Discursos e Intervenções

DISCURSO PROFERIDO PELO COMANDANTE EM CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NA ASSEMBLEIA DE TRABALHADORES DOS AUTOCARROS, EFECTUADA NO TEATRO “CHAPLIN”, A 17 DE JULHO DE 1962

Data: 

17/07/1962

Companheiros trabalhadores dos transportes:


Tornava-se necessária esta assembleia de hoje.  Não é esta a primeira ocasião que nós reunimos convosco; portanto, manifestei ao companheiro Ministro dos Transportes o nosso interesse em assistir também a esta reunião.

Devemos analisar algumas questões relativas ao vosso trabalho e ao problema dos transportes em geral; devemos analisar os problemas, revolucionariamente e devemos analisar os problemas como trabalhadores, e como trabalhadores, analisar e agir.

Da nossa percepção não foge que o vosso trabalho é duro e que, aliás, deve ser realizado em condições materiais difíceis.  Somos certos também de uma realidade, nomeadamente, o antagonismo existente entre o público e vocês, e entre vocês e o público.  Já disse que íamos falar como revolucionários e como trabalhadores (PALMAS).  É preciso analisar qual a parte da razão que cabe ao público, e qual a parte que vocês têm.  É necessário que o público vos compreenda e que vocês compreendam o público.

Com efeito, eu observava quando estava a falar o companheiro Ávila, observava as vossas reacções.  E vou falar sinceramente e até comentava isso com alguns companheiros, realmente esta assembleia e esta multidão de trabalhadores dos transportes dá a impressão de ser uma assembleia de gente revolucionária (PALMAS). 

No entanto, para que tal não fique como uma frase isolada, acho que seria aconselhável ilustrar isto. Se faz favor, que levantem a mão todos aqueles que são milicianos (A maioria levanta a mão).  Muito bem companheiros.  Agora uma outra pergunta, que demonstrará a vossa relação com a Revolução:  todos aqueles que tenham um filho, um irmão, ou um sobrinho a desfrutar de uma bolsa concedida pelo Governo Revolucionário, que faça favor de levantar a mão (A maioria levanta a mão).

Poderia fazer um monte de perguntas que demonstraria perfeita e claramente o vínculo desta massa, dos interesses desta massa de trabalhadores com a Revolução.  Se faz favor, levantem a mão todos aqueles que estavam no desemprego e voltaram a trabalhar após o triunfo da Revolução (Uma grande parte levanta a mão).  Bem.  Constata-se perfeitamente a relação entre os interesses desta massa de trabalhadores e os interesses da Revolução.  É por isso que se explica perfeitamente, o entusiasmo, a combatividade, o espírito desta massa.  Esta não é uma massa de burgueses, é uma massa de trabalhadores.  E esse ponto de vista é que estará na base da nossa análise. 

Enquanto observava as vossas reacções, e é evidente que quando o companheiro Ávila apontava as vossas falhas, vocês aceitavam, mas não havia agitação nesta assembleia.  Porém quando o companheiro Ávila se referiu às faltas do público, vocês todos ficaram de pé e agitaram-se (PALMAS).

A mesma coisa passa-se com o público.  Se no vosso lugar aqui, colocássemos 5 000 utentes do transporte, e alguém fizesse a crítica das vossas falhas, de certeza absoluta que eles ficariam de pé e todo o mundo estaria totalmente de acordo.  Mas, se alguém apontasse as falhas do público, é possível que não haja tanto entusiasmo para condenar as suas faltas.

Tem-se ido criando correntes antagónicas em virtude da incompreensão e do desentendimento existente quer do vosso lado, quer do lado do público, que são evidentes.  E para esse antagonismo, para essa hostilidade, há que procurar as causas, e há que combater contra essa hostilidade entre os trabalhadores deste serviço e o público receptor deste serviço.

Evidentemente, uma parte do problema é a incompreensão mútua.  Compreender isto, fazer um esforço por parte de todos para limar esses atritos, é parte daquilo que é preciso fazer para ultrapassar essa situação.

Porém há outros problemas que não são tão simples de ultrapassar, nem tão fáceis de compreender.  É preciso dizer que todos ainda temos muitos defeitos; a todos nós ainda nos falta muito para termos a Revolução no sangue, e a todos ainda nos falta muito para sermos bons revolucionários; há que frisar que ainda temos muitos defeitos, e, aliás, dizer que não estamos cento por cento à altura da Revolução que estamos a fazer. É preciso dizer que os trabalhadores ainda têm muito que apreender, e têm que adquirir ainda muita consciência; É preciso dizer que os nossos trabalhadores ainda têm muito lastro do passado; têm muitos vícios do passado; e há que dizer também que entre os nossos trabalhadores ainda há muita gente individualista, egoísta, irresponsável, que ainda está a viver num mundo que não condiz com a Revolução.  Há que dizer que ainda não compreendemos bem, bem, bem, a Revolução, e que compreender a Revolução por vezes é mais difícil que morrer pela Revolução; que compreender a Revolução é por vezes muito mais difícil que amar a Revolução.

Um instinto diz aos trabalhadores que a Revolução é boa, que a Revolução é a sua libertação, que a Revolução é a sua via de ascensão à condição real de homem, de ser humano; um instinto lhe diz que a Revolução é o justo.  Mas é apenas o instinto, o olfacto da classe, sem que cheguem a compreender na íntegra o que é a Revolução e como há que servir à Revolução.  E é fácil dizer “sou revolucionário”, “estou com a Revolução”, sem compreender totalmente a Revolução.  Isto não acontece apenas com os trabalhadores dos transportes; acontece também noutros muitos sectores de trabalhadores.

Mas, como nós não somos demagogos, e os trabalhadores são a classe revolucionária por excelência, e os trabalhadores são o apoio da Revolução, é necessário falar cada dia numa linguagem mais clara, é necessário cada dia raciocinar mais.  Não se pode tratar igual o jovem adolescente de 15 anos, do que quando está de três meses.  E é necessário que a nossa Revolução abandone as fraldas, e é necessário que a nossa Revolução vista calças.

São três anos e meio de dura luta revolucionária após a conquista do poder, e é necessário falar cada vez mais claro com os trabalhadores; porque já é altura que eles comecem a assimilar as verdades da Revolução, é altura de começarem a compreender as leis da Revolução, a essência da Revolução com maior clareza.

Aos inimigos, às classes inimigas dos trabalhadores, é preciso atacá-las com toda a força da verdade, é preciso combatê-las sem trégua, e dizer-lhes tudo quanto é necessário sem papas na língua; porém aos trabalhadores, à classe revolucionária, com um sentido diferente e para o seu próprio adiantamento, é preciso falar-lhes também com clareza e dizer-lhes a verdade, para que a compreendam, para que cada dia consigam ver com mais nitidez que a Revolução é o seu destino, que a Revolução é a sua vida, e que não há que ser revolucionário de palavras, senão que há que ser revolucionário de acções.

Mas, fundamentalmente, acabar de compreender a verdade de que a Revolução não é uma lotaria que se ganha numa rifa, senão que a Revolução é a oportunidade, não de herdar uma vida feliz, una vida fácil, uma vida abundante de todas as coisas que necessitamos, senão que a Revolução é a oportunidade de fazer isso tudo, de criar isso, de conquistar isso.  E é que nunca vamos conseguir isso se não o construímos, se não o criamos, se não o conquistamos.  E os trabalhadores terão que se superar, porque os trabalhadores não podem ser fracos, os trabalhadores não podem agir com imprevisão, os trabalhadores não podem ser irresponsáveis, porque a esperança dos inimigos dos trabalhadores está focada nas fraquezas dos próprios trabalhadores (PALMAS), na incultura dos próprios trabalhadores e na inconsciência dos próprios trabalhadores.  É essa a maior esperança dos inimigos dos trabalhadores, para torná-los novamente em explorados das classes privilegiadas.

E devemos saber utilizar a Revolução, saber aproveitar dignamente a oportunidade que significa uma revolução.  Não chega com manifestar a nossa devota simpatia para com aqueles que tombaram; não é suficiente pormos de pé em homenagem daqueles que tombaram por esta realidade, porque tal não é suficiente, e essa não é a forma de prestar homenagem aqueles que se sacrificaram; é preciso homenageá-los permanentemente, com a nossa conduta, com a nossa atitude, com o nosso trabalho.

E é um crime desperdiçar todas essas oportunidades que a Revolução nos oferece; é um crime agir em contra dos interesses dos próprios trabalhadores e fazer o jogo aos inimigos dos trabalhadores.  Porque a esperança daqueles exploradores de ontem é que os trabalhadores não saibam aproveitar a sua grande oportunidade, e tenham que cair novamente embaixo do seu jugo.

E o obreiro, que na época do maioral recebia um salário de miséria e era posto na rua se não trabalhasse com o máximo de esforço; o obreiro agrícola, que sabia que se não dava o máximo do seu esforço não era empregado no tempo morto, porque os latifundiários e os patronos escolhiam aquele que maior rendimento tivesse no trabalho, e era necessário trabalhar intensamente, para evitar ficar a fome; ou o obreiro da construção, ou o obreiro de qualquer área que tinha que mendigar um emprego, que para que lhe dessem trabalho numa obra tinha que procurar um sargento político e passava a maior parte do tempo no desemprego, esse obreiro quando sentia o chicote do maioral e da fome, quando tinha que trabalhar para os seus exploradores, e se não desse o máximo de si era condenado por aquela sociedade capitalista à fome e à miséria, e hoje quando esse obreiro que tem trabalho seguro, trabalho digno, que não tem o chicote dos maiorais nem a ameaça da fome, em lugar de trabalhar mais do que antes, apenas rende 50% do que antes, então está a conspirar inconscientemente contra o seu futuro e está a estimular o jugo que os seus exploradores de ontem pretendem voltar a colocar no seu pescoço.

Quando essas coisas não são compreendidas por uma parte dos trabalhadores, quando há um trabalhador que actua assim, é evidente que esse trabalhador não está à altura da Revolução, é evidente que esse trabalhador conspira inconscientemente contra os interesses da sua classe e contra os interesses dos melhores trabalhadores.

E por conseguinte, é necessário, em prol da Revolução dos trabalhadores, que os próprios trabalhadores, que o poder dos trabalhadores, adopte medidas tendentes a ultrapassar essas deficiências, que são as nossas deficiências, que são o lastro que arrastamos do passado, os vícios que carregamos do passado.

Evidentemente, que os trabalhadores têm que ser a vanguarda, e essa vanguarda tem que possuir um espírito forte, um espírito alerta e uma grande capacidade de sacrifício.  Porque ainda hoje subsistem muitos privilégios sociais; herança de uma sociedade que não pode ser transformada de um dia para outro.  Subsistem ainda muitos privilégios e, no entanto, temos que saber encará-los, temos que fazer com que o espírito dos trabalhadores seja capaz de ultrapassar a influência negativa dos elementos parasitas que se mantêm na nossa sociedade; capaz de ultrapassar o espírito acomodadiço da burguesia que ainda existe no nosso país, e ultrapassar os vícios, as deficiências que nos deixaram.  E os trabalhadores têm que lutar contra essa péssima herança.

E aqui, no seio deste sector, nós não hesitamos em formular estes argumentos.  A história deste sector é bem conhecida por todos os presentes, sabem quanto foi afectado este sector pelos vícios da politiquice e da corrupção do passado, vocês conhecem disso melhor do que ninguém.
Vocês sabem como funcionavam as empresas de transporte, vocês sabem como foram assaltados os sindicatos, vocês sabem como eram vendidas as vagas, vocês sabem como os politiqueiros utilizavam as vagas para fazer política, e como os líderes amarelos e corruptos, com o recurso da sinecura e do monopólio da oportunidade de emprego, controlavam, conjuntamente com os elementos de força e de coacção, a organização sindical deste sector e até a venda das vagas.  Que não era como presentemente, que os jovens têm a oportunidade de frequentar a escola; que, em lugar de lhes vender a vaga, os rapazes são adestrados durante longos meses, numa preparação na qual o Estado utiliza centenas de pesos e até lhes garante um emprego.

Quanto trabalho e quantas dificuldades tiveram que enfrentar muitos dos trabalhadores deste sector para arranjar um emprego!  Quanto teria significado para eles o facto de poder frequentar uma escola e depois terem a garantia de um emprego, sem ter que agradecer o favor a ninguém, nem dar a sua cédula pessoal a ninguém, nem votar por ninguém, nem ter que bater à porta de nenhum politiqueiro, de nenhum corrupto, de nenhum dos homens de Mujal!

Não obstante, nós sabemos que muitos desses obreiros que entraram por essas vias são hoje bons trabalhadores e bons revolucionários, porque ao fim e ao cabo viram-se forçados a aceitar as condições impostas por aquela situação para poder viver.

Mas como era amargo ter que percorrer esse calvário para ganhar o pão!  Como era amargo!  E como é hoje de diferente!  Como é diferente arranjar hoje emprego neste sector!  Quantas oportunidades, como é de limpo e mais moral este procedimento!

Porém não foram esses métodos os que talvez causassem mais prejuízo na consciência ou na moral dos trabalhadores do sector.  Talvez o que mais prejuízo provocou foi a corrupção sistematizada, o roubo transformado em norma para muitos trabalhadores do sector.

Como é triste, como tem de ser de corrupta uma sociedade que torna a delinquência, o delito, o roubo, em modo de vida, para aquele que pretende viver honestamente do seu trabalho!

E esses eram os frutos daquela sociedade, daquela sociedade de gatunos, daquela sociedade de bandidos que viviam de pilhar e de roubar os trabalhadores.  Para aquela sociedade, roubar não era delito;  viviam do roubo, e era lógico que os frutos daquela classe, que os vícios daquela classe, que a corrupção daquela classe se alastrasse pelos sectores trabalhadores.

E o roubo do dinheiro arrecadado —será que podemos falar disso aqui?  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Sim!”)—, o roubo da arrecadação era praticamente uma praxe para muitos trabalhadores deste sector.

Claro, nós conhecemos casos de trabalhadores que naquela altura roubavam, e hoje são trabalhadores bem honrados e revolucionários.  E é isso que importa...  (PALMAS)  Porque naquela sociedade o roubo se tinha tornado costume, e possivelmente o provérbio aquele de que “ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão”, servia de pretexto.

Mas no nosso país o roubo acabou.  Aqui se roubava em todos os sectores:  em todos os ministérios, em todos os negócios.  Houve funcionários que se tornaram milionários.  Não se sabe a quantidade de gente que virou rica através do jogo, que é mais uma forma de roubar também o povo, com a dilapidação de recursos, com os negócios sujos, com a apropriação do erário público.  Pois aquele que não roubava na administração pública, roubava como proprietário de uma fábrica ou de um negócio, porque roubavam aos trabalhadores o fruto do seu trabalho.

E a Revolução deu cabo de todas as formas de roubo.  Tinha que pôr cobro a todas as formas de roubo em todas as esferas, em todos os sectores; e tinha que lutar ainda mais contra toda a manifestação de corrupção no seio dos trabalhadores.  Tinha que lutar contra isso.

Então, qual o cidadão do nosso país, qual o homem e qual a mulher do povo, qual o trabalhador honesto, que não compreende que o roubo em todas as suas manifestações tinha que acabar?

Este sector foi vítima, igual do que outros sectores trabalhadores, dos vícios do capitalismo.  Noutros sectores tinham estabelecido certos tipos de privilégios familiares.  Pretendia assim o capitalismo corromper os trabalhadores, porque uma classe obreira corrupta, dividida, não será jamais inimigo respeitado pelos capitalistas exploradores.

No entanto, era lógico, companheiros, que aquele sistema de corrupção e de vícios, que todos aqueles métodos, deixassem alguma marca, deixassem gente descontente, deixassem gente corrupta incapaz de se emendar, elementos negativos incapazes de se emendar.  E existem, da mesma forma que há muitos que se tem emendado, há também outros que não se tem emendado, e jamais o farão. 

Mas é preciso não fazer confusão, não se pode atribuir muitas das falhas e deficiências a atitudes contra-revolucionárias.  Há preguiçosos, há irresponsáveis, há gente que preferia o sistema anterior porque roubavam.  É verdade.  Não é coisa de contra-revolução, senão de corrupção irreversível, degeneração.

Sabe-se que o elemento corrupto, degenerado, tende a aderir à contra-revolução, porque a contra-revolução se nutre dessa cáfila, desses elementos negativos, de toda essa escória (PALMAS).  Porque senhores, vamos falar claro:  latifundiários, banqueiros, grandes industriais, jogadores, politiqueiros, esbirros, prostitutas, proxenetas e corruptos, hoje fazem parte de uma única legião (PALMAS).  Todo esse elemento atrai-se como íman.  Da mesma forma que a Revolução os rechaça, com essa mesma força, a contra-revolução os atrai.  E esse elemento ainda existe e existe no vosso seio.

E provavelmente esse elemento não compareceu a esta assembleia.

É preciso dizer que vocês também têm culpa, vocês têm bastante culpa. E sabem porquê?  Por indolentes, porque vocês aceitaram essas coisas como se fosse o mais natural do mundo.  E qual o resultado?  Que o povo tem muito má opinião de vocês todos.

Estou a explicar as causas, precisamente lhes disse que iria explicar as causas.  E, então, os bons trabalhadores, aqueles que cumprem, aqueles que são revolucionários —que sem sombra de dúvidas são a esmagadora maioria dos presentes— são metidos no mesmo saco.

E em parte essa é também a nossa responsabilidade e a vossa, porque vocês não gostariam, vocês não ficariam satisfeitos, se o povo tivesse uma má opinião vossa; nenhum trabalhador honesto, cumpridor, sacrificado, que realiza um trabalho duro, pode ficar satisfeito se o povo tem um mau conceito da sua pessoa.

Agora são vocês todos, fundamentalmente, que têm que fazer o esforço para sanear o sector de elementos corruptos, degenerados e negativos (PALMAS), dos elementos negativos que poluem o ambiente, que desmoralizam este sector de trabalhadores.  E o esforço para granjear a compreensão do público não dará os melhores resultados até que haja efectivamente uma reacção por parte dos trabalhadores dos transportes, até que não haja um esforço sério votado a afastar das suas fileiras esses elementos negativos, desmoralizadores e desacreditadores dos trabalhadores do sector.

E companheiros,  eu fiquei admirado quando ouvi o companheiro Ávila a dizer que aquele que cometesse tal erro seria enviado à comissão e depois para sei lá onde, e daí seria mandado para outro lado, depois a outro, depois para um outro lado, e finalmente a trabalhar na agricultura.  E eu cá comigo dizia:  quando for enviado para a agricultura já destruiu 10 veículos pelo menos.  E pergunto não será melhor enviá-lo directamente para a agricultura (OVAÇÃO).

Companheiros:  qual o trabalhador honesto, qual o trabalhador cumpridor, sincero consigo mesmo, que pode ficar preocupado de que haja normas de disciplina social, que pode ficar preocupado de que se aplique mão dura para com aqueles elementos que não prestam, que são um obstáculo para a classe, para a nação, que são inimigos dos melhores interesses dos trabalhadores, que são traidores da classe obreira, que são agentes do inimigo?  (PALMAS).

Qual o trabalhador honesto, qual o trabalhador cumpridor que se vai preocupar com isso?  Pelo contrario, os bons trabalhadores —que são a esmagadora maioria—, os trabalhadores honestos, justos, que são capazes de pensar serenamente, limpa e patrioticamente, compreendem que saem a ganhar, compreendem que tal é indispensável para recuperar ou para conquistar as simpatias, o reconhecimento de todo o povo de que fazem parte.  Porque o mais insensato de todos os antagonismos é o antagonismo entre vocês e o público, porque é um antagonismo entre povo, é um antagonismo entre trabalhadores; é um antagonismo, não entre parasitas e trabalhadores, não entre exploradores e trabalhadores, senão um antagonismo entre trabalhadores e entre sectores do povo.  E como é que não vamos conseguir ultrapassar esse antagonismo!  Seriamos muito pouca coisa, seriamos bem pouco dignos desta Revolução, se não conseguíssemos ultrapassar esse antagonismo.  Porque esse não é um antagonismo insuperável, irreconciliável, como é o antagonismo entre exploradores e explorados e simplesmente temos é que arregaçar as mangas, tomar as medidas, dar as explicações, fazer aquilo que necessário, implementar as medidas que sejam necessárias para pôr cobro a esse antagonismo. 
Agora vamos pôr de lado o elemento corrupto, o negativo, o contra-revolucionário, vamos abordar os defeitos dos bons (PALMAS).

Entre esses defeitos temos o absentismo, a má educação, o mau humor e nalgumas ocasiões e até inclusivamente—não com fins contra-revolucionários claro está— aparece a preguiça, por qualquer razão, desleixo com o carro, um dia que não se lhe põe azeite, um barulho na biela, ou não rever se a viatura tem água, o não ter a previsão necessária, por vezes cometem-se certas falhas que não são falhas contra-revolucionárias, mas sim falhas que atingem a produção. São as falhas dos bons trabalhadores.

Ávila apontava que acreditando que eram contra-revolucionários foi visitar aqueles que na carreira faltavam ao serviço às segundas-feiras, e eram milicianos, companheiros revolucionários, trabalhadores exemplares até.  Então, não sei como foram eleitos trabalhadores exemplares com faltas ao serviço!  (PALMAS)  Porém, o facto é que quando Ávila disse constatei, “com imensa dor...”, Eu disse:  Afinal!,  com imensa dor constatou que eram contra-revolucionários a maioria deles.  Pois não senhor:  com imensa dor constatou que eram revolucionários.

É preciso entender que esses são os defeitos dos bons.

Companheiros:  embora lhes esteja a falar com toda a franqueza...  Perdão?  (Estão a dizer qualquer coisa para o Comandante Fidel Castro.) 
Eu bem sei que o trabalho de condutor de autocarro é um trabalho muito duro, companheiros (PALMAS).  Não pensem que me estou a esquecer do trabalho tão duro que vocês fazem; considero que é um dos trabalhos mais duros; são bem duras as condições nas quais desempenham as suas funções.  Não posso esquecer as cifras de passageiros que têm transportado com menos equipamento.  São cifras eloquentes.  E evidentemente, se este fosse o primeiro ano da Revolução apenas lhes faríamos elogios, pelo número de passageiros transportados, pelas dificuldades ultrapassadas. Mas atendendo a que estamos no terceiro ano e meio, praticamente no quarto ano de Revolução, não lhes podemos dedicar grandes elogios.  E sabem porquê?  Porque já não estamos para elogios, porque aquilo que era um grande mérito no primeiro ano, hoje é um pequeno mérito no quarto ano (PALMAS); porque não podemos ficar por aí.  Grande papel teríamos feito se ficamos satisfeitos com isso, procuraremos as estatísticas:  tantos passageiros mais e menos autocarros; e que o público continue a falar e a crescer o antagonismo entre ambos.  Grande papel teríamos feito!

No entanto, a Revolução, na medida em que avança, na medida em que se torna mais dura a luta, na medida em que atinge novos degraus, a Revolução torna-se mais exigente, a sociedade intera é mais exigente, a sociedade intera.  E aquele cidadão que há cinco anos não se admirava de ter sido deixado numa esquina ou de ter recebido um palavrão qualquer, hoje se surpreende, fica espantado, irritado e insurge-se contra isso, devido a que toda a sociedade é mais exigente; e é correcto que toda a sociedade seja mais exigente.  E com certeza vocês todos também são mais exigentes com os restantes serviços, porque todos somos mais exigentes, porque aquelas coisas que eram compreendidas e toleradas como defeitos no primeiro ano, não são toleradas no quarto ano da Revolução.

Resulta incontestável que as cifras indicam um grande esforço, um enorme aumento da produtividade; no entanto, não devemos ser conformistas.  É triste que a despeito disso tudo, ainda exista um antagonismo crescente entre o público e vocês.  Não nos podemos conformar com isso, e temos que procurar soluções aos problemas de diversa ordem, aos diferentes problemas, porque se a pesar dos defeitos e de todo o absentismo conseguiu-se essa produtividade, analisem quanto se poderia atingir se conseguirem eliminar essas dificuldades e esses vícios; se apesar do desleixo com os autocarros e as roturas provocadas intencionadamente se conseguiu essa produtividade, quanto poderiam ter feito sem essas falhas?! 
Mas para além disso, é preciso analisar as cifras que indicam um aumento enorme da circulação da população, de pessoas que utilizam esse serviço:  em seis meses 20 milhões mais de passageiros do que no ano transacto...  e 11 em três meses nacionalmente.  Deve ser, em três meses —por aqui estão os papéis—, aqui estão:  11 084 500, a diferença entre o primeiro trimestre de 1961 e o primeiro trimestre de 1962; dos dois trimestres deve ser entre 22 ou 23 milhões mais de passageiros.

Então companheiros, em verdade temos grandes dificuldades com o equipamento, se tivéssemos milhares de veículos então essas dificuldades não seriam tão graves.  Tal impõe-nos a necessidade de ultrapassar todas essas deficiências que confrontamos com o equipamento, porque se somos forçados com um autocarro deficiente destes a prestar um serviço crescente, como seria se conseguirmos ultrapassar essas deficiências que alastramos neste sector?

Reflictam nisto se faz favor:  com o mesmo equipamento ou até com menos equipamento, para além das necessidades de transportação, como é que poderemos fazer isto sem termos resolvido os problemas de absentismo, desleixo e todos os vícios que possuímos?  É mesmo por isso que não nos podemos sujeitar aos números friamente, porque a situação precisamente com a qual o país está apostado, é um dos pontos onde mais tem tentado atingir-nos o inimigo, com a proibição de toda a exportação de peças de reposição destinadas ao transporte, que é um ponto nevrálgico.

Se o transporte é um ponto nevrálgico, se o inimigo tem pretendido golpear este ponto nevrálgico mais do que qualquer outro, é preciso que os companheiros dos transportes sejam os melhores trabalhadores.  Porque numa guerra, o ponto que é alvo dos ataques mais fortes do inimigo, tem que ser reforçado pelos melhores batalhões, os melhores soldados, as melhores unidades; igualmente, se for um sector vital susceptível de ser alvo do inimigo, não poderemos encarar essa situação com quinta-colunistas dentro das nossas fileiras, com elementos corruptos nas nossas fileiras (PALMAS).

Portanto, companheiros, é preciso que todos compreendam por que apesar dos números, do esforço, e do aumento que vocês têm atingido na produção, não podemos ficar satisfeitos.  Os números são apenas uma referência a um esforço, mas ao mesmo tempo são o melhor argumento para ganhar em consciência quanto ao esforço de limpeza, de saneamento e de rectificação dos erros.

E, vocês acham que o povo não é capaz de compreender isto?  Tenham a certeza absoluta de que o povo é capaz de compreender perfeitamente bem.  O povo compreende; mas é preciso esclarecê-lo.  E o povo compreende quando se faz o maior esforço, quando se faz tudo quanto possível com aquilo de que se dispõe; quando doravante o país estiver em condições de abundância, então não será preciso extrair o máximo daquilo que temos.  Hoje temos que extrair o máximo dos nossos recursos e aproveitá-los devidamente.

Entretanto, não resolvemos o problema apenas com ultrapassar as falhas existentes entre os trabalhadores.  É preciso ultrapassar os problemas de organização, e é preciso fazer idêntico esforço nas empresas, e implementar as medidas pertinentes.  Reflectir para achar as soluções, a fim de pôr em andamento todas as viaturas que estão paradas por falta de peças de reposição.

Sabe-se que temos utilizado outros recursos, isto é, camiões, carrinhas, todo o género de recursos.  E ainda mais, fundamentalmente, em muitos sítios do interior, está-se a receber grande quantidade de equipamento novo.  Mas pela nossa parte, o Governo Revolucionário, temos que fazer alguma coisa, não há alternativa, para pôr em andamento tudo que temos e ao mesmo tempo, se possível tentar adquirir mais equipamento. 
Porém, em princípio, pôr a funcionar aquilo que temos.

Nós já solicitamos aos companheiros do ministério um estudo completo das necessidades.  E para além disso, está a questão da fábrica de peças de reposição, que tem que ser capaz de produzir todo o género de peças necessárias, e então tomar com toda a urgência as decisões pertinentes.  A experiência já nos ensinou que cada vez que encaramos um problema, duma forma ou doutra conseguimos ultrapassá-lo.

Não temos outra hipótese que atender esta questão dos transportes com toda a seriedade que as circunstâncias exigem.  É isso que compete aos organismos de planificação e ao Governo Revolucionário.

Nós vamos fazer tudo quanto possível, porque o centro desta questão para precisamente podermos vencer as dificuldades, para enfrentar o golpe inimigo, é pôr em funcionamento a manutenção do equipamento que temos.  E acho que nesse sentido temos perdido tempo, uma vez que desde que se implantou o bloqueio, a primeira coisa que devíamos ter feito com toda a urgência era a resolução do fabrico de peças de reposição.

Bem sei que os trabalhadores têm resolvido imensos problemas (PALMAS), e a invenção dos trabalhadores tem feito maravilhas nesse sentido; mas esse esforço todo está limitado pelas ferramentas e o equipamento de que dispõe para fabricar as peças.  No entanto, se todo o equipamento ou a esmagadora maioria dele, era norte-americano, e eles cortaram o fornecimento de peças, a primeira coisa que a gente devia ter feito, antes de mais, era resolver a questão da fabricação de peças.  E nesse sentido não agimos com a celeridade necessária, com a rapidez e na direcção que as circunstâncias exigiam.  Então agora temos que o fazer.

Nós já vínhamos a estudar uma solução e a projectar as fábricas, mas é preciso encontrar soluções mais urgentes para essa questão.  E vamos encontrá-la, sem sombra de dúvidas que a vamos encontrar.

Porém, companheiros, não faríamos nada com ter investido hoje este tempo todo para abordar estes problemas, se não implementarmos certas medidas que são necessárias.  Eis aqui o capítulo das queixas do público e o capítulo das queixas que vocês formularam.

No capítulo das queixas do público —e aliás, da administração—isto é da administração e público, aparece, nomeadamente, deixar os passageiros nas esquinas; marcar a carreira completa no bilhete, facto que facilita deixar de marcar qualquer uma; cobrar a carreira sem marcá-la no bilhete; não cobrar o bilhete propositadamente; absentismo, designadamente às segundas-feiras, que é o dia de maior concorrência de passageiros nos autocarros, às sextas e aos domingos; maus tratos de palavra ao povo; desleixo no cuidado do equipamento; má utilização das velocidades, quer dizer:  mexer o veículo com a primeira e a segunda velocidades colocadas durante um longo trajecto, conduzir a alta velocidade; dobrar à esquerda indevidamente; conduzir os autocarros sem respeitar os horários, facto que faz com que por vezes demore uma hora ou mais sem passar qualquer um deles; receber sem trabalhar, facto habitualmente conhecido como “receber salário de borla”; rotura propositadamente dos veículos para receberem sem trabalhar; deficiências no funcionamento das comissões de reclamação:  por falta de orientação da sua actividade, falso conceito de camaradagem, falta de autoridade e apoio necessários, e tudo que tem a ver com negligência e fraquezas no castigo das falhas cometidas; o desleixo na limpeza das viaturas; absentismo do pessoal das oficinas de algumas unidades; trabalhadores das oficinas que produzem muito menos agora, que a empresa é propriedade de todo o povo, do que quando era privada; e ainda está a questão dos mecânicos por herança.  Questão esta que tem acarretado dificuldades e deficiências nalgumas oficinas, e em verdade, resulta inexplicável que estas coisas aconteçam numa revolução dos trabalhadores, a não ser que a gente esteja a entender a realidade ao contrário e se pretenda fazer uma revolução de trabalhadores nos moldes com os quais se agia na sociedade capitalista.

A questão do acesso à vaga de mecânico, isto é de pessoas que não são mecânicos e acham que pela ordem da sua admissão na oficina podem aceder a tal vaga.  E a partir de quando é que se adquire uma capacidade técnica por antiguidade?  E esses problemas existem, e não devemos ter medo de os abordar.  Onde é que iríamos parar se estas coisas que são bem claras, lógicas, não são abordadas e encaradas!.

Queixas!  Será que há mais queixas?  Não há?  Muitas das queixas recebidas estão relacionadas com o desrespeito dos sinais de paragem por parte dos condutores, não respeitar a paragem levando o autocarro sem estar completamente cheio, não parar nas esquinas, ou fazê-lo cinco ou seis metros antes ou depois da paragem indicada para deixar passageiros, autocarros que fogem da paragem pela esquerda, e aqueles que estando numa paragem não podem continuar a viagem por terem viaturas a frente, condutores que não abrem a porta onde corresponde e deixam os passageiros fora da paragem, abandonando as pessoas que ficam ai atiradas, a espera doutro veículo.  Também estão aqueles que pretendendo aproveitar a luz verde do semáforo, diminuem a marcha e depois aumentam a velocidade e não recolhem passageiros na paragem.  Há ainda outras queixas contra alguns condutores que não respeitam o itinerário regular prejudicando o passageiro, porque o atraso na carreira provoca amontoamento de autocarros e a demora injustificada dos utentes nas paragens.  Alguns condutores param em qualquer sítio e até descem para tomar café; outros, simplesmente, conduzem intencionalmente devagar, há outros que atrasam a sua saída do terminal, etc.  Para essas arbitrariedades todas os condutores procuram uma justificação, nomeadamente, excesso de passageiros, excesso de tráfego, mau estado dos autocarros, etc., argumentos que por vezes podem estar justificados realmente. 

Também há queixas contra os condutores que maltratam os autocarros fazendo uso incorrecto das velocidades, travando bruscamente, dando cortes desnecessários, acelerando violentamente os veículos, e aliás contra aqueles que não evitam apanhar os buracos e quando são inevitáveis, devem apanhá-los a menor velocidade.

No caso dos cobradores a maior parte das queixas estão relacionadas com a cobrança da passagem.  Nalguns casos não se interessam em cobrar, embora sejam chamados insistentemente pelos passageiros para pagar o bilhete de passagem, etc.  Estas são coisas bem conhecidas pelos presentes. 
“Críticas aos passageiros do transporte colectivo.  A primeira:  o passageiro que chega a correr na paragem e grita:  Para!  Para!, sobe ao veículo pela porta traseira e depois é que pergunta ao condutor:  Este autocarro passa na Havana Velha?” (RISAS.)  Não.  De lembrar que aqui não pode haver parcialidade.  “Segunda:  O passageiro que estando fechada a porta dianteira e aberta a outra insiste em entrar pela primeira.  Terceira:  O passageiro que se recusa a caminhar dentro do veículo impedindo que outras pessoas possam subir.  Quarta:  O passageiro que avisa o condutor para parar em determinada esquina e depois   de estar o autocarro detido, ele exclama:  Não, não é aqui, é na seguinte!  Quinto:  O passageiro entretido que vai para a rua Belascoaín (RISAS) e ao chegar na Galiano disse ao condutor:  O senhor é o culpado por não me ter avisado.  Sexto:  O passageiro que estando o veículo com o corredor vazio, insiste em ficar de pé à porta, emperrando a entrada e saída dos restantes utentes. Sétimo:  O passageiro que se esconde para não pagar a passagem” (RISAS e PALMAS).

Evidentemente, vocês batem palmas quando se trata de coisas que aqui se dizem do público, e não das coisas que o público diz de vocês. 
Estas são as queixas.  Algumas são verídicas, sem sombra de dúvidas, muito embora vocês tenham transportado muitos passageiros.  Ninguém duvida que estejam a parar mais do que antes e a transportar muito mais público do que antes, nesse sentido não há dúvidas —conforme as estimativas—, essa é a realidade.  No entanto, eu bem dizia que esse não é todo o problema, está a questão da reparação, do cuidado dos veículos, e de reparar aqueles que estão avariados.  Há carência de equipamento.  Essa é uma realidade que não podemos esquecer.

Companheiros, acho que ninguém pode protestar quando um autocarro não para porque vai superlotado, a dificuldade está quando não para podendo carregar passageiros.  Mas não se trata disso.  Ninguém lhes pode exigir aquilo que vocês não são capazes humanamente de fazer; mas há algumas pequenas deficiências que nada têm a ver com o veículo cheio, ou o problema do autocarro.  Essas pequenas deficiências prendem-se, nomeadamente, com o  absentismo, que nada tem a ver com o estado da viatura.  Esse é um problema que existe, e é grave.  Por vezes há veículos e não há cobradores, não há condutores.  Coisas assim acontecem.

Aquele problema do qual falamos e vocês riram:  “Receber sem trabalhar, aquilo que é conhecido habitualmente como receber um salário de borla.”  Sabem uma coisa?  Lembro-me perfeitamente bem daquela nossa primeira reunião de lua de mel, realizada nos inícios da Revolução, na qual eu na qualidade de vosso advogado do diabo, apresentei essa proposta, portanto, considero-me culpado disso.  Culpado por que?  Porque, companheiros, quando ainda não se atingiu certo grau de consciência, algumas coisas que devem ser para beneficiar todos os trabalhadores, tornam-se em prejuízo dos trabalhadores e em prejuízo do povo.

Vocês sabem, por exemplo, que muitas pessoas abusam da questão das doenças.  A Revolução, de acordo com os trabalhadores, alterou aquele princípio dos nove dias pelo princípio dos dias que fossem necessários.  Porque não se concebe que um trabalhador, que em verdade adoeça durante três meses, venha receber apenas o equivalente a nove dias, tal é desumano.  Então, modificou-se aquele preceito...  Perdão?  (EXCLAMAÇÕES.)  Perdão, não estou a perceber?...   Se faz favor, fale um de cada vez! (ALGUÉM DO PUBLICO DIZ ALGUMA COISA).  Bom, eu não sei se há casos ou não, eu digo aquilo que penso, aquilo que realmente penso —e foi com esse espírito que se implementou a tal mudança—, o objectivo da medida dos nove dias era que aquele que não ficasse doente não tivesse necessidade de a utilizar, e que aquele que ficasse doente realmente, mesmo que fosse nove meses em lugar de nove dias, tivesse essa garantia.  Foi com esse espírito que se implementou (PALMAS)  e assim é que deve ser companheiros, e acho sinceramente que todo o trabalhador deve estar protegido por essa medida.  E se neste sector isso ainda não foi implementado, então olhem:  aproveito o ensejo para votar em favor disso (OVAÇÃO PROLONGADA).

Muito bem, o tratamento da questão da doença é uma conquista que beneficia extraordinariamente a classe obreira, para qualquer trabalhador significa uma garantia o facto de saber que se ficar doente vai continuar a receber o seu vencimento.  E então o que é que aconteceu?  Que essa medida implementada para beneficiar o trabalhador, também é utilizada pelo elemento corrupto que a transforma num roubo, porque nunca falta um médico capaz de passar um atestado falso, estão a perceber?  Então, há pessoas que se embebedam no domingo, e apresentam um atestado médico na segunda-feira (EXCLAMÇÕES).

São estes os vícios contra os quais os trabalhadores têm que lutar, porque se não, qualquer medida implementada em benefício colectivo para os trabalhadores se torna num instrumento do vício, da corrupção e da desmoralização.

Com efeito, esta questão de receber o vencimento completo quando o veículo está avariado tem ocasionado muitos casos de fraude.  E querem saber uma coisa?  Esta foi uma medida indevida, sinceramente, e considero que essa medida deve ser revista (PALMAS).  E se os obreiros concordarem, revogaremos essa medida, companheiros (OVAÇÃO e EXCLAMAÇÕES).

Pois, companheiros, felicito-vos, sinceramente, felicito-vos porque acho que vocês tiveram um gesto realmente correcto, realmente revolucionário.  Quando deverá voltar a ser implementada essa medida, esse benefício?  (ALGUÉM DO PÚBLICO LHE DIZ     QUALQUER COISA).  Refiro-me...  Há que fazer isso que vocês propõem; mas no futuro, quando tivermos adquirido um nível de organização e de cumprimento do dever, então estaremos em condições de implementar medidas em benefício...  (ALGUIEN ALGUÉM DO PÚBLICO LHE DIZ QUALQUER COISA)  Como é o caso?  Mas não é isso que estamos a abordar...  Perdão? não percebi.  Muito bem, se faz favor venha até aqui.

UN OBREIRO.-  Companheiros:  a proposta formulada pelo companheiro Fidel, eu como companheiro que não sou muito revolucionário, mas que pelo menos tenho uma responsabilidade perante o meu lar, afirmo:  Receber um vencimento de borla não é legal, isso não deve ser, é uma vergonha, ainda mais:  cria um vício entre os trabalhadores; mas também pergunto o seguinte:  Qual a solução que vamos dar se um companheiro se apresenta a um penúltimo ou último turno de trabalho e quando vai assinar o ponto de entrada, depara-se com que não tem autocarro para sair e então esse companheiro não pode levar nem um tostão para a sua casa?

ÁVILA.-  Acho que o companheiro Pedro tem muita razão, e devemos esclarecer:  entre esse vencimento de graça permanente e esse outro ocasional. Trata-se, segundo percebi da proposta do companheiro Fidel, de revogar esse vencimento de borla permanente que nalguns sítios tem sido auferido por dias, semanas e meses.  Não obstante, consideramos—e de certeza que o companheiro Fidel concorda connosco— que quando se tratar de um condutor que se apresenta no seu turno, por exemplo, como disse Pedro, de manhã ou ao meio-dia e não há autocarro, o companheiro deve receber o salário na íntegra.  Isso é justo.

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Então, companheiro, uma outra pergunta:  Qual o trabalho que pode fazer esse companheiro, qual o trabalho?

ÁVILA.-  Não, não pode fazer outro.

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Se faz favor, venha aqui.  Aguarde um instantinho.  Venha outro.

UM OBREIRO.-  Companheiros:  Eu não sou um modelo de virtude; trabalho nesta companhia há mais ou menos o tempo equivalente à idade que tem o companheiro Fidel.  Jamais recebi o salário de um turno sem ter trabalhado, jamais faltei ao serviço na minha vida e o companheiro secretário general pode rever o ponto e dar fé disso, sou um dos trabalhadores com maior número de horas trabalhadas por mês.  Tenho imensas razões, sou pai de sete filhos (PALMAS), e consegui enviar à universidade de Havana um deles para fazer o curso de medicina, e há três a fazerem o pré-universitário; como prémio ofereci ao meu filho uma viagem para conhecer os países socialistas, e ele acabou de regressar no dia 29, consegui fazer isso com o meu esforço e o meu sacrifício.

O governo não teve necessidade de me entregar uma casa de um daqueles que abandonou o país, porque eu com o meu esforço consegui construir uma, com o esforço do meu trabalho.

Porém, acho que o companheiro tem razão, pois eu estou a confrontar esse mesmo problema:  isto é, em autocarros aliados, presentemente tudo é transportes nacionais; mas em autocarros aliados usa-se um método ou um sistema diferente daquele existente na nossa empresa, quer dizer, que em autocarros aliados, o pessoal chega e assina o ponto de entrada, e por exemplo dá-se o caso de um senhor, que pela sua necessidade, ou por comodidade tendo em conta que leva a trabalhar lá 40 anos, decidiu apresentar-se ao turno que inicia às 12h00. Mas esse senhor tem três, quatro, cinco, oito, nove, dez, ou onze filhos e à chegada depara-se com que não tem veículo para trabalhar. É ilegal, senhores, receber um vencimento sem trabalhar!  Isso é imoral, é imoral!  Sim senhor, mas, em que situação fica um pai de família que chega para assinar o ponto, encontra que não tem veículo e não pode receber, que isso aconteça na segunda-feira, na terça-feira, na quarta-feira e assim até sábado e então não possa receber o seu vencimento?  (EXCLAMAÇÕES).

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Companheiros, quando eu falava da questão daquele que recebe sem trabalhar...  recordo-me do espírito com o qual foi abordada a questão, na aquela altura, referia-se a que o obreiro não sofresse as consequências de causas alheias, de coisas que nada tinham a ver com ele. 

Acho que é preciso tomar medidas no sentido de evitar qualquer aproveitamento doloso, quer dizer, qualquer conduta dolosa, fraudulenta.  Eu não posso pormenorizar esta questão, tendo em conta que não a conheço, entretanto, estou a pensar no caso de rotura voluntária do equipamento, rotura intencional, etc., estou a pensar em casos em que há uma na atitude realmente dolosa.

Cabe ao sindicato e ao ministério implementar as medidas tendentes a evitar que se verifique o cobro fraudulento de salários.

Qual a minha opinião do caso do obreiro que sem ter culpa de nenhum tipo vai trabalhar e não encontra veículo?  Acho que nesse caso o obreiro tem direito a receber, porque ele não é culpado de nada (PALMAS).  Olhem, se for assim, eu concordo totalmente.  Quando avancei a proposta de revogar aquilo de receber de borla, não estava a pensar nisso.  Nesse caso, o obreiro não tem culpa, quando o obreiro não tem culpa de não poder trabalhar, não tem nada a ver com isso, então não é correcto que esse homem fique sem auferir o seu vencimento.  Tal para mim é elementar.

Quando abordei esse tema, referia-me evidentemente aqueles casos em que o obreiro é culpado ou está relacionado com a fraude.  No meu parecer, o sindicato e a empresa têm que analisar a questão responsavelmente, e implementar medidas tendentes a evitar que realmente o salário seja ganho de borla, e estudar bem cada caso.  No caso que referia esse obreiro, é bem compreensível quem tem a razão.

Contudo, há aqui uma mistura de coisas, nomeadamente, quando se fala de queimar as velocidades, descompor o veículo...  As medidas que sejam tomadas pelo ministério de conformidade com o sindicato têm que ser medidas que realmente garantam ao obreiro todo o direito legítimo e impeçam qualquer género de vencimento fraudulento, ilegítimo.  Eu não posso dar mais pormenores de juízo nesse sentido, porque desconheço como é que isso funciona.  Por conseguinte, a questão fica nas mãos dos companheiros do sindicato e da administração.

Há uma outra questão, sobre a qual tenho uma ideia bem clara, clara, clara:  trata-se do absentismo.  Companheiros, este é um dos piores problemas, e portanto, nesse sentido temos que tomar medidas.  Uma das medidas tem que estar relacionada... Porque há muitos trabalhadores que faltam às segundas-feiras, mas então na terça fazem dupla jornada.  Vou-lhes dizer uma coisa:  nesse caso, toda a culpa é do sindicato e do ministério, porque isso é simplesmente absurdo.  E se não eliminam esse sistema, não vão conseguir ultrapassar o problema; porque nesta altura, apenas com argumentos, sem medidas, não vamos conseguir ultrapassar isso, não nos podemos enganar.

E nesse sentido tenho uma proposta a fazer e é a seguinte:  antes de mais há um aspecto que é absurdo, e é o facto de que teoricamente o trabalhador não tem um único dia de folga na semana (PALMAS).  Essa é uma coisa realmente absurda; isso gera o absentismo.  É preciso encontrar uma solução para este problema, relacionando o descanso com a assiduidade.  A nossa proposta é, em primeiro lugar, que sejam exigidos certos requisitos para fazer doble turno...  Sei que aquele que não trabalha aos domingo não lhe permitem fazer dupla jornada às segundas-feiras.  Há quem não aparece nem domingo nem segunda e então faz a dupla na terça-feira, na quarta-feira, ou na quinta.  Isso é aldrabar.  Há que implementar a medida de que aquele que não trabalhe durante seis dias na semana não terá direito a fazer dupla jornada (PALMAS).  E a medida, olhem bem, a partir deste momento, de que apenas terá direito a duplicar não só aquele que trabalhe seis dias por semana, senão aquele que mantenha uma média de 90% de assiduidade (PALMAS).

E então, em troca...  pois terão que estabelecer bem um sistema para saber quais os seis dias de assistência; e com base nisso, terão um dia de descanso, sob essas condições: vencimento na base dos seis dias de assistência (PALMAS).

Quer dizer, que as coisas vão ficar desta forma, e em benefício daquele trabalhador que trabalha, e que de facto depende do seu trabalho.  Porque há quem tem dois ou três empregos, claro, e essa não é a situação daquele que está a depender deste trabalho.  Então desta forma o trabalhador que é cumpridor, vai beneficiar de um dia de descanso pago por semana (PALMAS), com um único requisito:  ter trabalhado durante seis dias.  Não é?

Há mais outros pormenores, companheiros, que teremos depois que os enquadrar nesta orientação.  Mas vamos deixar isto bem claro, quem terá direito a fazer turno doble?  Aquele que assistiu ao serviço os seis dias previstos; se quiser jornada dupla um dia, dois dias, três dias, se precisar aumentar o seu salário:  então que faça jornada dupla de trabalho.

UM OBREIRO.-  E os suplentes, Fidel?

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Aguardem um instante, não me perguntem sobre coisas que eu não entendo como funcionam; esse é um problema que vocês têm que considerar...  Porém, há suplentes aqui?  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Sim!”)  Não acredito que haja suplentes!  Bom, mas muito poucos, senhores...  (EXCLAMAÇÕES)  Senhores, então porque se há tantos suplentes, tivemos que admitir cerca de 400 novos condutores?  Devido ao absentismo, devido ao absentismo!

Pois, nesta modalidade pode haver um absentista, mas esse não tem direito a receber pelo dia de descanso —e aliás—, nem pode duplicar a jornada.  Sei que alguns têm o costume de descansar três dias e duplicar quatro, para esses tal vai implicar uma mudança.  Mas nisso o trabalhador é que ganha, sem sombra de dúvidas; o trabalhador, e fundamentalmente o trabalhador cumpridor, o trabalhador que não é absentista, pois recebe um pagamento pelo dia de descanso e para além disso tem direito a fazer dupla jornada, poderá duplicar um ou dois dias; mas sempre com base nesse requisito, e no 90% de assiduidade.  E porquê?  Porque se não, pode acontecer que um trabalhador cumpra uma semana, receba no domingo, faça dupla jornada uma semana completa, e falte uma semana completa.  Aperceberam-se?  E para evitar que isso aconteça será exigido o cumprimento desse requisito, e a partir de agora, será primeiro por mês, depois por trimestre, depois por ano, manter-se-á a exigência de ter uma média de 90% de assistência para ter direito a fazer dupla jornada.

Nós colocamos esta questão com o intuito de proteger aquele trabalhador dependente dessa entrada financeira, dependente realmente do seu trabalho —aquele que tem uma viatura de aluguer e depois que termina as horas de expediente vai embora no seu carro de aluguer, realmente, não está a depender do seu trabalho—, estamos a pensar no trabalhador dos transportes que realmente depende do seu trabalho, é nesse que estamos a pensar, naquele que beneficia com uma medida deste género, e ao meso tempo, assim fica resolvida a questão do absentismo.

UM OBREIRO.-  E aquele que trabalha os sete dias da semana?

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Bom, isso não deve ser admitido, porque o trabalhador deve ser obrigado a descansar um dia por semana. (PALMAS). 
Para que é que vai trabalhar nesse dia, se de qualquer maneira vai receber o pagamento correspondente a esse dia?  Diga - lá companheiro... 
UM OBREIRO.-  Se um companheiro pretende ser transladado, por exemplo, da oficina para conduzir um autocarro, isso é permitido?

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Translado para conduzir um autocarro?  Bom, companheiro, não me façam esse género de perguntas, porque não lhes posso responder sem estar informado... Isso tem que ser resolvido junto do ministério.  Eu não lhes posso responder sem ter informação sobre tal assunto. 

Bom, agora não estamos a tratar dessa questão; estamos a tratar uma medida contra o absentismo.

Díga-lá companheiro.

(ALGUEM DO PÚBLICO DIZ QUALQUER COISA.)  Os inspectores?  Eu não tenho conhecimento da forma em que vocês trabalham.  (ALGUÉM DO PUBLICO LHE EXPLICA.)

Acho que esses companheiros devem ter os mesmos direitos (PALMAS).

Olhem:  é que isso não se concebe...  É mesmo por isso que se passam estas coisas, é por isso que há trabalhadores que fazem dupla jornada três dias e depois tomam três dias de folga.  Não se concebe que um trabalhador não tenha um dia de descanso por semana.  Isso é absurdo (PALMAS).

UM OBREIRO.-  Os inspectores recebem mais do que nós e trabalham menos (EXCLAMAÇÕES).

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Esse é um antagonismo entre inspectores e condutores.

Bom, companheiros, não vamos ficar a martelar nos pormenores.  O mais importante é a orientação fundamental.  As minhas duas propostas são, em primeiro lugar, tomar medidas para que em caso doloso de equipamento deteriorado com culpa, esses transgressores não sejam protegidos pelo direito concedido ao obreiro para situações em que realmente esteja impedido de trabalhar.  Quer dizer, que seja analisada a medida direccionada a garantir o pagamento àquele trabalhador que não seja culpado de que o veículo não esteja em condições de trabalhar.  Essa é uma medida.

Segundo:  a questão do absentismo.  O dia de descanso retribuído para aqueles que trabalhem os seis dias e o direito a fazer turnos dobles para esses trabalhadores, com a obrigatoriedade de manter um 90% de assistência  (ALGUEM LHE PERGUNTA NOVAMENTE SOBRE OS SUPLENTES).
CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Ora, a questão dos suplentes tem que ser discutida junto do sindicato, eu não lhes poso esclarecer, porque...  Perdão?  Então, companheiros...

(ALGUEM DO PUBLICO LHE DIZ QUALQUER COISA)

Perdão, não percebi?

UM OBREIRO.-  Companheiro Primeiro Ministro, gostaria de saber se o trabalhador suplente tem o mesmo direito, tendo em conta que trabalha todos os dias, se ele trabalhar os seis dias consecutivos, e por exemplo se ele fizer turnos dobles todos os dias da semana. E se esse suplente não trabalhar os seis dias seguidos, não terá direito ao dia de descanso—isto é uma suposição que estou a fazer—; mas se ele trabalhar todos os dias fazendo dupla jornada então será que ele vai ter direito ao dia de descanso, da mesma forma que o trabalhador fixo?  Porque de facto há suplentes que fazem isso. Em conclusão a pergunta é será que tem o mesmo direito que o fixo? 

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Se o suplente trabalhar os seis dias, então vai ter direito.  Isso é lógico.  É absolutamente lógico, companheiro (PALMAS).

UM OBREIRO.-  Companheiro Fidel, a minha preocupação é a seguinte...  O Primeiro Ministro sabe que cada viatura é trabalhada por três companheiros diferentes; se por acaso houver um condutor que maltrate o veículo , que o avarie fazendo com que vá parar na oficina, onde vai demorar o seu conserto, e o pessoal restante trata bem da viatura e faz os possíveis para que a mesma esteja a funcionar em bom estado, será que esses condutores que o cuidam vão ter o mesmo tratamento do que aquele negligente que avariou o veículo e será que embora assinem convenientemente a sua entrada, vão ser penalizados da mesma forma do que aquele que avariou o carro?

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Eu acho companheiro, que nesse caso há que estudar qual a responsabilidade daquele trabalhador que avariou o veículo. 
UM OBREIRO.-  Porque depois aquele trabalhador que vai fazer o seu turno, aquele que vive apenas do seu trabalho no veículo, como é o caso de alguns aqui, outros não porque esses têm outro emprego e não se importam com isso...

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Olhem, companheiros, de alguma forma temos que encarar esse problema;  inclusivamente, será necessário determinar a responsabilidade daquele que deteriora os veículos.

UM OBREIRO.-  É esse o meu caso.  Eu tenho o meu veículo.  Quando eu cheguei para assinar o ponto, o carro já estava avariado na oficina.  Não sou culpável disso, quando cheguei tomei conhecimento de que o condutor do turno da noite o tinha deixado avariado. 
CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Bom companheiros:  nem sei para que é que há sindicato aqui.  Que venha o companheiro do sindicato para discutir convosco esta questão (PALMAS).

Vão-me deixar a discutir pormenores que não entendo?  (EXCLAMAÇÕES.)

ÁVILA.-  Companheiros:  Acho que devemos deixar o companheiro Fidel apresentar as suas propostas (PALMAS).  Os companheiros estão a entrar numa série de detalhes que logicamente o companheiro Fidel não pode conhecer.  Portanto, se estiverem de acordo com o espírito, com a essência da sua proposta, de que cabe ao sindicato e à empresa ajustar todos esses pormenores, companheiros (PALMAS).  Acho que é lógico.  É o que nos indica o bom senso, companheiros (PALMAS).

UM OBREIRO.-  Bom ouvi que receber de borla é uma coisa que vai desaparecer (EXCLAMAÇÕES) e eu concordo com isso.  Acho que é humano, desde que haja unidade para trabalhar, porque eu se preciso do veículo, eu vou trabalhar, acompanho como está o funcionamento da viatura, seja lá qual for.  Porque eu preciso de levar o pão para a minha casa, como tem que fazer todo o mundo.  Porém, se eu chego ao terminal e encontro o meu veículo avariado pelo desleixo de outro condutor, por que vou ser eu a pagar as consequências?  (EXCLAMAÇÕES.)

CMDTE. FIDEL CASTRO.-  Companheiro:  eu lhe posso dizer uma coisa:  que a Revolução visa garantir isso que lhe está a preocupar, de que todo aquele trabalhador interessado em levar o pão para a sua casa, honradamente, possa fazê-lo sempre, sempre (PALMAS).  E ao meso tempo que quer garantir que esse trabalhador leve o pão seguro para casa, impedir que não tenham direito a pão nenhum, aqueles que não o pretendam ganhar honradamente (OVAÇÃO).

O que resta companheiros é uma questão de detalhes, isto é estudar e regulamentar as medidas.  Aqui apenas temos abordado as orientações gerais;  porque qualquer pessoa bem informada sobre esta situação, que sabe como funciona o absentismo e como muitos fazem turnos dobles por vários dias e depois faltam semanas inteiras, é lógico que compreendam que se torna necessário exigir certas normas para o trabalho semanal, que se torna necessário cumprir com uma certa percentagem de assistência para ter direito, por um lado, ao descanso retribuído.  Isto é, a esse descanso que não deve ser confundido com o outro— refiro-me a esse dia de descanso pago; e também para ter direito a fazer dupla jornada.  Nós pensamos que um trabalhador que depende desse emprego em realidade, e que trabalha, pois que desfrute dos benefícios de trabalhar seis dias consecutivos, isto é, que tenha um dia de descanso retribuído.  E aliás, por ser um trabalhador de uma alta percentagem de assistência, se tiver uma necessidade especial e precisar de fazer um doble turno, que tenha direito a fazer até três turnos duplos por semana, que tenha direito a duplicar turno aquele que tem a assistência necessária.  Tal antes de mais, beneficia o trabalhador, aquele trabalhador que não tem outro meio, outro recurso do que esse para ganhar o seu salário.

Contrariamente, pois estaríamos a criar condições para o caos, a anarquia, o absentismo, e assim não avançaríamos nunca.

Essa é a razão pela qual apresentamos esta proposta.  Há nesta questão pormenores que devem ser ajustados, contudo o principio foi aquele que lhes expliquei: que ganhe o seu pão, e que tenha todos os direitos aquele que trabalha honradamente, e que aquele que não trabalha, não coma (OVAÇÃO).  Esse é o principio da Revolução.

Sinto não estar melhor informado sobre esses detalhes; não obstante, de qualquer maneira, o governo vai-se preocupar com isto, vai acompanhar a situação dos transportes com toda a seriedade que precisa (PALMAS).

É necessária, companheiros, a vossa colaboração neste âmbito.  Vocês têm que fazer o esforço, vocês têm que tomar as medidas principais; vocês têm que melhorar o seu sector, sanear este sector, uma vez que vocês sabem que há pessoas que são muito negativas, então devem mandá-los para a agricultura não depois de terem destruído um parque completo, senão após terem cometido a primeira falha (PALMAS).

Trata-se disso:  de defender os vossos direitos, o vosso prestígio, prestígio do sector, os interesses do povo, os interesses dos trabalhadores.

Temos muito a fazer para conseguir no nosso país aquilo que pretendemos; temos muito a fazer para conseguir que o nosso país seja um país de trabalhadores, onde os benefícios sejam para os trabalhadores, onde os bens sociais sejam desfrutados pelos próprios trabalhadores.

E até poderia repetir aquilo que disse ontem aos obreiros premiados:  que a Revolução deve ir limitando mais, cada dia mais o desfrute das riquezas nacionais para aqueles que não trabalham para a sociedade, e colocar esses bens nacionais ao serviço daqueles que trabalham para a sociedade (PALMAS). 

Ontem fazíamos referência à diferença entre aquele que trabalhava numa empresa nacional e aquele que trabalhava por conta própria, e quando se vai dar direito a alugar as casas de férias em Santa Maria del Mar, dá-se apenas aos trabalhadores sindicalizados (PALMAS).

Quando consigamos que os nossos centros turísticos, todas as cabanas e todas os sítios —que, claro, são muito cobiçados por toda aquela gente que tem dinheiro e os demanda muito—, quando consigamos pô-los ao alcance apenas daqueles que trabalham para a sociedade, então no nosso país ser trabalhador tornar-se-á na mais digna, na mais honrosa e na mais beneficiada função.

Companheiros, ainda no nosso país, lamentavelmente, subsistem imensos privilégios.  Um comerciante que ganha 1 000 pesos por mês e não produz nem um único bem material, tem mais privilégios do que um obreiro agrícola que com a sua actividade, plantando cana de açúcar e cortando cana, mantém erguida a economia nacional, e no entanto, apenas ganha 2,50 pesos.  Então, esse obreiro é que produz a cana, da qual se extrai o açúcar que o país exporta para obter combustível; o comerciante dos     1 000 pesos passeia, gasta um combustível barato, produzido com o esforço e o suor daquele obreiro agrícola, compra pneus para a sua viatura, e tudo que desfruta é produzido pelo esforço daquele obreiro humilde que está a ganhar 2,50 pesos.  E assim subsistem inúmeros privilégios.

Se calhar esse também tinha oportunidade de ir viajar aos países socialistas.  De maneira nenhuma.  Todos esses proveitos, todos esses benefícios, nós temos que pô-los cada vez mais ao dispor do obreiro.  Aquele que trabalha por conta própria, bom que trabalhe por conta própria.  Porém, não é a mesma coisa trabalhar num camião de transporte, de empresa nacional, e receber seis, ou sete, ou talvez oito, o salário que for, do que aquele que é proprietário do camião e ganha 30 pesos.  Na altura de irem alugar ambos uma casa de praia, que é uma riqueza nacional, a casa deve ser alugada àquele que trabalha na empresa nacional e tem um vencimento de 8,00 pesos (PALMAS).

E como aquilo que estamos a fazer agora com as geleiras.  Há 4 000 geleiras.  Para quem estamos a vender estes electrodomésticos?  Para os trabalhadores.

Temos um programa de turismo aos países socialistas.  Quem deve ir?  Os trabalhadores.  E quais trabalhadores?  Os trabalhadores exemplares. 
No futuro, a nossa indústria automotriz, para além de autocarros —que será o primário— também vai produzir automóveis.  E então quando tenhamos 5 000 automóveis e 100 000 que os queiram comprar, quem vai ter prioridade para adquirir o automóvel?  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Os obreiros!”)  E qual obreiro?  O trabalhador exemplar.

É dessa forma que nós temos que ir organizando o nosso país, de maneira tal que as maiores considerações sociais sejam para aqueles que são considerados com o seu povo, com a sua pátria, para aqueles que mais trabalham para o seu povo e para a sua pátria.  E isso é o mais justo.  E até que a nossa sociedade não esteja assim organizada, a nossa sociedade ainda será uma sociedade de privilégios.

Vai custar trabalho, é difícil, há que lutar contra muitos interesses, muitos privilégios; mas lá chegaremos, chegaremos.

Subsistem ainda muitos interesses.  Os companheiros do sindicato dos condutores informaram-me de uma questão, na sequência daquilo que eu disse ontem em Varadero, 72 trabalhadores aproximaram-se deles para transmitir a sua preocupação, porque estavam com receios de que os seus carros fossem confiscados. 

Antes de mais, julgo que não se deva denominar Sindicato de Condutores de Aluguer, porquê?  Porque os condutores de aluguer que têm viatura própria, não são trabalhadores, isto é, não são proletários.  São trabalhadores por conta própria e portanto, devem criar é uma associação, mas não um sindicato.  Em realidade, trabalham pela sua conta; não podem ficar em igualdade de condições do que aquele que conduz um autocarro.  Porque se comparado, quanto é que eles recebem?(EXCLAMAÇÕES).

Não.  Eu digo:  entre 100 e 150 pesos, vamos supor que sejam essas as utilidades de um motorista de autocarro; ao passo que aquele que tem um veículo de aluguer ganha 30.  Pois, esse não é...  Não podem ser colocados na mesma categoria dos trabalhadores dos transportes.  Devem ter uma associação como proprietários de carros.

Ninguém pensou em confiscar os carros, que percam esse medo.  Não compreendo a causa desse medo; a Revolução não tem medo nenhum.  Agora é indiscutível que há muitos condutores de viaturas de aluguer que têm uma atitude muito má, que estafam o público (PALMAS), que fazem campanhas com todos os utentes para justificar porque têm contacto com elementos contra-revolucionários, muitos elementos do passado, muitos ex-militares, muitos ex-políticos.  E neste sector também há muitos que são bons trabalhadores, bons cidadãos; mas também há muito elemento negativo.

Os companheiros do sindicato —que deve denominar-se associação— devem reunir, tomar medidas.  Se agirem correctamente, podem ser ajudados de alguma maneira, tendo em consideração o serviço que prestam.  Se não estafarem o povo, se conseguem organizar-se; porque há um monte deles que estão a trabalhar clandestinamente, porque todo aquele que lhe dá na gana pinta a sua viatura de amarelo que é a cor destinada para os carros de aluguer (RISAS).

Já é altura de que a associação dos condutores de aluguer —vamos chamá-la de associação — tome medidas, procure uma solução para os clandestinos; bom, se quiserem que trabalhem legalmente, que paguem uma taxa, e acabe essa situação de clandestinidade.  Porque, claro, é bem lucrativo esse emprego.  Há alguns daqueles expropriados que estão a ganhar mais com o carro que lhes ficou do que com o negócio que lhes foi confiscado.

Então, que lhes seja aplicada uma taxa.  Que realmente elaborem as listas, que a partir desse momento então confisquem a viatura daquele que esteja a trabalhar clandestinamente, que se estabeleçam pautas, que apliquem tabelas justas ao povo (PALMAS); e assim lhes poderemos ajudar, poderemos ajudá-los com as peças, também poderemos dar preferência considerando a qualidade do serviço prestado, dar preferência sobre aquele que apenas tem o carro para passear.

Seria lógico então dar-lhes preferência.  Se estiverem a tona com a realidade, se ficarem organizados, se decidirem acabar com a indisciplina, a clandestinidade, se acabarem com a estafa, então poderão ser ajudados; não é preciso confiscar os carros, nem muito menos. 
Porém se acreditam que podem viver aqui à vontade, como grupo anti-social, a Revolução não tem medo nenhum de lhes fazer face e confiscá-los todos se for preciso, companheiros!  (PALMAS).

Com efeito, a Revolução não tem que andar com panos quentes com ninguém.  Porque a Revolução actua não em benefício de grupinhos, de privilegiados, nem nada disso; a Revolução actua em benefício do povo, em interesse das massas, e em interesse supremo da pátria, em interesse supremo da nação.  E nós bem sabemos que são esses interesses os que estamos a defender, com a moral, a convicção de quem sabe que esses são os interesses que defende, portanto todo o grupo reaccionário, anti-social seja lá qual for:  burguês urbano, burguês rural, pequeno burguês anti-social, vai ser posto fora de combate conjuntamente com os seus interesses (PALMAS).

A Revolução não tem razão para andar com panos quentes.  Chega de panos quentes!  Vamos chamar as suas coisas pelo seu nome:  pão, pão; queijo, queijo.  E vamos viver disciplinadamente, vamos viver ordeiramente, vamos viver revolucionariamente, e vamos construir um mundo justo.  Vamos construir um mundo justo; é isso que estamos a fazer.  Estamos a construir um mundo justo, e em nome desse mundo justo, vamos enfrentar quem seja preciso enfrentar (PALMAS). Em nome desse mundo justo —sem que ninguém tenha a menor dúvida nesse sentido— iremos tomar sempre as medidas que seja necessário tomar.

Porque já temos uma população que compreende isso.  O nosso povo tem cada dia mais desenvolvido o sentido da justiça, tem um sentido mais desenvolvido dos deveres sociais, tem uma compreensão cada vez mais alta.  E essa compreensão faz com que ao nosso povo ninguém lhe possa travar o seu desenvolvimento, nem desmoralizar o seu espírito. 

Vocês conhecem perfeitamente bem a desmoralização que a burguesia tem pretendido semear neste país; as dificuldades que nos tem criado com os provimentos, a especulação que promove, os favoritismos, todas essas coisas; sabem que em conluio com a cáfila anti-social pretendem criar problemas e dificuldades, pretendem desmoralizar, tem tentado semear o seu espírito cobarde dentro do povo, frente ao espírito valente dos trabalhadores, frente ao espírito firme e entusiasta dos trabalhadores, porque os nossos trabalhadores tem esse espírito entusiasta, valente, não obstante as grandes lacunas que ainda existem nas suas consciências, porque percebem mais a Revolução com o coração, do que com a razão; percebem-na mais por instinto, do que por análise.  Porque qualquer popular consegue analisar que as riquezas estão em mãos do povo, e que entre o povo e a sua riqueza não há medianeiros, que essa riqueza pode ser desenvolvida até onde ele for capaz, e que se pode forjar um mundo melhor, pode forjar-se um mundo justo, pode forjar-se um mundo muito mais feliz, e que já não temos donos da nossa economia.

Contudo, qualquer popular também compreende que isso apenas se pode atingir com disciplina, com trabalho, com sentido de responsabilidade.  E o que se pode alcançar é infinito.  Mas, não podemos aguardar que alguém para o fazer por nós, temos que fazê-lo nós próprios.

Hoje nós estamos a receber uma grande ajuda externa, nestes primeiros anos precisamos disso; no entanto, nós temos que contribuir para isso, visando, doravante, já com o desenvolvimento da nossa riqueza, da nossa capacidade técnica, produzir as coisas que necessitamos.  Porque não podemos passar a vida inteira a receber ajuda de outros povos que trabalham e se sacrificam.  Presentemente é justo e correcto que estejamos a receber essa ajuda.  No entanto, devemos saber aproveitá-la.

Companheiros, nós não temos passado grandes dificuldades.  Grandes dificuldades passaram outros povos cujas cidades foram arrasadas pelas guerras, Que ficaram sem viaturas motorizadas, que ficaram sem nada.  É evidente que aqui perante a primeira dificuldade que surge aparecem os burgueses e os pequenos burgueses cheios de medo, para desmoralizar, e fazer crer que o mundo está a acabar.  Não.  Para o proletariado o mundo não se acaba enquanto esteja a detentar o poder; para o proletariado o mundo não está acabar quando aparecem dificuldades (PALMAS); quando começam a aparecer as dificuldades, o proletariado começa também a fortalecer-se; quando as dificuldades surgem, o proletariado começa a encontrar a oportunidade de demonstrar aquilo que é, aquilo que vale, aquilo de que ele é capaz, a sua dignidade, o seu patriotismo, a sua honra (PALMAS).

Companheiros trabalhadores dos transportes:  Esperamos a vossa colaboração neste sentido.  Julgamos que esta foi uma boa assembleia, de um bom espírito, que contribuirá para a compreensão do povo.  O povo aguarda pela vossa compreensão, da mesma forma que vocês todos aguardam pela compreensão do público.  Público e vocês, são a mesma coisa!  Os vossos filhos, as vossas esposas, os vossos pais, os vossos irmãos, utilizam os autocarros, não têm viatura!  (PALMAS.)

Cada vez que vocês recebam um passageiro, cada vez que recebam um passageiro, tratem essas pessoas como vocês desejariam que em qualquer autocarro fossem tratados os vossos filhos, as vossas esposas, os vossos pais, os vossos irmãos.

Com este espírito, companheiros trabalhadores dos transportes, para frente!  Vamos ultrapassar os problemas, servir o povo, servir a pátria, servir a Revolução!

Pátria ou Morte! 
Venceremos!
(OVAÇÃO)

VERSÕES TAQUIGRÁFICAS