Discurso pronunciado pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz na comemoração do 2º aniversário da Criação do Instituto Nacional dos Recursos Hidráulicos, no salão dos embaixadores, do Hotel Habana Libre, em 9 de agosto de 1964
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Companheiros e companheiras:
Como acabamos de escutar, no relatório do companheiro Faustino realmente se pode precisar o tipo de trabalho que se tem estado fazendo com relação aos problemas hidráulicos.
Minha impressão — possivelmente seja a impressão de todos os aqui presentes — é que se está fazendo um esforço sério, um esforço sistemático, um esforço entusiástico e um esforço promissório neste campo.
Podem-se apreciar, com as dificuldades que tem que resolver este organismo, mais ou menos as dificuldades de ordem geral que nosso povo tem que enfrentar nestes tempos: falta de experiência, falta de informação, falta de dados, falta de investigações, falta de técnicos. De maneira que quando nos perguntamos o que tínhamos em matéria hidráulica, a realidade é que não tínhamos nada.
E, contudo, a água tem tamanha importância para qualquer país, em todos os tempos; mas nestes tempos em que, além das necessidades da população, estão as necessidades que requer a indústria e que requer a agricultura, com o crescimento extraordinário das grandes cidades, com as novas normas de higiene que se requerem para manter um nível elevado de saúde pública, a importância da água é extraordinária.
E as necessidades de nosso país em questão de água são muito grandes, e as dificuldades, naturalmente, não são poucas. Favorece-nos a circunstância de ser um país de relativamente alta precipitação anual; mas, ao mesmo tempo, vivemos em uma Ilha longa e estreita, sem praticamente nenhum rio caudaloso. Ao lado de qualquer rio que se vê em qualquer parte do mundo, o Cauto é um riacho que, inclusive, às vezes se seca. Fica seco e, contudo, quando cresce é um Amazonas, porque adquiriu, nada mais nada menos, que um diâmetro de 40 quilômetros de largura entre Bayamo e Holguín, e mais abaixo, pois, foi mais ampla a dimensão do alagamento, da enchente.
E que foi o que nos obrigou a prestar atenção a este problema hidráulico? Como muito bem assinalou o companheiro Faustino, o primeiro que nos fez pensar nisto foi o fenômeno da seca, a tremenda seca que teve lugar nos anos 1961 e 1962. Quer dizer que a seca foi o fator que nos fez pensar na necessidade de criar uma vontade hidráulica, porque os efeitos daquela seca se sentiram. E assim foi como surgiu a ideia da criação dessa vontade hidráulica, cuja existência era necessária.
E assim foi comemorado o primeiro aniversário da criação do instituto, com os primeiros projetos, os primeiros esforços; mas não havia transcurrido muito tempo desde então quando se nos apresentou o fenômeno contrário, o inaudito, o incrível, o inesperado, e é que caíram dez bilhões de metros cúbicos em umas horas, praticamente, em uma região amplamente povoada e em uma das zonas agrícolas mais férteis de nosso país. E, claro, já não foi somente o dano de ordem material, não; nessa ocasião tivemos a amarguíssima experiência de ver quanta tragédia, quanta dor, quanta tristeza e quanto terror deixam um fenômeno dessa natureza na sua passagem.
Sempre nós lembrávamos a invasão da água do mar, e a enchente provocada pela água do mar sempre é algo que impressiona e obriga os que vivem naqueles lugares expostos a esses perigos a tomar medidas. Mas qual seria a dimensão daquela enchente que alguns camponeses com os quais nós falamos naqueles momentos — muito perto das horas mais críticas vividas por eles — alguns camponeses diziam que era o mar de Puerto Padre o que havia penetrado na província. Foi tão impetuosa aquela enchente, tão tremendo o golpe de água — como o chamam eles — que em alguns lugares chegou ao entardecer, mas em outros lugares chegou à meia-noite ou nas horas da madrugada, dando lugar a uma enorme quantidade de dramas, de cenas dantescas, que isso pode dar-nos uma ideia, uma ideia do que foi para os povoadores daquela região o desastre do furacão. Muitos pensavam que era o mar que estava cruzando a província.
Então, diante dessa experiência tivemos uma nova dimensão da importância e do valor dessa vontade hidráulica.
Mas não foram somente esses dois fatos. Começaram a ser observadas as dificuldades crescentes no fornecimento de água às populações e essencialmente no fornecimento de água da capital, que obrigou a pensar seriamente nesses problemas e na solução desses problemas, e se pôde apreciar uma nova dimensão do valor e da importância deste organismo.
Quer dizer que hoje podemos ter uma ideia mais exata, mais precisa, da importância que tem a água. Mas também se podem ir descobrindo, na medida em que passe o tempo, novas facetas da importância deste problema. E estou certo de que se deixássemos falar os companheiros do Ministério da Saúde Pública poderiam estender-se bastante falando da importância que a água tem para a saúde. Se deixamos falar os companheiros das indústrias, falariam também extensamente da importância que a água tem para o desenvolvimento industrial.
E imaginem se deixamos falar os companheiros da agricultura acerca da importância que a água tem para a agricultura, não já para regar, mas até para manter as mais elementares condições de higiene em qualquer centro de produção agropecuária, até para dar de beber aos animais.
Quer dizer, que a água tem tamanha importância social como elemento vital e fundamental para a população, para suas condições de vida e de saúde. Tem tamanha importância, do ponto de vista econômico.
E, contudo, que atenção tinha recebido este problema? Este é mais um aspecto da vida de nosso país que estava absolutamente esquecido. E foi necessária a Revolução, e não só a Revolução, mas também que nós, os revolucionários, compreendêssemos a importância da água para que se lhe prestasse a atenção devida; da água como amiga do homem, da água como elemento essencial da vida e da água como elemento destrutor, como inimigo do homem em certas condições.
E temos de resolver essa contradição entre as grandes secas e as grandes tempestades, temos que sintetizá-la em uma solução de caráter positivo. Obras hidráulicas para resistir à seca e obras hidráulicas para resistir aos furacões e às enchentes; água quando falta para manter níveis adequados de produção e retenção da água quando sobra para que em vez de espalhar a destruição e a morte traga a abundância e ajude o homem a construir e a criar.
Hoje, o trabalho do Instituto Hidráulico tem uma dimensão humana muito importante, porque na zona de Oriente, que viveu de perto e sofreu a enchente, paira agora um grande temor, existe um verdadeiro trauma nos povoadores daquela região. De maneira que, quando cai um aguaceiro forte, já muitas famílias começam a organizar suas coisas e prontificam-se para a evacuação.
Diz-se que fenômenos desta índole ocorrem tão só cada certo número de anos — afirma-se, inclusive, que em cada centenas de anos — embora eu não saiba se alguém terá feito um estudo a fundo de em cada quanto tempo pode ocorrer uma coisa deste tipo, se inclusive se pode chegar a saber. Ninguém pode assegurar que não se possa repetir. Talvez melhor ocorre em cada mil anos, mas ninguém poderia assegurar estatisticamente a impossibilidade de que não ocorresse dois anos a fio e depois não aconteça mais em 5 mil anos, talvez; mas de certeza ninguém ficará tranquilo ali. E que ainda mais do que sua importância econômica é de ressaltar a importância humana que tem o trabalho das obras hidráulicas na província de Oriente. E ninguém ficará tranquilo, não só os camponeses, nenhum de nós, quando vejamos que se está formando um furacão nas Antilhas Menores, no Caribe, vamos sentir-nos muito seguros, até que todas as represas estejam construídas e até que o rio Cauto esteja endireitado; porque penso que — entre outras coisas — percebe-se a necessidade de endireitar o rio Cauto, que é um rio cheio de curvas (RISOS); e creio que não devemos parar até que não façamos uma barragem até no último riacho de toda aquela região, e que estejamos tranquilos. Porque aquela é uma das zonas mais ricas de nosso país, uma das zonas agrícolas e, além do mais, uma zona que tem magníficas perspectivas de desenvolvimento econômico.
A agricultura necessita água, sabemos disso. Mas não chegaremos nunca a ter água para irrigação em todo o território nacional. Às vezes, nos deparamos com a situação de Havana, em que concorrem as necessidades da população com as necessidades da agricultura. Se não houver água, não nos sentimos bem; e se não houver leite, tampouco (RISOS); e se não há legumes, tampouco; e se não há vegetais nem frutas, tampouco. E, contudo, nesta província, ambas as necessidades colidem.
É difícil culpar alguém, mas bem podíamos culpar — o totí não, coitado do toti que depois arca com muitas das culpas que não tem (RISOS) (Totí: Ave dos campos culpada de dizimar as culturas de arroz. Nota do Trad.) — a anarquia, a anarquia do colonialismo e do capitalismo. Se de verdade, neste momento, tivéssemos a oportunidade de organizar onde tinham que ir as cidades, não construiríamos uma cidade tão grande aqui nesta província; é o resultado dos vícios do colonialismo e do capitalismo, da falta de previsão mais elementar. E assim cresceu e cresceu esta cidade. Mas não só como resultado da falta de previsão, mas também que para esta cidade vieram viver as famílias mais ricas do país. E Havana se converteu no centro de atração de toda a república, Havana se converteu em uma cidade imensa que, para dizer a verdade, se acostumou a viver do resto da Ilha. E dizer esta verdade não é ofender os havanenses, porque, que culpa têm os havanenses? Eles são os que têm a menor culpa de todos esses problemas. Mas essa foi a culpa, não do totí, mas em todo o caso do “totí capitalista", do capitalismo, senhores.
Aqui organizaram todas suas repartições, todas suas empresas, todas as empresas, aqui se organizou todo o grande comércio, aqui veio viver a grande burguesia, aqui construíram seus palacetes, aqui eram construídas as maiores lojas e eram construídos os melhores restaurantes, aqui teve algum desenvolvimento também a cultura do país, e aqui se concentrou a burocracia, e a burocracia era um mal que vinha junto com o capitalismo. E, às vezes, o socialismo também tem que lutar forte contra esse mal para que não seja associado a ele (RISOS).
Todo aquele sistema político que se baseava na aspiração a um posto público, e aquela época miserável em que até se pagava dinheiro por obter um posto público, que até as vagas de professsores era preciso comprá-las; mas não digamos já a vaga de professsor, havia que comprar até as vagas de motoristas nos ônibus. Aqui tudo se comprava, tudo se comprava.
Mas os cargos públicos eram cobiçados em um país sem indústrias, em um país sem trabalho e o sonho dourado — de muitas famílias, era casar a menina da casa com algum rico — o sonho de quase todo mundo era ter um posto.
Mas isso já não era aspiração de qualquer, era aspiração, inclusive, dos médicos que se formavam na universidade, e que se podiam considerar com sorte se conseguiam encontrar uma vaga no pronto-socorro.
Aquele subdesenvolvimento, pois, era lógico que promovesse tamanha pressão na administração pública e que provocasse esse fenômeno do burocratismo; é que o subdesenvolvimento e a pobreza promovem, além do mais, uma série de vícios de todo o tipo, de milhões de pessoas tentando ver como conseguem o sustento de qualquer forma, embora seja jogando por aqui, tendo um salão de jogos lá, vendendo bilhetes por cá, ou pondo um carrinho de vendas nesta esquina; outro, outro, ou pondo 25 carrinhos na mesma esquina, onde, por sinal, as condições de saúde pública frequentemente estavam ausentes.
E, enfim, eu fazia estes raciocínios porque Havana é um produto de toda essa etapa. E quando os companheiros fizeram o comparecimento na televisão para informar da situação da água, e mostraram com dados estatísticos o crescimento desta cidade, era impressionante a forma em que a cidade havia crescido e a forma em que o lençol freático ia diminuindo, ano após ano.
Mas é que é possível que muitos de vocês se lembrem de que antes passavam pela zona de Ariguanabo e lá podiam observar uma lagoa, e agora não encontram nem um charquinho ali; e se está produzindo uma descida paulatina do lençol aquífero. O que é que iríamos fazer no dia em que a água que temos aqui para beber ficasse salgada? E se, efetivamente, não se adotavam medidas a tempo, ia chegar o dia em que não haveria água nem para beber.
Este organismo teve que enfrentar todos estes problemas, estudá-los a fundo e aconselhar soluções. E, de fato, a agricultura na província da Havana não tem muitas perspectivas de contar com irrigação, e é uma verdadeira lástima porque estas terras vermelhas, a argila de Matanzas, é um tipo magnífico de terra, magnífico, mas com uma característica: ser uma terra muito seca; e esta terra, com água, é uma terra de primeira qualidade, sobretudo por estar a terra muito bem arejada, de uma camada vegetal profunda. E, contudo, a água do lençol freático da Havana tem que ser destinada, em primeiro lugar, como é lógico, à população.
Por isso é correto que a Revolução se proponha como uma de suas obrigações e suas tarefas mais importantes desenvolver o interior do país, não construir mais nenhuma usina aqui na capital da república. Poderão ser melhoradas as atuais usinas, tecnificar-se, mas, enfim, cada vez que se faça uma usina nova é melhor fazê-la no interior e tentar elevar as atrações da vida no interior do país.
E a capital da república pode prestar uma contribuição muito importante. O que pode oferecer a capital cuja população aumenta, cuja população cresce? Porque congelar a capital não significa suprimir aquilo de "crescer e multiplicar-se" (RISOS); creio que continuará crescendo e continuará multiplicando-se a população de Havana. Mas a capital da república pode devolver ao interior do país o que lhe deve, pode pagar ao interior do país a dívida que tem com ele, e é preparando técnicos em suas universidades, em seus institutos tecnológicos, utilizando suas instalações, suas facilidades para manter enormes centros de educação, e nesses centros de educação se podem preparar dezenas e dezenas de milhares de jovens que irão trabalhar depois para o interior do país (APLAUSOS).
O que produz Havana hoje? Administração e regular! Mas pode produzir muitos técnicos. E, realmente, isto se percebe quando nós nos deparamos com os médicos rurais nas montanhas de Oriente, os extraordinários serviços que um médico presta ali no campo e o quanto aprecia a população os serviços que um médico presta; quando vemos as estradas que estão sendo construídas em Oriente, as usinas que estão sendo construídas, as obras hidráulicas, observamos como os técnicos que se formam de todos os níveis podem assumir a tarefa, essa grande tarefa de desenvolver o interior de Cuba.
Em nossa capital surgiam enormes edificios de apartamentos de todas as partes, o Focsa, o outro, o outro, enormes hotéis. Não se pode dizer que esta seja uma capital subdesenvolvida. Havia povoados pequenos por aí onde não havia nem um boteco de péssima qualidade, nem uma hospedaria. E quando a gente visita Las Tunas e Bayamo e por muitos desses lugares e se veem tantas e tantas cabanas, acabamos percebendo de que ali não houve edifícios de apartamentos, nem se criaram essas condições de vida que tínhamos aqui na capital, e que o interior de nosso país realmente está por desenvolver, e é uma coisa justa, justíssima, que desenvolvamos o interior do país, e que o fenômeno seja ao avesso: não que venha pessoal do campo querendo ficar vivendo em Havana. E, naturalmente, nós temos uma boa prova de que Havana pode ajudar a desenvolver o campo, contribuindo com o que Havana pode mais contribuir, que é técnica, desenvolvimento técnico; e é que para os planos agropecuários temos escolas com milhares de estudantes, e que para fins do ano teremos cerca de 8 mil estudantes. Quer dizer, operários estudantes em sua maior parte que vêm estudar. Por que? Porque aqui há mais instalações do que em nenhuma parte; mas que todos, todos, todos retornarão para o interior do país.
E, naturalmente, não temos medo de que ninguém queira ficar aqui; estou certo de que vão preferir retornar, porque quem seja capaz de amar o campo, a terra e o que a terra seja capaz de produzir, estou certo de que prefere estar ali no campo trabalhando, do que estar na cidade.
Pessoal! Quando nós vamos ao interior nos sentimos realmente novos; quando retornamos à capital não nos sentimos igual. O interior do país tem coisas realmente, do ponto de vista humano... Porque pensem que todos os moradores de uma povoação do interior, todos se conhecem; e aqui em Havana não se conhece nem o que mora no apartamento do lado. "Quem será o que mora aí?" "Não sei, um casal" (RISOS). Há esse calor humano nos povoados do interior, e são tão belos nossos campos, que bem vale a pena que sejamos justos com o interior do país!
Nestes anos de escassez o interior do país teve níveis de consumo abaixo dos da capital. Claro, e não podia ser de outra maneira, porque os níveis continuaram sendo mais ou menos que o que estavam acostumados. Mas a capital pode entregar sua energia, sua inteligência, seu desenvolvimento técnico, ao interior do país, e que se produza agora ao avesso: em vez de todo mundo querendo vir para Havana, todo jovem que saia da universidade, ou saia dos centros tecnológicos, e que não seja indispensável aqui — porque sempre haverá necessidades aqui — vá para o interior do país. E se devem criar no interior do país condições de vida que resultem atraentes e agradáveis, tão atraentes e agradáveis como possam ser as da capital da república, e que se organizem ali também centros de lazer; e o que está fazendo agora o INIT (Instituto Nacional do Turismo na época. Nota do Trad.), desenvolvendo restaurantes, centros de consumo social e construir casas. Cada usina nova de construir casas que nós comprarmos, seria bom mandá-la para o interior, porque se aqui faltam, de maneira que houve que recomendar aos rapazes que forem morar com a sogra (RISOS) —e, por sinal, que muitos têm aceitado o conselho — ainda se precisa de muitas mais casas no interior do país.
E quando a gente visita a província, como nestes dias recentes, e viaja — por exemplo — desde Santiago até Marcané, e passa por aqueles povoados, passa pela usina açucareira Chile (antigo "Santana"), e passa por Marcané, e passa por Alto Cedro, e ainda ali não há estradas — embora essa estrada já estivesse praticamente concluída, se não tivesse aparecido o furacão, porque indiscutivelmente as estradas dão vida às pessoas — e a gente vê ali como se transporta de um lugar a outro a família, naqueles caminhões, pulando por aqueles caminhos; e quando passa por diante de um centro de trabalhadores, desses trabalhadores que cortam a cana, e cultivam a cana, e produzem as divisas com as quais pagamos desde a fita que vamos ver a um cinema, até a luz elétrica com que nos iluminamos, a lâmpada que é acesa, o combustível que é utilizado em uma termoelétrica, e vemos aquelas barracas, aqueles cortiços que ainda subsistem; e chegamos a um pequeno povoado — como o de Alto Cedro — e nos dizem: "A luz, a luz!", porque ali o gerador estava avariado, ou porque não há luz, e ainda vemos aquelas casas miseráveis onde vive uma parte considerável de nosso povo, é quando se sente mais forte a convicção do justo que é que desenvolvamos o interior do país e trabalhemos no interior do país.
Porque aquelas pessoas viveram miseravelmente. E ainda que hoje tenham muitas coisas que ontem não tiveram — o trabalho garantido, a escola garantida, o hospital garantido — ainda são tantas e tantas as necessidades que têm as populações do interior de nosso país, que se torna necessário que, de maneira consciente e de maneira responsável, tenhamos que ir pensando que um dever histórico da Revolução e um dever histórico deste povo é o desenvolvimento do interior do país (APLAUSOS).
Quais as cidades que se poderiam desenvolver em torno da bacia do rio Cauto, nas proximidades das áreas mineiras do norte de Oriente? Qual não seria o desenvolvimento possível de atingir nas enormes e ricas extensões de Camaguey, onde o problema principal com que se defronta a população é a falta de braços? O problema principal com que se defronta o país naquela província, a economia daquela província, é a falta de braços, a falta de população.
E por isso é também nessas zonas onde é preciso fazer um esforço na construção de moradias.
Tínhamos recursos quantiosos de ordem natural não aproveitáveis; em um país com umas condições extraordinárias para a agricultura, sem técnicos agrícolas praticamente. Tudo se concentrava aqui.
Quando a Revolução triunfou 10 mil professsores estavam sem emprego; contudo, foi necessário fazer um grande esforço para encontrar professsores para as montanhas. E aqui uma enorme quantidade de escolinhas, Havana Business Academy, Academia de não sei o quê, e academia e academia de não sei quanto; as pessoas estudando datilografia e estenografia, e esteno-datilografia. E para a mulher, quais os trabalhos que eram reservados aqui? Quando a mulher pode prestar tão valiosos serviços em toda uma série de atividades, aquela sociedade que discriminava o negro discriminava também a mulher.
E aqui quando se puseram em pé os companheiros que estão em Tashkent, se pôs em pé uma companheira, não sei se era a namorada ou um famíliar de um companheiro, ou um estudante também, mas quando disseram que se puseram em pé os de Tashkent havia uma mulher estudando estas questões hidráulicas também, uma companheira.
E, claro, vocês podem observar como, por exemplo, tem crescido extraordinariamente, na faculdade de medicina, o número de mulheres que estão estudando para médicos.
E de que eram todas as academias e as escolinhas que havia aqui? De técnica do quê? Quando temos ido enfrentar-nos às tarefas da produção temo-nos deparado com que estamos em uma orfandade técnica enorme, não só no campo das questões hidráulicas. E depois, que difícil era tirar ninguém da cidade para que fosse lá. E no interior realmente não necessitamos datilógrafas nem estenógrafas; podemos necessitar algumas e não estou falando em termo despectivo das companheiras que realizam esse trabalho, muito útil em certas e necessárias circunstâncias e reduzido aos limites que deve ter.
Mas eu pergunto: se aqui todo mundo estudasse datilografia e estenografia, onde ia ganhar a vida e de que forma escrevendo na máquina de datilografar se produz leite, carne, legumes, comidas, frutas e as coisas que necessitamos e estradas (APLAUSOS).
O que acontecia aqui? A população do país crescia e crescia, duplicava, mas, acaso crescia a economia deste país? Construiu-se tão só uma usina açucareira nova nos últimos 30 anos? A população duplicou, mas a economia ficou como estava. E que ocorria? Que a nação inteira vivia a custa dos que cortavam a cana e se criava um sem-número de empregos supérfluos, desnecessários e improdutivos, como uma maneira de ir vivendo. Mas vivendo a custa de quem? Dos que moravam nas barracas, dos que cortavam a cana; porque da cana saíam as divisas, e das divisas saíram todos os carros que temos visto neste país. E assim, ao lado de um campo pobríssimo, sem caminhos, sem estradas, sem água, sem luz, sem nada, dezenas e dezenas e dezenas de milhares e centenas de milhares de carros. Os carros chagaram a custar aqui em torno dos 400 pesos; os carros que sobravam, os carros usados, os traziam para cá. E aqui até um operário podia comprar um automóvel; um operário, naturalmente, de receitas elevadas, não muito baixas.
E essa era a realidade, a realidade deste país. A isso foi ao que nos conduziu o capitalismo. O povo era preparado para a técnica? Para que iam formar engenheiros agrônomos? Para que, se as terras estavam nas mãos dos grandes latifundiários e não lhes importava para nada a agricultura intensiva? Acaso iam graduar-se aqui os técnicos hidráulicos e todos esses técnicos que mencionou o companheiro Faustino nesse relatório? (RISOS) Especialistas em obras hidráulicas? Para quê?
Nem se ocupavam, nem se preocupavam disso. Técnicos de nível médio para quê? Para quê? Portanto, aprender datilografia e aprender a conduzir carros era algo que fazia um pouco mais de sentido.
E essas são as verdades; é preciso dizer as verdades. E hoje com a Revolução, com a Revolução que se propõe retificar muitas coisas, estas verdades do que é um país subdesenvolvido e do que são os vícios do capitalismo, se tornam tão claros e tão compreensíveis. E é por isso que nós pensamos que o mais importante que a Revolução tem feito é o trabalho que realizou no campo da educação, para preparar um povo e torná-lo capaz de produzir, e só com a técnica, e um povo técnicamente capacitado é capaz de chegar a altíssimos níveis de produção. E esse é o fenômeno que custa trabalho entender muitas vezes.
Nós sabemos as necessidades que existem de muitas coisas, mas sabemos uma coisa mais, e é que temos muito poucas coisas para resolver essas muitas necessidades. Neste país tudo era importado, tudo vinha de fora: açúcar principalmente era o que mais produzíamos. E quando centenas de milhares de pessoas que não recebiam nenhum ingresso começaram a trabalhar e a consumir, é quando se pode apreciar o que é um país subdesenvolvido, as necessidades que tem e os poucos recursos com que conta para satisfazer essas necessidades: a tragédia de todos os países subdesenvolvidos.
E por isso é necessário que este tipo de ato, de programa, de estudo, de discussões, se faça em público para que as massas compreendam estes tipos de problemas. Muitas vezes quando a gente chega a algum lugar sempre se depara com um número de pessoas que precisam de uma casa, e dizem: "Temos um quartinho"; e outros dizem: "Moramos oito em um quarto”. E expõem a tragédia que têm com a moradia, das necessidades de moradia que há neste país. E quando se faz o cálculo de quanto cimento produzem nossas usinas e que estando nossas usinas de cimento ao topo da produção esse cimento apenas dá para satisfazer nossas atuais necessidades; e depois, não é a casa, é o tubo, é a luz elétrica, é o cordão, é uma série de outras coisas necessárias, como são as instalações sanitárias...
E então é preciso estar fazendo uma estrada lá entre as montanhas, um hospital nas montanhas, ou o hospital de Holguín, o hospital "Lenin" para completar o serviço sanitário da província. E é claro que quando uma pessoa tem um familiar grave, e tem medo de que possa perder a vida e se angustia por esse ser querido e o leva correndo para um hospital, nesse momento, antes que na casa, pensa no hospital, e se nesse momento lhe dizem o que estaria disposto a dar para salvar a vida desse ente querido, ele diria: Eu estou disposto a viver um ano em um parque. E é então, nesse momento, quando se compreende a importância de fazer um hospital, ou de fazer um caminho, ou de fazer um local de trabalho, de criar um centro de produção. E os recursos que possuimos para essas necessidades são muito poucos. E assim, pois, estão nos projetos a ampliação das usinas de cimento, a construção de novas usinas.
Mas é necessário que nosso povo esteja informado e conheça até que grau este era um país pobre e um país subdesenvolvido, dependendo de um só artigo, dependendo de um só ramo: o açúcar, cujos preços flutuantes podem estar um ano nas nuvens e outro ano pelo solo. Isso não quer dizer que nós deixaremos de produzir açúcar, não — vamos produzir açúcar, porque sabemos produzi-la e temos condições naturais para produzi-la e para concorrer com quem seja necessário concorrer, e para defender os mercados e conquistar mercados — mas se impõe a necessidade de que se desenvolvam também outros ramos da economia para os quais temos magníficas condições como, por exemplo, a pecuária que satisfaz não só um sem-número de necessidades essenciais, mas que se pode converter também em um ramo importante da economia, até chegar ao dia em que possa contar nosso país com os meios suficientes para satisfazer, deveras, as enormes necessidades que temos.
E não é com a boa vontade, é com o trabalho, é com o esforço, com o trabalho entusiástico e com o trabalho inteligente, em que chegaremos a ser um dia um país desenvolvido, um país onde muita da miséria de hoje tenha desaparecido inteiramente.
Nós sabemos que a Revolução tem colocado o país nesse caminho. Quando analisamos nossa experiência, e vemos que em cinco anos de Revolução o que se pôde conseguir foi começar a criar as bases, erradicar primeiro o analfabetismo, começar a resolver uma série de problemas elementares, e pensamos na sorte dos povos irmãos deste continente, o que têm por diante esses países, com 80%, 70%, 50% em muitos deles, isolados, sem escolas, sem caminhos, sem hospitais, com uma média de vida, às vezes, que não chega a 30 anos; quando analisamos nossas necessidades, podemos compreender a sorte que espera a esses povos, e as tarefas que têm por diante. Porque já, ao menos, nós temos podido levar escolas até o último recanto do país, um professsor; temos podido levar os serviços médicos, temos podido ir resolvendo uma série de questões essenciais.
Já nós podemos conceber planos como este, já podemos empreender tarefas como as tarefas que tem este instituto — para não falar das tarefas que têm todos os demais organismos, porque tal como há um instituto hidráulico, há um instituto de recursos minerais também trabalhando com afã — já podemos empreender planos ambiciosos, verdadeiramente ambiciosos como este, e podemos responder à tragédia de um furacão com um plano, revidar com um plano como o plano que se está implementando em Oriente; e já podemos empreender inúmeras obras hidráulicas na república toda; e já podemos calcular o número de engenheiros que vamos graduar dentro de alguns anos, o número de médicos que podemos graduar, o número de professores. E vejam o tipo de professsores, que começam pelas montanhas e estão depois cinco anos internos estudando!
Já nós, ao menos, dono este país de seus recursos, tendo varrido do solo da pátria os interesses dos estrangeiros que usufruiam e possuíam nossas riquezas e prostituíam e corrompiam nosso povo (APLAUSOS), já ao menos nos temos ganhado a oportunidade de fazer estas coisas, de tomar conta de nossas coisas e de ocupar-nos de nosso futuro; de trabalhar para hoje e para amanhã, apesar de toda a rémora criada pelo passado, apesar de todos os vícios implantados neste país.
E assim em um campo, em outro campo, em outro campo, em todos os campos, em todos os campos podemos propor-nos avançar e fazer cada vez melhor as coisas. Porque não quero que vocês pensem que ser revolucionário é ser sábio, não vão pensar vocês que nós somos sábios, que bem dissemos quando começamos que não sabíamos nada, mas nestes cinco anos, todos, todos, temos ido aprendendo e temos ido realizando uma aprendizagem rápida; se nos comparamos com o que sabíamos nos primeiros tempos, todos nós, sem exceção, realmente, não sabíamos nem onde estávamos.
Temos aprendido porque queríamos aprender. Temos aprendido porque sentíamos dor pelas necessidades de nosso povo. Temos aprendido porque queríamos triunfar. Temos aprendido porque temos sentido sobre nossos ombros a necessidade e o dever de achar soluções, de vencer as dificuldades e os obstáculos, de resolver. E assim nossos técnicos revolucionários foram adquirindo experiência; isso não quer dizer que sem ter feito algum disparate, porque nesse processo de aprendizagem quantos erros inevitáveis: umas coisas concebidas de uma forma, outras coisas concebidas de outra, e outras de outra, e essas são as que estamos retificando.
E se pode observar no país todo, no país todo! Esse espírito de superação, esse espírito de retificação das coisas que estejam mal feitas; esse espírito de melhorar tudo, de tornar mais eficiente o trabalho, se observa. Porque da mesma forma que existe uma vontade hidráulica, existe uma vontade da Revolução, existe a vontade do povo, a vontade de vencer, a vontade de marchar e avançar, a vontade de combater e salvar obstáculos, dificuldades, e essa vontade se observa em todos os recantos do país, essa vontade se percebe em todos os escalões do povo de fazer cada vez melhor as coisas, de fazer cada vez mais inteligentemente as coisas e, sobretudo, de introduzir na Revolução a técnica, tão indispensável. E isso se observa, sobretudo, ainda, quando vamos por nossos campos: de que maneira neste país os recursos maravilhosos de sua natureza se desperdiçavam; de que maneira neste país foram destruídas as florestas; de que maneira neste país os latifúndios canavieiros obrigaram os camponeses a refugiar-se nas montanhas, desmatar e queimar madeiras preciosas para plantar cará um ano e depois plantar, se acaso, café, ou deixar que ali crescesse um matagal, para no outro ano voltar a destruir outro pedaço da mata, porque o cará se produzia um ano nada mais, e claro, a erosão leva tudo e depois é precisou deixar que outra vez, ao longo de anos se recupere a fertilidade daquela terra.
E dentre as causas da malignidade dos danos causados pelo furacão e o arrolador daquelas enchentes, está o fato de que ao faltarem florestas nas nascentes de todos aqueles rios, as águas se precipitaram muito mais violentamente e os rios cresceram muito mais rapidamente.
Quando vocês vão pelos campos encontram cana-de-açúcar plantada em uma série de elevações, onde não se pode pensar nem mecanizar. E, logicamente, uma das metas que tem que propor-se o país é a mecanização de toda sua agricultura, a mecanização total das culturas canavieiras. Porque, que progresso, que desenvolvimento, que avanço pode ter um país que tenha que estar capinando, cortando a cana com facões e capinando os campos com facões? Quanto pode crescer a produtividade desse homem? Embora lhe injetassem milhões de unidades de vitaminas, como se poderia conseguir que cortasse mais de 3,5 toneladas de cana, normalmente, o homem médio — não vou falar desses casos extraordinários. Então a produtividade do trabalho de um homem, para produzir quanto? Para produzir nove quintais de açúcar. Esse homem cortando cana em uma máquina, pode cortar cana para produzir 300 ou 400 quintais de açúcar. E o mesmo acontece com todas as demais atividades da agricultura em que se torna indispensável mecanizar. Chegará o dia em que não haja cana plantada em uma colina e em uma colina haja pastagem; porque na colina não se pode mecanizar a cana. E tem que chegar o dia em que praticamente todas as tarefas na agricultura estejam mecanizadas e que nossa agricultura se desenvolva de acordo com critérios estritamente técnicos. E assim será.
Quando escutei os companheiros falar do mapa hidráulico, quer dizer, o mapa que indica onde estão nossas reservas de água subterrânea, pensava em uma coisa, nos outros mapas, em nossos mapas de solos, nos mapas que nos digam quais são as caraterísticas da estrutura e as caraterísticas químicas de cada um de nossos solos, e nos diga onde haja deficiência de fósforo, deficiência de cálcio, deficiência de potássio ou deficiência de qualquer microelemento essencial para a vegetação. Quando será o dia em que tenhamos todos esses mapas! E quando produzamos nossos fertilizantes, saibamos a fórmula que é preciso produzir para cada cultura e para cada lugar de Cuba, de acordo com as características de cada solo.
E pensava, ademais, em outra coisa, na necessidade de desenvolver técnicas adequadas para produzir sem irrigação — e isto poderia parecer um paradoxo em uma reunião do instituto hidráulico.
E por uma experiência pessoal, quando tentei conhecer um pouco sobre os problemas da técnica agrícola, me lembro que no começo tudo se fazia com água: ver se se pode conseguir uma producção de tantos litros de leite por hectare, ou tanta carne por hectare, ou tanta cana por hectare com água; e depois pensei: No dia que tenhamos desenvolvido todos nossos planos hidráulicos, escassamente teremos 20% de nossas terras agrícolas regadas. Então é muito importante conhecer todas as técnicas de irrigação e todas as técnicas de cultura com água, mas ainda é mais importante aprender a cultivar sem irrigação, aprender a cultivar a cana e as forragens aproveitando adequadamente a precipitação natural. Porque a conclusão que tirei foi esta: "Bem, sim, se chegamos a produzir tanto e tanto, e tanto mais quanto com água, o que fazemos onde não temos água? E que fazemos enquanto não tenhamos água?” E há técnicas não introduzidas aqui ainda; mas há muitos países que têm muita menos precipitação que nós e têm desenvolvido as técnicas para aproveitar suas águas: nas frutas, nas culturas de abacaxi, de cana, no método correto de exploração dos campos, ou nos métodos adequados para conservar os excessos, para conservar os excessos de forragens na primavera e poder estabelecer o equilíbrio entre a primavera e a seca ou o frio.
Mas há sobre tudo isso um mundo também. E como produzir duas mil toneladas de cana em um hectare, sem água, sem irrigação? Com que técnicas? E como vamos produzir 2,5 mil toneladas, se fosse possível, então com água, produzir três mil toneladas. Mas é muito importante desenvolver também as técnicas de cultura, e isto que estou dizendo não vai em detrimento das ambições hidráulicas da Revolução. Não, pelo contrário! Vai em benefício de vocês! Porque estou certo de que as pressões que vocês sofrem todos os dias para que procurem água, ao longo da Ilha, são enormes. "Abram um poço aqui e outro lá e resolvam este problema e canalizem por cá", que nós sabemos disso. E é que temos que aprender a cultivar cana também sem água, e saber que mês e que técnica podemos aplicar. E eu estou fazendo uma pequena experiência com isso, e tenho certeza de que conseguiremos produzir certas quantidades de cana sem irrigação; mas isso sim: é preciso pôr um pluviômetro ali para ver quanta água cai. E praticamente aqui não deveria existir uma só fazenda do país onde não haja um pluviômetro; porque o problema não é saber quanto cresceu a cana com tantas polegadas um ano, é preciso saber que aconteceu com o outro em que não havia a mesma precipitação e que aconteceu no outro em que houve mais precipitação. E vocês, os hidráulicos, devem preocupar-se — se querem; ou me parece a mim, eu lhes sugiro — não só da água dos rios, do lençol subterrâneo, mas sim da água que cai do céu também; que os problemas da precipitação e os níveis de precipitação natural os estudem também e os recordes conhecidos em Cuba da precipitação registrados desde o começo da república. E calcular mais ou menos esses ciclos de chuva e de seca, para estar alertas, para conhecer pelo menos com um ano o dois de antecedência quando vai vir a seca. E isso pode chegar a conhecer-se também com o estudo.
E conhecer quais são aqueles lugares de mais chuva e aqueles lugares de menos chuva, e quanto tempo é preciso deixar crescer ali a erva e quanto tempo é preciso deixá-la lá, e qual é o melhor mês para plantar a cana ali e qual é o melhor lá, e que variedade deve haver ali e que variedade deve haver lá.
E, naturalmente, nós em técnicas agrícolas estamos atrasadísimos. É uma vergonha a média de cana por hectare que se produzia em Cuba, senhores. E, naturalmente, que a agricultura não é só uma questão de água; é uma questão de água, de mecanização, de técnicas de cultura, de fertilização, de seleção de variedades, de sementes, de plantas, de animais, toda uma série de fatores.
Quando escutei o companheiro falando dos técnicos que necessitavam para 1970: 1.000 técnicos universitários, digo eu: "E de onde vão tirar esses técnicos universitários para 1970?"
Mas, imediatamente, pouco depois diziam: "Compreendemos que é muito difícil chegar a esta meta para o ano 1970”.
Vocês sabem quantos técnicos necessitamos para a pecuária em dez anos, ou para a agricultura em geral? Cinquenta mil técnicos! E os vamos ter, com certeza que os vamos ter, que ninguém duvide (APLAUSOS). É claro que os 50 mil não vão ser de nível universitário, mas uns quantos milhares vão ser; e todos, pelo menos por agora, estarão matriculados na universidade e estudando. Porque estamos fazendo algo na agricultura: trazendo operários da 2ª e 3ª séries, preparando-os até a 8ª série, e pondo-os a receber o ensino tecnológico e que depois matriculem na universidade.
E já temos uma escola de solos e fertilizantes, que tem algo que ver — coisas parecidas — com as questões da agricultura. Mas vamos ir criando institutos tecnológicos operários sobre essas matérias. E, claro, em Havana é onde estão as instalações... Vai nos prestar um serviço.
Mas é muito interessante, porque esses operários que vão estar estudando até a oitava série, já vão receber aulas de outra força criada pela educação: dos estudantes do instituto pedagógico, porque já a Revolução pode ir mobilizando força e mais força. Já este ano, do instituto pedagógico, 1.000 alunos dos que estão no penúltimo ano de seus estudos, estão nas salas dando aulas em Havana; o ano que vem haverá 2 mil, mas ingressarão em Minas del Frio, em Topes de Collantes, de 4 mil a 5 mil. Dentro de dois anos e meio teremos então aqui 5 mil e poderão atender 5 mil salas de aula do ensino primário. A Revolução vai mobilizando suas forças que crescem. E assim, vamos ter 8 mil estudando desses 40 mil; mas não paramos aí, com isso não chegamos aos 40 mil ou aos 50 mil.
Vamos converter a Cidade Escolar "Camilo Cienfuegos" em um instituto tecnológico desse tipo (APLAUSOS). E não é preciso esquecer de que aspiramos a que a cidade escolar chegue a albergar 20 mil estudantes, caso a concluirmos para o ano 1970. É claro que não perdemos o tempo: cada vez que é concluído um edifício o ocupamos; agora já há 2 mil ou mais estudantes ali, mas ultrapassam os 2 mil; antes de 1970 cada ano haverá mais e cada ano mais. Mas vamos ver, com tantas obras e tantos planos que é preciso fazer, se haverá máquinas para todos, se a força de trabalho dá, se temos o cimento necessário, se temos os materiais, e o que se poderá inventar para que possam haver.
E convertida a cidade escolar em um instituto tecnológico, onde vão os graduados das escolas de ensino secundário básico rurais, aspiramos a chegar a essa meta de ter os 50 mil; mais os institutos tecnológicos agrícolas que já há em cada província. E os vamos especializar: uns no fumo, outros na pecuária, outros na cana. E vamos especializar as universidades.
Mas não é preciso desalentar-se por causa da falta de muitos técnicos, porque a Revolução pode formar os técnicos. Agora eu estou imaginando o que serão nossos campos quando tenhamos esses técnicos. E técnicos de primeiro nível!, sem detrimento dos demais técnicos...
(DIZEM ALGO AO DOUTOR CASTRO)
Não tenham pressa, já os mandaremos para lá. Vamos devagar porque estamos com muita pressa! Não os queremos mandar a meio da formação, embora, às vezes, tenhamos que lançar mão de alguns desses estudantes, mas os mandamos com equipamentos e continuam estudando. E, naturalmente, o compromisso, o compromisso: eles acabam com uma qualificação técnica e, qualquer que seja o trabalho que tiverem, receberão um salário, e esse salário não será aumentado até não tiverem aprovado o segundo ano da escola de agronomia ou de veterinária, e não passarão desse nível até que não sejam engenheiros ou médicos veterinários; quer dizer, pagaremos a qualificação técnica porque nos interessa estimular a qualificação técnica. E, ainda a risco de ter algumas discrepâncias com vocês, todos os engenheiros agrônomos que se graduam, nenhum vai para a produção de agora em diante (APLAUSOS); todos, todos, todos vão para esses institutos tecnológicos a ensinar. E não só isso — para que não tenha pressa o companheiro — os primeiros que se graduem de solos e fertilizantes, a maior parte irá para centros de pesquisas e para ensinar nos novos centros tecnológicos (APLAUSOS).
Como uma andorinha não faz o verão — acho que é assim que se diz — mandar um engenheiro a nossos campos e à nossa agricultura atrasada é mandar uma andorinha. O que faz o coitado desse engenheiro? É que o homem técnico tem que estar em nível não dos 1.000 hectares, em nível de 10 hectares tem que haver um técnico competente ali, em nível de leiteria, de fazenda canavieira, da unidade de produção. E os primeiros que saem, esses continuarão ensinando. Portanto, pelo menos até 1967 vão ter um pouco de paciência. Mas o que vamos mandar é bom, mas bem, bem, bem: a maior parte operários agrícolas, que um dia serão engenheiros agrônomos. E em algum sentido, na cidade escolar nos nutriremos com camponeses das escolas de ensino secundário básico, e alguma escolinha aqui com estudantes, mas mínimo. Porque não há dúvida de que o melhor técnico, o melhor — superior a todos vocês e a todos nós — é o operário jovem que conheceu o trabalho, a vida dura, que cortou cana, que limpou os campos — sem que tivesse bajulado nenhum político, só trabalhou a terra (RISOS E APLAUSOS) — que é selecionado por sua atitude ante o trabalho, que se é levado a uma escola, seu nível de conhecimentos aumenta até a oitava série, depois é mandado a um instituto tecnológico, e quando termine está matriculado em uma universidade, mas já trabalhando, e tem dois meses todos os anos para os estudos finais e os exames: não, não há técnico superior a esse, tenham certeza.
Já nós temos alguns e não estão completos, e são de uma qualidade incrível, incrível.
Futuramente, não poderemos formar esses técnicos, não haverá ninguém de segunda série nem de terça. Desde jovem todo mundo adquirirá o hábito do estudo e tudo isso.
Mas quando você traz esse homem e lhe ensina e lhe abre o mundo da ciência e o põe diante dos olhos dele, o entusiasmo que nesse homem desperta é incrível. E uma grande parte de nossos técnicos vão ser operários agrícolas.
E já temos podido desfrutar da satisfação de ter alguns desses técnicos trabalhando já em alguns locais de produção. E é preciso ver a responsabilidade com que agem, a seriedade com que agem. É impressionante.
E dessa estirpe, dessa qualidade, vão ser as dezenas e dezenas de milhares de técnicos que enviaremos à agricultura, onde hoje temos alguns competentes, homens competentes, e onde também temos muitos desleixados (RISOS). Embora, naturalmente, é preciso dizer que mês após mês e ano após ano são melhores e têm mais experiência e são mais eficientes os técnicos que estão na agricultura, porque se pode ver.
Mas isso é uma coisa científica, é uma coisa técnica. E como poderá dar soluções técnicas aos problemas um pessoal que jamais abriu um livro em toda sua vida!
Dizia o da discrepância porque eu sei que vocês necessitam também engenheiros agrônomos, e há uma secção que se chama Agro... o quê? (DO PÚBLICO LHE DIZEM ALGO) Não, eu não sei; eu tive a impressão de que eram engenheiros agrônomos os que necessitavam nessa secção.
E um dia os que estavam de professores lá — e aproveito a oportunidade para dizer isso aqui — nos falaram de um problema, porque eles ganham seu salário. Esses companheiros que estão de professores lá na escola de solos e fertilizantes, que há 17, um dia fui por ali e acabei sabendo que tinham certas preocupações. Eu lhes disse: "Quais são as preocupações?" "Não, porque em alguns organismos alguns companheiros que estavam no mesmo curso que nós estão ganhando mais salário que nós e lhes deram casas e lhes deram carros”. Digo: "É um problema mesmo, quais serão esses organismos?" e até pensei no instituto hidráulico e digo: "Estará entre eles o instituto hidráulico?" (RISOS). Mas depois estive conversando com o companheiro Faustino e me disse: "Não, nada disso, nada disso...” E digo: "Quais serão? Vejam o problema que nos colocaram”.
Porque em alguns organismos têm recebido um tratamento excelente. E, pessoal, não há carros para os recém graduados, qual o quê!; nem casa fácil, não há. E os salários devem ser iguais.
Eu lhes disse: "Tenham paciência". Não se referiram a isso por um problema estritamente econômico; creio que fizeram bem em dizer-nos isso.
Então, bem: todo aquele que se graduar tem que ser professsor, ir como professsor. Digo: "Já se desenvolverão também quando sejam professores universitários, se servirem como professores universitários; então terão mais salário, então talvez chegue o momento em que tenham o carro e as coisas que desejam”.
Mas nos deparamos com um problema de competência, e que por isso se estabelece a necessidade, se percebe claramente a necessidade de que os que se graduem tenham mais ou menos o mesmo tratamento nos diferentes organismos. Caso contrário, criam-se certas situações que parecem discriminatórias, ou, por sua vez, privilegiadas.
Na minha opinião, em questão dos técnicos agrícolas pelo menos, nós devemos pagar a qualificação técnica. Porque se é importante estimular o trabalho, muito mais importante é estimular a qualificação, porque a técnica é a única capaz de multiplicar muitas vezes a produtividade de um homem. E um técnico que trabalhe como um homem médio é capaz de produzir muito mais do que um trabalhador excepcional que não seja técnico, que um trabalhador excepcional com uma grande capacidade e uma grande vontade.
E que pensava eu com relação a esses companheiros que têm sido declarados Heróis do Trabalho? Reinaldo Castro, por exemplo, um homem que corta 2,5 toneladas de cana diárias, é um herói mesmo! O que seria este homem trabalhando com esse mesmo espírito se fosse um engenheiro agrônomo? E uma das coisas que eu propus ao companheiro Reinaldo Castro é que estudasse, para ver se o recrutamos para uma das escolas estas; e ao outro companheiro também que foi designado Herói do Trabalho Técnico.
Porque se esses homems têm uma vontade tão extraordinária que são capazes de produzir, o que não fariam, por exemplo, já, se você o coloca em uma colheitadeira? Tirem o facão a Reinaldo Castro e ponham-no em uma colheitadeira! (DO PÚBLICO FAZEM UM COMENTÁRIO.) Não, não perde sua qualidade. Por que vai perder sua produtividade? (RISOS.) Você perdeu sua qualidade quando o puseram em uma máquina? Eu não digo em um carro, companheiro; porque já entregamos um carro ao companheiro Reinaldo Castro —que bem o merecia — e não perdeu a produtividade (APLAUSOS).
É o que eu digo. Eu estava pensando na outra máquina e aqui havia alguém pensando no carro (RISOS).
Pois a máquina à que eu me referia não era um automóvel, era uma máquina de cortar cana, uma colheitadeira. E dizia: "Tirem-lhe o facão e ponham-no em alguma colheitadeira." Então, se ele cortando cana à mão produz 25 quintais de cana, é possível que produza então 600 quintais com a colheitadeira. Converta-no em um engenheiro agrônomo e ponham-no na frente de uma fazenda de 100 hectares, e com a técnica é capaz de duplicar a produtividade. E ponham-no, ademais, em uma dessas fazendas que tem irrigação, e que consiga produzir ali mais de 300 toneladas em uma cana nova, e mantenha os rendimentos acima de 150 toneladas ou 170 toneladas e então verão como aumenta a produtividade do trabalho do companheiro Reinaldo Castro. E a isso é ao que nós nos referimos e vocês sabem isso. Vocês são técnicos, muitos de vocês e quantas vezes não se angustiarão quando vejam as pessoas fazendo disparates, quando vejam as pessoas tirando água e água do poço, sem pensar que aquele poço tem uma capacidade limitada; com certeza ficarão angustiados, e muitas vezes terão desses problemas que é a colisão com a ignorância, porque, pessoal, a ignorância é um temível inimigo. E entre os elementos contrarrevolucionários é preciso pôr a ignorância em primeiro lugar e o imperialismo no segundo (APLAUSOS).
Nós estamos vencendo o imperialismo, estamos vencendo a batalha, essa batalha que se trava entre um povo que quer fazer seu destino e um poder que quer destruir esse povo e destruir essa Revolução. Mas, quanto mais facilmente não venceríamos a batalha se a técnica e a ciência fossem nossas aliadas e não a ignorância? Porque há muitas pessoas que possuem a mais boa vontade do mundo, mas são ignorantes. E, claro, uma das coisas com que contam as classes exploradoras é com a ignorância dos explorados, porque as escolas, os institutos e as universidades não costumam estar ao alcance das classes exploradas. E, por isso, uma das primeiras coisas da que os explorados têm que se livrar, assim que derrocam o poder dos exploradores é a ignorância, e essa é a importância que tem a obra educadora da Revolução.
Mas ainda somos ignorantes, ainda todos ignoramos muitas coisas, ainda todos temos muito que aprender e muito que estudar, e isso nos ajudará a vencer a batalha. Quanto mais nos superemos, com mais facilidade venceremos os obstáculos de nossos inimigos.
Que foi o primeiro que fizeram os imperialistas? Tentar levar-nos os técnicos. E levaram muitos técnicos. O que fez a Revolução? Tentar formar técnicos. Tentaram levar até os médicos, especialistas de todos os tipos tentaram levá-los, e como muitos técnicos provinham das classes exploradoras e trabalhavam com as classes exploradoras, foram embora. Juntou-se o espírito pequeno-burguês com o extremismo; o extremismo e a ignorância dos revolucionários e o espírito pequeno-burguês de muitos técnicos, e trouxe como resultado que muitos técnicos partiram.
É preciso dizer que, naturalmente, eu falo a vocês com muita confiança; possivelmente há dois anos eu não lhes teria falado assim, porque podia haver ainda muitos de vocês que não se sentissem muito seguros sobre as coisas da Revolução. Mas quando eu lhes falo assim é porque conheço o espírito dos técnicos em Cuba atualmente, conheço o espírito dos técnicos e sei quantos técnicos há verdadeiramente identificados com a Revolução, e sei o espírito revolucionário de muitos técnicos neste país, engenheiros, médicos e técnicos de todos os tipos. Nenhum tem que sentir vergonha; se o homem tem consciência, se compreende algo, se é capaz de ser revolucionário, não tem que envergonhar-se das suas origens. E assim, aos técnicos se lhes pode falar assim, e nós sabemos quanto se tem superado o espírito dos técnicos.
Naturalmente, minha opinião sobre esse pessoal que vai com os imperialistas é muito má. Médico que vai com os imperialistas, que deixa seu país sem seu serviço? Não, esse não é nem médico, esse merece ser fuzilado, mas não por contrarrevolucionário, mas sim por depravado, por desumano. Porque, inclusive, há o caso do médico que faz contrarrevolução com sua profissão. Não se trata de que o médico tenha sua filosofia, sua maneira de pensar, suas ideias, não; isso não se censura a nenhum técnico. Porém, médicos que porque eram inimigos da Revolução eram capazes de matar uma pessoa e lhe recomendavam um remédio que não havia, e iam fazer contrarrevolução com a mágoa e a dor daquele homem que ia ali vê-lo como médico, defraudando e traindo sua confiança, o que é que merece esse homem? E aqui os tem havido, e é possível que, inclusive, ainda haja algum do que outro.
Quando trazemos certos medicamentos especiais para cá é preciso controlá-los pelo ministério para que não surjam os especuladores e aqui foi necessário estabelecer aquele princípio de que os três primeiros dias do homem que não vai ao trabalho por doença não se pagam e se começa a pagar depois do terceiro dia. Por quê? Porque havia muitos bebedolas que ficavam bêbedos no domingo e depois na segunda-feira, iam ao médico e lhe pediam um atestado médico e aparecia o médico que lhe dava essa certidão. Não existirá a necessidade de sacrificar ninguém no dia em que esses vícios não existam, e ainda perduram na sociedade vícios desse tipo.
Ora bem, uns quantos partiram e muitos ficaram. Os companheiros aprenderam a tratar os técnicos — pelo menos a não tratá-los mal, a tratá-los melhor — e assim muitos técnicos foram atraídos para o lado da Revolução.
Porque, quem seja médico e que ame a medicina e que tenha como profissão a medicina, se de verdade tem a profissão de médico, não há de admirar o que a Revolução tem feito com a medicina, não há de admirar o fato de que se tenham erradicado doenças que dizimavam centenas de vidas, que dezenas de milhares de vidas de crianças sejam salvas?
E em dias recentes, estando nós conversando com um grupo de estudantes, havia um médico com eles; tratou-se do tema da medicina rural, e aquele homem disse duas ou três palavras que me deixaram uma grande impressão, porque falando da medicina rural disse: "Você não sabe o que me aconteceu, quando estava assistindo uma mãe no hospital, e ela me disse: 'bem, eu tinha dez filhos e seis morreram', e começaram a ser salvos os filhos quando chegou a medicina rural aos campos”. E aquele homem dizia aquilo, mas o dizia com lágrimas nos olhos.
Quem tenha condição humana, quem seja capaz de ter uma sensibilidade humana e uma vocação, não pode ser um inimigo da Revolução, não pode sê-lo, ainda que o diretor do hospital seja muito chato, ou, inclusive, um ministro (RISOS). Quer dizer, que minha pergunta é, qual pode ser a justificação? Não pode havê-la. Sim, porque há quem ficou furioso porque lhe fizeram isto e o trataram assim e foi para os Estados Unidos. Claro que são criticáveis todos os técnicos, mas pelos que mais eu sempre, de certeza, tenho sentido mais desprezo é pelo médico que partiu, pelo aspecto humano da questão. Não é a mesma coisa uma usina que deixa de ser feita, que o ser humano que acaba morrendo porque não tem um médico que o atenda.
Ora bem, os inimigos tentaram levar-nos os técnicos. E penso que este é um organismo que significa um bom exemplo da união e da fusão, do trabalho técnico com o trabalho manual. E essa frase que expressavam os companheiros na assembleia, à qual se referia o companheiro Faustino, sobre a atitude com relação aos técnicos, não que sejam marxista-leninistas, mas qual é sua atitude ante o trabalho, e fundamentalmente isso é o que interessa: a atitude ante o trabalho. E todo homem tem um dever sagrado com seu trabalho, todo homem tem uma vocação, inclina-se a algo; e é lógico que um técnico, que teve a oportunidade de estudar, de se preparar, tenha uma atitude ante o trabalho honorável, apaixonada, se realmente tem vocação.
Ora bem, as revoluções são processos convulsos, etapas de trânsito. A água foi chegando a seu nível, todos os revolucionários temos ido aprendendo, o povo tem ido aprendendo, e estamos cada vez em melhores condições de levar adiante nossa tarefa, não sem dificuldades; não sem dificuldades, porque nossas necessidades são muitas e nossos recursos são muito poucos. E muitas vezes há quem se desespera porque lhe falta isto, e aquele se desespera porque lhe falta o outro.
O problema é que saibamos distribuir bem nossos recursos, que nossos programas se ajustem a esses recursos. E de todas as formas viveremos anos essa mágoa de "me falta isto e me falta o outro". Muitas vezes queremos fazer mais do que podemos fazer, e surgem dificuldades. A necessidade nos pressiona e queremos resolver muitas coisas ao mesmo tempo e os recursos não estão à altura de nossos desejos. Viveremos essa situação ainda alguns anos mais.
Hoje nos coube viver, nestes tempos, anos relativamente duros, anos de perigos; e continuaremos tendo perigos, perigos continuarão pairando sobre nossas cabeças. O exemplo do que ocorre em outras partes do mundo, o que ocorreu em dias recentes no Vietnã, o demonstra: a covardia, a aleivosia, o espírito traiçoeiro dos imperialistas, sua posição de prepotência e de força, sua falta de escrúpulos para inventar qualquer incidente, a desfaçatez com que tentam enganar o mundo. E quem pode saber isso melhor que nós, que ainda lembramos aquele dia do bombardeio, em que apareceram publicando as agências de notícias que tinham sido uns aviões cubanos da força aérea que se tinham revoltado? Como nos bombardearam com seus aviões pintados com insígnias cubanas; como alguns daqueles aviões confundiram nossos soldados na batalha de Girón, e dispararam contra homens que saudavam aqueles aviões. Coisas que hoje pintam eles e descrevem como uma façanha, porque chegaram ao cinismo de converter em façanha a traição, a aleivosia e o crime; como se não os conhecéssemos por nossas experiências na Base Naval de Guantánamo.
E foram lá, ao Vietnã, a provocar, a criar as condições para lançar um ataque de surpresa e traiçoeiro sobre um pequeno povo que não faz mais que lutar por sua independência; países que viveram sob o colonialismo durante séculos, e não os querem deixar em paz.
Vemos como o imperialismo lança sua garra, sua farpada. E nós devemos ver nosso reflexo no exemplo do Vietnã, mas não para intimidar-nos, mas para aumentar nossa vigilância, acrescentar nosso ódio e nosso desprezo a eles e estar sempre prontos. Porque não nos surpreendem essas coisas, esse tipo de golpe, esse tipo de ataque arteiro.
E poucos dias depois do ataque dos Estados Unidos ao Vietnã, o ataque dos aviões turcos à população cipriota. Cinquenta aviões turcos metralhando aldeias no Chipre. Então fazem as mesmas declarações que o governo dos Estados Unidos: que foi uma ação defensiva, policial. E os imperialistas, sobrevoando o céu de Cuba, agora pretendem sobrevoar o céu do Vietnã, e os turcos sobrevoando o céu do Chipre. E são magníficas lições que os povos devemos aprender!
Esses perigos pairarão sobre nós. Sobre nós pairarão também essas concepções da guerra local, da guerra paramilitar, da farpada hoje e suportar essas variantes da agressão imperialista. Mas nós os conhecemos, e os conhecemos muito bem. Por isso, procuramos estar prontos para essas eventualidades, para isso procuramos instruir nossos soldados nessas eventualidades, e para que sejamos sempre um osso duro de engolir, duro de engolir para eles, mas muito duro; e que sofram o que aconteceu na Baía dos Porcos, que aconteça o que lhes aconteceu na Baía dos Porcos, cada vez que nos agridam.
Hoje mesmo, pouco antes de vir para este ato, líamos uma notícia das agências: que a um navio cubano — o "María Teresa" — lhe tinham colocado uma bomba no casco, no Canadá, em um porto canadense. Estes cínicos, estes desvergonhados imperialistas, enquanto condenam Cuba, e enquanto acordam sanções, violando as leis internacionais, violando as próprias leis do Canadá, têm a ousadia de ir pôr uma bomba no casco de um barco cubano, e depois declarar. Uma organização que declarou que sua secção de sabotagem pôs a bomba, onde havia 30 marinheiros dormindo. Não houve desgraças pessoais, mas demonstra a falta de moral e de princípios de nossos inimigos. Mas com o pecado estão levando a penitência. O descrédito dos imperialistas é cada vez maior, e longe de ter obtido a vitória que buscavam na OEA, caiu sobre eles o opróbrio e se cobriram de descrédito. E o incidente tem servido para pôr a prova o espírito de independência de outras nações da América; e, entre outras coisas, tem servido para que esse povo irmão nosso, o povo mexicano, tenha colocado o nome de sua pátria mais alto do que nunca, perante todos os povos do mundo (APLAUSOS PROLONGADOS).
Reveses e mais reveses é o que têm colhido os imperialistas, e o que vão colher.
O que fizeram aqui já o fizeram na Argélia; o episódio de "La Coubre" se repetiu na Argélia, quase idêntico. E agora já não somos nós os que dizemos que são os agentes da CIA os que põem essas bombas, já são eles os que o declaram publicamente. E assim, tentam obstaculizar a marcha de nosso país, assim violam as leis internacionais. E nós esperamos que o governo do Canadá adote as medidas adequadas para investigar esse fato e para castigar os culpados, pois é uma violação das leis desse país a que foi cometida pelos criminosos que promoveram esse atentado.
Tentam entorpecer nosso país, mas nosso país avança e avançará. Subestimaram-nos, subestimaram nosso povo, pensaram que com seu criminal bloqueio o amoleceriam e o que têm feito é fortalecê-lo, temperar seu espírito, prepará-lo para tudo, o têm feito mais forte; pensaram que o sentimento de derrota, que o pessimismo se apoderaria da nação cubana; pensaram que o pânico se apoderaria da nação cubana e esta nação nem ainda naquelas horas difíceis e críticas da Crise dos Mísseis, nem ainda naquelas horas, mostrou a menor vacilação, nem mostrou o mais mínimo sintoma de covardia ou de medo. E assim, com a hostilidade deles, nosso povo se tornou mais forte, se tornou mais revolucionário.
E já não se conhece a nossa pátria no mundo somente pelo rum, ou pela beleza de suas mulheres, é conhecido por seu heroísmo, por seu espírito, por seu valor, por sua história revolucionária. Esse é nosso povo, e esta é a história que está escrevendo, em meio da hostilidade e em meio do perigo. Em meio do perigo avançamos, em meio do perigo produzimos, em meio do perigo criamos, em meio do perigo progredimos! (APLAUSOS).
E amamos entranhavelmente a obra da Revolução porque é a obra de nosso povo, a obra de nosso suor, a obra de nosso sangue, a obra de nossa inteligência. Criamos para o amanhã, sonhamos com esse amanhã; sonhamos com que, ano após ano, o avanço se perceba: sonhamos ir construindo o caminho da Revolução com cada obra que concluirmos, com cada usina, com cada barragem, com cada trabalho criador que nosso povo produza; sonhamos com irmos marcando nosso caminho de obras e de sucessos. E trabalhamos para que nosso país desfrute disso e aspiramos a desfrutar de nosso trabalho. Ora, contudo, sabemos que esse trabalho, esse fruto de nosso esforço e de nosso suor, corre perigo; sabemos que é ameaçado por inimigos poderosos; sabemos que a postura digna deste povo, a atitude indobrável deste povo, lhe acarreta perigos enquanto o imperialismo existir, enquanto o imperialismo ficar convencido definitivamente de que nada poderá deter a Revolução, de que nada poderá esmagar a Revolução. Mas não importa! Antes não tínhamos uma obra que amar, antes não tínhamos uma pátria que defender, porque esta pátria não era nossa. E essas terras que vão banhar as águas de nossos rios, essas terras que vão irrigar as obras que vocês estão construindo, são terras nossas e o fruto dessa terra será nosso fruto (APLAUSOS). E a riqueza que estamos criando será nossa riqueza; e o povo trabalhador que se está capacitando não trabalhará para os monopólios estrangeiros, trabalhará para ele mesmo; e aqueles que perderam esses privilégios, aqueles que eram os donos de nossa riqueza, aqueles que se apropriavam do fruto de nosso trabalho, por isso querem destruí-lo, para castigar nosso povo, para destruir nosso exemplo, quisieram fazer-nos fracassar. Mas não poderão!
E antes que sermos párias em nossa pátria, antes que viver como vivíamos, trabalhando para eles, nós preferimos mil vezes sucumbir com o nosso povo (APLAUSOS); morrer com nosso povo antes que nos tirem, antes de deixar-nos tirar a vida. Porque agora a pátria significa algo para nós, agora esta terra significa algo para nós: é nossa pátria, é nossa terra. Povo e nação se identificam plenamente, somos uma única coisa, temo-nos verdadeiramente independizado, somos verdadeiramente donos de nosso presente e de nosso futuro.
E por isso preferimos a Revolução com suas promessas e perigos, antes que o passado de opróbrios. Por isso tornamos nosso aquilo que dizia Karl Marx aos trabalhadores "que não tinham outra coisa que perder que não fossem suas correntes". Temos perdido as correntes e estamos criando algo: estamos criando uma pátria nossa e para nós. E cada gota de suor que cada operário, que cada técnico entrega diariamente, é o grão de areia com que se constrói essa obra, com que se constrói essa pátria; e o fruto de nosso esforço, o fruto de nosso suor saberemos defendê-lo com nossas vidas, e o saberemos defender com nosso sangue.
Por isso, companheiros e companheiras do instituto hidráulico, ao se comemorar hoje este segundo aniversário, nossa felicitação mais sincera, nosso reconhecimento ao trabalho que têm feito, nossa exortação a que continuem, ano após ano, avançando assim e nosso voto a favor de que o ano que vem se celebre este ato ali, na obra hidráulica de Oriente que esteja mais avançada (APLAUSOS). Não sabemos se será Gilbert ou Paso Malo ou o Mate ou no Camazán, mas lá nos veremos no próximo ano (APLAUSOS). E tomara que para essa data haja pelo menos um rio cortado, um rio menos para que não possa alagar nossas terras e ceifar a vida de nossos compatriotas; e que cada ano sejam mais e mais os rios que vocês represem, até que não fique nem um riacho sem represar, até que se cumpra o propósito de que "nem uma só gota de água vá para o mar", que essa é a grande meta desta organização, esse é o objetivo final.
E depois que tenham conseguido isso, o que faremos? Começaremos a inventar então, e quiçás então o problema que tenhamos pela frente seja como utilizar a água do mar também na agricultura, ou naquilo que seja necessário; porque aqui falamos de que quando tenhamos concluído de represar todos os rios e utilizar todo nosso lençol freático, teremos chegado a 20% das terras; então depois nos poremos a inventar como regar também 80% das terras restantes. E que embora tenhamos conseguido desenvolver uma técnica ótima de cultura sem irrigação, não paremos aí, porque nossa população crescerá, nossas necessidades crescerão, as necessidades do mundo crescerão, e necessitará mais açúcar, mais carne, mais frutas, e mais de todos aqueles produtos que nós possamos produzir.
E nunca pararemos; não pararemos, não pararão os que venham atrás de nós. Mas pelo menos aqueles que vierem atrás de nós não se depararão com este desolador "nada" que nos achamos. Estará o trabalho de vocês, as pesquisas de vocês, os estudos de vocês, os técnicos que formaram vocês, os arquivos que organizem vocês e as obras que tenham realizado vocês, esta obra nobre, esta obra honrada que estamos fazendo com o sacrifício e o suor de nosso povo, e com o belo exemplo de solidariedade e de internacionalismo que significa a contribuição da experiência que nos oferecem os técnicos de nossos países amigos, os técnicos que vieram da União Soviética, da Bulgária, de Tchecoslováquia e de outros países.
Aos companheiros que estão partindo, ao companheiro engenheiro Perejrest, pois também nós nos juntamos, emocionados, ao agradecimento de todos os que trabalharam com ele, e lhe dizemos também que sempre lhe agradeceremos a ajuda que nos tem dado nestes primeiros tempos em que, praticamente, não tínhamos nenhuma experiência hidráulica.
E assim, se está construindo o presente e se está construindo o futuro da pátria. E os que vierem depois de nós não terão que sentir-se como nós, não terão que sentir-se tão órfãos de recursos, tão órfãos de experiência, e tão órfãos de conhecimentos como nós.
E por isso, para todo nosso povo e para as gerações vindouras, por eles é que temos feito esta consigna de
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)