Discurso pronunciado pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz no ato de apresentação do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, no teatro "Chaplin", em 3 de outubro de 1965
Data:
Senhores convidados;
Companheiros do Comitê Central;
Companheiros dos comitês provinciais, regionais e secionais;
Companheiros secretários das células do nosso Partido:
Sou obrigado a começar por um tema que não tem relação direta com o motivo que aqui nos reúne, mas sim, por ser uma questão de atualidade e de interesse político, não devo deixar de referir-me a ele.
É o resultado da colocação feita em 28 de setembro em relação com um fato que vinha ocorrendo havia três anos, e que era utilizado pelo inimigo de uma maneira pérfida para fazer campanha contra nossa Revolução; o caso dos indivíduos que quando foram suspensos os vôos entre Cuba e Miami ficaram com um pé aqui e outro acolá.
No intuito de desmascarar definitivamente o imperialismo ianque nesse aspecto, formulamos as declarações que vocês conhecem do dia 28, e quando com posterioridade falaram que eram algo incertas e ambíguas, assim como que não tinham sido apresentadas por vias diplomáticas, fizemos uma segunda declaração bem clara e bem concreta para deixar definitivamente resolvida a questão. E hoje já os telexes trazem a notícia da resposta definitiva do governo dos Estados Unidos da América nesse sentido.
E vou ler as notícias que trazem esses telexes.
Essencialmente dizem:
"O presidente Johnson —este é um telex da AP— anunciou hoje que procurará um entendimento diplomático com Cuba para que possam asilar-se nos Estados Unidos os cubanos que desejem sair de sua pátria."
Isto de entendimento diplomático quer dizer um acordo por via diplomática em relação a este problema.
Diz: "Solicitei ao Departamento de Estado que procure através da Embaixada de Suíça, encarregada dos assuntos dos Estados Unidos da América, a vênia do governo de Cuba em uma solicitação ao presidente da comissão da Cruz Vermelha Internacional."
Além disso refere: "Dei instruções os ministérios de Estado, Justiça, Saúde, Educação e Assistência Social, para que façam os arranjos necessários para àqueles que em Cuba procurem a liberdade possam entrar ordenadamente nos Estados Unidos.
E em outro telex, com mais notícias, acrescenta, que o senhor Johnson também declarou:
"Mais uma vez isto revela um selo de fracasso sobre um regime quando muitos dos seus cidadãos elegem voluntariamente abandonar a terra em que nasceram para um lar de esperança. O futuro alberga pouca esperança para qualquer governo quando o presente não permite esperanças para seu povo." Disse que "os refugiados serão bem-vindos com o pensamento de que num outro dia possam voltar a sua pátria para encontra-la limpa do terror e livre do medo".
Quer dizer que, aparentemente não tiveram outra alternativa nem outra saída; e significa, em primeiro lugar, que temos ganho uma batalha pela liberdade (APLAUSOS).
O senhor Johnson não seria Johnson, nem seria presidente dos Estados Unidos da América, nem seria ianque, se com esse proverbial farisaísmo não acompanhasse esta declaração, de todo esse condimento relativo às esperanças que vão procurar os que marcham rumo aos Estados Unidos à procura da liberdade, e que nada pode oferecer para o futuro, quem para o presente só oferecem a perspectiva de terem que se marchar do país, aos cidadãos de um outro país. E também fala da Cruz Vermelha, portanto consideramos necessário que respondamos ao senhor Johnson sobre esses particulares que nada têm a ver com o fato em si que nós colocávamos, e fazer alguns esclarecimentos pertinentes em relação com tudo isso.
Em primeiro lugar, ainda as agências telegráficas ianques e muitos dos funcionários desse país, igual do que algumas agências telegráficas que não são ianques, mas que aparentemente â força de ouvir repetir os argumentos, como é o caso da Reuther e da France Press, tornaram-se eco da afirmação de que isto implicou uma mudança na política em relação aos que desejavam marchar-se do país. E isso é absolutamente falso. Desde o princípio da Revolução teve-se sobre este particular uma única política; desde o começo da Revolução até a Crise de Outubro, estiveram saindo incessantemente deste país todos aqueles que o desejavam e que tinham recebido a permissão dos Estados Unidos da América.
E quando na sequência da Crise de outubro eles paralisaram os vôos a Cuba, não houve uma mudança na política do governo revolucionário, porque pelas outras vias —ou seja, pela via de Espanha e a via do México— continuavam saindo aproximadamente 300 pessoas/mês, isto é, mais de 3 000 pessoas/ano. Não houve a menor mudança na política sobre os que desejem marchar-se no país, o que temos feito é desmascarar a má fé e a hipocrisia do imperialismo ianque, único responsável de que as vias para sair normalmente se tivessem estagnado, visando promover certo tipo de saídas clandestinas e arriscadas, com o único propósito de fazer propaganda.
O senhor Johnson possivelmente ignore que nos Estados Unidos da América quando ocorreu a luta pela independência para se libertar do colonialismo inglês, milhares e milhares de norte-americanos abandonaram o país depois da independência, e marcharam para o Canadá.
E em todas as revoluções, ora a Revolução Francesa, ora a Revolução Russa, ou a Revolução Cubana, esse fenómeno da marcha ou da emigração das classes privilegiadas é um feito absolutamente histórico. Mas se a saída de um país, se a saída dos homens e mulheres que nascem em um país para outro país pudesse ser um indicador das características de um regime social, o melhor exemplo é o caso de Porto Rico, ilha da qual se apoderou o imperialismo ianque, e que tem mantido sob um regime de exploração colonial, a consequência do qual mais de um milhão dos homens e mulheres nascidos naquele país viram-se na necessidade de emigrar para os Estados Unidos. E o senhor Johnson se esqueceu de Porto Rico e do milhão de porto-riquenhos que moram em Nova Iorque nas mais duras condições de vida, nos bairros mais pobres, e realizando os trabalhos mais humilhantes!
É claro que isso de falar da Cruz Vermelha é um truquezinho do senhor Johnson visando dramatizar a questão. E na verdade, quem disse que para tramitar passaportes e dar permissão para que aterrem uns aviões em Miami tem que intervir a Cruz Vermelha? O quê tem a ver a Cruz Vermelha com isso? Não se trata de um terremoto, nem de uma hecatombe, nem de uma guerra, mas do simples trâmite de autorizar a chegada aos Estados Unidos, de autorizar a aterragem dos aviões, ou a chegada dos navios.
A Cruz Vermelha não faz falta alguma nesse caso. A Cruz Vermelha, em todo o caso, poderia intervir para lhe dizer ao governo dos Estados Unidos que cesse a criminosa medida mediante a qual é proibida a exportação de medicamentos a Cuba. Sim, para isso sim faria falta a Cruz Vermelha Internacional! (APLAUSOS.)
Em todo o caso, aa Cruz Vermelha poderia fazer um melhor trabalho no Vietnã do Sul (APLAUSOS), onde os soldados ianques assassinam milhares, assassinam e torturam por milhares aos cidadãos daquele povo. Ou no Vietnã do Norte, onde os criminosos bombardeamentos ianques não distinguem em nada absolutamente, e ora bombardeiam cidades, do que aldeias, escolas ou hospitais.
A Cruz Vermelha poderia ter alguma coisa a fazer em São Domingos, onde os soldados invasores cometem todo o tipo de atropelos contra o povo, e têm ocupadas as escolas dos estudantes (APLAUSOS).
Poderia intervir nos próprios Estados Unidos, com o objetivo de evitar os massacres de cidadãos negros, como o que aconteceu nos Angeles, Califórnia, recentemente (APLAUSOS).
Mas para essa questão, senhor Johnson, não é preciso a presença da Cruz Vermelha. Basta-nos discutir com os representantes da embaixada suíça, que ao mesmo tempo são representantes dos interesses norte-americanos em Cuba, e podemos combinar perfeitamente bem com eles acerca de qualquer trâmite. Não é preciso que intervenha mais ninguém. Aceitamos a seriedade e a responsabilidade dos funcionários suíços. Agora, se o governo dos Estados Unidos da América não tiver confiança, ou não acreditar na habilidade ou na capacidade dos funcionários da embaixada suíça, isso é coisa do governo dos Estados Unidos! (APLAUSOS).
Ora bom: falando muito em sério sobre estas questões de liberdades, gostaria saber se o senhor Johnson poderia responder um par de perguntas, visto que nós aqui temos estado permitindo que saia todo aquele que deseje sair do país desde o início da Revolução, porque nunca temos negado a permissão àqueles que quiseram sair para ir visitar seus familiares e regressar, e visto que se bem tem cubanos que têm familiares nos Estados Unidos e desejam ir reunir-se com eles, também tem cubanos que têm familiares nos Estados Unidos e que não querem abandonar o país (APLAUSOS), e tendo em conta que o senhor Johnson, junto da Estátua da Liberdade se tomou o trabalho de "condimentar" sua declaração com todas estas banalidades acerca da liberdade, eu lhe pergunto se os Estados Unidos são capazes de permitir que possam vir visitar seus familiares em Cuba aqueles que desejem vir visita-los e regressar para os Estados Unidos! (APLAUSOS), se os Estados Unidos são capazes de permitir que cubanos que não desejam residir nos Estados Unidos da América visitem seus familiares nos Estados Unidos e regressem depois a Cuba; e se os Estados Unidos, por último, estão dispostos a permitir que os cidadãos norte-americanos possam visitar Cuba (APLAUSOS).
Porque a esse mesmo governo que fala de quão mal pode andar um país quando dele se marcham cidadãos, nós lhe podemos dizer: pior pode andar um país quando, apesar de ser um país que tanto pregoa e tanto presume de ser um país de liberdades; mal pode andar um país que, apesar de ter atingido os patamares de desenvolvimento econômico que têm atingido, têm medo de permitir que os cidadãos desse país possam visitar este outro tão detratado e tão caluniado do medo e do terror —como dizem eles (APLAUSOS).
E, portanto, cá vai o segundo emprazamento ao governo dos Estados Unidos da América. Emprazamo-lo a que permita também visitar Cuba, a seus familiares em Cuba, àqueles que têm aqui familiares que não querem ir para os Estados Unidos; a que permita que esses familiares, residentes em Cuba e que não querem abandonar Cuba, possam ir aos Estados Unidos e regressar; e, por último, emprazamo-lo a que permita que os estudantes ou qualquer cidadão dos Estados Unidos possa vir livremente a Cuba, da mesma forma que nós permitimos que se marche, ou que vá e volte, qualquer cidadão deste país (APLAUSOS); que permita que possam visitar Cuba os representantes das organizações negras dos Estados Unidos, ou das organizações dos defensores dos direitos civis, para que vejam como, com o desaparecimento da exploração do homem pelo homem, desapareceu definitivamente a discriminação racial em nosso país (APLAUSOS).
E vejamos se o senhor Johnson, diante do mundo e diante do povo dos Estados Unidos da América, tem alguma resposta —que não seja uma trapalhice— que dar para este emprazamento.
Nós mantemos nossa posição, mantemos nossa declaração, e esperamos que solicitem a pertinente entrevista para o caso os senhores funcionários da embaixada suíça, quando recebam as instruções pertinentes do governo dos Estados Unidos. Mas esperamos para saber se o senhor Johnson tem forma de responder a este emprazamento.
E visto que se fala tanto, visto que se jatam tanto de falar em liberdades, que chegue já de falar em falsas liberdades, chega já de falar de liberdades abstratas, que os feitos estão demostrando que onde realmente se está criando um mundo de liberdades não é ali, mas aqui (APLAUSOS); tão livre, que não queremos que ninguém, alheio à sua vontade, tenha necessariamente que viver nesta sociedade. Porque nossa sociedade socialista, nossa sociedade comunista, deverá ser eminentemente uma associação verdadeiramente livre de cidadãos (APLAUSOS).
E embora seja verdade que determinados cidadãos, educados naquelas ideias do passado e naquele sistema de vida passado, preferem marchar-se para os Estados Unidos, também é muita verdade que este país se tornou no santuário dos revolucionários deste continente (APLAUSOS). Também é verdade que consideramos merecedores à hospitalidade deste povo e desta terra, não apenas aos que nela nasceram, mas todos os homens e mulheres da nossa mesma língua, da nossa mesma cultura, ou ainda quando não da mesma língua, de similares origens históricas e étnicas, de similar história de exploração. E neste país têm direito a vir —e fizeram uso desse direito todos quantos têm querido— os perseguidos pelas oligarquias sanguinárias e imperialistas; a este país têm vindo a residir permanentemente ou transitoriamente muitos homens e mulheres que nasceram em outros territórios irmãos deste continente; e neste país durante anos têm vivido e têm trabalhado muitos técnicos e muitos profissionais procedentes de diferentes cantos da América.
Esta não é apenas uma terra de cubanos, esta é uma terra de revolucionários (APLAUSOS); e têm direito a considerar-se como irmãos nossos e merecedores dela os revolucionários do continente, inclusive os revolucionários norte-americanos (APLAUSOS). Porque algum dirigente, como o caso de Robert Williams, perseguido ali ferozmente, encontrou albergue nesta terra. E ao igual que ele, poderão encontrar albergue os que persigam ali os reacionários e os exploradores. Não importa que falem inglês e tenham nascido nos Estados Unidos. Esta é a pátria dos revolucionários deste continente, ao igual que os Estados Unidos são o albergue inevitável de todos os esbirros, de todos os malversadores, de todos os exploradores, de todos os reacionários deste continente (APLAUSOS), porque não tem ladrão, não tem explorador, não tem reacionário, não tem criminoso que não tenha as portas abertas nos Estados Unidos.
E com isto ficam respondidas as palavras do senhor Johnson embaixo de sua Estátua da Liberdade, que não se sabe o quê representa essa massa de pedra e de hipocrisia, como não seja o que hoje significa para o mundo o imperialismo ianque.
Vamos agora às nossas questões, vamos às questões do nosso Partido, porque acho que as notícias que daqui saem, todas as que se referem aos nossos sucessos sociais, aos nossos sucessos econômicos e aos nossos sucessos políticos, são notícias muito ruins para os imperialistas ianques.
E naturalmente que tudo o que fortaleça e impulse a Revolução, tudo o que nos permita avançar ao máximo, é altamente preocupante para eles, porque isso de que voltarão, sim, algum dia bem gostariam de voltar, arrependidos, uma boa parte dos que se marcharam. Mas quando o senhor Johnson fala de regressar aqui em plano de libertadores, poderíamos dizer para ele que esses são sonhos de uma noite de outono (RISOS).
O país todo tem recebido com júbilo e entusiasmo a notícia da constituição do nosso Comitê Central. Os nomes dos companheiros que integram este Comitê, bem como sua história, são amplamente conhecidos. Caso todos não sejam conhecidos por todos, todos são conhecidos por uma parte considerável e importante do povo. Temos procurado escolher àqueles que a nosso ver representam, da maneira mais cabal, a história da nossa Revolução, a quem, tanto na luta pela Revolução, quanto na luta pela consolidação, defesa e desenvolvimento da Revolução, têm trabalhado e têm lutado firme e incansavelmente.
Não tem episódio heróico na história da nossa pátria nos últimos anos que não esteja aí representado; não tem sacrifício, não tem combate, não tem proeza —mesmo militar do que civil— heróica ou criadora que não esteja representada; não tem setor revolucionário, social, que não esteja representado. Não falo de organizações. Quando falo em setor falo de operários, falo de jovens, falo de camponeses, falos das nossas organizações populares.
Tem homens que foram portadores durante muitos anos das ideias socialistas, como é o caso do fundador do primeiro Partido Comunista, o companheiro Fabio Grobart (APLAUSOS); casos como o da companheira Elena Gil (APLAUSOS), cujo extraordinário trabalho à frente das escolas por onde têm passado mais de 40 000 camponesas das montanhas, onde se formaram milhares de professores, onde hoje estudam mais de 50 000 jovens e crianças, e que nós consideramos um trabalho verdadeiramente exemplar; ou casos como o do companheiro Arteaga (APLAUSOS) que, além de seu historial de luta, durante sete anos tem trabalhado no setor agrícola e tem levado a cabo planos bem-sucedidos, nalguns casos extraordinariamente bem-sucedidos, como é o plano agrícola do Escambray (APLAUSOS); casos de companheiros como o tenente Tarrau (APLAUSOS), companheiro sobre o qual talvez muitos não tenham ouvido falar, mas é o companheiro a quem o Ministério do Interior colocou à frente dos planos de reabilitação na Isla de Pinos (APLAUSOS) e onde tem feito, com atitude exemplar e abnegada, um trabalho brilhantíssimo do qual algum dia terá que falar-se e escrever muito.
Mencionei casos de companheiros, alguns mais conhecidos, outros menos conhecidos. Seria interminável a lista dos companheiros das Forças Armadas Revolucionárias (APLAUSOS) por sua história antes e depois do triunfo, antes e depois do triunfo!, como exemplo de exemplares revolucionários, de incansáveis trabalhadores, como exemplo de superação no estudo, no desenvolvimento da cultura, dos níveis culturais e dos níveis políticos, companheiros de uma modéstia extraordinária, em cujas mãos tem estado fundamentalmente a defesa da pátria nestes sete anos de perigos e de ameaças.
Dos mais conhecidos não é necessário falar. Isto não quer dizer que estejam aqui os únicos valores da nação. Não, bem longe disso. Conta nosso país afortunadamente com incontáveis valores e sobretudo uma promoção de companheiros novos, em pleno desenvolvimento, que algum dia —sem dúvida de natureza alguma— chegarão a ostentar essa responsabilidade e essa honra.
Se perguntarmos quem faltam, indiscutivelmente que faltam. Seria impossível constituir um Comitê Central com 100 companheiros revolucionários sem que faltassem muitos companheiros. O importante não são os que faltam, esses virão detrás; o que importa são os que estão, e o que representam os que estão. E nós sabemos que o Partido e o povo têm acolhido com satisfação o Comitê Central que foi constituído (APLAUSOS).
Este Comitê, que se reuniu ontem, adoptou diversos acordos:
Em primeiro lugar, ratificar as medidas acordadas pela antiga Direção Nacional, ratificar o Birô Político, o Secretariado e as comissões de trabalho, assim como também ao companheiro eleito para o cargo de Secretário de Organização (APLAUSOS). Mas, além disso, adotou dois importantes acordos, que por sua vez tinham sido sugeridos pela antiga Direção Nacional. Um, o que se refere a nosso órgão oficial, e é que em lugar de dois jornais com caracteres políticos como eram editados, concentrar os recursos humanos, concentrar os recursos em maquinaria e em papel para fazer um novo e único jornal de caráter político matutino, para além do jornal "El Mundo" que não é um jornal propriamente de orientação política. Juntar todos esses recursos e fazer um novo jornal que terá o nome de "Granma" (APLAUSOS), símbolo de nossa concepção revolucionária e de nosso caminho.
E outro acordo ainda mais importante, no que se refere ao nome do nosso Partido. Primeiro fomos ORI, nos primeiros passos da união das forças revolucionárias, com seus aspectos positivos e seus aspectos negativos; depois fomos Partido Unido da Revolução Socialista, que significou um progresso extraordinário, um extraordinário avanço na criação do nosso aparelho político. Esforço de três anos em que, da fonte inesgotável do povo, foram tirados incontáveis valores surgidos dentre as fileiras dos nossos trabalhadores, para chegar a ser hoje o que somos em quantidade, mas sobretudo o que somos em qualidade. Porém, Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba diz muito, mas não diz tudo; e Partido Unido ainda dá a ideia de algo que foi necessário unir, que ainda lembra um pouco as origens de cada qual. E como entendemos que já temos chegado a tal grau em que de uma vez por todas e para sempre tem de desaparecer todo o tipo de matiz e todo o tipo de origem que distinga uns revolucionários de outros, e já temos chegado ao ponto afortunado da história de nosso processo revolucionário em que possamos dizer que apenas existe um tipo de revolucionário, e visto que é necessário que o nome do nosso Partido diga não o que fomos ontem, senão o que somos hoje e o que seremos amanhã, qual é, ao vosso ver, o nome que deve ter nosso Partido? (APLAUSOS e EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista!") Qual é, companheiro? Um companheiro daqui! (EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista!") Os companheiros de cá! (EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista!") Os companheiros de lá! (EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista!") Os companheiros de lá! (EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista!") Partido Comunista de Cuba! (EXCLAMAÇÕES DE: "Comunista, Comunista!").
Pois esse é o nome que, interpretando o desenvolvimento do nosso Partido, da consciência revolucionária dos seus membros e dos objetivos da nossa Revolução, adotou no dia de ontem nosso primeiro Comitê Central.
E é muito correto, como explicávamos ontem aos companheiros do Comitê; a palavra comunista tem sido muito caluniada e muito detratada ao longo dos séculos. Comunistas houve ao longo da história, homens de ideias comunistas, homens que concebiam um modo de viver diferente à sociedade em que nasceram, e os que pensaram de uma maneira comunista em outros tempos foram considerados, por exemplo, comunistas utópicos, quem há 500 anos, porque de uma maneira idealista aspiravam a um tipo de sociedade que não era possível naquela altura devido ao ínfimo desenvolvimento das forças produtivas com que contava o homem; tendo em conta que ao comunismo de onde partiu o homem primitivo, para viver em uma forma primitiva de comunismo, não poderá voltar o homem senão mediante tal grau de desenvolvimento de suas forças produtivas e tal modo de utilização dessas forças, modo social de utilização dessas forças, que se possam criar os bens materiais e os serviços em quantidades mais do que suficientes para satisfazer as necessidades do homem.
E todos os exploradores, todos os privilegiados, odiaram sempre a palavra comunista como se fosse um crime; anatematizavam a palavra comunista. E por isso quando Marx e Engels escreveram seu Manifesto Comunista que dava origem a uma nova teoria revolucionária, a uma interpretação científica da sociedade humana e da história humana, eles diziam "um fantasma percorre a Europa, e é o fantasma do comunismo", porque como um fantasma, com verdadeiro medo, contemplavam essas ideias as classes privilegiadas.
Mas as classes privilegiadas em qualquer época da história contemplaram sempre com extraordinário medo as ideias novas, e a sociedade romana se aterrorizou em sua época também com as ideias cristãs quando estas ideias surgiram no mundo, e foram em um tempo as ideias dos pobres e dos escravos daqueles tempos. E por ódio a essas ideias novas, aquela sociedade lançou à fogueira e lançou ao circo um incontável número de seres humanos. E assim também, durante a Idade Média, na época do feudalismo, as ideias novas foram perseguidas e seus portadores caluniados e tratados da pior forma.
E as ideias novas que surgiram com a burguesia, no meio do feudalismo, o mesmo quando aquelas ideias adotavam posições políticas, que quando adotavam posições filosóficas, que quando adotavam posições religiosas, foram cruelmente anatematizadas e perseguidas.
Sempre as classes reacionárias se têm valido de todos os meios para anatematizar e caluniar as ideias novas. E assim, todo o papel e todos os meios de que dispõem não lhes resultam suficientes para caluniar as ideias comunistas, como se o afã de uma sociedade em que o homem não seja um explorador do homem mas um verdadeiro irmão do homem, como se o sonho de uma sociedade em que todos os seres humanos sejam realmente iguais de feito e de direito, não uma simples cláusula constitucional como rezam as constituições burguesas, onde dizem que todos os homens nascem livres e iguais, como se se pudesse afirmar isso ora da criança que nasce em um bairro de indigentes, em um berço pobre, do que a criança que nasce em um berço de ouro; como se se pudesse afirmar jamais que em uma sociedade de exploradores e explorados, de ricos e de pobres, que todos os homens nascem livres e iguais; como se todos esses homens estivessem chamados a ter na vida a mesma oportunidade.
O sonho secular do homem —e possível hoje— de uma sociedade sem exploradores nem explorados, tem concitado o ódio e o rancor de todos os exploradores.
Os imperialistas, como se nos fossem ofender, ou como se fosse uma ofensa, falam do governo comunista de Cuba, tal e como com a palavra "mambí" a empregaram contra nossos libertadores como uma ofensa, assim também tentam empregar a palavra "comunista" como uma ofensa, e a palavra "comunista" não é para nós uma ofensa, mas uma honra (APLAUSOS).
E é a palavra que simboliza a aspiração de uma grande parte da humanidade, e por ela hoje trabalham concretamente centenas e centenas de milhões de seres humanos. E dentro de 100 anos não haverá honra maior, nem haverá nada mais natural e lógico do que ser chamados comunistas (APLAUSOS).
Vamos rumo a uma sociedade comunista. Se os imperialistas não quiserem caldo, então lhes daremos três xícaras de caldo (APLAUSOS). Daqui em diante, senhores da UPI, e da AP, quando nos chamem de "comunistas" saibam que nos chamam da maneira mais honrosa que possam chamar-nos (APLAUSOS).
Existe uma ausência em nosso Comitê Central, de quem possui todos os méritos e todas as virtudes necessárias no grau mais alto para pertencer a ele e que, não obstante, não figura entre os membros de nosso Comitê Central.
Acerca disto, o inimigo conseguiu tecer mil conjeturas; o inimigo tem tratado de confundir e de plantar cizânia e a dúvida, e pacientemente, visto que era necessário esperar, temos esperado.
E isso distingue o revolucionário do contrarrevolucionário, o revolucionário do imperialista: que os revolucionários sabemos esperar, sabemos ter paciência, não nos desesperamos nunca, e os reacionários, os contrarrevolucionários, os imperialistas, vivem em perene desespero, vivem em perene angústia, em um perene mentir, da maneira mais ridícula, da maneira mais infantil.
Quando se lêem as coisas que falam alguns desses funcionários, alguns desses senadores ianques, a gente se pergunta: Mas como é possível que este senhor não esteja em um estábulo em vez de pertencer ao que se chama de congresso? (APLAUSOS). Alguns deles falam verdadeiras besteiras. E têm um tremendo hábito de mentir, não podem viver sem mentir. Vivem angustiados.
Se o governo revolucionário declara uma coisa —que é o que tem feito sempre— como foi à que me referi ao começo, então aparecem coisas truculentas, terríveis, um plano detrás de tudo isso!
Que ridicularia! Com que medo vivem! E a gente se pergunta: acreditarão nisso? Acreditarão? Acreditarão em tudo o que falam? Ou, terão necessidade de acreditar em tudo o que falam? Ou não podem viver sem acreditar em tudo o que falam? Ou falam naquilo que não acreditam?
É difícil, seria questão de médicos e de psicólogos. O que têm no cérebro, que angustia é essa que em tudo vêem uma manobra, um plano truculento, tenebroso, terrível? E não sabem que não existe melhor tática, nem melhor estratégia que lutar com armas limpas, e que lutar com a verdade, porque essas são as únicas armas que inspiram confiança, são as únicas armas que inspiram fé, são as únicas armas que inspiram segurança, dignidade, moral. E são com essas armas com as que temos ido vencendo e esmagando, os revolucionários, os nossos inimigos.
Mentira. Quem ouviu jamais uma mentira em boca de um revolucionário? Porque são armas que não beneficiam revolucionário algum, e nenhum revolucionário sério tem necessidade de recorrer a uma mentira jamais; sua arma é a razão, a moral, a verdade, a capacidade de defender uma ideia, um propósito, uma posição.
E em fim, o espetáculo moral dos nossos adversários é verdadeiramente lamentável. E assim os agoireiros, os intérpretes, os especialistas nas questões de Cuba e as máquinas eletrônicas, têm estado trabalhando incessantemente para desentranhar este mistério. Que se Ernesto Guevara (APLAUSOS) tinha sido purgado, que se Ernesto Guevara estava doente, que se Ernesto Guevara tivera discrepâncias e coisas dessa natureza.
Naturalmente que o povo tem confiança, o povo tem fé. Mas os inimigos se valem destas coisas, sobretudo no exterior, para caluniar: Eis ao regime comunista tenebroso, terrível, os homens se desaparecem, não deixam rastro, não deixam marcas, não existe uma explicação; e falamos em sua oportunidade para o povo, quando o povo começou a notar essa ausência, que oportunamente falaríamos, algumas razões teríamos para esperar.
Desenvolvemo-nos em um meio cercado pelas forças do imperialismo. O mundo não vive em condições normais; enquanto as bombas criminosas dos imperialistas ianques estiverem caindo em um povo como Vietnã não podemos dizer que vivemos em condições normais (APLAUSOS); quando mais de 100 000 soldados ianques desembarcam ali para tentar de esmagar o movimento de libertação; quando os soldados do imperialismo desembarcam em uma república que tem igualdade de direitos juridicamente como todas as outras repúblicas do mundo, qual é o caso de São Domingos, para pisotear sua soberania (APLAUSOS), não vive o mundo em condições normais; quando ao redor de nossa pátria os imperialistas treinam mercenários e organizam ataques vandálicos da maneira mais impune, como o caso de Sierra Aránzazu; quando os imperialistas ameaçam com intervir em qualquer país da América Latina e do mundo, não se vive em condições normais. E quando lutávamos na clandestinidade contra a tirania de Batista, os revolucionários que não vivíamos em condições de normalidade, tínhamos que ater-nos às regras da luta; da mesma maneira, ainda quando o poder revolucionário existe em nosso país, no que se refere às realidades do mundo, não vivemos em condições normais e temos que ater-nos a às regras dessa situação.
E para explicar isto vamos ler uma carta aqui de punho e letra, transcrita a máquina, do companheiro Ernesto Guevara (APLAUSOS), que por si própria se explica. Pensava eu se devia contar a história da nossa amizade e do nosso companheirismo, como começou e sob que condições começou, e como se desenvolveu. Mas não é necessário. Vou-me limitar a ler a carta.
Diz assim: "Havana... Não foi colocada a data, visto que esta carta era para ser lida no momento em que o considerássemos mais conveniente, porém ajustando-nos à estrita realidade, foi entregue no dia 1ro de abril deste ano, há exatamente seis meses e dois dias. E diz assim:
Havana
Ano da Agricultura
"Fidel:
"Lembro-me nesta hora de muitas coisas, de quando te conheci em casa de Maria Antonia, de quando me propuseste vir, de toda a tensão dos preparativos.
"Um dia passaram perguntando a quem se devia avisar em caso de morte e a possibilidade real do feito nos golpeou a todos. Depois soubemos que era certa, que em uma revolução se triunfa ou se morre (se for verdadeira). Muitos companheiros tombaram ao longo do caminho rumo à vitória.
"Hoje tudo tem um tom menos dramático, porque somos mais maduros, mas o fato se repete. Sinto que cumpri a parte do meu dever que me atava à Revolução Cubana em seu território e me despeço de ti, dos companheiros, do teu povo, que é já meu.
"Faço renúncia formal dos meus cargos na Direção do Partido, do meu posto de Ministro, da minha patente de Comandante, da minha condição de cubano. Nada legal me ata a Cuba, apenas laços de outra natureza que não se podem romper como as nomeações.
"Fazendo um reconto de minha vida passada acho ter trabalhado com suficiente honradez e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. Minha única falta de alguma gravidade é não ter confiado mais em você desde os primeiros momentos da Sierra Maestra e não ter compreendido com suficiente celeridade suas qualidades de condutor e de revolucionário. Vivi dias magníficos e senti a seu lado o orgulho de pertencer a nosso povo nos dias luminosos e tristes da Crise do Caribe. Poucas vezes brilhou mais alto um estadista que nesses dias, fico orgulhoso também de ter seguido você sem vacilações, identificado com sua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.
"Outras terras do mundo reclamam o concurso dos meus modestos esforços. Eu posso fazer o que lhe está negado por sua responsabilidade à frente de Cuba e chegou a hora de separar-nos.
"Saibam que o faço com uma mistura de alegria e dor: aqui deixo o mais puro das minhas esperanças de construtor e o mais querido entre meus seres queridos... e deixo um povo que me admitiu como um filho; isso lacera uma parte do meu espírito. Nos novos campos de batalha levarei a fé que me inculcaste, o espírito revolucionário do meu povo, a sensação de cumprir com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo seja lá onde estiver: isto reconforta e cura de longe qualquer laceração.
"Digo mais uma vez que libero a Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a que emane de seu exemplo. Que se me chegar a hora definitiva sob outros céus, meu último pensamento será para este povo e especialmente para você. Que lhe agradeço por seus ensinamentos e seu exemplo e que tentarei de ser fiel até as últimas consequências dos meus atos. Que sempre estive identificado com a política externa de nossa Revolução, e continuo estando. Que lá onde estiver sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal agirei. Que não deixo a meus filhos e a minha mulher nada material e não me apena: me alegra que assim seja. Que não peço nada para eles visto que o Estado lhes dará o suficiente para viver e educar-se.
"Teria muitas coisas que falar para você e para nosso povo, mas sinto que são desnecessárias, as palavras não podem exprimir o que eu gostaria, e não vale a pena rabiscar laudas.
"Até a vitória sempre.
"Pátria ou Morte!
"Abraça-o com todo o fervor revolucionário,
Che." (APLAUSOS PROLONGADOS)
Aqueles que falam dos revolucionários, os que consideram os revolucionários como homens frios, homens insensíveis, ou homens sem entranhas, terão nesta carta o exemplo de todo o sentimento, de toda a sensibilidade, de toda a pureza que se pode encerrar na alma de um revolucionário.
E poderíamos responder, todos nós: Companheiro Guevara: Não é a responsabilidade o que nos preocupa, nós estamos responsabilizados com a Revolução, e nós estamos responsabilizados com a ajuda ao movimento revolucionário na medida das nossas forças! (APLAUSOS PROLONGADOS), e assumimos a responsabilidade e as consequências, e os riscos. Durante quase sete anos tem vindo a ser assim, e sabemos que enquanto o imperialismo existir, e enquanto haja povos explorados e colonizados, continuaremos correndo esses riscos e continuaremos assumindo serenamente essa responsabilidade.
E tínhamos o dever de conformar-nos, tínhamos o dever de respeitar esse sentimento desse companheiro, essa liberdade e esse direito. E essa sim é liberdade, não a dos que vão a colocar-se uma calceta, senão a dos que vão empunhar uma espingarda contra as calcetas da escravatura! (APLAUSOS.)
E essa é outra das liberdades, senhor Johnson, que nossa Revolução proclama! E se os que querem marchar-se para ir viver com os imperialistas, aos que às vezes os imperialistas recrutam para ir lutar no Vietnã e no Congo podem faze-lo, saibam também que todos os cidadãos deste país, quando solicitarem licença, não para ir a lutar junto dos imperialistas, mas para lutar junto dos revolucionários, esta Revolução não lhes negará a permissão! (APLAUSOS PROLONGADOS).
Este país é livre, senhor Johnson, verdadeiramente livre para todos!
E não foi esta a única carta. Junto desta carta, e para a ocasião em que se fizesse uso desta carta, também ficaram em nossas mãos diferentes cartas de saudação a diferentes companheiros e, além disso —como fala aqui—, "para meus filhos", "para meus pais", e para outros companheiros; cartas escritas por ele para seus filhos e para seus pais. E estas cartas as entregaremos aos companheiros e aos familiares, e lhes pediremos que as doem à Revolução, porque nós consideramos que estes são documentos dignos da história.
E entendemos que isto explica tudo, e é o que a nós nos corresponde explicar. O resto, que os inimigos se preocupem. Nós temos bastantes tarefas, bastantes coisas que fazer em nosso país e com relação ao mundo; bastantes deveres que cumprir, e os cumpriremos.
Desenvolveremos nosso caminho, desenvolveremos nossas ideias, desenvolveremos nossos métodos, desenvolveremos nosso sistema. Utilizaremos toda a experiência que possa ser-nos útil, e desenvolveremos experiências novas.
Uma nova época surge por inteiro na história do nosso país, uma forma diferente de sociedade, um sistema diferente de governo; o governo de um partido, do partido dos trabalhadores, integrado pelos melhores trabalhadores, formado com a participação plena das massas, para poder dizer com toda justificação e com toda razão que é a vanguarda dos trabalhadores e que é a representação dos trabalhadores em nossa democracia operária e revolucionária. E será mil vezes mais democrática que a democracia burguesa, porque marcharemos rumo a formas administrativas e políticas que implicarão a constante participação, nos problemas da sociedade, das massas, através dos organismos idôneos, através do Partido, em todos os níveis. E iremos desenvolvendo essas formas novas como só uma revolução pode faze-lo, e iremos criando a consciência e os hábitos dessas novas formas. E não nos deteremos, não se deterá nosso povo até ter atingido seus objetivos finais.
E este passo significa muito, significa um dos passos mais transcendentais na história do nosso país, significa o momento histórico em que as forças unificadoras foram superiores às forças que dispersavam e dividiam, significa o momento histórico em que todo um povo revolucionário se juntou estreitamente, em que o sentido do dever prevaleceu sobre tudo, em que o espírito coletivo triunfou sobre todos os individualismos, em que os interesses da pátria prevaleceram amplamente e definitivamente sobre todo interesse individual ou de grupos, significa ter alcançado o grau mais alto de união e de organização com a mais moderna, a mais científica, ao mesmo tempo que a mais revolucionária e humana das concepções políticas.
E somos o primeiro país deste continente, para além de ser, segundo o critério do governo imperialista dos Estados Unidos da América, o único país independente. Porque se a Câmara de Representantes proclama o direito de intervir em qualquer país para evitar o perigo de uma revolução comunista, aqui existe uma revolução comunista no poder (APLAUSOS). Portanto, somos considerados o único país independente. E, claro, quando os representantes dos monopólios lançaram essa bofetada no rosto de todas as repúblicas da América, emitindo a declaração de não independência, alguns —e poderia dizer-se melhor, muitos—têm-se ruborizado de vergonha, muitos se têm escandalizado quando os Estados Unidos declaram seu direito a intervir unilateralmente.
É bom lembrar-lhes dos acordos que tomaram contra Cuba, é bom lembrar-lhes da cumplicidade com as vilanias que contra nossa pátria tramou o imperialismo. E então, nós fomos os únicos, os que nos levantamos decididos a morrer e falamos que defendíamos não apenas o direito de Cuba, mas que defendíamos a independência dos demais povos da América Latina (APLAUSOS).
Os que plantam ventos recolhem tempestades, e os que plantaram intervencionismo contra Cuba, rompimentos coletivos contra Cuba, bloqueios contra Cuba, estão recolhendo tempestades de intervencionismos e de ameaças contra eles próprios. E ficam espantados e se enchem de pânico e se reúnem os parlamentos, e os partidos burgueses colocam o grito no céu. Aí têm os frutos da cumplicidade com os imperialistas, aí têm o que é o imperialismo.
E assim, cada dia que passe, os povos verão mais nitidamente quem tem a razão, quem nestes anos históricos defendeu a verdadeira independência, a verdadeira liberdade, a verdadeira soberania; e a defendeu com seu sangue, e a defendeu frente ao imperialismo e a todos seus cúmplices.
Os próprios imperialistas lhes estão ensinando. O fantasma do comunismo era incessantemente agitado. E ao combaterem esse fantasma, os imperialistas ianques têm declarado seu direito a desembarcar em qualquer país deste continente, menos em Cuba (APLAUSOS).
E o que temos avançado!, mas sobretudo o que avançaremos nos anos vindouros, utilizando todas as possibilidades potenciais do nosso país, utilizando as enormes forças que temos organizado e que temos criado, utilizando-o de uma maneira organizada, eficaz: essa é a tarefa do nosso Partido.
Tomaremos enorme vantagem, marcharemos a passo vertiginoso rumo ao futuro, com um partido que deverá dirigir, que deverá atender todas as frentes, porque todas as frentes deverão ser atendidas por nosso Partido, todos os problemas deverão ser estudados. E para isso criamos as comissões, e novas comissões serão criadas. E não haverá um só problema que não seja objeto de estudo e de análise profunda por parte do Partido, para que de cada análise saia a orientação, a orientação correta e a melhor orientação.
E dizia que lavraremos nosso caminho rumo ao comunismo e chegaremos ao comunismo. Tão certos estamos, como de que temos chegado até aqui.
E no meio das dificuldades de todo o tipo deste minuto da história do mundo, face a um inimigo cada vez mais poderoso, face ao doloroso feito da divisão nas fileiras revolucionárias no mundo, nossa política será de uma união mais estreita, nossa política será a política de um povo pequeno, mas independente e livre.
Nosso Partido educará as massas, nosso Partido educará a seus militantes. Entenda-se bem: Nosso Partido! Nenhum outro partido, mas nosso Partido e seu Comitê Central! (APLAUSOS.)
E a prerrogativa de educar e orientar as massas revolucionárias é uma prerrogativa irrecusável do nosso Partido, e seremos muito zelosos defensores desse direito. E em matéria ideológica será o Partido quem diga o que deve dizer. E se nós não estivermos de acordo e não quisermos e não nos dá a vontade que as divergências que dividam ao campo socialista nos dividam, ninguém poderá impor-nos semelhante coisa! (APLAUSOS).
E todo o material de tipo político, exceto que se tratar de inimigos, só poderá chegar ao povo através do nosso Partido no momento e na oportunidade em que nosso Partido o determine (APLAUSOS).
Sabemos muito bem onde está o inimigo, quem é o único e verdadeiro inimigo. Sabemos bem demais, sabemos de sobra. Contra esse inimigo tivemos que lutar em condições difíceis, para encarar esse inimigo precisamos da solidariedade e da ajuda de muitos, para derrotar a política agressiva desse inimigo, para continuar encarando-nos a ela, precisamos de recursos e precisamos de armas. Porque aqui, a milhares de milhas de distância de qualquer outro país socialista, a milhares de milhas de distância, sem que possamos depender nos momentos decisivos de outra coisa que das nossas próprias forças e das nossas próprias armas, e como estamos conscientes dos riscos que corremos hoje e dos riscos que continuaremos correndo, temos de estar armados até os dentes e preparados até a saciedade (APLAUSOS).
E podemos discrepar em qualquer ponto de qualquer partido. É impossível aspirar a que na heterogeneidade deste mundo contemporâneo, em tão diversas circunstâncias, constituído por países nas mais diversas situações e nos mais desiguais níveis de desenvolvimento material, técnico e cultural, que possamos conceber o marxismo como algo assim como uma igreja, como uma doutrina religiosa, com sua Roma, seu Papa e seu Concilio Ecumênico.
Esta é uma doutrina revolucionária e dialética, não uma doutrina filosófica; é um guia para a ação revolucionária, e não um dogma. Pretender mascarar o marxismo em espécies de catecismos, é antimarxista.
A diversidade de situações inevitavelmente traçará infinidade de interpretações. Quem façam as interpretações corretas poderão ser chamados de revolucionários; quem façam as interpretações verdadeiras e as apliquem de maneira consequente, triunfarão; quem se enganem ou não sejam consequentes com o pensamento revolucionário, fracassarão, serão derrotados e inclusive substituídos, porque o marxismo não é uma propriedade privada que se inscreva em um registro; é uma doutrina dos revolucionários, escrita por um revolucionário, desenvolvida por outros revolucionários, para revolucionários.
E nós teremos de nos caracterizar por nossa confiança em nós próprios, por nossa confiança em nossa capacidade para continuar e desenvolver nosso caminho revolucionário. E poderemos discrepar em uma questão, ou em um ponto, ou em vários pontos com qualquer partido; as discrepâncias quando são honestas estão chamadas a ser transitórias. O que nunca faremos é insultar com uma mão e pedir com outra, e saberemos manter qualquer discrepância dentro das normas da decência com qualquer partido, e saberemos ser amigos de quem saibam ser amigos, e saberemos respeitar a quem nos saibam respeitar.
E estas pautas determinarão sempre nossa libérrima conduta, e jamais pediremos licença a ninguém para fazer alguma coisa, jamais pediremos licença a ninguém para ir a parte alguma, jamais pediremos licença a ninguém para ser amigo de algum partido ou de algum povo.
Sabemos a transitoriedade dos problemas. E os problemas passam, os povos perduram; os homens passam, os povos ficam; as direções passam, as revoluções persistem. E nós vemos algo mais que transitórias relações nas relações entre os partidos e entre os povos revolucionários: vemos relações duradouras e relações definitivas.
E de nossa parte nunca sairá nada tendente a criar diferença, algo mais que entre os homens, entre os povos. E nos guiaremos por esse elementar princípio, porque sabemos que é uma posição correta, que é um principio justo. E nada nos afastará da dedicação de todas nossas energias à luta contra o inimigo da humanidade, que é o imperialismo. Porque nós não poderemos dizer jamais que sejam cúmplices dos imperialistas aos que nos têm ajudado a derrotar aos imperialistas (APLAUSOS).
E aspiramos não só a uma sociedade comunista, mas a um mundo comunista em que todas as nações tenham iguais direitos; aspiramos a um mundo comunista em que nenhuma nação tenha direito ao veto, e aspiramos a que o mundo comunista do amanhã não tenha jamais o mesmo quadro de um mundo burguês desgarrado por querelas intestinas; aspiramos a uma sociedade livre, de nações livres, em que todos os povos —grandes e pequenos— tenham iguais direitos.
Defenderemos, como temos defendido até hoje, nossos pontos de vista e nossas posições e nossa linha, de maneira consequente com nossos atos e com nossos feitos. E nada nos poderá afastar desse caminho.
Não é fácil, nas complexidades dos problemas atuais e do mundo atual, manter essa linha, manter esse critério inflexível, manter essa independência inflexível. Mas, a manteremos! Esta Revolução não foi importada de lugar nenhum, é um produto genuíno deste país, ninguém nos disse como tínhamos que fazê-la, e a temos feito! (APLAUSOS); ninguém nos terá que dizer como a continuaremos fazendo, e a continuaremos fazendo! Temos aprendido a escrever a história, e a continuaremos escrevendo! Isso que ninguém o duvide.
Vivemos em um mundo complexo e um mundo perigoso. Os riscos desse mundo os correremos dignamente e serenamente. Nossa sorte será a sorte dos outros povos, e nossa sorte será a sorte do mundo!
Peço para todos os companheiros aqui presentes, para todos os representantes do nosso Partido, para todos os secretários das células nesta espécie de amplíssimo congresso, peço para os que aqui representam a vontade do Partido, do Partido que representa aos trabalhadores, peço-lhes a ratificação dos acordos da Direção Nacional (APLAUSOS), peço-lhes a ratificação plena e unânime ao Comitê Central do nosso Partido (APLAUSOS), peço-lhes o pleno apoio à linha seguida pela direção revolucionária até aqui (APLAUSOS), e o pleno apoio à política proclamada hoje aqui (APLAUSOS).
Viva o Partido Comunista de Cuba! (APLAUSOS e EXCLAMAÇÕES DE: "Viva!")
Viva seu Comitê Central! (EXCLAMAÇÕES DE: "Viva!")
Viva nossa Revolução socialista e comunista! (EXCLAMAÇÕES DE: "Viva!")
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)