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DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NO ENCERRAMENTO DO CURSO PARA ADMINISTRADORES DO SETOR DA CANA-DE-AÇÚCAR, EM 30 DE OUTUBRO DE 1964

Data: 

30/10/1964

Companheiros administradores: 

Com este temos um segundo curso de capacitação ou de tecnificação da agricultura canavieira.

Este ano significou um passo de avanço relativamente ao ano anterior, tanto na duração do curso como no aprofundamento das matérias. Sem dúvida de nenhuma classe que este é um caminho correto, indispensável, e que sem este caminho não haveria nenhuma possibilidade de realizar nenhum plano, nenhum plano ambicioso.

Chegar aos 10 milhões de toneladas de açúcar — que significam uma boa quantidade de milhões de toneladas de cana — é absolutamente impossível, absolutamente impossível, se não se eleva o nível técnico de todos os homens que estão à frente da produção de cana. Seria realmente um sonho.

E foi uma sorte que, oportunamente, compreendéssemos isto e fossem organizados estes cursos que, ao mesmo tempo, nos têm ido demonstrando quanto mais necessários eram. Quer dizer, que quando surgiu a ideia de organizar estes cursos não sabíamos, tanto como sabemos hoje, que estes cursos eram muito necessários mesmo.

Já no ano passado sabíamos que muitos dos companheiros que estiveram nestes cursos tinham retornado a seus respectivos locais de trabalho com muito entusiasmo, com muito ânimo e com uma apreciação correta da importância que tinham os cursos; e isso, por sua vez, estimulou os companheiros responsáveis por estas tarefas, para organizar neste ano um curso melhor.

Naturalmente, que já estamos dentro dos limites do que podemos ampliar em tempo um curso. Realmente, que dadas as tarefas que é preciso realizar na agricultura, é impossível ter um curso de mais de um mês.

Mas, contudo, os cursos não constituem o único caminho para elevar o nível e a capacidade técnica de nossos dirigentes agrícolas; há muitos outros caminhos. E chegará o tempo em que os cursos se convertam praticamente em conferências de alto nível e em exames de capacitação.

Vocês tiveram a oportunidade de entrar em contato com a cultura da cana, do ponto de vista científico. A imensa maioria de nossos agricultores somente tem uma experiência de caráter prático na cultura da cana. E embora a prática permita atingir certos níveis de produção, é impossível, sem a aplicação da ciência à agricultura, atingir os níveis que os povos necessitam atualmente.

Porque o problema essencial radica em que, na medida em que a população cresce e crescem também as necessidades de todo mundo, nós nos deparamos com a situação de ter que satisfazer essas necessidades com uma terra que, por sua vez, segue um curso ao avesso, quer dizer, que se esgota paulatinamente.
E qual seria o futuro da humanidade se essas duas magnitudes continuam avançando em direções opostas, quer dizer, crescimento da população e diminuição da fertilidade da terra? A única solução está, precisamente, na ciência, que permita — superando essa tendência natural de desgaste das terras, de diminuição da fertilidade das terras — aumentar, ano após ano, os rendimentos das terras, aumentar, ano após ano, a capacidade de produção das terras.
E a ciência tenta obter esses resultados mediante o esforço em distintas direções: o esforço no tratamento do solo, quer dizer, no tratamento físico do solo; o esforço na mecanização; o esforço no tratamento químico do solo, a fertilização dos solos; o esforço nas variedades, com o intuito de selecionar aquelas variedades que deem maiores rendimentos, que se adaptem melhor às condições do clima do país, que se adaptem melhor ao regime de chuvas do país. E por sua vez, não são estes os únicos caminhos. E é possível que a ciência continue aprofundando, analisando também os aspectos biológicos do solo.

E esses conhecimentos todos, que ainda que hoje sejam incomparavelmente superiores aos que eram conhecidos há alguns anos, pode dizer-se que esses conhecimentos ainda estão começando.

Sem os fertilizantes químicos, neste instante a humanidade estaria submetida a uma fome terrível. Se da noite para a manhã sumissem os fertilizantes químicos, metade da humanidade passaria fome.

O que significa isso? Significa que com a química e a aplicação dos fertilizantes químicos ao solo, a humanidade começou a revolucionar o processo natural da natureza. Se o homem se tivesse conformado em receber o que a natureza lhe pudesse oferecer, de acordo com seus recursos, não teria podido atingir os níveis que permitem hoje alimentar uma população muito maior. 

Ninguém sabe o que a ciência reserva no futuro ao homem. A população cresce e cresce, e continuará crescendo; mas a superfície da terra não cresce. Pode ocorrer que em certa medida a extensão de terra cultivável cresça, quando algumas zonas alagadiças, por exemplo, sejam dessecadas; ou algumas terras cobertas de florestas sejam cultivadas. Mas isto tem um limite, tem um limite; e a população humana continuará crescendo e crescendo. Depois, futuramente, a humanidade tem pela frente o problema de como satisfazer as necessidades de uma humanidade que continuará crescendo e crescendo, e que hoje cresce a um ritmo superior a nenhum outro tempo; porque, precisamente, os avanços em outros ramos da ciência, como é a medicina, permitiram ao homem enfrentar com sucesso doenças que antes constituíam verdadeiras pragas, as quais dizimavam a população humana. E a humanidade terá que resolver o problema — não esqueçam isto nunca — de alimentar uma população que duplica e triplica e quadruplica e quintuplica em uma superfície que não cresce, que se mantém igual em extensão.

Em séculos passados muitos homens pensaram que a humanidade chegaria um momento em que morreria de fome, muitos homens em séculos passados consideravam que este era um problema absolutamente insolúvel. Contudo, essa não pode ser a posição dos homens que tenham fé na ciência, em virtude de um princípio elementar: a matéria nem é criada nem é destruída, só se transforma, inclusive a água que se evapora não se perde, o nitrogênio que se esvai em forma de amoníaco não se perde.

Nas indústrias de fertilizantes se toma o nitrogênio do ar porque na atmosfera que existe sobre cada hectare de terra, sobre cada hectare de terra, há dezenas de milhares de toneladas de nitrogênio; na atmosfera que existe sobre uns 14 hectares de terra há centenas de milhares de toneladas de nitrogênio, quer dizer que praticamente com o nitrogênio que haveria na atmosfera que existe sobre uns 14 hectares ou, em todo o caso, sobre 28 hectares, no dia em que crescessem nossas necessidades, poderíamos satisfazer todas as necessidades de fertilizantes de nossa agricultura. E o homem toma o nitrogênio do ar e o aplica à agricultura, quer dizer, está transformando a forma em que o nitrogênio está combinado no ar em outra combinação química a que, por sua vez, as plantas e os animais transformam em outras combinações químicas, mas não se perdem.

O problema do homem é como adquire, cada vez mais e mais, a capacidade de utilizar esses elementos a fim de satisfazer suas necessidades, que são necessidades que crescem dia a dia em cada homem, de uma humanidade que, ademais, cresce por sua vez dia a dia.

Se vocês têm muito em conta estes raciocínios simples, bem simples, então poderão ter a verdadeira dimensão da importância que tem avançar pelos caminhos da técnica, avançar pelos caminhos da ciência. E está na hora que nosso país rumasse por este caminho, porque a história de nosso país é a história dos países que tiveram explorados seus recursos naturais durante séculos, sem nenhum esforço de tratamento técnico ou tratamento científico, nossas terras têm estado produzindo durante anos e anos, algumas estiveram produzindo durante séculos, durante séculos lhes foram extraindo elementos à terra e, contudo, não lhe foi devolvido praticamente nada; durante séculos se esteve produzindo e exportando cana, exportando mel, exportando produtos agrícolas o consumindo-os, temos vindo a extrair da terra esses elementos sem devolvê-los.

Naturalmente que caso se permitir que a terra desenvolva de novo sua vegetação, depois de certo número de anos ela volta a reconstruir pelo menos uma parte desses elementos. Mas isso não seria solução porque essa solução significaria fome. Assim, temos que explorar a terra e explorá-la ano após ano, e ano após ano conseguir maiores rendimentos por cada unidade de terra.

E, realmente, se está iniciando em nosso país uma verdadeira revolução educacional como base, ao mesmo tempo, de uma revolução técnica. E estamos, pode dizer-se, que no A, B, C; estamos nas primeiras páginas de um livro grande, percorrendo os primeiros metros de um caminho longo. É longo o trecho e, contudo, temos que andá-lo rápido; longo o trecho entre o nível da técnica atual em nosso país e o nível da técnica que deveremos ter dentro de cinco anos e o que deveremos ter dentro de dez anos porque, realmente, devemos aspirar a chegar a ter uma das agriculturas mais eficientes e mais produtivas do mundo. E isso, naturalmente, não é irrealizável e tem um só caminho e esse único caminho é este.

Vocês têm recebido um curso simples que lhes permite, dentro das condições atuais, melhorarem as técnicas de produção e terem melhor compreensão de seu trabalho. Mas, paralelamente ao conhecimento que vão adquirindo nossos dirigentes agrícolas, tem que surgir outra série de condições que facilitem o trabalho de vocês, porque temos que chegar ao momento em que cada fazenda canavieira, cada fazenda canavieira tenha um plano exato de todas suas terras com todas as características dessas terras, tenha um conhecimento cabal do tipo de variedade de cana que mais se adapta a essas terras, tenha um conhecimento cabal de cada máquina que possa ser mais bem utilizada nessas terras, porque de fazenda a fazenda haverá diferenças e, ainda dentro da mesma fazenda, de campo a campo haverá diferenças e, ainda dentro do mesmo campo, em cada hectare poderão achar diferenças, distintos tipos de solos, distintas profundidades da camada vegetal que em cada caso precisará de um tipo adequado de charrua, que em cada caso requererá de uma técnica adequada de cultura, que em cada caso requererá de um nível determinado de fertilização.

Mas não bastará atingirmos um dia determinado, um grau tal de conhecimento de nossas terras, que sejamos capazes de conhecer as características físicas e químicas em um dado momento de cada pedaço de terra, porque há certas características físicas que vão mudando com as culturas, e as características químicas vão mudando de ano em ano, porque uma análise em um dado momento pode demonstrar que existem os elementos necessários para fazer uma boa colheita de cana e que, contudo, depois da primeira colheita, no segundo ano, já não seja igual a quantidade de elementos que possui, e pode haver algum que necessite mais e outro dos que necessite menos e tem que chegar o dia em que, com o auxílio dos laboratórios, sejamos capazes de tirar uma amostra de terra e obter uma análise à maior brevidade; tem que chegar o dia em que cada campo seja analisado cada ano, para poder saber quais são as quantidades de nutrientes que devemos adicionar à cana.

E tem que chegar o dia em que não só o analisemos cada ano, mas que em cada campo de cana sejamos capazes de analisá-lo cada ano, e analisá-lo mais de uma vez se é necessário cada ano, de acordo com o estado da colheita. Depois tem que avançar também outra série de requisitos; deve avançar-se na formação de técnicos de solos, de laboratoristas, e no estabelecimento de centros que sejam capazes de auxiliar a agricultura, oferecendo-lhe todas aquelas informações que necessitem.

E é claro que nas terras de irrigação será necessário também ainda um conhecimento mais cabal; será necessário que conheçamos as quantidades mínimas de cana; será necessário que desenvolvamos variedades adequadas às regiões um pouco mais secas; será necessário que encontremos técnicas que permitam conservar a chuva.

E chegará o momento — quando todos esses requisitos existirem — chegará um momento em que cada fazenda seja manuseada com uma alta especialidade, seja manuseada com um grande conhecimento técnico, seja manuseada com um grande controle desses fatores naturais, com um grande controle sobre os incidentes do ano, um conhecimento sobre o estado de cada uma das canas. Terá que chegar o dia em que, inclusive, com muitos meses de antecipação programemos o corte de cada campo de cana e possamos dizer, com meses de antecipação, o campo que vamos cortar cada semana.

E nas terras sob irrigação se poderá, inclusive, influir no grau de maturidade da cana, ou adiantá-lo ou atrasá-lo. Chegará um dia em que cada fazenda canavieira seja manejada dessa forma; e, naturalmente, vocês sabem que, hoje, estamos muito, mas muito longe dessa aspiração. A muitas fazendas nem sequer nunca lhes tem sido examinado o solo, não já uma vez ao ano, nunca. Nossas fórmulas atuais de fertilizantes são fórmulas ao acaso, que se 5-20-10, que se 15-10-8, que se 12-10-10-10, enfim, são todas fórmulas ao acaso, e isso significa que possivelmente em muitos lugares estamos acrescentando um fósforo que não necessita a terra, e dando a outra terra menos fósforo do que necessita; e numas estamos adicionando mais potássio do que necessitam e noutras menos, e noutras mais nitrogênio e noutras menos.

E chegará o dia em que não somente se trabalhe com esses elementos maiores, mas também com os micro elementos. Chegará o dia em que saibamos as deficiências de outros elementos que não são nem o fósforo, nem o potássio, nem o nitrogênio; porque, logicamente, as colheitas não só trazem estes elementos chamados maiores, mas que trazem em quantidades mínimas de dois, de três, de quatro partes por milhão, quantidades mínimas de outros elementos que são essenciais para a planta. E que, logicamente, com as grandes colheitas... Porque na mesma medida em que se aspira a obter grandes colheitas e se obtêm grandes colheitas, é muito mais importante a manutenção e o tratamento científico do solo. Porque, naturalmente, obter 12 mil toneladas de cana por ano não requer, maiormente, de nenhum tratamento do solo, mas para obter 40 mil toneladas, para obter 48 mil, 52 mil e até 60 mil toneladas a situação é diferente.

Eu dizia que vocês tinham adquirido alguns elementos; contudo, esses elementos são muito rudimentares. E vocês compreenderão melhor quando receberem mais material, quando receberem mais livros.

E se deve ter em conta que não somente devemos tratar de adquirir os conhecimentos que se referem à cultura da cana em todos os lados do mundo, mas é necessário que desenvolvamos nossas próprias experiências, porque a cana não se comporta da mesma maneira nos distintos países, não responde a cana da mesma maneira aos diferentes tratamentos; e, às vezes, reage de uma maneira no Havaí diferente da forma em que reage na África do Sul, ou nas Filipinas, ou em Indonésia, ou na zona, digamos, do Caribe.

E assim, certas práticas que se realizaram em algum lugar não deram os mesmos resultados em outro lugar; e certas práticas que em certos lugares tiveram sucesso, em outros não tiveram. Porque se excetuamos nosso país, onde se dava o paradoxo de ser o maior produtor de açúcar, sem nenhuma atenção científica, sem nenhum centro de experimentação, nesses países onde se cultiva a cana têm-se desenvolvido muito as pesquisas, durante dezenas e dezenas de anos; muitos desses conhecimentos são utilizáveis por nós hoje, porque são de aplicação universal mas, ao mesmo tempo, temos que desenvolver nossas próprias experiências.

Mas o fato é que se conseguimos chegar a possuir os conhecimentos que universalmente têm sido recopilados sobre a cana, é enorme o cúmulo de conhecimentos que podemos adquirir, de enorme importância, de extraordinária ajuda para nós.

Se analisarmos um dos fatores limitantes que impede, que constitui um freio, constitui um obstáculo muito grande em nossas aspirações de elevar esses conhecimentos, nos deparamos com o grau de escolaridade. E com motivo destes cursos se teve pela primeira vez a oportunidade de conhecer o grau de escolaridade de nossos dirigentes agrícolas na cana; e ainda que já se possa apreciar o resultado do esforço educativo, ainda que sejam centenas de milhares os trabalhadores que estão estudando, os níveis de escolaridade de nossos administradores canavieiros ainda são extraordináriamente baixos. E aqui temos as cifras: de um total de 543 companheiros que frequentaram este curso, só 10% tem a sexta série; 15,4% a quinta série; 35% a quarta série; 30% a terceira série; 8% a segunda série e 0,2% a primeira série. Quer dizer, que 65% aproximadamente, se pode dizer, 65% têm nível de quarta e terceira séries. E 80,4% estão entre a terceira, quarta e quinta séries. E é necessário que meditemos sobre isso, porque estas são as coisas que nos podem ajudar a compreender onde estão nossas grandes dificuldades, onde estão as dificuldades de um país como ou nosso, que tinha índices tão altos de analfabetismo; onde estão as dificuldades de um país subdesenvolvido. E nós, o país de mais alta produção de açúcar no mundo, e que aspiramos a aumentar consideravelmente essa produção, nos deparamos com que o nível de nossos dirigentes, da imensa maioria de nossos dirigentes, está entre a terceira, ou pode ser da segunda, terceira, quarta e quinta séries. E isso constitui um obstáculo realmente grande.

E este raciocínio é suficiente para que qualquer pessoa compreenda, mas compreenda com um exemplo prático, que compreenda não de uma maneira filosófica ou abstrata, mas de uma maneira prática e real, a necessidade do estudo, a importância do estudo, a necessidade vital do estudo. E ao mencionar estes números aos companheiros administradores o faço porque estou certo de que isto deverá ocasionar neles um forte impacto, e não só neles, mas em muitos outros companheiros, que poderão compreender que têm uma situação mais ou menos similar; um forte impacto em vocês, que lhes permita ganhar a consciência da necessidade premente que temos de dedicar, ainda que sejam uns minutos todos os dias a estudar, e a necessidade de fazê-lo ainda em meio de um trabalho responsável, em meio de um trabalho crescente, em meio de uma tarefa diária.

Cabe a vocês todos resolver com o esforço, com o espírito de superação, o que se veio acumulando ao longo de tantos anos, ao longo de tanto tempo; cabe a vocês, em meio do trabalho e sobre o trabalho, homens de trabalho, homens de povo, adquirir aqueles conhecimentos que quando mais jovens, que quando tinham a idade de ir à escola primária e à escola secundária e aos centros tecnológicos não puderam ir; e ninguém tem que sentir pena por isso, porque nisso há um grande mérito e nisso há de haver um grande motivo de satisfação: que vocês tenham agora que estudar, que tenham que buscar, a todo o custo, uns minutos todos os dias.

E nós tentaremos enviar-lhes material. Já vocês levam este folheto que foi impresso para o curso; possivelmente levem cópias de algumas conferências ou apontamentos das conferências; mas atualmente estamos imprimindo um magnífico livro — primeiro o estamos traduzindo — e com todas as gravuras, fotografias, da melhor maneira possível, nós vamos imprimir um livro que, segundo nossa opinião, é um dos melhores livros que se tenha escrito, porque recolhe as experiências de todos lados do mundo. Aí encontrarão alguma que outra vez o nome de Cuba, mas alguma que outra vez ao lado do nome — inúmeras vezes repetido — de outros países que produzem menos cana que nós, de outros países que não têm nem a décima parte da superfície nossa — e nós somos um país pequeno — inúmeras vezes repetido nesse livro, e poderão então compreender, mais uma vez, o atraso que pairava sobre nós, quanto esquecimento, quanto abandono, a indolência daquela classe que possuía as terras e possuía as usinas açucareiras, a apatia daqueles burgueses e latifundiários, a irresponsabilidade.

E assim, lendo livros sobre coisas da cana, poderemos dar-nos conta que nós, o país que pelas condições naturais tem mais facilidades para produzir cana, os níveis de investigação e de rendimento são baixos. Porque há países que hoje em dia produzem até 300 toneladas, digamos mais, quer dizer, umas 300 toneladas de cana por hectare; mais toneladas de açúcar por hectare que a que nós, às vezes, produzimos em 14 hectares.

Há países que têm culturas de dois anos, outros que costumam tê-las de um ano, e nós deveremos estudar bem se, inclusive, algumas dessas técnicas, em algum tipo de terra, são aplicáveis ao nosso país. Logicamente, essas culturas de um muito alto rendimento devem ser feitas em terras sob irrigação.
Há países que utilizam a cultura mecânica, há países que utilizam os ervicidas para o tratamento das ervas. E, enfim, nós teremos algum dia que estudar todas essas possibilidades; o que, por sua vez, requer — naturalmente — do desenvolvimento também da indústria nossa, porque ainda que vocês estudem bem as questões dos métodos adequados para tratar do solo, se depararão com que muitas vezes não têm a máquina, se depararão muitas vezes com que os fertilizantes disponíveis não são suficientes. Ah! Mas então temos que tratar de que essa pouca quantidade a apliquemos de uma maneira tão adequada e tão correta que produza o máximo de rendimento, porque se necessitamos 10 toneladas e só podemos aplicar quatro, é preciso fazê-lo da maneira que essas quatro toneladas rendam o máximo.

E assim, já no ano que vem temos que aplicar melhores fórmulas, já o ano que vem temos que aplicar muito melhor os fertilizantes, estudá-os melhor. Já o nitrogênio de que dispomos, o ano que vem, devemos tentar aplicá-lo no momento oportuno ótimo, nas quantidades que com o mínimo nos produzam o máximo. E assim, já para um determinado número de hectares, por exemplo, as terras de irrigação, as canas renascidas, quer dizer, as canas mais novas e as canas plantadas de frio, e as canas que possamos plantar na primavera, podemos tentar — por exemplo — selecionar uns 280 mil hectares e tentar obter, por exemplo, nesses 280 mil hectares rendimentos de 100 mil toneladas ou superior, nesses 280 mil hectares; e distribuir, planejar o emprego dos fertilizantes que temos, para utilizá-los nas melhores terras, ali onde uma tonelada de fertilizante nos vai produzir mais, muito mais, que aplicado em outro lugar.

Quero dizer-lhes com isto que não terão todos os elementos na mão, que não terão todos os recursos e que, paralelamente ao desenvolvimento do nível de preparação dos homens que administram a agricultura, tem que ir se desenvolvendo a mecânica agrícola, as quantidades de equipamentos agrícolas, as quantidades de fertilizantes disponíveis, as quantidades de técnicos de laboratório, as quantidades de laboratórios necessários, e, enfim, tudo o demais que deve ir acompanhando este esforço. 

Eu lhes dizia que nesse livro, nesse livro vocês vão encontrar muitas coisas interessantes. Muitas vezes em um livro aparece uma formulinha química que não se compreende bem, muitas vezes aparece um nome botânico que não sabemos exatamente o que quer dizer; é claro que se há uma figura em uma das páginas do livro e uma flechinha assinala o que significa aquele nome botânico, muitas vezes vocês então descobrirão que aquilo que lhes parecia tão difícil significa tal parte da planta, tal parte da folha. Mas, às vezes, não aparece a figura, às vezes não se entende, mas isso não deve desanimar ninguém; muitas vezes em um livro não conseguimos entender cem por cento, mas entendemos 90%, ou 80%, ou 50%, ou 40%; muitas vezes, a segunda vez que o lemos aumentamos já o que conhecemos desse livro de 40% para 60%, muitas vezes, ainda que certas coisas não sejam de tanta importância não se entendam bem, outras se entendem bem e são essenciais. Mas o fato de que vocês se deparem com um nome botânico, ou uma formulinha química, e cada vez que vocês se deparem com alguma dessas coisas que não compreendam, haverão de sentir esse impacto, haverão de sentir essa contradição, haverão de sentir essa preocupação, essa incomodidade, esse desgosto de se depararem com algo que não se entende, irá criado em vocês a consciência, a necessidade de, futuramente, terem que estudar também algo daquelas coisas que se encontram no livro da cana e que não entendem.

Naturalmente que estaríamos iludidos e sonhando, se chegásemos a pensar que vocês todos, todos sem exceção, chegariam um dia a estudar todas essas coisas, mas tenho a esperança de que muitos de vocês, muitos de vocês cheguem um dia a estudar algo mais que a cana, e que para poder entender melhor as técnicas da cana, devem estudar algo também de botânica, algo de química, e algo daquelas disciplinas que são conhecidas como disciplinas básicas e que ajudam a compreender melhor estas matérias sobre as quais vocês trabalham especificamente.

A agricultura é uma atividade onde há muitos princípios de aplicação comum para todas essas culturas, e se pode dizer que quem estudar, por exemplo, os solos, e necessite estudá-los pela relação que têm com a cana, e quem saiba produzir cana bem e conheça os fundamentos pelos quais se produz cana, é capaz de cultivar bem qualquer outro produto. Então começarão as necessidades das pastagens, as necessidades dos frutais. Quando estudem os solos, de fato estarão adquirindo conhecimentos que são aplicáveis a qualquer cultura, porque é que todas as culturas estão unidas em uma série de princípios que são de aplicação comum para elas todas.

Atualmente, estamos fazendo um esforço através de nosso Partido, em todas as províncias, e em todas as regiões e em todas as agrupações. Temos distribuído uns 3 mil livros neste último mês; desses livros alguns se referem a "solos", outros se referem a "pastagens", porque claro, não só vamos desenvolver a cana, como vocês conhecem. E apesar de que na cana estamos muito atrasados, sabíamos de cana mais que das outras coisas. E os companheiros do Partido vão organizar seus círculos de estudos nas províncias, e vão organizar seus círculos de estudos nas regiões, e vão organizar círculos de estudo com os administradores de agrupações, e pode ser que cheguem esses cursos também às fazendas, aos administradores de fazendas.

Pensamos mandar aos companheiros livros de solos, livros de pastagens, livros de agricultura em geral, e também livros de cana, embora, esteja bem claro, que aqueles que estiverem em uma fazenda de cana prestarão muita mais atenção ao livro da cana, e os que estejam em uma fazenda pecuária prestarão mais atenção ao livro de pastagens; contudo, os companheiros que estão nos escalões de agrupação, estão precisando de conhecimentos mais amplos e possivelmente não haja uma só agrupação em que não se produza cana, ademais, pastagens, legumes ou frutas, ou outras culturas, e, portanto, os que estão em níveis de região ou de agrupação, os companheiros do Partido e da administração têm necessidade de ter conhecimentos mais amplos. Mas praticamente, todo dirigente agrícola que estude os fundamentos da agricultura para uma cultura determinada, será um dirigente que conhecerá mais da agricultura, em geral, e será um dirigente capaz de realizar com muito sucesso outro tipo de cultura tão bem como possa realizá-la com a cana. Porque depois que conheça todos os fundamentos gerais, basta com uma monografia que trate, por exemplo, da distância, da data, da época, das quantidades de sementes para cultivar arroz, ou para cultivar legumes, ou para atender às árvores frutais.

E eu lhes dizia que, por exemplo, se há um livro que trate em geral sobre os fertilizantes, nesse livro se estudarão uma série de coisas acerca dos fertilizantes, como se preparam, como se aplicam; e ademais, aparece como se aplica esse fertilizante na cana, ou no arroz, ou na batata, ou nos frutais. Porque nós aqui vamos chegar, com o tempo, a aplicar a técnica a todas essas culturas, inclusive às palmeiras reais, inclusive às palmeiras reais. Para que? Para tirar o dobro ou o triplo do volume do jerivá, e já neste momento estamos fazendo alguns testes de fertilização com as palmeiras, porque talvez gastando 20, 25 ou 30 centavos em fertilizantes, tiramos mais um quintal, mais um quintal e meio, ou dois quintais mais de jerivá e, ao mesmo tempo, vamos aumentar a produtividade do homem que sobe a uma palmeira; o homem que sobe a uma palmeira o mesmo corta um quintal do que três, o difícil é subir a palmeira (RISOS).

Bem. Esse livro dentro de dois meses aproximadamente já estará feito, já estará editado, traduzido ao espanhol com todos seus gráficos e com todas suas fotografias, e então os primeiros livros que se produzam os vamos enviar aos companheiros das fazendas canavieiras, aos que têm participado deste curso (APLAUSOS).

Naturalmente que com estes cursos, com este esforço, acontece tal como com a semente: nem toda a semente que se planta frutifica, uma parte da semente se perde. Com os fertilizantes também, nem tudo é aproveitado pela planta, sempre é preciso calcular uma percentagem de perda. Também nestes cursos, não se aproveita cem por cento, não frutifica cem por cento dos que participam delse, nem sempre cem por cento é aproveitável, cem por cento do esforço; mas estamos certos de que cada vez será uma proporção maior do que seja aproveitável.

Assim, por exemplo, temos outro dado, que entre os que frequentaram o curso passado e frequentaram este curso, aproximadamente 50% dos que estavam no curso passado já não estavam neste curso porque tinham sido substituídos de suas responsabilidades. Pode haver alguns casos porque tenham passado a outro trabalho, pode haver alguns casos, inclusive, que tenham sido promovidos no trabalho; ainda que nós devamos recomendar aos companheiros das agrupações que não estejam tirando os administradores das fazendas para pó-los em cargos burocráticos. Recomendamos aos companheiros administradores de agrupações, que quando haja um bom administrador de fazenda, caso for preciso o tirem de uma fazenda que não esteja tão boa, de uma fazenda para outra, para uma fazenda de maior importância. E também nós temos estabelecido que o sistema para a designação dos administradores de agrupações seja preferivelmente escolhendo-os entre as melhores agrupações de fazendas, entre os melhores administradores das fazendas (APLAUSOS).

É preciso evitar o ‘paraquedismo’ (RISOS), e é preciso promover quem tiver maior experiência no setor canavieiro; e em geral é preciso cumprir esse aspecto no setor agrícola.

Naturalmente que algum dia nós teremos homens que, como tiveram chance de estudar, chegarão a ter muitos mais conhecimentos que vocês. Mas isso não significa que vamos chegar e os vamos pôr em uma agrupação. Não. Começarão por um pequeno campo de cana (APLAUSOS). Já no próximo ano se graduarão alguns companheiros do instituto tecnológico, um grupo de companheiros já que têm estado estudando agricultura, têm estado estudando estas tarefas. Nós expusemos que esses companheiros sejam postos a trabalhar começando pelos escalões, as extensões menores; mas que não os distribuam à toa. Se forem 50, pois façam dez grupos de cinco; ponham cinco em uma agrupação e cinco em outra, para que continuem estudando, porque é preciso exigir a esses rapazes que matriculem na universidade e continuem estudando.

Naturalmente, o fato de sair de uma escola não significa adquirir esses conhecimentos que se requerem para ser um dirigente agrícola. Mas tentaremos ir estabelecendo uma seleção. Ao que realmente me opunha — dizia — o que me parece que não é uma boa prática, é que os tiremos da fazenda e os coloquemos como responsáveis da agrupação canavieira.

Já esse termo de responsável canavieiro de uma agrupação é uma coisa um pouco mais abstrata, e responsável canavieiro da província é ainda mais abstrato, porque é uma abstração do abstrato. E o responsável nacional, pois já chegamos a um companheiro que não é abstrato, que é o companheiro Herrera (APLAUSOS). Mas, bem, necessitamos ter um companheiro nacional. Mas, em geral, acho que é uma abstração a ideia dos responsáveis em nível de agrupação e de fazenda; pode ser, se acaso, uma necessidade transitória. Porque se a administração de uma agrupação canavieira não sabe de cana, se o administrador de uma agrupação canavieira não sabe muito acerca da cana, para que é que o queremos de administrador da agrupação de cana? (APLAUSOS.) Porque entendo que o responsável por uma agrupação deve ser o que mais saiba, o que mais saiba; e tem que saber não só de cana. E, ademais, o responsável por uma fazenda se não sabe de cana, para que é que o queremos como responsável pela fazenda? (APLAUSOS.) E se o administrador de um campo não sabe de cana, para que é que o queremos como administrador do campo? Isso indica a necessidade de que sejam organizados os círculos de estudo com os administradores dos campos ali nas fazendas; e então já algum dia, também, mandaremos o livrinho ao administrador do campo (APLAUSOS).

Realmente devemos rechaçar os cargos abstratos. Penso que esse é um dos defeitos atuais de nossa administração, ainda que não pudesse dizer se necessário ou desnecessário; porque muitas das coisas atuais respondem a tal escassez de pessoas com conhecimentos, que se há uma delas que sabe algo é preciso pô-la em nível de província.

Mas na medida em que possamos ir capacitando os que estão à frente da agrupação e da fazenda e do lote, podemos ir mudando, porque o que então temos com esta forma é um administrador dividido em dez partes, e em todo o caso um coordenador da administração.

Realmente, o homem que esteja à frente da agrupação tem que saber de agricultura, e ao frente da fazenda tem que saber de agricultura, porque se vai depender do homem abstrato, do cargo abstrato, não vamos resolver nada. Porque o companheiro que é responsável nacional, que é uma necessidade, e que pode estar analisando mais ou menos qual é a situação das canas, e quais são as variedades que se estão aplicando, e em que regiões se estão desenvolvendo, e a quantidade de fertilizantes que temos, e de enviar instruções a todos esses administradores; ou ajudar a redigir umas instrucções sobre determinadas coisas da agricultura canavieira, que é que pode fazer se o homem que está de administrador da fazenda lê aquele papel e o joga depois em uma lata de lixo, se não o aplicar, se não é capaz de aplicá-lo, se não pode aplicá-lo?

Entendemos que nossa agricultura dá um extraordinário passo de avanço com a organização das agrupações agrícolas, um extraordinário passo de avanço. Isso significará o desaparecimento da empresa provincial, porque a empresa provincial é também uma entidade abstrata. É impossível que exista uma empresa de toda uma província.

Quer dizer que nossa agricultura será baseada nas agrupações. Pode ser que um dia se chegue também... Em alguns lugares, se há regiões que compreendem duas ou três agrupações, segundo sus características. Quando chegue a hora de fazer os planos será muito mais fácil fazê-los reunidos com os homens das agrupações, porque os homens das agrupações saberão quanta cana têm, quanta terra, quanto equipamento, quanta força de trabalho, e será muito mais fácil fazer o plano de cada ano; porque então a administração nacional lhes dirá: Necessitamos tanta cana. O que vocês têm? Podem fazê-lo? Quanto é que podem ampliar? Quais recursos materiais? Que recursos de homens? Que isso não se pode saber muitas vezes; se sabe em uma agrupação, e a agrupação, por sua vez, se baseia nas fazendas. E talvez, futuramente, tenhamos que produzir menos reuniões, tanto em nível províncial como em nível nacional (APLAUSOS). Porque essas reuniões também muitas vezes são abstratas. Reúnem-se em todas as províncias, não se concretiza, não se segura a coisa, não se amarra. Não é o mesmo se se reunissem os das agrupações em Havana, que se se reúnem todas as agrupações de uma província em uma província, e em vez de uma reunião em Havana delas todas, se dão seis reuniões com seis grupos diferentes ao longo da Ilha.

Então, para os companheiros que têm responsabilidades nacionais resultará mais fácil concretizar, será mais fácil afiançar um plano.

Muitas vezes quando nós viajamos pela estrada e vemos que há bastante trânsito, eu dizia gracejando a alguns companheiros: Não se façam ilusões, esses são os funcionários do interior indo e vindo para Havana (RISOS E APLAUSOS). E se fazemos uma estatística dos que usam os serviços da aviação, poderíamos ter alguns dados eloquentes dos que se montam nos IL-18, de Santiago para acá ou de Camagüey, quantos são funcionários que vão e vêm.

Realmente, nós temos que analisar todas estas práticas, porque o curioso é que muitas vezes acabamos sabendo de algum problema quando vamos ao interior, é mais fácil. Talvez haja outras coisas contra as quais haja que lutar um pouco, contra os esquemas e contra os organogramas. Porque, às vezes, aqui temos alguns organismos nacionais, um combinado, um consolidado, que faz seu organograma: seção de tal e de tal e de tal, então o faz igual em Matanzas, da mesma forma em Las Villas, semelhante em Camagüey, com o mesmo número de empregados, quando resulta que essa empresa em uma província tem quatro vezes mais produção que na outra. Mas como o organograma foi enviado de cima, o aplicaram igual onde estão produzindo um milhão ou onde estão produzindo quatro.

Isso tem sido por causa de burocratismo, do excesso de empregados nas repartições. E, pessoal, se as portas das repartições estão abertas e escancaradas e de maneira fácil, quem vai querer realizar os duros trabalhos da cana? Quem vai querer ordenhar uma vaca zebu? Quem vai querer domesticar uma vaca zebu? Quem pode querer realizar esse tipo de trabalhos que são duros? E são, contudo, duras realidades e duras necessidades nossas de hoje.

Ah!, quando nós estávamos visitando um centro na província de Oriente, nos diziam os companheiros ali: "Bem, por aqui já passaram dez, mas foram embora.” E eu, nessa mesma viagem, soube que uma empresa em Las Villas tinha 60 empregados e outro tanto em Camagüey, e o pior não é isso, mas que tinham trazido de fora novos funcionários para as repartições. 

E comparava o que me diziam aqueles homens que estão domesticando vacas zebus: começaram a trabalhar dez e não ficou nenhum.

Mas, eu estou certo de que por aquele combinado passaram dez e ficaram 20 (RISOS E APLAUSOS).

Naturalmente, nós vamos travar a luta contra a burocracia com nosso Partido, vamos combater essa manifestação do espírito pequeno-burguês com o Partido: Somente os dirigentes políticos podem chegar a sentir a paixão e a preocupação por estas coisas em grau suficiente. E vamos travar uma luta, eu sei que será longa e tenaz, mas que nos impõe a necessidade de travá-la e de vencê-la. Não estaríamos cumprindo nosso dever se não nos preocupássemos por estas coisas.

E acontece o mesmo nas agrupações canavieiras e nas fazendas, é preciso ter em conta que deve haver um mínimo de empregos, o estritamente necessário para as funções, e estejamos perenemente analisando se temos um cargo desnecessário, se temos criado um emprego artificial desnecessário. Temos que manter uma constante vigilância, ver que tarefa realiza cada um; porque esses erros de concepção de organização se pagam caros, custam, elevam os custos, tornam incusteáveis os centros, e temos que chegar ao momento em que os centros sejam totalmente custeáveis, e deixar uma margem também para o investimento. Temos que chegar ao momento em que, alguns dos vícios que apareceram depois da Revolução, sejam superados. É claro que muitas pessoas, ao diminuir aquela tamanha pressão por falta de trabalho, ao diminuir o rigor daquele sistema capitalista, começaram a render menos. Os imperialistas falam do desgaste dos trabalhadores; desse trabalhador que eles tinham ameaçado de fome, desempregado, concorrendo com outros 20 trabalhadores, e que sob a ameaça da fome e do desemprego faz um esforço maior. E o fato é que, depois, com a mudança social esses meios desumanos de obrigar ao homem, desaparecem e então devem ser substituídos por meios eficazes e inteligentes de organização, é o que eles chamam o aborrecimento.

E, efetivamente, se juntaram duas coisas: o desaparecimento de todas aquelas pressões do sistema capitalista, com a falta de conhecimentos e de experiência de nossos administradores, a despreocupação pelo dinheiro de muitos administradores, a pirataria pelos trabalhadores entre os administradores, a duplicação, triplicação e quadruplicação das despesas.

De maneira que, praticamente, se em quatro horas qualquer operário ganhava 10 pesos, era lógico que não sentisse necessidade de trabalhar mais tempo.
Mas, por fortuna, como nossa agricultura estava tão pouco mecanizada, são as máquinas com as normas as que nos permitirão sair desta situação, com uma produtividade por homem infinitamente mais alta que no passado, e com custos menores que no passado.

Porque um homem com uma máquina pode fazer o trabalho de 10, de 20 ou de 30 homens; um operário médio com uma máquina pode fazer o trabalho de 20 bons operários. Então, se poderá buscar o equilíbrio, se poderá buscar o máximo de produtividade por homem com mínimo de custo, com salários honoráveis, com salários adequados.

O que resulta absurdo é querer elevar o nível das receitas sem produtividade, querer elevar a remuneração ao trabalho sem elevar a produtividade do trabalho. Se em todos os lados se distribui muito dinheiro e não há proporção entre o dinheiro que se distribui e os bens que se produzem, então teríamos que viver sempre com uma caderneta de racionamento no bolso, e temos que aspirar a que um dia não haja caderneta; que haja um equilíbrio entre o dinheiro que se distribui e os produtos que é preciso adquirir com esse dinheiro; tem que chegar o dia em que seja alta nossa produção, para que seja alta tem que ser alta nossa produtividade. E vocês compreendem perfeitamente que caso houver todo o leite que se necessita, ninguém tem que andar com uma caderneta para comprar leite; mas que todo o leite que se necessita não o podemos obter somente com vacas zebu, que temos que domesticá-las, temos que usar a inseminação e o cruzamento para conseguir vacas que nos deem o dobro ou o triplo do que nos dão essas vacas; temos que elevar a produtividade do trabalho do homem, neste caso pela via de animais de mais alta capacidade de produção, de maneira que um homem, com o mesmo trabalho, produza o dobro ou produza o triplo do leite.

E o único caminho mediante o qual se pode ir elevando o padrão de vida é pelo caminho de ir elevando a produção. E o caminho de elevar a produção é elevar a produtividade. E a produtividade se eleva com a técnica e com a organização.

E assim, os companheiros que estão à frente das fazendas canavieiras têm um papel muito importante nestes esforços, têm que desempenhar um papel muito importante ali, naqueles locais de trabalho agrícolas; superar os erros, vícios, a despreocupação pela produção, a despreocupação pela técnica, a despreocupação pelas despesas, tudo isso é preciso superá-lo; a criação de cargos desnecessários, é preciso superar isso. E sempre ter presente ali quantos operários há nessa fazenda, o que estão rendendo, como estão trabalhando.

E eu entendo que com a nova organização em agrupações os administradores terão uma ajuda muito maior; acabará a pirataria, a pirataria entre fazendas e a pirataria entre agrupações. E poderemos tirar assim maior fruto do trabalho, do esforço, dos investimentos, dos recursos que se gastam.

É indiscutível que temos avançado muito, mas eu lhes expliquei estas coisas para que tenham uma ideia de que ainda resta muito por avançar. E ano após ano nós iremos fazendo este esforço. Tomara que no ano que vem seja maior que este ano o número dos administradores que voltem ao curso! Porque não é um bom sintoma, não é bom que se tenha produzido uma remoção tão grande em um ano. Porque como quer que seja, todo homem que seja substituído é substituído por outro que talvez comece a ter a experiência.

Quando já esteja tudo organizado, chegará o dia em que, cada vez que um homem seja substituído, seja substituído por outro que também sabe de cana, porque está em um campo, e passa a um cargo na fazenda; e o da fazenda pode pasar a um cargo na agrupação. Mas temos que tentar estabilizar, porque um homem em uma fazenda significa um conhecimento daquela fazenda, dos homens daquela fazenda, das terras daquela fazenda. E esse conhecimento se vai adquirindo durante meses, durante anos. E quando a esse homem haja necessidade de substitui-lo, bem seja para fazer um trabalho melhor, bem porque seria enviado a um trabalho mais importante. E que cada vez sejam menos os homens que devamos substituir em razão de que não tenham podido cumprir, não tenham podido render o que se esperava deles. 

Naturalmente que, às vezes, é necessário fazê-lo, e vocês compreendem isso. Às vezes, um companheiro está desempenhando um trabalho para o qual não tem as melhores faculdades, e que talvez possa estar fazendo outro trabalho melhor que esse.

De todas as formas, é necessário que eles todos se esforcem, é necessário que eles todos estudem, é necessário que eles todos façam o máximo.

E hoje, com motivo da graduação, tomara que lhes tivéssemos podido entregar o livro de cana que lhes falávamos! Mas não vamos poder dar-lhes esse livro, e lhes vamos entregar um livrinho de solos (APLAUSOS), um livrinho que se chama "Solos e fertilizantes", o bastante completo, em que muitas partes dele as podem compreender, ir explicando a vocês toda uma série de coisas sobre fatores da terra, e ademais é amplo. E assim que possamos lhes enviaremos o livro da cana. Entretanto, com este podem fazer uma coisa: dar uma leitura geral ao livro; muitas coisas, algumas, não as entenderão, umas mais, outras menos, já têm uma ideia; talvez na segunda ocasião compreendam um pouco melhor. Vão encontrar muitas coisas interessantes.

Pode chegar então um dia em que tenham registrada uma série de coisas que não entenderam bem, e passou por ali um engenheiro agrônomo, passou um companheiro que pode responder algumas dessas coisas; talvez se organize um círculo de estudo, talvez quando se organize o círculo de estudo vocês tenham lido algumas destas matérias, e todas essas perguntas possam ter resposta, talvez quando venham a este curso no ano que vem.

E o mesmo deverá ser feito com o outro livro: lê-lo pelo menos uma vez ou duas vezes, três vezes, e então é possível que o próximo curso sobre a cana já seja um curso baseado, fundamentalmente, nesse livro que lhes vamos distribuir. 

É claro que nossos companheiros que estão à frente destes planos também deverão tentar estudar esses livros. E os companheiros que ministram as conferências aqui, devem tentar conciliarem essas experiências de caráter universal, com as experiências que nós temos. Mas, além do mais, vocês podem contribuir muito, vocês observando o que ocorre em cada tipo de terreno, o que ocorre com cada uma das variedades de cana. Vocês podem reunir infinidade de conhecimentos, infinidade de experiências.

E, inclusive, aquela ideia de que seja organizado um pequeno centro de pesquisas em cada fazenda, um pequeno centro de experimentação; não esquecer isso. Tal como a aspiração de ter em cada fazenda um pluviómetro; como também chegará o dia em que tenhamos um pequeno equipamento que lhes possa indicar o grau de rendimento da cana, de maneira que vocês nada mais tenham que extrair umas gotas de suco da cana e já um pequeno aparelho lhes diz quanto açúcar tem, qual é o rendimento dessa cana, com aquele aparelho com uma escala, e o podem saber.

Todos os anos nós devemos recolher dados acerca de quanto costuma chover em cada região. Então, nós, recopilando os dados em dez anos, por exemplo, já se podem dar cifras bastante aproximadas das regiões onde chove mais, das regiões onde chove menos; se pode, mais ou menos, calcular com certa aproximação os ciclos de anos mais úmidos, mais chuvosos, com os ciclos de anos mais secos. Porque, naturalmente, poderemos também — há muitos modos — contestar o inconveniente da seca, pelo menos reduzir os efeitos da seca.

Resiste mais uma cana bem fertilizada do que uma cana que não esteja bem fertilizada; resiste mais uma variedade do que outra variedade de cana; resiste melhor uma terra que absorbe mais água, que aquela que já pelo péssimo tratamento do solo, por seu estado físico, é incapaz de absorber mais água. Há uma série de fatores que se podem utilizar para contestar os efeitos dos anos um pouco mais secos do que outros.

Portanto agora, como foram enviados para aqui 550 livros e há 543 alunos, haverá um para cada um e sobram sete; podemos pôr esses sete livros à disposição dos companheiros do curso, dos que dirigiram o curso, para algumas necessidades.

Nesse aspecto dos livros vamos estar bem exatos, e não queremos que os livros estejam diante da consciência da necessidade dois livros. Eu quero que saibam que esses livros se produzem mediante um esforço que fizeram os companheiros do Ministério das Indústrias, e muitas vezes se distribui o livro assim fácil, e pegam nele e depois o jogam em um recanto. Estes livros não são para deixar em um recanto. E quero que saibam que há muitos companheiros que estiveram pedindo estes livros, e que não era fácil obtê-los. E vocês os vão receber hoje no fim do curso, e grátis (RISOS E APLAUSOS). Em todo o caso, esperamos que os possam pagar com mais rendimento (RISOS E APLAUSOS); que os cuidem, que o estudem. Inclusive, já depois vocês poderão ajudar a organizar os círculos de estudo, despertar o interesse dos rapazes jovens por estas questões porque, senhores, é preciso acabar com esse êxodo do campo para a cidade.

Em todo o caso, na medida em que se tecnifique a produção e se mecanize e os rendimentos aumentem, e as indústrias necessitem então mais força de trabalho, que se produza em virtude desse processo natural o aumento da população dos operários industriais, dedicados à indústria, com relação aos operários dedicados à agricultura. Mas nosso grande avanço nos próximos anos é na agricultura. E na agricultura é onde estamos fazendo o maior esforço e na agricultura a produção nacional se vai incrementar extraordinariamente.

Na mesma medida em que vejamos como se desenvolve o esforço e o interesse pelo estudo, pela experimentação, iremos tentando enviar aos companheiros os livros, os materiais, todas aquelas coisas que sejam úteis. Caso aparecer alguma coisa nova sobre a cana, algum folheto, alguma questão, alguma experiência em algum país que seja de interesse, imprimi-lo, enviá-lo aos companheiros, de maneira que em cada fazenda se vá organizando, inclusive, uma biblioteca sobre questões da cana.

Estes conselhos e estes raciocínios acerca da necessidade de estudar, de continuar estudando e sobre sua importância, é o que me parecia mais importante ressaltar esta noite aqui, no fim deste curso.

Felicitamos os companheiros pelo sucesso obtido e lhes desejamos terem ainda maiores sucessos ali, à frente da produção, ainda maiores sucessos na produção de cana.

Pátria ou Morte!
Venceremos! 
(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado