Iluminam-nos os raios da aurora

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Uma colega escreve acerca de Fidel Castro: «Jamais aceitou a derrota»; e o pensamento flui às razões que fizeram dessa caraterística dele, longe de uma teimosia estéril, uma condição para converter a utopia em uma matéria palpável.
Não é que Fidel não enfrentasse adversidades através de sua longa vida de lutador e de homem de Estado; teve muitas – basta mencionar a perda de seus companheiros após o ataque ao quartel Moncada, a derrota de Alegría de Pío, a morte de guerrilheiros muito valiosos, o desaparecimento de Camilo Cienfuegos, a invasão pela Baía dos Porcos, a Crise dos Mísseis, em outubro de 1962; o ciclone Flora, o assassinato de Che Guevara, a derrubada do bloco socialista, o “período especial” – mas ele conseguia ver, após o doloroso saldo de qualquer revés, a possibilidade genuína da vitória, e a necessidade imperiosa de não perder, jamais, a honra.
Não era otimismo gratuito, mas sim convicção da justeza da causa e de sua defesa, e da responsabilidade histórica que carrega sobre seus ombros o povo cubano, depois que escolhesse a estrela, acima do jugo.
Contudo, um passo mais na frente, o Comandante era encorajado pelo verdadeiro credo no povo cubano, em sua inteligência e seu talento, em sua capacidade de ser protagonista das façanhas mais impensáveis: «Não foram debalde os esforços que fez o povo nem os sacrifícios que fez o povo, e se alguma vez os fez para conquistar o poder revolucionário, os vai fazer quantas vezes for necessário para defendê-lo».
A sua visão do país não era sustentada em personalismos, mas sim em seu jeito de ver e de potencializar esse «algo» que tem a Ilha – quer dizer, suas pessoas – impossível de explicar para alguns e que a torna rebelde, persistente, apesar das dificuldades: quando parece que já não há saída alguma, Cuba acaba se reinventando.
«Sustentamos nossas dificuldades e nossa escassez com dignidade, com a dignidade daqueles que não se rendem, com a dignidade daqueles que jamais vão ficar de joelhos», dizia. E também que «entre nós todos e a todos coube muita honra, muita glória, muita dignidade, muita vergonha! E coube a nós todos o direito ao futuro, nós todos somos iluminados pelos raios da aurora».
Caso suas palavras parecerem proferidas para o dia de hoje, é devido a que conhecia muito bem as entranhas da cobiça inimiga, e a seiva da nação cubana: «A esperança do inimigo é que nossas grandes dificuldades materiais enfraqueçam o povo e o façam se ajoelhar. Esses é que são os sonhos do imperialismo, mas estão subestimando os poderosos valores morais, os poderosos valores intelectuais e as poderosas ideias com que hoje conta nosso povo».
Indicava que nós não teríamos problemas se a política do Governo e da Revolução tivesse sido a mesma política entreguista que a precedeu; o preço da autodeterminação tem sido muito elevado, tal como o de quase todos os sonhos que valem a pena. Mas também fazia um alerta acerca de nossas deficiências, porque a fortaleza da Revolução, seu avanço, vai depender de nós mesmos.
«As dificuldades maiores ou menores que tiver a Revolução não vão depender de ninguém mais do que de nós mesmos; porque são muito lógicas as dificuldades que nos coloca na frente o inimigo, porém, são muito absurdas as dificuldades que, muitas vezes, colocamos nós mesmos devido à nossa incompreensão e com nossa carência de sensatez, e contra todas elas devemos lutar em todos os recantos do país».