar com um facão do que com uma colheitadeira, que corta cem vezes o que corta um homem com a mão; e qualquer pessoa compreende que uma usina de tecidos produz infinitamente mais metros de tecido do que um tecedor à mão, e que a produção em quantidades enormes de bens materiais depende da técnica e dos meios de produção.
(ALGUÉM DO PÚBLICO DIZ ALGO AO DOUTOR FIDEL CASTRO).
Uma escola de quê? De que é essa escola? De quê?... De mecânico?
(ALGUÉM DO PUBLICO LHE DIZ: “De motorista e de mecânico”)
De motorista e de mecânico, com a carência que temos de motoristas e de mecânicos. Por que não vão ao Ministério dos Transportes para que deem emprego a vocês e se avariem um pouco menos os carros, pois há muito pessoal por aí, pessoal que não sabe nem conduzir? (APLAUSOS.) Pois reparem, que precisamente estamos precisando muito disso, do que está precisando muito o Ministério dos Transportes, que é de mecânicos e de motoristas. Portanto, possivelmente vocês não tenham sido bem orientados.
Mas, enfim, um motorista leva mais carga do que um homem com cavalos ou burros, muitas mais toneladas, muitos mais quilômetros...
E, por isso, eu dizia que o primeiro é a capacitação técnica do povo e os meios técnicos de produção. E se se trata de possuir riqueza em abundância, como nunca íamos possuir jamais essa riqueza era da forma em que estávamos agindo; e chegaremos a possuí-la em quantidades ilimitadas como vamos agora. Por isso, que ruminem os inimigos da Revolução; um ruminante pode muito menos do que um revolucionário (APLAUSOS). Porque nós sabemos que rumamos pelo caminho que nos levará à abundância; que esse é o verdadeiro caminho, e que este é o único caminho. Não que seja um caminho fácil, não! — nenhum caminho na história do homem rumo ao progresso tem sido fácil — mas é o único caminho e o verdadeiro caminho. Avançando por esse caminho, quantas coisas nós teremos que aprender, quantas deficiências teremos que superar, quantas tolices teremos que abolir, quantas concepções erradas, quantos métodos errados. Esse caminho é longo: às vezes nos desesperamos, às vezes as tolices nos fazem perder o juízo. Mas devemos compreender, filosoficamente, que o caminho do progresso está cheio dessas experiências.
E o que temos que fazer é observar muito, analisar muito, mudar muito e retificar muito. É possível que dentro de dez anos, muitas das coisas que temos concebido nestes primeiros anos de Revolução as tenhamos mudado completamente. Ninguém pode dizer que sabe aqui todas as coisas que foram bem concebidas e todas as que foram mal concebidas. Porque, se acaso, sabemos algumas e vemos claramente que algumas foram bem concebidas e funcionam bem e, em troca, vemos que outras não foram bem concebidas e não funcionam bem.
E somente a experiência, a realidade, os resultados nos poderão ir mostrando o que temos concebido bem e o que temos concebido mal; porque às vezes, quando vamos ao trabalho, nos deparamos com esses problemas, e a gente pergunta: E estes problemas de onde saem? E acontece que, talvez, para pôr uma turbina é preciso visitar umas dez empresas. E vão buscar uma porca ali, e dizem: “não, esta porca não é daqui, mas é de outro estabelecimento”. Então, o daquele estabelecimento diz: “bem, aqui temos o aparelho de fazer a porca, mas a matéria prima está na empresa tal e mais qual”.
E, às vezes, é um quebra-cabeça terrível. Alguns produtos aqui, como as aves e os ovos, era responsabilidade de três organismos: um deles recolhia os ovos, o outro os transportava, outro os distribuía. Muitas coisas que se podiam fazer de uma só vez por uma empresa, participavam como 13; e aí se apresentava o problema. Muitas coisas. Desses há muitos exemplos práticos, sobre os quais ninguém pode dizer ainda, com certeza, qual é o mais correto.
E teremos que ir encontrando muitos caminhos. Para os que pensem que a Revolução já está feita toda, não esmoreçam; para os que pensem que aqui já não há nada que fazer, não fiquem desanimados, que há muito que fazer, muito que arrumar, muito que retificar, muito que conceber doutra forma, e muito que idear, muito que idear (APLAUSOS).
(DO PÚBLICO LHE DIZEM ALGO)
O manicômio? Mas, qual manicômio?
DR. MACHADO VENTURA.— Um manicômio onde esteve ele e que o trataram muito mal.
DR. FIDEL CASTRO.— Não, eu acho que não o trataram bem — penso o mesmo. Veja: ao menos, para o que eu entendi, vamos discutir isso. Ele, com certeza, quis dizer outra coisa e não o tem explicado bem. Os manicômios são os culpados por isso.
O que se tem feito foi converter aquele inferno que era Mazorra, em um verdadeiro hospital onde as pessoas são curadas (APLAUSOS).
Machadito está aqui; podemos chamá-lo aqui à tribuna para que explique melhor que eu, porque ele é técnico nisso. Vamos ver, o que você ia dizer aqui?
DR. MACHADO VENTURA.— Pode acontecer, porque é um manicômio que é atendido, ainda, por médicos privados e não existem condições adequadas. Nós sabemos que existem esses manicômios, e que não estão tendo condições adequadas, e estamos estudando como abordar para terminar com essa situação (APLAUSOS).
DR. FIDEL CASTRO.— Então, tinha razão esse companheiro (APLAUSOS), tinha razão, o que não o explicou claramente. Ele disse: “erradicar o manicômio”, e de certeza que eu, por um reflexo condicionado, quando me falaram de manicômio pensei em Mazorra. Não aconteceu igual a vocês? (O PÚBLICO RESPONDE: “Sim”.) E me falaram em manicômio, mas isso não está bem chamá-lo de manicômio, certo?
DR. MACHADO VENTURA.— Hospital de dementes.
DR. FIDEL CASTRO.— Hospital de dementes. Bem, antes era um manicômio, certamente. Então, pelo que eu vejo, o que explicou o companheiro foi uma coisa clara, o que disse é verdade. Esse é o manicômio ao que você se refere, companheiro? Onde está?
O COMPANHEIRO.— Em Rancho Boyeros.
DR. FIDEL CASTRO.— Bem, mas em que rua? Em que parte da avenida? Avenida de Rancho Boyeros e que... qual é a outra rua? Porque estou meio confuso novamente, se alguém não me esclarecer, porque o outro também está na avenida de Rancho Boyeros.
(O DR. MACHADO VENTURA DIZ: “O de Mazorra”)
Um monte de coisas vieram à tona aqui!: Que há um manicômio onde não curam, que maltratam as pessoas, e há outro onde as tentam curar.
Ora bem, de qualquer forma não devemos zombar a respeito disso. Eu cheguei a pensar que, efetivamente, se estava referindo... Machadito, você se enganou! Eu entendi melhor que você a assunto.
Falávamos da produção de bens materiais, mas bem, a ideia fundamental está dita, e fica clara. Com o grande incremento de alunos nas escolas tecnológicas, nas escolas de ciências, o grande incremento do número de estudantes nas escolas e institutos tecnológicos, simplesmente estamos preparando as condições para o amanhã, a possibilidade de produzir em abundância tudo aquilo que necessitamos. Os defensores do capitalismo, sendo tão safados, têm-se baseado, fundamentalmente, no tema da escassez para combater a Revolução Socialista, como se o socialismo fosse o culpado pela escassez, quando toda a culpa da escassez de desenvolvimento econômico de nosso país a tinha, precisamente, o capitalismo: sistema social que se baseia na exploração, no desemprego e na fome. Nesse chamado mercado livre de trabalho, onde para cada emprego, tal como ocorre nos Estados Unidos, há milhões de homens lutando, que têm que estar vivendo de uma espécie de caridade social. Não vou dizer, nem muito menos, que nós tenhamos resolvido de maneira idílica o problema do emprego. Não! Não, porque ainda há muitos cidadãos, sobretudo nos setores femininos do país, que antes não eram considerados aspirantes a emprego, que antes não se contavam no número de desempregados; porque uma senhora em seu lar não era desempregada se o esposo trabalhava. E há dezenas de milhares de mulheres que, caso for aberta uma indústria, imediatamente vão trabalhar ali. Porque, efetivamente, o setor feminino ainda não está incorporado em massa, porque faltam condições para isso, centros de emprego suficientes para que se incorporem ao trabalho.
Futuramente, esse setor se incorporará também na medida em que se desenvolva nossa economia. E o número de braços aumentará extraordinariamente, braços que estarão produzindo com meios de produção adequados, modernos.
Mas, enfim, os chamados desempregados em nossos campos, que somavam centenas de milhares, centenas de milhares, não existem hoje. O que ocorre em nossos campos é o contrário: escassez de braços em muitas ocasiões para determinadas tarefas.
A universidade ou as universidades são os centros onde culmina todo esse esforço. As universidades têm um sentido cabal, uma importância fundamental para a Revolução, para o país.
E é claro que irá aumentando o número de estudantes universitários e serão dezenas e dezenas de milhares os estudantes universitários.
O estudante universitário está cercado das melhores condições para poder estudar. Sabe-se bem que nestes primeiros tempos da Revolução temos tido algumas contradições; sabe-se bem que um imenso número de estudantes está trabalhando e combina o estudo com o trabalho, mas o estudo com o trabalho como modo de viver, o trabalho como meio de vida e não como instrumento docente. E tem explicação no fato de que ao princípio não existiam as facilidades que existem hoje, o número de bolsas que existem hoje. Porque nosso ideal para o estudante universitário, nos anos vindouros, não é o estudante trabalhando como meio de ganhar a vida, mas sim o estudante trabalhando como parte de sua formação, como parte da docência. É por isso que temos ido ampliando os recursos destinados às bolsas. É por isso que tem vindo a aumentar o número de bolsistas.
Foi preciso travar uma luta com os organismos produtivos, porque os organismos produtivos, em sua impaciência por produzir — e em alguns casos os organismos burocráticos, em sua impaciência por produzir papéis — têm concorrido com a universidade pelos estudantes. E isso chegou a preocupar-nos muito seriamente, porque havia jovens estudantes do pré-universitário, que de repente renunciavam à bolsa, porque lhes tinham oferecido um emprego de cem e poucos pesos. Em sua impaciência por levar os estudantes à produção, estavam sacrificando a produção do amanhã. Porque não CE a mesma coisa um jovem que disponha do tempo todo para estudar ou para trabalhar como parte de sua formação, do que o estudante que obrigadamente tem que dedicar um número de horas à produção como meio de vida. E por isso, se tomaram acordos tendentes a proteger os estudantes e os centros docentes da concorrência dos centros de produção.
Continuamente, na vida real, surge o caso de jovens que se deparam com a necessidade de trabalhar; continuamente, na vida real, se apresentam circunstâncias que são um problema para esse jovem. E esses casos foram considerados. Quando em um futuro os estudantes sejam cem por cento estudantes e o trabalho seja parte da docência e, contudo, se apresente o caso de um jovem que por causa de uma eventualidade famíliar esteja na situação de socorrer sua família, pode haver duas soluções, segundo o caso. Que se trate de um estudante bom, um estudante bom, magnífico? A solução pode ser ajudar esse estudante para que continue como estudante e ajude sua família. Digamos que se trata de um estudante de vanguarda. A solução pode ser a de autorizar o emprego desse jovem pela universidade, em consideração à situação criada. Daí que se tenha estabelecido que, para contratar estudantes dos primeiros anos universitários, era necessário contar com o consentimento da universidade, porque era lógico que a universidade tivesse direito a defender seus estudantes de uma concorrência que vai contra os interesses da educação e da técnica do amanhã, favorecendo a produção imediata; e que a universidade tivesse a autoridade de dispor, segundo o caso, se autorizava ou não esse estudante. E nós pensamos que, como se trata de estudantes magníficos, a solução pode ser, inclusive, a de dar-lhe um subsídio, uma ajuda a esse jovem, para que possa continuar na sua condição de bolsista ou de estudante. A nós nos parece que isso é o mais correto.
Nestes tempos que tivemos muita necessidade de técnicos, temos acudido ao procedimento de subsidiar estudantes de medicina, estudantes de agronomia e de outras faculdades, a fim de que dedicassem cem por cento ao estudo.
Mas, por exemplo, ocorria que alguns jovens queriam estudar ciências básicas, no primeiro ano, e expunham também o problema de que estavam trabalhando, e que lhes podíamos pagar o salário. Nós expusemos que isso criava um precedente, e é o precedente de que a universidade não somente custeava todas as despesas que supõe o professorado e todas as despesas de materiais, mas que, ademais, cada vez que ingressasse na universidade alguém que estava trabalhando, iba receber um subsídio. Por isso, os subsídios que se têm dado em determinadas faculdades, nestes tempos, são de caráter transitório, e não serão as soluções do futuro. Porque se existem as bolsas, a oportunidade de receber tudo o que se necessita para estudar uma carreira universitária, se não existem obrigações familiares que pairem sobre esse jovem, não há por que duplicar os orçamentos que a sociedade tem que investir nas universidades. Isso seria exceder-se da medida.
Mas é bom que se diga aqui que nossa aspiração é que em um futuro os estudantes sejam cem por cento estudantes e que o trabalho forme parte da docência, e que somente por exceção se autorize, em casos de necessidade, àqueles que realmente necessitam trabalhar, ou sejam subsidiados aqueles que pelas suas condições de magníficos estudantes justifiquem que a sociedade faça qualquer sacrifício nesse sentido. Devemos ter presente isto, porque não é possível esquecer que estamos em uma etapa de trânsito.
Há outros casos: o de jovens que concluíram seus estudos sobre determinada profissão, como o caso de professores, que já tinham direito a ir trabalhar, mas é interesse da Revolução que continuem estudando; e então acontece como o caso desses alunos, em que lhes foi indicada alguma vaga pelo trabalho que realizam como professores, estão internados e, ainda, estudam na universidade.
Lançou-se mão também a esse procedimento porque é correto. Se um jovem se formou como professor tem direito a ir trabalhar, o país tem interesse em que continue estudando na universidade. E assim temos muitos alunos dos que já entraram nas escolas de pedagogia.
Devemos tentar ir organizando a vida estudantil de maneira integral, de ir resolvendo todos estes problemas. Esta universidade, tal como a universidade de Las Villas e a de Oriente, está recebendo recursos para a construção de novas edificações; temos visto algumas reportagens acerca da cidade universitária, a atual cidade universitária. Na capital da república pudemos dispor de uma série de edifícios; portanto, de maiores facilidades que em Santiago de Cuba e que em Las Villas; mas ainda aqui, onde se dispôs de muitos edifícios, também se estão fazendo investimentos nas instalações para a cidade universitária.
Não será questão de um ano, ou dois, ou de três, demorará muitos anos; mas algum dia nós teremos uma grande cidade universitária, onde quer que haja uma universidade.
Foram dados outros passos, como é o traslado da escola de agronomia da Quinta dos Molinos — onde íamos formar técnicos de pavimento — para o campo, onde se formem técnicos de verdade, que conheçam de agricultura. Não vou dizer que os engenheiros agrônomos graduados na universidade em tempos passados não saibam nada, não seria justo dizer isso; mas eles têm sérias deficiências como profissionais — tal como acontecia a outras muitas profissões universitárias, a todas — é preciso dizer isso.
E, sobretudo, se acostumaram a estar aqui nas ruas sobre o pavimento, e aspiravam a um trabalho no pavimento, e em um edifício. E, realmente, os técnicos, sabem onde devem estar em sua imensa maioria? No campo. Engenheiros agrônomos e veterinários onde podem realmente render o máximo e produzir é no campo, à cidade só de passeio; mas nas ruas da capital não se produz nem uma só semente de feijão (APLAUSOS).
Temo-nos deparado, na noite de hoje, com que os estudantes de agropecuária estão nos primeiros lugares. Estamos muito contentes com isso. Suponho que estejam de passeio, certo? Ou como prêmio no ato...
(UM ALUNO FAZ UMA PERGUNTA AO DR. CASTRO)
Bem. Você também? De agronomia ou de veterinária?
(O ALUNO RESPONDE AO DR. CASTRO)
Se me vai falar de agronomia, sim. Porque então vai mudar de tema. Já você viu o que aconteceu aqui há poucos instantes; e eu creio que isso não é democrático, que a gente esteja falando aqui e mudem o tema a cada cinco minutos (APLAUSOS). Se é de agronomia ou de medicina veterinária, sim; caso contrário, deixamos isso para outro dia.
Bem. E isto é importante, que depois as crianças não têm leite! Portanto, os de agronomia, que grande coisa que tenham saído da Quinta de los Molinos! Isso é que é um grande passo de avanço. Mas não se sintam muito satisfeitos por isso ainda; vocês têm um problema muito sério pela frente, e é começar a pesquisar, começar a pesquisar, porque é uma grande vergonha que muitas coisas estejam sem ser pesquisadas aqui em nosso país, uma grande vergonha. E que não haja uma única pergunta sobre problemas de agricultura que vocês não sejam capazes de responder; e quando comecem a pesquisar vão descobrir uma coisa muito interessante: que em cada dez interrogantes que respondam aparecem mais dez; quando estejam fazendo dez pesquisas surgirão 100; e quando estejam fazendo 100, surgirão 1 000 perguntas, perguntas que têm uma grande importância para a vida real, para a produção de bens materiais. E se abrirá para vocês um caminho ilimitado de uma importância muito grande nestes instantes. Por quê? Porque nossa batalla principal agora é a dos fornecimentos: satisfazer todas as necessidades, criar excedente de todos os produtos que possamos produzir aqui em condições econômicas, porque os que não seja econômico produzi-los aqui, devemos comprá-los fora.
Nós temos uma grande condição natural para produzir determinados artigos melhor que outros países, produzimos esses artigos e compramos a outros países aqueles produtos para os quais eles têm mais facilidades. Mas tendo uma produção agrícola abundante de açúcar, de carne, de leite, podemos importar todos os demais produtos agrícolas fundamentais que não estejamos em condição de produzir aqui, porque trocamos o açúcar por esses produtos, trocamos a carne, trocamos o leite, os lacticínios.
Mas para produzir excedentes de todos esses artigos é preciso a técnica, e a técnica adequada. Mas vocês terão que lutar contra um inimigo terrível: esse inimigo é a rotina, a rotina é o pior inimigo que pode ter um técnico. Há algumas pessoas que pensam que uma coisa tem que ser de uma maneira, e não há quem as faça conceber outra forma de produção que essa que conheceu sua vida toda. Daí que nos deparemos constantemente com uma série de supersticiosos na produção; isso ocorreu com a produção de leite: os supersticiosos da ração; é claro que eu penso que a alguns desses supersticiosos, bem porque estejam em uma leiteria ou onde estejam, nunca lhes falta o leite, compreendem? Porque têm o pouco leite que produzem ali primeiro que ninguém. Mas caso estiverem em alguns lugares onde se deparem com casos de crianças que não têm leite, então não seriam supersticiosos.
Recentemente — vou contar um exemplo — houve uma reunião sobre ervas e forragens; diferentes companheiros se reuniram, foram ver umas pequenas experiências nas quais trabalhava um grupo de rapazes que não são técnicos, mas que começaram a trabalhar e conseguiram determinados resultados. E eles tiveram discutindo longo tempo com aqueles senhores da reunião de ervas e forragens, porque não queriam acreditar nos resultados da experiência. Como vamos resolver isso, como vamos tentar convencer esse pessoal supersticioso que pensa que se as vacas não recebem ração não dão leite! E essa turma de rapazes, que não são técnicos, esteve discutindo e convencendo-os de que eram possíveis aquelas coisas que eles estavam observando ali.
Há outros exemplos: há homens que estão à frente de um centro de produção, que lhes dizem, lhes asseguram, lhes afirmam, lhes pedem, lhes suplicam que façam algo, e como não acreditam no resultado não o fazem. E esse é um dos problemas mais sérios: a formação de dirigentes com uma mentalidade nova.
Porque com os dirigentes que temos agora se podem fazer duas coisas: ensiná-los. E é obrigação do Estado, do Governo Revolucionário, ensiná-los, como se está fazendo com os técnicos canavieiros: todos os anos um cursinho ensinando-lhes a técnica; no ano passado se fez um cursinho de dez dias com magníficos resultados, neste ano se fará um cursinho de um mês. Esse é um dos caminhos.
Outro dos caminhos: formar dirigentes que tenham a mesma doutrina, a mesma escola, a mesma experiência, porque o que temos é muito pessoal e cada um dos quais aplica seu livrinho, seu método, e isso é verdadeiramente terrível. Por isso, temos que formar centenas de dirigentes, milhares de dirigentes com a mesma escola, com a mesma doutrina, com o mesmo método; e então aqueles administradores recalcitrantes, supersticiosos, dogmáticos, antediluvianos, que nem estudem nem aprendam, substituí-los por líderes novos! (APLAUSOS.) Essa é uma das coisas que temos aprendido: pode-se fazer um plano, estudar um problema, pedir a 100 administradores que façam tal coisa, e cada um deles faz isso de forma diferente. Se ali houvesse 100 homens saídos de uma escola, ou esses 100 administradores frequentaram uma escola, previamente, aprenderam e se converteram em pessoas a favor da técnica, então o resultado será diferente.
Se nós queremos que funcione uma leiteria, um cevadouro, qualquer centro de produção e que se aplique uma técnica, é necessário que os homens que estão à frente tenham estudado, tenham visto a técnica, a tenham verificado e saibam tudo o que têm que fazer todos os dias, até nos menores detalhes.
E vocês vão se deparar com que um dos problemas mais sérios é a rotina e a superstição, e advirto isso para que vocês não caiam nesses vícios e nessas mazelas. Portanto, não basta com que tenham saído da Quinta de los Molinos, mas que a partir de agora tenham o propósito de ser uns técnicos com uma mentalidade nova e revolucionária; isso é muito importante (APLAUSOS).
E nos referimos especialmente a vocês pela importância que tem para nossa Revolução a produção de todos esses artigos de consumo.
Os imperialistas dizem que nossa agricultura vai fracassar, mas nós vamos dar aos imperialistas a lição que não imaginam, vamos demonstrar o que se pode desenvolver, como se pode desenvolver uma agricultura nova, técnica, revolucionária; vão ficar espantados. Mas isso não se consegue somente com bons desejos: é preciso formar muitos técnicos. Da universidade não podem sair todos os que necessitamos porque, para dizermos a verdade, vocês são quatro gatos pingados — não bastam! — nem vocês os de agronomia nem vocês os de veterinária: são quatro gatos pingados, que somados aos outros quatro gatos pingagos que havia são oito gatos (RISOS), se a minha aritmética anda bem. E aqui é preciso formar milhares de especialistas.
Por isso, temos organizado uma escola de solos e fertilização — parece que tem alguma representação por aí, que deu sinais de vida — e alimentação do gado, porém ainda mais: de alimentação do gado leiteiro, porque há coisas na agricultura que são mais fáceis; o desenvolvimento da técnica na cana é muito mais fácil que o desenvolvimento da técnica no gado.
E isso não basta. É preciso levar para essa escola, em setembro, pelo menos 1.000 alunos, pelo menos! E é preciso organizar mais uma escola com 1.000 alunos, uma escola de técnicos veterinários. O que é que vamos produzir: um doutor em medicina veterinária ou um médico veterinário? — não sei como é o título daqueles companheiros. Não! Técnicos veterinários. Quer dizer, não terão um nível universitário, mas saberão o trabalho que têm que fazer e terão oportunidades de realizar — enquanto estiverem trabalhando — estudos por correspondência, mais cursinhos, que é outro tipo de extensão do ensino e da preparação, por outras causas, em outras condições. Isso se fará com professores que estejam em lugares onde não haja universidades, com os técnicos agropecuários, operários qualificados que tenham a base suficiente para frequentar um curso universitário.
E será preciso fazer outra escola, pelo menos de 1.000 técnicos veterinários. Há um curso de completamento para injetar mais pessoal em agronomia, mas são poucos e regulares, ademais. Essa escola dentro de dois anos formará centenas de técnicos, enquanto que estes rapazes que frequentam o curso de equiparação — que tem uma qualidade regular — têm que superar-se muito; terão que sair dali e depois estarem quatro anos estudando, porque temos que mandar pessoal para a escola de agronomia, caso contrário não vai ter alunos. Portanto, temos que utilizar os dois métodos: ingressos na escola de agronomia, ingressos em escolas de outro nível onde possam sair para a produção e depois cursar estudos superiores.
Porém, advirto uma coisa: Vocês os da universidade têm que andar com pressa, porque vão ter contrários muito sérios naqueles rapazes da escola de solos e fertilização, que não vão ter nível universitário! Têm que concorrer, concorrer! Bem: e a escola de agronomia tem que concorrer também e tem que concorrer conosco; nessa concorrência eu vou entrar também. Não devemos estar fora da concorrência, porque nós estamos aplicando um método de ensino revolucionário ali, e vamos ver se a escola de agronomia não aplica métodos pedagógicos revolucionários, também vão ficar atrás com relação a esta escola. E esses rapazes estão recebendo uma educação que vai ser uma educação integral; e, sobretudo, trabalhadores. Todos os dias têm que fazer três horas de trabalhos manuais, três horas todos os dias! Esse é o trabalho como parte da docência, como instrumento da educação, como instrumento da formação.
E eu lhes digo que caso vocês não se apressarem, aqueles vão ser melhores que vocês. Não fiquem tristes! (RISOS.) Digo isso para se apressarem.
E também vocês, os da faculdade de medicina veterinária — ou como os chamem agora — vão ter outra escola também, que vai produzir operários qualificados e depois vão estudar. Portanto, haverá uma concorrência entre o nível universitário e o nível não universitário; não uma rivalidade: uma concorrência. Agora, vou dizer-lhes uma coisa: Sabem quem são os que estão dando aulas ali? Um grupo nutrido de estudantes que se graduaram na faculdade de vocês. Vão ensinar e vão aprender ali também, mas como já têm uma base universitária estamos certos de que se vão formar muito bons técnicos.
E estamos fazendo um recrutamento modesto, simples, de uns quantos estudantes para um laboratório que se está construindo, e onde vai ser feita uma série de pesquisas muito interessantes nesse laboratório. Necessitamos formar equipes de pesquisadores, equipes de técnicos, e nisso também nós vamos concorrer com a Academia das Ciências, nesse pequeno grupo que vamos ir formando. Concorrência sim, não rivalidade! Mas aqui é preciso que todo mundo esteja concorrendo, porque escutem bem: se nós conseguimos que a reserva de vergonha, e de honra e de amor próprio que há nos revolucionários se ponha em evidência e se mostre, eu lhes digo que há uma verdadeira energia de vergonha atômica potencial, energia atômica de vergonha nas pessoas (APLAUSOS).
Isso que eu disse da concorrência não é uma brincadeira, isso da concorrência não é um truquezinho que foi inventado no socialismo. Não, isso põe em jogo as melhores qualidades do homem, o decoro do homem, a vergonha do revolucionário, a honra do revolucionário. E tenho visto muitas vezes que quando a vergonha em potência se desata é capaz de fazer milagres no homem.
Mas há muitos que têm a vergonha dormida, como o gênio de que fala a famosa poesia de Bécquer, e necessita que venha uma mão de seda para fazer acordar a vergonha dormida nos corações de muitas pessoas. E é preciso fazer acordar o sentido da honra e a vergonha que jaz em cada homem de dignidade; e a concorrência vem fazer isso, e que entremos todos, e que ninguém se durma à sombra da bananeira e que as universidades e os institutos de pesquisas concorram entre eles e perceberão quais serão esses resultados.
Nós temos podido ver o interesse que já provocou a técnica, tão logo se começou a falar dessas questões e tão logo começaram a se obter alguns resultados.
E, certamente, — eis uma anedota — neste tema da concorrência vamos ver qual é a universidade que vai graduar mais técnicos. Advirto a vocês que a escola de Las Villas tem uma escola de agronomia magnífica, tem rapazes magníficos e vocês vão ter que concorrer forte com esses companheiros da escola de agronomia da Universidade de Las Villas.
E não sei como estará a de Oriente, mas recentemente recebemos um convite do reitor da Universidade de Oriente para a graduação de um grupo de técnicos que, por sinal, dizia: o Governo Revolucionário pode contar com tais e tais e mais quais técnicos, e eu estava muito contente e digo: pois tantos engenheiros de tais e tantos de mais quais e assim que mandei uma comunicação me disseram: não, mas já eles estão trabalhando nos organismos. Ah, então não podemos contar com esses que já estão trabalhando nos organismos! E eu tive muita ilusão, pensei que íamos recrutar uns quantos técnicos para o centro de pesquisas porque, advirto, não estamos procurando sábios, estamos procurando rapazes jovens que se interessem pela pesquisa. E vamos chegar longe por esse caminho, com essa tropa nova vamos vencer umas quantas concorrências.
Já estavam colocados nos organismos. Quando um organismo apanha algo aqui, escutem bem, custa um trabalho imenso que o solte. Para essa escola de solos e fertilizantes quase todos os estudantes que se graduaram já estavam trabalhando em organismos e custou um enorme trabalho que finalmente os organismos os cedessem e muitos destes rapazes estavam fazendo trabalhos netamente burocráticos e que, em alguns casos, não tinham nada a ver com sua profissão nem com os estudos que estavam realizando.
Estudavam agronomia e trabalhavam na companhia elétrica — desculpem, na Empresa Consolidada da Eletricidade — eu disse companhia porque é um reflexo condicionado que tenho, que me resta de outrora, pelos reflexos condicionados e porque, às vezes, se fazem coisas que me lembram as de outrora também, como quando se enganam ao cobrar a eletricidade às pessoas um pouco mais cara e enganos desse e de outro tipo. Mas, bem, não estamos tratando desse problema agora, fazem parte dessa aprendizagem que temos que realizar. Mas estudavam agronomia e trabalhavam em uma empresa que não tinha nada a ver. E custa trabalho!
Aqui os organismos são muito setoriais, muito setoriais. O que significa ser setorial? Têm um homem aí, está subutilizado, mas por egoísmo do setor se resistem a permitir que seja transferido para outro centro onde possa ser muito mais útil.
Certamente, aproveito a oportunidade para dirigir uma mensagem à Universidade de Oriente de que o ano que vem nos guardem alguns técnicos, não seja que depois quando pensemos que se graduaram tantos também estejam trabalhando. E, verdadeiramente, mais vale esperar um ano do que lutar com os organismos para que transfiram alguns companheiros que estão trabalhando ali.
E a gente sente essa tristeza, essa pena de pensar que se uma inteligência está subutilizada está mal aproveitada. E é preciso lutar muito porque cada qual esteja no lugar onde deve estar. Mas não temos de limitar-nos a investigações no campo da agronomia ou da medicina veterinária. No campo da medicina humana há também que lutar e há uma série de companheiros médicos que estão também com desejos de realizar pesquisas.
E as pesquisas têm uma importância extraordinária para a produção de bens materiais. E vou pôr um exemplo, um exemplo. Há um destacado e eminente médico pesquisador em nosso país que solicitou apoio para uma pesquisa, a fim de controlar o sexo na inseminação. Se a teoria que ele tem elaborado for demonstrada na realidade, isso pode conduzir a que se nós queremos produzir, nos interessa fundamentalmente produzir vacas para aumentar a produção de leite, pois podemos conseguir que os nascimentos sejam fundamentalmente de fêmeas (APLAUSOS). Ao avesso, quando se trate da produção de carne, ao avesso. Tem uma grande importância.
Qualquer pesquisa desse tipo tem enorme repercussão na produção de bens materiais. E sabem o que é o socialismo e o que é o comunismo? Uma sociedade que somente pode ser edificada sobre a abundância, e à abundância somente se chega através da técnica, da técnica, da educação e da organização, porque temos que resolver problemas de organização e aqui também têm que haver técnicos em organização.
Mas realmente nosso país pode chegar a ser um extraordinário exemplo de socialismo e de comunismo, porque nós temos condições naturais para determinadas atividades econômicas tão extraordinárias que, realmente, o que não consigamos é porque não queremos consegui-lo, e a Revolução significa a oportunidade de consegui-lo.
Quem se interpõe entre nós e nossos objetivos? Hoje que o poder é do povo, hoje que o poder representa os interesses das classes humildes, da imensa maioria do povo, a que viveu pobre sempre; que é o que se interpõe? Somente nossa incapacidade, somente nossa falta de experiência, somente a rotina, somente as muitas concepções erradas que ainda perduram.
Mas em mãos do povo está esta oportunidade de conseguir produzir em abundância tal e em tempo que poderíamos chamar recorde, o que nossa população necessita e mais do que nossa população necessite, porque possuímos uma terra fecunda, recursos naturais suficientes para oferecer abundância não a uma população como a nossa, relativamente pequena, mas sim a uma população duas vezes, três vezes, quatro vezes, cinco vezes maior.
E para erradicar a fome — não a fome, a escassez — para produzir em abundância necessitamos os conhecimentos e necessitamos o desenvolvimento técnico.
Ah, e a humanidade tem que trabalhar em todo esse campo. Mas nós temos de pensar com satisfação que os avanços que consigamos em muitos campos da técnica haverão de beneficiar não somente oito ou nove ou dez ou doze milhões de cubanos, mas que poderão beneficiar centenas de milhões de seres humanos.
Nós estamos trabalhando agora em determinadas pesquisas sobre a alimentação do gado. Pensamos que vamos chegar a uma técnica realmente revolucionária nesse sentido, e tão logo como consigamos essa técnica convidaremos a um congresso em questões de alimentação do gado em países tropicais, para oferecer a todos os países do mundo os avanços que tenhamos obtido na técnica para produzir alimentos (APLAUSOS).
Recentemente, temos lido algo do qual queremos falar como exemplo, de que os técnicos em um país sul-americano, no Peru, haviam conseguido produzir um tipo de alimento baseado em sementes de algodão e em outra planta, tão rico em proteínas como o leite e como a carne, a um custo várias vezes inferior.
Deve saber-se que diferentes países do mundo estão trabalhando e pesquisando intensamente na produção das proteínas sintéticas. E por esses campos onde a ciência indaga, nós devemos tentar avançar, na medida de nossas forças.
Se em um dado país esse subproduto foi convertido em uma fonte de nutrientes, nós poderemos chegar a conseguir muita coisa com os subprodutos da cana de açúcar, nós poderemos conseguir muito nesse campo, e quanto poderá significar isso. A humanidade pode conseguir muitas coisas no campo da produção da proteína sintética — digamos — que combinada em parte com produtos naturais, como alimentação do gado, como alimentação animal em geral, poderia permitir a produção ilimitada de alimentos para o ser humano.
É claro que os capitalistas não podem estar fundamentalmente interessados nessas coisas; o socialismo sim, porque o socialismo busca a abundância para as massas, e cada novo descobrimento não arruinará ninguém dentro da sociedade, mas cada novo descobrimento servirá para ajudar a todos os integrantes da sociedade (APLAUSOS).
Então se, por exemplo, nós desenvolvemos a petroquímica, através da petroquímica a produção de tecidos artificiais ou de solas artificiais, não haverá associações de pecuaristas que se oponham, pois um material para a produção de calçado muito mais barato irá concorrer com o material que eles produzem. Não! Não haverá nenhuma associação de pecuaristas que se oponha, todo o povo estará alegre; ninguém seria afetado porque isso significaria que poderíamos ter em vez de um, dois ou três, seis, oito ou dez ou todos os sapatos per capita que se necessitem. Essa é a diferença entre o socialismo e o capitalismo.
Se nós conseguimos desenvolver a produção de alimentos em quantidades ilimitadas de qualquer tipo, não se arruinará ninguém, mas todo mundo poderá possuir mais.
É possível que no Peru — onde os técnicos daquele país, com a ajuda de técnicos da FAO têm desenvolvido essa produção de alimento — surjam inevitáveis conflitos de interesses entre os produtores de leite, de carne e de cereais, os produtores de alimentos e a nova técnica que se tem desenvolvido.
Se nós, em troca, desenvolvemos uma técnica desse tipo, não surgirá nenhuma contradição nem sequer com uma empresa ou oficina. Porque essa empresa ou oficina não pertence a nenhum grupo no particular, pertence à nação e a nação dirá: se este é um modo de produção muito mais barato e de muita melhor qualidade, então fechamos essa empresa ou oficina e que surja esta nova produção técnica. Essa é a diferença entre o socialismo e o capitalismo.
Mas nós temos que lutar. Por nós somente? Seria muito limitada essa ambição, seria realmente egoísta essa ambição. Sabemos que nós, dentro de alguns anos, estaremos produzindo em abundância tal, que os oito, nove ou dez ou doze milhões de cidadãos deste país poderão viver praticamente em um paraíso.
Quando nós trabalhemos no campo das pesquisas devemos pensar nas centenas de milhões de seres humanos que vivem nas zonas tropicais e subtropicais, no mundo chamado subdesenvolvido. Centenas de milhões de seres humanos que têm uma média de vida de 25, de 30, de 35 anos comparado com a média de vida de 60 e mais anos que têm os países industrializados, e que nossas pesquisas e o resultado de nossa técnica, irão beneficiar centenas de milhões de seres humanos. Essa deve ser também uma de nossas ambições.
E por isso, assim que descobrirmos algo, sem espírito de rivalidade, sem espírito de concorrência, mostrar a outros países os avanços que nós consigamos na técnica. Porque qualquer sociedade humana tem recebido o legado de tudo o que o gênero humano, o homem ao longo dos séculos, da história, tem criado, desde o abecedário até as regras de multiplicar e de dividir.
Realmente uma série de coisas modernas que nosso povo possui, não as inventou ele, foram inventadas por outros homens em outros países.
E realmente a técnica é o grande legado que pertence à humanidade. E o que nós consigamos nessa ordem, não faremos como os capitalistas, que fazem patentes, guardam segredos, o segredo de sua fórmula. Não! Em um mundo onde as duas terças partes da humanidade estão subalimentadas, que tem fome, é um crime guardar qualquer segredo que possa contribuir ao melhoramento das condições de vida dessas duas terças partes da humanidade (APLAUSOS).
Por isso, nossos estudantes devem pensar não somente no horizonte que vem resultar estreito das fronteiras nacionais, da pátria. Nossos estudantes, nossos jovens devem pensar mais amplamente no benefício que para toda a humanidade se possa derivar de qualquer avanço técnico em qualquer sentido: bem no campo da medicina, bem no campo da produção agropecuária. E entendemos que é um ideal, uma aspiração estimulante, uma aspiração bela.
O que é o que não tem por diante hoje nossa juventude? Que mundo é o que não se abre ante ela, que futuro, que perspectiva? Infinitas são essas perspectivas, infinito é o mundo que se abre ante os olhos e os corações de nossos jovens, de nossos estudantes, infinito é o mundo que a Revolução abre para eles; o mundo que para eles abriram os jovens que se sacrificaram — e em cuja homenagem nos reunimos hoje aqui — pelo qual deram sua vida. Eles tinham que reunir-se para marchar contra os cordões policiais, contra as fileiras de soldados armados de baionetes; eles tinham que enfrentar os gases lacrimogênios, às balas, aos carros patrulha. E aqui soavam os sirenes, batendo, golpeando, perseguindo, lutando contra nossos heróicos jovens daqueles tempos.
Triste quadro aquele, doloroso espetáculo aquele! O sacrifício, a imolação de nossos jovens, lutando contra a injustiça, lutando contra o abuso, lutando contra o crime, lutando contra o vício, lutando contra a corrupção.
E assim, morreram dezenas, centenares, milhares. Os estudantes universitários deram o exemplo; eles fizeram acordar a concorrência dos demais jovens, fizeram acordar a honra, o patriotismo de nossa juventude com seu sacrifício. Têm feito possível esta bela realidade de hoje, têm feito possível esta oportunidade de reunir-se para marchar pelos caminhos do estudo, da ciência, da técnica. Tamanha justiça, tamanho fruto o daqueles sacrifícios!
Eles puderam imaginar estas coisas, por estas coisas lutaram. É possível que muitos de nossos jovens vejam, como nenhum de nós podíamos ver com nítida clareza, a nítida clareza com que vemos hoje este espetáculo. É a diferença que há entre o real e o imaginário: o real sempre tem mais força. Os combatentes que morreram lutaram por este quadro imaginário, a geração de hoje vê este quadro em toda sua realidade.
Mas não somente nossos jovens se têm sacrificado e morreram ao conjuro da luta patriótica, ao chamado da pátria. Em dias recentes também se produziu um fato no qual apenas reparou a opinião pública, devido à circunstância em que se produziu este acontecimento: o fato de que os companheiros que acabaram se imolando não morreram no mesmo dia, mas sofreram gravíssimas lesões e foram morrendo dias depois. Mas o fato se produziu há algumas semanas, em um edifício nas proximidades de um albergue de bolseiros: uma mulher saiu à varanda de um edifício do lado pedindo ajuda, cercada pelas chamas e um grupo de jovens bolseiros universitários se lançou impetuosamente a prestar ajuda àquela senhora; e ao abrir um dos apartamentos, onde por desleixo estava aberta uma das torneiras do gás, se produzu um fogo súbito, violento, que lesou gravemente àqueles estudantes, e em decorrência do qual morreram cinco deles.
Dia a dia nossos companheiros universitários têm ido sepultando esses companheiros, os quais morreram apesar dos esforços mais desesperados da ciência para salvar-lhes a vida. Em decorrência das queimaduras que receberam, ao irem ajudar aquela mulher perderam a vida, vidas muito valiosas de jovens que se preparavam na universidade, de jovens que sonhavam com todas as coisas com que vocês sonham agora. E é realmente digno de que esse exemplo seja destacado aqui hoje, porque poucas coisas dirão respeito de nossa juventude de hoje como esse fato singular, esse fato heróico, que é a repetição desse espírito generoso e valente com que nossos jovens têm desafiado todos os perigos e todos os riscos no combate contra os agressores, nos momentos de perigo para a pátria. É o espírito dos jovens da artilharia antiaérea, que morreram nos combates de Girón, é o espírito de nossa juventude patriótica, extraordinariamente desinteresseira (APLAUSOS).
Estes estudantes que morreram foram: o estudante interno Israel de Armas, estudante de engenharia mecânica; o estudante interno Ramón Ríos, de medicina veterinária; o estudante interno Juan Nogueras, de nivelação de tecnologia; o estudante interno Heriberto Gutiérrez, de engenharia industrial e o estudante José Valdés Beso, de geologia.
Também nesse mesmo ato sofreram graves lesões, em consequência das quais morreram o jovem Jorge Borges, funcionário do Ministério das Relações Exteriores; José Argüelles, soldado das Forças Armadas Revolucionárias; e a senhora María Teresa Cabrera, que foi a senhora à qual eles foram ajudar.
É justo que no dia 13 de março este exemplo seja posto em destaque, e justo é que estes jovens figurem também na galeria dos mártires universitários (APLAUSOS). Justo é que seu exemplo apareça junto a todos os estudantes, desde os mártires de 1871 e os que morreram na luta contra Gerardo Machado, e os que morreram na luta contra Batista; junto aos heróis de 13 de Março, porque eles também, animados pelo mesmo sentimento, não vacilaram arriscando a vida para cumprir o dever.
E estes exemplos enriquecem o caudal de história, o caudal de glória da história de nossa juventude, da história de nossos estudantes. São coisas lógicas dos homens que cumprem o dever: sempre em todas as circunstâncias será necessário seu sacrifício; umas vezes lutando contra invasores, lutando contra as mazelas do homem; outras lutando contra os fenômenos da natureza; outras lutando contra os acidentes, contra o azar. E terá que haver também homens jovens que nas pesquisas corram riscos lutando contra os riscos que também esse trabalho científico acarreta.
Por isso, ao falar-lhes do que a nossa juventude tem pela frente, eu lembrava com tristeza este caso dos jovens que morreram acidentalmente. A universidade e o país perderam sua contribuição valiosa; mas apesar disso eles têm deixado um exemplo alentador e belo, que há de servir de consolo a seus companheiros e há de servir de consolo a seus entes queridos. Porque os familiares destes estudantes que morreram em meio da dor não perderam nem um só instante a inteireza, nem deixaram de animar e de alentar aos seus companheiros. Cabe a vocês recuperar o que o país perdeu; cabe a vocês recompensar isso, recuperando os técnicos que a pátria perdeu neste doloroso fato, com mais interesse, com mais esforço pelo estudo, com mais qualidade na preparação de cada um de vocês.
Estas são as coisas dolorosas, as coisas difíceis: essa contradição que sempre existirá em tudo; entre aquelas coisas pelas que o homem luta e entre o preço de toda luta; entre a beleza dos objetivos que se procuram e a dor que as conquistas desses objetivos provoca.
Por isso, em dias como o de hoje devemos meditar, pensar nisto. Pensar que tudo custou caro, que tudo custou um preço alto. Que nunca, que jamais nossos jovens esqueçam isso! E que as gerações do futuro sejam gerações alegres, sim — como têm de ser os jovens — porém responsáveis, conscientes, que vivam toda a alegria da juventude e toda a responsabilidade daqueles que têm sido herdeiros de um legado que custou dor, custou luto, custou sangue. E que sempre seja um processo de ascensão a vida de nossos jovens, os de hoje e os de amanhã. Sobretudo amanhã, quando não haja as tarefas de hoje; amanhã, quando não tenhamos as dificuldades de hoje; amanhã quando tenhamos a abundância que desde hoje estamos preparando; que nossos jovens tenham sempre novas e novas metas, novas e novas aspirações; que nossa sociedade nunca tenha uma juventude satisfeita, que nossa sociedade tenha sempre a aspiração de desempenhar seu papel, de cumprir uma função.
E assim, quando a época das revoluções sociais tenha passado, quando os problemas de hoje tenham passado, vocês terão a Revolução da natureza; essa será a eterna revolução do homem: revolucionar a natureza; e aí têm uma revolução que nunca se esgotará, aí têm uma revolução que não terá fim e a inquietação, as energias dos jovens terão em que ser investidas.
Por isso, quando falamos de uma revolução técnica, é a revolução que complementa a revolução social. Revolução social: poder dos trabalhadores e dos camponeses mais a revolução técnica, quer dizer, mais a aplicação da técnica, igual à abundância, igual ao socialismo, igual ao comunismo. Fala-se de uma revolução que começa agora e não terminará nunca.
E nessa revolução, vocês, a vanguarda intelectual de nosso povo, tem um papel bem importante que desempenhar. E vocês poderão ver os frutos do esforço de hoje, e a pátria toda, com júbilo, também desfrutará do esforço de vocês.
E em dias como hoje, de lembrança, de tristeza e de dor por um lado, quando sejam lembrados os sacrifícios que foram feitos, também teremos direito a pensar com júbilo ao ver os resultados, ao ver os frutos daqueles sacrifícios. E assim, sempre, duas coisas se têm de misturar hoje. Tristeza somente não, tristeza somente podia haver ontem, quando vínhamos para esta escadaria honrar nossos mártires, em meio de uma pátria frustrada, de uma revolução que não tinha sido feita. Quando a Revolução já foi feita, quando a pátria marcha para frente, quando não estamos perante uma nação frustrada, mas sim diante de uma nação vitoriosa e otimista, em dias como hoje temos de sentir dor, mas também temos de sentir alegria e temos de sentir júbilo.
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)