DISCURSO PROFERIDO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NO COMÍCIO DE HOMENAGEM AOS MÁRTIRES DO ASSALTO AO PALÁCIO PRESIDENCIAL, NA ESCADARIA DA UNIVERSIDADE DE HAVANA, A 13 DE MARÇO DE 1962
Date:
13/03/1962
Companheiros estudantes;
Povo de Cuba:
Esta é uma ocasião importante para nós por duas razões, em primeiro lugar, porque recordamos uma data histórica singularmente importante no processo revolucionário; e, em segundo lugar, porque nos reunimos com os jovens, reunimo-nos com os estudantes.
Já este quinto aniversário e quarta comemoração… Não lembro bem a data. Foi em 1957. Estava um pouco confundido porque esse acontecimento foi no ano 1957 e a Revolução triunfou em 1959. Mas o que eu queria dizer é o seguinte: que há alguma coisa nova, há uma mudança, uma verdadeira mudança de qualidade na composição deste comício.
Este comício, a quarta comemoração, reflete já uma mudança substancial na vida do país, e reflete já uma mudança profunda na vida do estudante, na composição dos estudantes e na própria universidade.
Pode-se dizer, com certeza, que hoje podemos assistir aqui a este comício, todos, com verdadeira satisfação, com a verdadeira e com a única satisfação com que se pode vir recordar os que morreram. E esta universidade de hoje, estes estudantes, estas fileiras nutridas de jovens aqui presentes nos estão dizendo que temos direito a sentir-nos satisfeitos um dia como hoje, e que estamos honrando de maneira digna, da única maneira digna com que se pode honrar os mortos, assim estamos honrando José Antonio Echeverria e todos os que morreram naquele 13 de março (APLAUSOS): com a presença de 3 000 bolseiros universitários (APLAUSOS), e com a presença de milhares e milhares de jovens das escolas de bolseiros pré-universitários e de institutos tecnológicos (APLAUSOS); estamos comemorando este aniversário com uma juventude que surge e se desenvolve dentro da Revolução, com uma juventude cada vez mais homogênea, cada vez mais revolucionária; estamos comemorando este aniversário do 13 de março com a presença muito nutrida dos filhos e das filhas dos operários e dos humildes da pátria (APLAUSOS).
E nesta juventude estão colocadas as esperanças da Revolução, nesta juventude estão colocadas as mais legítimas esperanças do nosso povo, e nesta juventude estão colocadas também nossas mais legítimas e mais humanas esperanças, dos revolucionários, de todos os revolucionários (APLAUSOS). E o devemos dizer para esta juventude, devemos fazer um apelo a esta juventude, devemos educar esta juventude, orientá-la, forjá-la; devemos fazer desta juventude o que todos sonhamos para o futuro, devemos fazer desta juventude o que todos sonhamos que haverá de ser o povo do amanhã, as gerações novas da pátria; deveremos fazer desta juventude o que todos nós queríamos ser, o que todos nós teríamos querido viver com vocês; temos que tornar esta juventude, simplesmente, no porvir.
E quê juventude queremos? Queremos, por acaso, uma juventude que simplesmente só ouça e repita? Não! Queremos uma juventude que pense. Uma juventude, por acaso, que seja revolucionária por nos imitar? Não! queremos uma juventude que aprenda por si mesma a ser revolucionária, uma juventude que se convença a si mesma, uma juventude que desenvolva plenamente seu pensamento (APLAUSOS).
E porquê acreditamos que se desenvolverá esta juventude revolucionariamente? Simplesmente, porque tem todas as condições para o conseguir, tem todas as condições que lhe permitirão seu desenvolvimento revolucionário, pensar e agir revolucionariamente. Não dizemos que o exemplo não seja bom; o exemplo influi, o exemplo vale, mas, mais do que a influência do exemplo, vale a própria convicção, vale o pensamento próprio. E nós sabemos que esta juventude será revolucionária, simplesmente porque acreditamos na Revolução, porque temos fé nas idéias revolucionárias (APLAUSOS), e porque sabemos que essas idéias ganhar-se-ão o pensamento e ganhar-se-ão o coração desta juventude (APLAUSOS).
E por que fiz esse preâmbulo? De quê vamos falar hoje? Queremos simplesmente falar dos jovens, aos jovens. E este preâmbulo tem alguma coisa a ver com aquilo que vou colocar aqui nesta noite e que os jovens devem analisar. Vou fazer uma crítica aqui nesta noite a um fato que parece incidental e, contudo, devemos criticá-lo e analisá-lo, e vamos analisá-lo publicamente.
Aqui nesta noite se apresenta um caso, um exemplo que deve servir de lição e nos deve servir para fazer uma análise revolucionária. O companheiro que atuou como professor de cerimônias foi lendo no princípio deste comício uma série de documentos, algumas palavras, alguns escritos e, entre eles, estava lendo o Testamento do companheiro José Antonio Echeverría. E nós, enquanto ele lia, íamos lendo também o Testamento na última página de um folheto que nos tinham entregado, íamos lendo mecanicamente o Testamento Político de José Antonio Echeverria ao povo de Cuba. E começou a lê-lo. Leu o primeiro parágrafo, leu o segundo parágrafo, começou a ler o terceiro parágrafo e, quando estava no fim do terceiro parágrafo, reparamos que tinha pulado ao quarto parágrafo, deixando de ler três linhas. Escutem, companheiros, não se apressurem a fazer um juízo, nem sequer culpar o companheiro. E nos pareceu que tinha pulado uma parte, e por curiosidade fomos lê-la, visto que a tinha pulado, e lemos que diz —vou ler o terceiro parágrafo—: “Nosso compromisso com o povo de Cuba ficou estabelecido na Carta do México, que juntou a juventude em uma conduta e uma atuação; mas as circunstâncias necessárias para que a parte estudantil realizasse o papel a ela dado não aconteceram oportunamente, obrigando-nos a adiar o cumprimento do nosso compromisso…” Daí pulou para: “…Se morremos, que nosso sangue…”, e leio as três linhas. E o quê diziam? “Acreditamos que chegou o momento de cumprir. Confiamos em que a pureza das nossas intenções nos traga o favor de Deus para conseguir o império da justiça em nossa pátria.”
Prestem atenção, que isto é muito interessante; não aplaudam. Penso: “Puxa, que casualidade! Mas foram omitidas de maneira intencional estas três linhas?” e fico com essa dúvida, e perguntei-lhe quando acabou de ler quem lhe dera os papeis, quem preparara isso. E me disse: “Não, na entrada me deram instruções. Eu disse que ia ler isto, e me disseram que tirasse essas três linhas.”
Será possível, companheiros?! Vamos fazer uma análise (APLAUSOS). Seremos nós, companheiros, tão cobardes, e teremos a mente tão estreita, que venhamos aqui ler o Testamento de José Antonio Echeverria e tenhamos a cobardia, a miséria moral, de suprimir três linhas (APLAUSOS), simplesmente porque essas linhas tenham sido expressão, bem formal de um modismo, ou bem de uma convicção que a nós não nos coube analisar, do companheiro José Antonio Echeverría? Vamos truncar o que escreveu? Vamos truncar aquilo que acreditou? E vamos sentir-nos esmagados, simplesmente pelo que pensou, ou naquilo que tenha acreditado no relativo à religião? Que classe de confiança é essa nas idéias próprias? Que classe de conceito é esse da história? E como conceber a história de maneira tão miserável? Como conceber a história como uma coisa morta, como uma coisa putrefata, como uma pedra imóvel? Poderá chamar-se “concepção dialética da história” semelhante cobardia? Poderá chamar-se marxismo semelhante maneira de pensar? Poderá chamar-se socialismo semelhante fraude? Poderá chamar-se comunismo semelhante engano? Não! Quem conceba a história como deva concebê-la, quem conceba o marxismo como deva concebê-lo, e o compreenda e o interprete e o aplique à história, não comete semelhante estupidez (APLAUSOS); porque, com esse critério, com esse critério, haveria que começar por suprimir todos os escritos de Carlos Manuel de Céspedes, que expressou o pensamento de seu tempo, que expressou o pensamento de sua classe, que expressou o pensamento revolucionário que correspondia a um momento em que os crioulos, os representantes da riqueza nacional se rebelaram contra o jugo e a exploração da Espanha. E que idéias influenciavam àqueles homens? As idéias da Revolução francesa; isto é, da revolução burguesa! E que idéias influíram nos próceres da América, que idéias influíram em Bolívar? Aquelas mesmas idéias! Que idéias influíram em Martí, que idéias influíram em Maceo, que idéias influíram em Máximo Gómez e no resto desses homens daquela gloriosa estirpe? Que idéias influíram em nossos poetas daquele tempo, representantes da cultura cubana, raiz de nossa história, senão as idéias daquele tempo? E então teremos que suprimir os livros de Martí porque Martí não era marxista-leninista, porque Martí respondesse ao pensamento revolucionário que cabia em nossa pátria naquela época? (APLAUSOS.)
Se o marxismo-leninismo é a ideologia da classe operária, quando essa classe surge e toma consciência de si mesma e se lança à luta por sua redenção, como podíamos pedir que esse fosse o pensamento quando a tarefa que se apresentava em um país, a tarefa que se apresentava na América Latina na época de sua independência, e a tarefa que se apresentava em nossa pátria eram tarefas nacionais, tarefas de outra índole, tarefas de outro tipo, que correspondiam ao desenvolvimento da nossa pátria naquele momento dado?
Por esse caminho, haveria que abolir o conceito de revolucionário desde Espartaco até Martí! Por essa concepção míope, sectária, estúpida e manca, que nega da história e nega do marxismo, haveria que cair na negação de todos os valores, na negação de toda a história, na negação das nossas próprias raízes! (APLAUSOS.) Quando todo esse acervo de progresso humano, de esforço humano, de sacrifício humano, devemos recolhê-lo e acumulá-lo na história formosa da pátria e na história formosa de uma humanidade que progride, que veio progredindo desde o princípio, e que continua progredindo e que continuará progredindo cada vez mais!
Por esse caminho chegaríamos à situação de acreditar ser ultra-revolucionários, e acreditar que temos feito toda a história da pátria, esquecidos das dezenas de milhares de mambises que morreram, esquecidos das dezenas de milhares de heróis que morreram no caminho (APLAUSOS), todos os que, num grau ou em outro, foram fazendo o caminho, foram fazendo a história da pátria e foram criando as condições em virtude das quais nós, geração afortunada, tivemos a oportunidade de chegar às metas mais altas e ver cumpridos sonhos que foram sonhos de gerações de lutadores que, umas após as outras se sacrificaram e se imolaram preparando o caminho.
A questão de invocar seus sentimentos religiosos —se essa frase foi expressão desse sentimento— não lhe tira a José Antonio Echeverria nada de seu heroísmo, nada de sua grandeza e nada de sua glória, porque foi expressão do sentimento rebelde da juventude universitária (APLAUSOS), do sentimento generoso daquela juventude que, por boca de um dos seus mais valorosos dirigentes, escreveu tão sereno e desinteressado Testamento, tão sereno e generoso Testamento, como quem tivesse quase a certeza de que ia morrer!
Com esses esforços, com esses sacrifícios, com o conjunto de todo esse sangue generoso, desse sangue rebelde, desse sangue heróico, onde foi misturado o afã de liberdade de todos os jovens, desde Mella até José Antonio Echeverría; com o sangue de Mella e com o sangue de José Antonio Echeverría, e com o sangue de muitos como eles se foi fazendo a história da pátria! (APLAUSOS.) E a grandeza da Revolução é saber ir juntando todo esse esforço, todo esse sangue para fazer a Revolução e para levá-la adiante.
Como podemos parar-nos perante nossos inimigos com moral fazendo esses truques? Sabe-se que os contra-revolucionários têm tentado usar essa frase para tratar de apresentar José Antonio Echeverría como instrumento do seu pensamento; isto é, do pensamento dos contra-revolucionários, que tentaram utilizar esta frase para combater a Revolução, para combater o marxismo. Que os contra-revolucionários, com a hipocrisia e a fraqueza moral que os caracteriza, atuem dessa forma, explica-se; mas que nós, os revolucionários, os marxistas, por essa razão vamos suprimir essa frase, não se explica.
Sabe-se que um revolucionário pode ter uma crença, pode tê-la. A Revolução não obriga a todos os homens, não se mete em seu foro íntimo, não exclui os homens; a todos os homens que querem sua pátria, os homens que queiram que em sua pátria exista a justiça, que finde a exploração, o abuso, a odiosa dominação imperialista, não os obriga nem os torna infelizes simplesmente porque tenham em seu foro íntimo alguma idéia religiosa.
Já sabe que os latifundiários, os exploradores, durante toda a história, quiseram utilizar a religião contra a Revolução. E assim, aí está na Declaração de Havana: os pagãos romanos; isto é, os patrícios romanos, que tinham sua religião, que era a religião da classe dominante, utilizavam sua religião para perseguir os cristãos, levá-los à fogueira e sacrificá-los no circo. E o cristianismo era a religião dos humildes, dos escravos, dos pobres de Roma. Passou o tempo, desapareceu a escravatura; isto é, aquele regime escravista, apareceu uma ordem social nova, o feudalismo, e então os padres, os arcebispos, os papas e aqueles senhores, invocando a religião, levavam à fogueira aqueles homens de pensamento revolucionário que se opunham àquela ordem feudal. E então, os primeiros filósofos e pensadores que expressavam o pensamento de uma classe que nascia, eram levados pelos inquisidores à fogueira.
Depois foi estabelecida outra ordem social: o capitalismo, desenvolveu-se o capitalismo e virou imperialismo, e então nos encontramos os arcebispos anatematizando as revoluções proletárias e pedindo o fuzilamento dos abandeirados da classe revolucionária; ou seja, dos trabalhadores. E então, invocando a religião, perseguem o pensamento revolucionário.
Os latifundiários e os esbirros e os criminosos que vieram a Praia Girón traziam quatro padres, e a um dos quatro padres, ou a dois, tiraram-nos em pára-quedas, e vinha no caminho celebrando missa (RISOS). Sempre arvorando sentimentos nos que não acreditam; porque, em quê sentimento religioso podia acreditar aquela manada de traidores, de exploradores e de esbirros? Jamais foram a uma igreja, possivelmente, a maioria deles; contudo, estavam ali ajoelhados diante do padre, quando vinham a assassinar camponeses e operários, quando vinham aqui a instaurar mais uma vez o império das companhias americanas, da exploração estrangeira e do jugo dos latifundiários e dos exploradores de toda laia. E vinham com um crucifixo na mão!
Sabe-se que essa atitude é a atitude dos contra-revolucionários, e tentam arrastar para essa atitude a pessoas crentes. Como não têm nenhuma bandeira justa, não têm nenhuma causa que atraia as massas, tentam acudir às crenças religiosas, às superstições, a qualquer coisa. Mas, que culpa disso tem um bom católico, um católico sincero, que seja miliciano, que esteja a favor da Revolução, que esteja contra o imperialismo, que esteja contra o analfabetismo, que esteja contra a exploração do homem pelo homem, que esteja contra todas as injustiças sociais? Que culpa tem?
E então: fazemos um documento revolucionário, o publicamos em vários idiomas, todo o povo o apoia, vota nele mais de um milhão de cidadãos que estão ali; na América Latina encontra um extraordinário eco. E o quê dizemos? Que na luta pela libertação nacional, na luta contra o imperialismo, devem juntar-se todos os elementos progressistas, todos os elementos patrióticos, e que nessa frente deve estar desde o católico sincero, que não tenha nada que ver com o imperialismo nem com o latifúndio, até o velho militante marxista (APLAUSOS). Declaramos isso a todo o mundo, e viemos aqui, com uma cobardia que não tem nome, a tirar do Testamento de um companheiro a invocação que fez do nome de Deus. Por um lado lhes dizemos que têm que juntar-se, e que se são patriotas e se são revolucionários, para lutar contra o imperialismo e para lutar contra o latifúndio e para lutar contra a exploração não é obstáculo que alguém seja religioso, tenha uma religião, seja cristão, seja de qualquer religião, e o outro seja marxista, o outro tenha sua fé na filosofia marxista, que isso não é obstáculo. E viemos aqui com esta cobardia a suprimir uma frase!
Não podia colocar de lado essa questão! Porque, isso o que é? um sintoma, uma corrente miserável, cobarde, mutilada, de quem não tem fé no marxismo, de quem não tem fé na Revolução, de quem não tem fé em suas idéias (APLAUSOS).
E para que se veja como um exemplo, aqui mesmo, o trágico desta situação é o caso que o companheiro que recebeu a ordem de tirar essa frase é poeta, tem este pequeno livro de versos, e entre seus versos está um que diz: ‘” Súplica para o Deus anônimo.” Então começa expressando sua crença. E depois me diz: “Eu tinha um complexo com todas estas coisas.” Como não vai ter um complexo! um companheiro miliciano, um companheiro professor de cerimônias, um companheiro ligado à Revolução, e pelo fato de que um dia escreveu versos que falavam de Deus, tem que viver complexado. E como não vai complexar-se, se chega aqui e dizem-lhe: tira essa palavra? Em que vai tornar-se a Revolução? Em um chicote. E isso não é Revolução! Em que se torna a Revolução? Em uma escola de domesticados. E essa não é Revolução! (APLAUSOS).
E o que tem que ser a Revolução? A Revolução tem que ser uma escola de revolucionários, a Revolução tem que ser uma escola de homens valentes, a Revolução tem que ser uma escola de pensamento livre, a Revolução tem que ser uma forja de caracteres e de homens; a Revolução tem que ser, antes do mais, fé em suas próprias idéias, aplicação de suas idéias à realidade da história e à realidade da vida; a Revolução tem que levar os homens ao estudo, a pensar, a analisar, para ter convicção profunda, tão profunda que não sejam necessários esses truques.
Porque nós, se falamos disto, é porque acreditamos em nosso povo, porque acreditamos nas idéias revolucionárias, porque sabemos que nosso povo é revolucionário e porque sabemos que nosso povo será cada dia mais revolucionário (APLAUSOS); porque acreditamos no marxismo-leninismo, porque acreditamos que o marxismo-leninismo é uma verdade incontrastável (APLAUSOS). Simplesmente por isso, porque temos fé em nossas idéias e temos fé em nosso povo, não somos tão cobardes que possamos aceitar semelhante coisa. Sentimo-lo muito pelo autor disto, mas deveria fazer-se uma boa autocrítica (APLAUSOS).
Como nós, diante de uma nova geração, diante de uma geração que começa a estudar, sedenta de aprender, sedenta de ler, sedenta de penetrar no estudo da história, sedenta de penetrar no estudo do marxismo, como a essa geração lhe vamos pôr umas orelheiras tão grandes que não lhe permitamos nem ler completo um documento histórico de um companheiro da Revolução, de um companheiro que, igual do que Martí, que Mella, que Maceo, que Guiteras, fizeram a história e foram construindo degrau por degrau esse caminho da pátria? Sim, o primeiro degrau foi muito baixinho; mas era o primeiro degrau, o humilde primeiro degrau. E assim, sobre o primeiro, o segundo, e sobre o segundo, o terceiro, assim se foi construindo a história da pátria. E se hoje estamos neste degrau tão elevado da história e do pensamento revolucionário, é porque se começou a construir desde o primeiro e humilde degrau dos nossos primeiros patriotas! (APLAUSOS).
Aqui há muitos os que acreditam ser mais revolucionários do que ninguém, e acreditam que a Revolução está gritando, e acreditam que a Revolução está dizendo: “esquerda, esquerda.” Não quero fazer nenhuma crítica aos Jovens Rebeldes, logicamente, porque eles têm retificado algumas das suas consignas. Por exemplo, eles diziam: “Somos socialistas, avante e avante, e aquele que não gostar que beba um purgante.” Eu não gostava, sinceramente, dessa consigna, porque não era positiva. Mudaram-na: Somos socialistas, avante e avante, e aquele que concordar, que a mão levante”. Essa é positiva, essa consigna (APLAUSOS); o outro, é apresentar o marxismo como um purgante: “E aquele que não gostar, que beba um purgante.” Não está convidando ninguém a estudar, não está convidando ninguém a tornar-se marxista; diz-lhe “engole-o se quiser e se não quiser; se não gostar, bebe um purgante.” A quem vão conquistar com isso? “Esquerda, esquerda, esquerda sempre esquerda”, isso não é o socialismo, isso pode ser esquerdismo, doença infantil do comunismo (APLAUSOS).
Sou da opinião de que já estamos crescidos e um pouco maduros, e podemos encarar esses problemas, para ir de verdade criando um espírito revolucionário, mas não um espírito de palavras nem de imposição. O quê é isso? Desde quando? A quem se lhe impôs aqui o marxismo? O povo virou marxista por convicção própria, porque a própria Revolução o ensinou; ninguém o impôs, senhores (APLAUSOS). Batista tentou de nos impor o imperialismo e não houve jeito de que nos o impusesse; não houve jeito de que nos impusesse seu espírito reacionário, seu domínio castrense, capitalista e imperialista, não houve jeito.
Então é a Revolução propriamente dita com seus fatos, com suas lutas, com suas evidências, a que tem tornado este povo, que tem uma sensibilidade política tremenda, o tem tornado um dos povos mais avançados neste momento, de um espírito revolucionário extraordinário. Esta não é uma opinião nossa; é uma opinião que nos deram muitos visitantes que ficam admirados vendo como pensa o homem da rua e o que conversa um rapaz, vão às escolas, e os rapazes lhes dão umas respostas fantásticas.
Contudo, achamos que é preciso criar mais espírito marxista; e na juventude, sobretudo, é preciso criar algo mais do que espírito socialista, é preciso criar espírito comunista! (APLAUSOS PROLONGADOS.)
Aqui os companheiros dos Jovens Rebeldes estiveram discutindo se mudavam o nome, se pegavam outro nome, que nome iam pegar, se Juventude Socialista. Eu, sinceramente, dei minha opinião: Acho que a esta juventude, a esta geração nova que estamos forjando para o futuro, sua organização, à organização juvenil do Partido Unido da Revolução Socialista, à organização juvenil devemos chamá-la Organização ou Associação de Juventudes Comunistas (APLAUSOS PROLONGADOS).
Por que? Por que? Simplesmente, porque há que diferenciar entre socialismo e comunismo; antes do mais, devemos saber com toda clareza que os regimes sociais não podem ser impostos, que devem ser construídos sobre determinadas bases, e nós estamos construindo as bases do socialismo, estamos marchando para o socialismo, ainda não estamos no socialismo; a Revolução é socialista, nós somos socialistas, mas estamos construindo o socialismo; ainda a sociedade, embora o povo seja em sua maioria socialista, a sociedade não é, o que acham? Porque ainda restam muitas reminiscências do passado capitalista, e estamos construindo o socialismo.
A geração atual está vivendo esta etapa de construção do socialismo, e é lógico que o partido da Revolução se chame Partido Unido da Revolução Socialista, porque estamos construindo o socialismo (APLAUSOS); mas a juventude não, a juventude constitui a geração futura, uma geração que deve viver em outra etapa mais elevada, mais avançada, não no socialismo, mas no comunismo (APLAUSOS). E isto quer dizer, simplesmente —o compreende qualquer pessoa—, que às futuras gerações há que prepará-las para a futura sociedade; que o homem do futuro há de ser forjado desde agora, é preciso forjar seus sentimentos, sua consciência, seu caráter, seu espírito, é preciso desenvolver neles uma consciência ainda mais generosa, um espírito ainda mais revolucionário, mais avançado, mais novo. E donde vai sair senão da juventude, onde está a canteira da geração futura? E temos que ir criando desde agora esse espírito, e não houve muito espírito que digamos nesse sentido.
Tendo uma matéria-prima fantástica, uma juventude que acaba de realizar uma proeza como é a de liquidar o analfabetismo em um ano (APLAUSOS), não devemos perder tempo em fazer um grande esforço por criar esse espírito comunista na juventude.
O quê acontece muitas vezes e que resulta deprimente? Tira-se um quadro dos Jovens Rebeldes, um rapaz desenvolvido, que tem uma grande consciência, mas tem 18 anos, é solteiro, levam-no a trabalhar em um ministério; ali existe uma escala de salários, e de repente um rapaz de 17 anos, ou às vezes até de 16 ou 18 anos, tanto faz, solteiro, o colocamos a trabalhar, e em virtude da escala de salário começa a ganhar 500 pesos porque lhe deram um cargo importante. Isso faz revolucionários? Isso cria espírito comunista? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) Não. E se mais adiante ele se casar com uma moça que, talvez tenha também salário alto, entre os dois ganhariam 1 000 pesos. E acontecem muitos desses casos.
O quê criamos com isso? Criamos um cidadão que se acostuma a receber muito mais do que necessita, e a fórmula do socialismo é: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo seu trabalho”; a fórmula clássica do comunismo é: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas sus necessidades”. Mal poderemos fazer um comunista desse jovem que sem ter essa necessidade… Porque outro caso seria que esse mesmo jovem tivesse sete irmãos, órfão de pai e mãe, e ele tivesse que sustentar toda a família, e coloca a situação; mas se o pai e a mãe estão ganhando dinheiro e ele não tem outras necessidades, não corrompemos esse jovem? Ou, se não o corrompemos, não o acomodamos a uma renda muito mais além de todo o que necessita? Assim não fazemos revolucionários, assim não fazemos comunistas.
É preciso criar um espírito mais revolucionário perante o trabalho, perante os semelhantes, perante todo o povo, perante a sociedade e perante a vida. Devemos fazer isso, e devemos fazê-lo com os jovens.
Bom, temos tido problemas, os salários foram aumentados, deram-lhes melhores rendas mais do que satisfatórias a certas categorias de técnicos. Mas nos novos rapazes, os que agora estão no ensino secundário, os que alfabetizaram, que em breve estarão no pré-universitário e depois na universidade, e depois, talvez muito novos, com 20 ou 22 anos, quiçá já especializados, talvez em cirurgia ou em qualquer outra coisa, em qualquer especialidade, ele e aliás a companheira com a que talvez casou na carreira ou terminando a carreira, ele ganhando 800 pesos e ela outros 800 pesos, mil seiscentos pesos! Isso é espírito revolucionário?
Nos jovens que começam —está bem os que já estão formados, e inclusive os que ainda estão nesse trâmite universitário—, em toda esta geração, em todos esses
60 000 bolseiros, vamos ou não vamos começar a criar uma atitude verdadeiramente revolucionária, uma atitude mais elevada, mais generosa, e mais revolucionária perante a sociedade e perante a vida? (APLAUSOS.)
Estas são as questões que sinceramente nos preocupam, e são questões que sinceramente devemos começar a colocar e a fazer, para criar uma sociedade nova, uma geração nova, sem egoísmos, sem individualismos antissociais; a geração que vai viver na sociedade da abundância, onde se lhes vai poder oferecer a todos tudo o que precisarem com o esforço e o trabalho de todos.
E que melhores condições para fazê-lo que as condições que rodeiam a esta juventude? Juventude que sem importar quanto ganha seu pai, nem as rendas de sua família, nem quantos irmãos tem; juventude que, simplesmente, pelo fato de ser jovens, pelo fato de viver neste país, pelo fato de desejar superar-se, ser úteis a sua pátria, sem importar nem as rendas —repito—, nem a situação da família, recebem uma bolsa de estudo, vêm à capital ou seja lá onde for, vão estudar nos mais régios estabelecimentos de ensino, moram nas mais cômodas mansões, têm a roupa, os sapatos, a alimentação, a assistência médica, todos os serviços educacionais, todos os serviços culturais, todos os serviços recreativos; porque temos envidados esforços, o povo está envidando esforços para que a essa juventude não lhe falte nada (APLAUSOS).
Hoje de manhã, nesta manhã, em uma reunião de dirigentes operários, onde se fazia entrega ao Comitê Executivo da CTC de mais de 300 casas em um antigo bairro de veraneio e de férias das classes dominantes, e que hoje têm passado às mãos dos trabalhadores, ao falar diante daqueles operários, pais de família, foi para nós de uma extraordinária significação, ali mesmo, junto de uma dessas escolas onde há 5 000 jovens estudando, onde antes não podia nem sequer transitar o cidadão; quando falávamos de tudo o que aquilo significava para o futuro da pátria, quando lhes perguntava se alguns deles tinham familiares ali, ao ver que muitos erguiam a mão, foi para nós de uma grande satisfação ao falar —repito— de que valia a pena o esforço que se estava fazendo, e que se tínhamos que passar fome para que essa juventude crescesse forte e saudável, estávamos dispostos a passá-la (APLAUSOS). E para nós foi de uma grande satisfação ver aquele estalido de entusiasmo e de aprovação.
Satisfação que se acrescentou quando mais adiante, ao nos deterem junto de uma construção onde havia meia centena de operários, conversando com eles lhes perguntamos se tinham algum familiar entre os estudantes bolseiros; e aqueles humildes operários da construção quase todos levantaram a mão, porque um tinha um filho, outro tinha dois, outro tinha um sobrinho, outro tinha um irmão; o outro tinha a namorada estudando no Nacional, na Escola de Domésticas, estudando taquigrafia e datilografia (APLAUSOS). E, praticamente, não havia um que não tivesse um familiar mais ou menos achegado.
Era a classe operária, essa classe que produz, essa classe que trabalha, e essa classe que sente tão profundamente a Revolução e que vê bem perto dela o que a Revolução significa.
Que melhores condições que essas —dizia— para forjar revolucionários, onde os jovens o recebem tudo, porque a sociedade e o povo trabalhador lhes dá tudo? E ali vão estudar conforme sua capacidade, e vão receber conforme suas necessidades. Inclusive, desde agora são estudantes que praticam uma espécie de fórmula comunista: cada qual estuda segundo sua capacidade e recebe segundo suas necessidades (APLAUSOS).
Que melhores condições e que melhor escola revolucionária? Que melhores condições para desenvolver, impulsionar o espírito revolucionário dos jovens, o verdadeiro espírito revolucionário, a convicção e a consciência, o conhecimento profundo, a preparação?
Temos escolas de instrução revolucionária onde estudam às vezes 45 dias, outras vezes três meses, quatro, oito. Se podemos dar oportunidade aos jovens de estudar marxismo não três meses, não um ano, mas cinco anos, sete anos, oito anos, desde o ensino secundário, desde o pré-universitário, desde o instituto tecnológico e desde a universidade (APLAUSOS). E forjar de forma maciça, criar de forma maciça quadros revolucionários, com o verdadeiro espírito revolucionário, com a profunda convicção de um verdadeiro revolucionário que sabe pensar, que sabe discutir, que tem uma convicção, que tem uma disciplina, que tem uma consciência nova, uma atitude nova perante a vida.
Esse é o revolucionário que nós queremos; esse é o revolucionário que nós queremos na organização política da Revolução, esse tipo de homem que seja exemplo; esse núcleo que tenha autoridade não simplesmente porque seja núcleo, mas porque seja exemplo; que tenha autoridade não porque a imponham a ninguém, mas porque todo o mundo a reconheça. Porque quem quiser passar por revolucionário sendo um vago, não irá ganhar o respeito de ninguém (APLAUSOS); quem queira passar por revolucionário sendo um privilegiado, não irá ganhar o respeito de ninguém.
E por isso deve-se ganhar a autoridade que dá o exemplo, que dá a conduta. E assim têm que ser as células. E não descansaremos, companheiros, nem devemos descansar, na incessante luta porque no aparelho político da Revolução, no Partido Unido da Revolução, se juntem os melhores homens e mulheres da pátria.
E que à organização juvenil da Revolução pertençam e militem os melhores jovens da pátria, os mais disciplinados, os mais cumpridores, os mais estudiosos, os mais abnegados, os mais trabalhadores, o melhor da nossa juventude; e que seja uma honra, uma altíssima honra, honra sempre, satisfação sempre.
Esse é o prêmio a que devem aspirar a receber os revolucionários: a satisfação de quem cumpre com seu dever de homem, de quem cumpre com seu dever para com a sociedade e para com a pátria.
Privilégios jamais! Guerra ao privilégio! Guerra a tudo o que for fraqueza, a tudo o que for acomodamento!
A Revolução tem integrado sua Direção Política; a Revolução tem avançado no campo da organização. Agora devemos seguir marchando adiante como uma seta disparada rumo ao futuro, trabalhando bem, selecionando o melhor, pondo fim a essas coisas minúsculas, a este tipo de sectarismo oco e vão, inútil.
Guerra a esse sectarismo, que leva ao privilégio, que leva ao pântano! Devemos sair desse pântano imundo de um sectarismo miserável! E comecemos, companheiras e companheiros, comecemos a fazer o que a história espera de nós, o que a pátria espera de nós, o que América espera de nós, o que o mundo espera de nós (APLAUSOS), com espírito verdadeiramente revolucionário, com espírito verdadeiramente novo, com espírito verdadeiramente criador, onde a pedra de toque de cada homem e de cada mulher da pátria seja o mérito, seja o espírito de sacrifício, seja a consciência revolucionária, seja o amor à Revolução!
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(EXCLAMAÇÕES DE: “Venceremos!”)
(OVAÇÃO)
Povo de Cuba:
Esta é uma ocasião importante para nós por duas razões, em primeiro lugar, porque recordamos uma data histórica singularmente importante no processo revolucionário; e, em segundo lugar, porque nos reunimos com os jovens, reunimo-nos com os estudantes.
Já este quinto aniversário e quarta comemoração… Não lembro bem a data. Foi em 1957. Estava um pouco confundido porque esse acontecimento foi no ano 1957 e a Revolução triunfou em 1959. Mas o que eu queria dizer é o seguinte: que há alguma coisa nova, há uma mudança, uma verdadeira mudança de qualidade na composição deste comício.
Este comício, a quarta comemoração, reflete já uma mudança substancial na vida do país, e reflete já uma mudança profunda na vida do estudante, na composição dos estudantes e na própria universidade.
Pode-se dizer, com certeza, que hoje podemos assistir aqui a este comício, todos, com verdadeira satisfação, com a verdadeira e com a única satisfação com que se pode vir recordar os que morreram. E esta universidade de hoje, estes estudantes, estas fileiras nutridas de jovens aqui presentes nos estão dizendo que temos direito a sentir-nos satisfeitos um dia como hoje, e que estamos honrando de maneira digna, da única maneira digna com que se pode honrar os mortos, assim estamos honrando José Antonio Echeverria e todos os que morreram naquele 13 de março (APLAUSOS): com a presença de 3 000 bolseiros universitários (APLAUSOS), e com a presença de milhares e milhares de jovens das escolas de bolseiros pré-universitários e de institutos tecnológicos (APLAUSOS); estamos comemorando este aniversário com uma juventude que surge e se desenvolve dentro da Revolução, com uma juventude cada vez mais homogênea, cada vez mais revolucionária; estamos comemorando este aniversário do 13 de março com a presença muito nutrida dos filhos e das filhas dos operários e dos humildes da pátria (APLAUSOS).
E nesta juventude estão colocadas as esperanças da Revolução, nesta juventude estão colocadas as mais legítimas esperanças do nosso povo, e nesta juventude estão colocadas também nossas mais legítimas e mais humanas esperanças, dos revolucionários, de todos os revolucionários (APLAUSOS). E o devemos dizer para esta juventude, devemos fazer um apelo a esta juventude, devemos educar esta juventude, orientá-la, forjá-la; devemos fazer desta juventude o que todos sonhamos para o futuro, devemos fazer desta juventude o que todos sonhamos que haverá de ser o povo do amanhã, as gerações novas da pátria; deveremos fazer desta juventude o que todos nós queríamos ser, o que todos nós teríamos querido viver com vocês; temos que tornar esta juventude, simplesmente, no porvir.
E quê juventude queremos? Queremos, por acaso, uma juventude que simplesmente só ouça e repita? Não! Queremos uma juventude que pense. Uma juventude, por acaso, que seja revolucionária por nos imitar? Não! queremos uma juventude que aprenda por si mesma a ser revolucionária, uma juventude que se convença a si mesma, uma juventude que desenvolva plenamente seu pensamento (APLAUSOS).
E porquê acreditamos que se desenvolverá esta juventude revolucionariamente? Simplesmente, porque tem todas as condições para o conseguir, tem todas as condições que lhe permitirão seu desenvolvimento revolucionário, pensar e agir revolucionariamente. Não dizemos que o exemplo não seja bom; o exemplo influi, o exemplo vale, mas, mais do que a influência do exemplo, vale a própria convicção, vale o pensamento próprio. E nós sabemos que esta juventude será revolucionária, simplesmente porque acreditamos na Revolução, porque temos fé nas idéias revolucionárias (APLAUSOS), e porque sabemos que essas idéias ganhar-se-ão o pensamento e ganhar-se-ão o coração desta juventude (APLAUSOS).
E por que fiz esse preâmbulo? De quê vamos falar hoje? Queremos simplesmente falar dos jovens, aos jovens. E este preâmbulo tem alguma coisa a ver com aquilo que vou colocar aqui nesta noite e que os jovens devem analisar. Vou fazer uma crítica aqui nesta noite a um fato que parece incidental e, contudo, devemos criticá-lo e analisá-lo, e vamos analisá-lo publicamente.
Aqui nesta noite se apresenta um caso, um exemplo que deve servir de lição e nos deve servir para fazer uma análise revolucionária. O companheiro que atuou como professor de cerimônias foi lendo no princípio deste comício uma série de documentos, algumas palavras, alguns escritos e, entre eles, estava lendo o Testamento do companheiro José Antonio Echeverría. E nós, enquanto ele lia, íamos lendo também o Testamento na última página de um folheto que nos tinham entregado, íamos lendo mecanicamente o Testamento Político de José Antonio Echeverria ao povo de Cuba. E começou a lê-lo. Leu o primeiro parágrafo, leu o segundo parágrafo, começou a ler o terceiro parágrafo e, quando estava no fim do terceiro parágrafo, reparamos que tinha pulado ao quarto parágrafo, deixando de ler três linhas. Escutem, companheiros, não se apressurem a fazer um juízo, nem sequer culpar o companheiro. E nos pareceu que tinha pulado uma parte, e por curiosidade fomos lê-la, visto que a tinha pulado, e lemos que diz —vou ler o terceiro parágrafo—: “Nosso compromisso com o povo de Cuba ficou estabelecido na Carta do México, que juntou a juventude em uma conduta e uma atuação; mas as circunstâncias necessárias para que a parte estudantil realizasse o papel a ela dado não aconteceram oportunamente, obrigando-nos a adiar o cumprimento do nosso compromisso…” Daí pulou para: “…Se morremos, que nosso sangue…”, e leio as três linhas. E o quê diziam? “Acreditamos que chegou o momento de cumprir. Confiamos em que a pureza das nossas intenções nos traga o favor de Deus para conseguir o império da justiça em nossa pátria.”
Prestem atenção, que isto é muito interessante; não aplaudam. Penso: “Puxa, que casualidade! Mas foram omitidas de maneira intencional estas três linhas?” e fico com essa dúvida, e perguntei-lhe quando acabou de ler quem lhe dera os papeis, quem preparara isso. E me disse: “Não, na entrada me deram instruções. Eu disse que ia ler isto, e me disseram que tirasse essas três linhas.”
Será possível, companheiros?! Vamos fazer uma análise (APLAUSOS). Seremos nós, companheiros, tão cobardes, e teremos a mente tão estreita, que venhamos aqui ler o Testamento de José Antonio Echeverria e tenhamos a cobardia, a miséria moral, de suprimir três linhas (APLAUSOS), simplesmente porque essas linhas tenham sido expressão, bem formal de um modismo, ou bem de uma convicção que a nós não nos coube analisar, do companheiro José Antonio Echeverría? Vamos truncar o que escreveu? Vamos truncar aquilo que acreditou? E vamos sentir-nos esmagados, simplesmente pelo que pensou, ou naquilo que tenha acreditado no relativo à religião? Que classe de confiança é essa nas idéias próprias? Que classe de conceito é esse da história? E como conceber a história de maneira tão miserável? Como conceber a história como uma coisa morta, como uma coisa putrefata, como uma pedra imóvel? Poderá chamar-se “concepção dialética da história” semelhante cobardia? Poderá chamar-se marxismo semelhante maneira de pensar? Poderá chamar-se socialismo semelhante fraude? Poderá chamar-se comunismo semelhante engano? Não! Quem conceba a história como deva concebê-la, quem conceba o marxismo como deva concebê-lo, e o compreenda e o interprete e o aplique à história, não comete semelhante estupidez (APLAUSOS); porque, com esse critério, com esse critério, haveria que começar por suprimir todos os escritos de Carlos Manuel de Céspedes, que expressou o pensamento de seu tempo, que expressou o pensamento de sua classe, que expressou o pensamento revolucionário que correspondia a um momento em que os crioulos, os representantes da riqueza nacional se rebelaram contra o jugo e a exploração da Espanha. E que idéias influenciavam àqueles homens? As idéias da Revolução francesa; isto é, da revolução burguesa! E que idéias influíram nos próceres da América, que idéias influíram em Bolívar? Aquelas mesmas idéias! Que idéias influíram em Martí, que idéias influíram em Maceo, que idéias influíram em Máximo Gómez e no resto desses homens daquela gloriosa estirpe? Que idéias influíram em nossos poetas daquele tempo, representantes da cultura cubana, raiz de nossa história, senão as idéias daquele tempo? E então teremos que suprimir os livros de Martí porque Martí não era marxista-leninista, porque Martí respondesse ao pensamento revolucionário que cabia em nossa pátria naquela época? (APLAUSOS.)
Se o marxismo-leninismo é a ideologia da classe operária, quando essa classe surge e toma consciência de si mesma e se lança à luta por sua redenção, como podíamos pedir que esse fosse o pensamento quando a tarefa que se apresentava em um país, a tarefa que se apresentava na América Latina na época de sua independência, e a tarefa que se apresentava em nossa pátria eram tarefas nacionais, tarefas de outra índole, tarefas de outro tipo, que correspondiam ao desenvolvimento da nossa pátria naquele momento dado?
Por esse caminho, haveria que abolir o conceito de revolucionário desde Espartaco até Martí! Por essa concepção míope, sectária, estúpida e manca, que nega da história e nega do marxismo, haveria que cair na negação de todos os valores, na negação de toda a história, na negação das nossas próprias raízes! (APLAUSOS.) Quando todo esse acervo de progresso humano, de esforço humano, de sacrifício humano, devemos recolhê-lo e acumulá-lo na história formosa da pátria e na história formosa de uma humanidade que progride, que veio progredindo desde o princípio, e que continua progredindo e que continuará progredindo cada vez mais!
Por esse caminho chegaríamos à situação de acreditar ser ultra-revolucionários, e acreditar que temos feito toda a história da pátria, esquecidos das dezenas de milhares de mambises que morreram, esquecidos das dezenas de milhares de heróis que morreram no caminho (APLAUSOS), todos os que, num grau ou em outro, foram fazendo o caminho, foram fazendo a história da pátria e foram criando as condições em virtude das quais nós, geração afortunada, tivemos a oportunidade de chegar às metas mais altas e ver cumpridos sonhos que foram sonhos de gerações de lutadores que, umas após as outras se sacrificaram e se imolaram preparando o caminho.
A questão de invocar seus sentimentos religiosos —se essa frase foi expressão desse sentimento— não lhe tira a José Antonio Echeverria nada de seu heroísmo, nada de sua grandeza e nada de sua glória, porque foi expressão do sentimento rebelde da juventude universitária (APLAUSOS), do sentimento generoso daquela juventude que, por boca de um dos seus mais valorosos dirigentes, escreveu tão sereno e desinteressado Testamento, tão sereno e generoso Testamento, como quem tivesse quase a certeza de que ia morrer!
Com esses esforços, com esses sacrifícios, com o conjunto de todo esse sangue generoso, desse sangue rebelde, desse sangue heróico, onde foi misturado o afã de liberdade de todos os jovens, desde Mella até José Antonio Echeverría; com o sangue de Mella e com o sangue de José Antonio Echeverría, e com o sangue de muitos como eles se foi fazendo a história da pátria! (APLAUSOS.) E a grandeza da Revolução é saber ir juntando todo esse esforço, todo esse sangue para fazer a Revolução e para levá-la adiante.
Como podemos parar-nos perante nossos inimigos com moral fazendo esses truques? Sabe-se que os contra-revolucionários têm tentado usar essa frase para tratar de apresentar José Antonio Echeverría como instrumento do seu pensamento; isto é, do pensamento dos contra-revolucionários, que tentaram utilizar esta frase para combater a Revolução, para combater o marxismo. Que os contra-revolucionários, com a hipocrisia e a fraqueza moral que os caracteriza, atuem dessa forma, explica-se; mas que nós, os revolucionários, os marxistas, por essa razão vamos suprimir essa frase, não se explica.
Sabe-se que um revolucionário pode ter uma crença, pode tê-la. A Revolução não obriga a todos os homens, não se mete em seu foro íntimo, não exclui os homens; a todos os homens que querem sua pátria, os homens que queiram que em sua pátria exista a justiça, que finde a exploração, o abuso, a odiosa dominação imperialista, não os obriga nem os torna infelizes simplesmente porque tenham em seu foro íntimo alguma idéia religiosa.
Já sabe que os latifundiários, os exploradores, durante toda a história, quiseram utilizar a religião contra a Revolução. E assim, aí está na Declaração de Havana: os pagãos romanos; isto é, os patrícios romanos, que tinham sua religião, que era a religião da classe dominante, utilizavam sua religião para perseguir os cristãos, levá-los à fogueira e sacrificá-los no circo. E o cristianismo era a religião dos humildes, dos escravos, dos pobres de Roma. Passou o tempo, desapareceu a escravatura; isto é, aquele regime escravista, apareceu uma ordem social nova, o feudalismo, e então os padres, os arcebispos, os papas e aqueles senhores, invocando a religião, levavam à fogueira aqueles homens de pensamento revolucionário que se opunham àquela ordem feudal. E então, os primeiros filósofos e pensadores que expressavam o pensamento de uma classe que nascia, eram levados pelos inquisidores à fogueira.
Depois foi estabelecida outra ordem social: o capitalismo, desenvolveu-se o capitalismo e virou imperialismo, e então nos encontramos os arcebispos anatematizando as revoluções proletárias e pedindo o fuzilamento dos abandeirados da classe revolucionária; ou seja, dos trabalhadores. E então, invocando a religião, perseguem o pensamento revolucionário.
Os latifundiários e os esbirros e os criminosos que vieram a Praia Girón traziam quatro padres, e a um dos quatro padres, ou a dois, tiraram-nos em pára-quedas, e vinha no caminho celebrando missa (RISOS). Sempre arvorando sentimentos nos que não acreditam; porque, em quê sentimento religioso podia acreditar aquela manada de traidores, de exploradores e de esbirros? Jamais foram a uma igreja, possivelmente, a maioria deles; contudo, estavam ali ajoelhados diante do padre, quando vinham a assassinar camponeses e operários, quando vinham aqui a instaurar mais uma vez o império das companhias americanas, da exploração estrangeira e do jugo dos latifundiários e dos exploradores de toda laia. E vinham com um crucifixo na mão!
Sabe-se que essa atitude é a atitude dos contra-revolucionários, e tentam arrastar para essa atitude a pessoas crentes. Como não têm nenhuma bandeira justa, não têm nenhuma causa que atraia as massas, tentam acudir às crenças religiosas, às superstições, a qualquer coisa. Mas, que culpa disso tem um bom católico, um católico sincero, que seja miliciano, que esteja a favor da Revolução, que esteja contra o imperialismo, que esteja contra o analfabetismo, que esteja contra a exploração do homem pelo homem, que esteja contra todas as injustiças sociais? Que culpa tem?
E então: fazemos um documento revolucionário, o publicamos em vários idiomas, todo o povo o apoia, vota nele mais de um milhão de cidadãos que estão ali; na América Latina encontra um extraordinário eco. E o quê dizemos? Que na luta pela libertação nacional, na luta contra o imperialismo, devem juntar-se todos os elementos progressistas, todos os elementos patrióticos, e que nessa frente deve estar desde o católico sincero, que não tenha nada que ver com o imperialismo nem com o latifúndio, até o velho militante marxista (APLAUSOS). Declaramos isso a todo o mundo, e viemos aqui, com uma cobardia que não tem nome, a tirar do Testamento de um companheiro a invocação que fez do nome de Deus. Por um lado lhes dizemos que têm que juntar-se, e que se são patriotas e se são revolucionários, para lutar contra o imperialismo e para lutar contra o latifúndio e para lutar contra a exploração não é obstáculo que alguém seja religioso, tenha uma religião, seja cristão, seja de qualquer religião, e o outro seja marxista, o outro tenha sua fé na filosofia marxista, que isso não é obstáculo. E viemos aqui com esta cobardia a suprimir uma frase!
Não podia colocar de lado essa questão! Porque, isso o que é? um sintoma, uma corrente miserável, cobarde, mutilada, de quem não tem fé no marxismo, de quem não tem fé na Revolução, de quem não tem fé em suas idéias (APLAUSOS).
E para que se veja como um exemplo, aqui mesmo, o trágico desta situação é o caso que o companheiro que recebeu a ordem de tirar essa frase é poeta, tem este pequeno livro de versos, e entre seus versos está um que diz: ‘” Súplica para o Deus anônimo.” Então começa expressando sua crença. E depois me diz: “Eu tinha um complexo com todas estas coisas.” Como não vai ter um complexo! um companheiro miliciano, um companheiro professor de cerimônias, um companheiro ligado à Revolução, e pelo fato de que um dia escreveu versos que falavam de Deus, tem que viver complexado. E como não vai complexar-se, se chega aqui e dizem-lhe: tira essa palavra? Em que vai tornar-se a Revolução? Em um chicote. E isso não é Revolução! Em que se torna a Revolução? Em uma escola de domesticados. E essa não é Revolução! (APLAUSOS).
E o que tem que ser a Revolução? A Revolução tem que ser uma escola de revolucionários, a Revolução tem que ser uma escola de homens valentes, a Revolução tem que ser uma escola de pensamento livre, a Revolução tem que ser uma forja de caracteres e de homens; a Revolução tem que ser, antes do mais, fé em suas próprias idéias, aplicação de suas idéias à realidade da história e à realidade da vida; a Revolução tem que levar os homens ao estudo, a pensar, a analisar, para ter convicção profunda, tão profunda que não sejam necessários esses truques.
Porque nós, se falamos disto, é porque acreditamos em nosso povo, porque acreditamos nas idéias revolucionárias, porque sabemos que nosso povo é revolucionário e porque sabemos que nosso povo será cada dia mais revolucionário (APLAUSOS); porque acreditamos no marxismo-leninismo, porque acreditamos que o marxismo-leninismo é uma verdade incontrastável (APLAUSOS). Simplesmente por isso, porque temos fé em nossas idéias e temos fé em nosso povo, não somos tão cobardes que possamos aceitar semelhante coisa. Sentimo-lo muito pelo autor disto, mas deveria fazer-se uma boa autocrítica (APLAUSOS).
Como nós, diante de uma nova geração, diante de uma geração que começa a estudar, sedenta de aprender, sedenta de ler, sedenta de penetrar no estudo da história, sedenta de penetrar no estudo do marxismo, como a essa geração lhe vamos pôr umas orelheiras tão grandes que não lhe permitamos nem ler completo um documento histórico de um companheiro da Revolução, de um companheiro que, igual do que Martí, que Mella, que Maceo, que Guiteras, fizeram a história e foram construindo degrau por degrau esse caminho da pátria? Sim, o primeiro degrau foi muito baixinho; mas era o primeiro degrau, o humilde primeiro degrau. E assim, sobre o primeiro, o segundo, e sobre o segundo, o terceiro, assim se foi construindo a história da pátria. E se hoje estamos neste degrau tão elevado da história e do pensamento revolucionário, é porque se começou a construir desde o primeiro e humilde degrau dos nossos primeiros patriotas! (APLAUSOS).
Aqui há muitos os que acreditam ser mais revolucionários do que ninguém, e acreditam que a Revolução está gritando, e acreditam que a Revolução está dizendo: “esquerda, esquerda.” Não quero fazer nenhuma crítica aos Jovens Rebeldes, logicamente, porque eles têm retificado algumas das suas consignas. Por exemplo, eles diziam: “Somos socialistas, avante e avante, e aquele que não gostar que beba um purgante.” Eu não gostava, sinceramente, dessa consigna, porque não era positiva. Mudaram-na: Somos socialistas, avante e avante, e aquele que concordar, que a mão levante”. Essa é positiva, essa consigna (APLAUSOS); o outro, é apresentar o marxismo como um purgante: “E aquele que não gostar, que beba um purgante.” Não está convidando ninguém a estudar, não está convidando ninguém a tornar-se marxista; diz-lhe “engole-o se quiser e se não quiser; se não gostar, bebe um purgante.” A quem vão conquistar com isso? “Esquerda, esquerda, esquerda sempre esquerda”, isso não é o socialismo, isso pode ser esquerdismo, doença infantil do comunismo (APLAUSOS).
Sou da opinião de que já estamos crescidos e um pouco maduros, e podemos encarar esses problemas, para ir de verdade criando um espírito revolucionário, mas não um espírito de palavras nem de imposição. O quê é isso? Desde quando? A quem se lhe impôs aqui o marxismo? O povo virou marxista por convicção própria, porque a própria Revolução o ensinou; ninguém o impôs, senhores (APLAUSOS). Batista tentou de nos impor o imperialismo e não houve jeito de que nos o impusesse; não houve jeito de que nos impusesse seu espírito reacionário, seu domínio castrense, capitalista e imperialista, não houve jeito.
Então é a Revolução propriamente dita com seus fatos, com suas lutas, com suas evidências, a que tem tornado este povo, que tem uma sensibilidade política tremenda, o tem tornado um dos povos mais avançados neste momento, de um espírito revolucionário extraordinário. Esta não é uma opinião nossa; é uma opinião que nos deram muitos visitantes que ficam admirados vendo como pensa o homem da rua e o que conversa um rapaz, vão às escolas, e os rapazes lhes dão umas respostas fantásticas.
Contudo, achamos que é preciso criar mais espírito marxista; e na juventude, sobretudo, é preciso criar algo mais do que espírito socialista, é preciso criar espírito comunista! (APLAUSOS PROLONGADOS.)
Aqui os companheiros dos Jovens Rebeldes estiveram discutindo se mudavam o nome, se pegavam outro nome, que nome iam pegar, se Juventude Socialista. Eu, sinceramente, dei minha opinião: Acho que a esta juventude, a esta geração nova que estamos forjando para o futuro, sua organização, à organização juvenil do Partido Unido da Revolução Socialista, à organização juvenil devemos chamá-la Organização ou Associação de Juventudes Comunistas (APLAUSOS PROLONGADOS).
Por que? Por que? Simplesmente, porque há que diferenciar entre socialismo e comunismo; antes do mais, devemos saber com toda clareza que os regimes sociais não podem ser impostos, que devem ser construídos sobre determinadas bases, e nós estamos construindo as bases do socialismo, estamos marchando para o socialismo, ainda não estamos no socialismo; a Revolução é socialista, nós somos socialistas, mas estamos construindo o socialismo; ainda a sociedade, embora o povo seja em sua maioria socialista, a sociedade não é, o que acham? Porque ainda restam muitas reminiscências do passado capitalista, e estamos construindo o socialismo.
A geração atual está vivendo esta etapa de construção do socialismo, e é lógico que o partido da Revolução se chame Partido Unido da Revolução Socialista, porque estamos construindo o socialismo (APLAUSOS); mas a juventude não, a juventude constitui a geração futura, uma geração que deve viver em outra etapa mais elevada, mais avançada, não no socialismo, mas no comunismo (APLAUSOS). E isto quer dizer, simplesmente —o compreende qualquer pessoa—, que às futuras gerações há que prepará-las para a futura sociedade; que o homem do futuro há de ser forjado desde agora, é preciso forjar seus sentimentos, sua consciência, seu caráter, seu espírito, é preciso desenvolver neles uma consciência ainda mais generosa, um espírito ainda mais revolucionário, mais avançado, mais novo. E donde vai sair senão da juventude, onde está a canteira da geração futura? E temos que ir criando desde agora esse espírito, e não houve muito espírito que digamos nesse sentido.
Tendo uma matéria-prima fantástica, uma juventude que acaba de realizar uma proeza como é a de liquidar o analfabetismo em um ano (APLAUSOS), não devemos perder tempo em fazer um grande esforço por criar esse espírito comunista na juventude.
O quê acontece muitas vezes e que resulta deprimente? Tira-se um quadro dos Jovens Rebeldes, um rapaz desenvolvido, que tem uma grande consciência, mas tem 18 anos, é solteiro, levam-no a trabalhar em um ministério; ali existe uma escala de salários, e de repente um rapaz de 17 anos, ou às vezes até de 16 ou 18 anos, tanto faz, solteiro, o colocamos a trabalhar, e em virtude da escala de salário começa a ganhar 500 pesos porque lhe deram um cargo importante. Isso faz revolucionários? Isso cria espírito comunista? (EXCLAMAÇÕES DE: “Não!”) Não. E se mais adiante ele se casar com uma moça que, talvez tenha também salário alto, entre os dois ganhariam 1 000 pesos. E acontecem muitos desses casos.
O quê criamos com isso? Criamos um cidadão que se acostuma a receber muito mais do que necessita, e a fórmula do socialismo é: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo seu trabalho”; a fórmula clássica do comunismo é: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas sus necessidades”. Mal poderemos fazer um comunista desse jovem que sem ter essa necessidade… Porque outro caso seria que esse mesmo jovem tivesse sete irmãos, órfão de pai e mãe, e ele tivesse que sustentar toda a família, e coloca a situação; mas se o pai e a mãe estão ganhando dinheiro e ele não tem outras necessidades, não corrompemos esse jovem? Ou, se não o corrompemos, não o acomodamos a uma renda muito mais além de todo o que necessita? Assim não fazemos revolucionários, assim não fazemos comunistas.
É preciso criar um espírito mais revolucionário perante o trabalho, perante os semelhantes, perante todo o povo, perante a sociedade e perante a vida. Devemos fazer isso, e devemos fazê-lo com os jovens.
Bom, temos tido problemas, os salários foram aumentados, deram-lhes melhores rendas mais do que satisfatórias a certas categorias de técnicos. Mas nos novos rapazes, os que agora estão no ensino secundário, os que alfabetizaram, que em breve estarão no pré-universitário e depois na universidade, e depois, talvez muito novos, com 20 ou 22 anos, quiçá já especializados, talvez em cirurgia ou em qualquer outra coisa, em qualquer especialidade, ele e aliás a companheira com a que talvez casou na carreira ou terminando a carreira, ele ganhando 800 pesos e ela outros 800 pesos, mil seiscentos pesos! Isso é espírito revolucionário?
Nos jovens que começam —está bem os que já estão formados, e inclusive os que ainda estão nesse trâmite universitário—, em toda esta geração, em todos esses
60 000 bolseiros, vamos ou não vamos começar a criar uma atitude verdadeiramente revolucionária, uma atitude mais elevada, mais generosa, e mais revolucionária perante a sociedade e perante a vida? (APLAUSOS.)
Estas são as questões que sinceramente nos preocupam, e são questões que sinceramente devemos começar a colocar e a fazer, para criar uma sociedade nova, uma geração nova, sem egoísmos, sem individualismos antissociais; a geração que vai viver na sociedade da abundância, onde se lhes vai poder oferecer a todos tudo o que precisarem com o esforço e o trabalho de todos.
E que melhores condições para fazê-lo que as condições que rodeiam a esta juventude? Juventude que sem importar quanto ganha seu pai, nem as rendas de sua família, nem quantos irmãos tem; juventude que, simplesmente, pelo fato de ser jovens, pelo fato de viver neste país, pelo fato de desejar superar-se, ser úteis a sua pátria, sem importar nem as rendas —repito—, nem a situação da família, recebem uma bolsa de estudo, vêm à capital ou seja lá onde for, vão estudar nos mais régios estabelecimentos de ensino, moram nas mais cômodas mansões, têm a roupa, os sapatos, a alimentação, a assistência médica, todos os serviços educacionais, todos os serviços culturais, todos os serviços recreativos; porque temos envidados esforços, o povo está envidando esforços para que a essa juventude não lhe falte nada (APLAUSOS).
Hoje de manhã, nesta manhã, em uma reunião de dirigentes operários, onde se fazia entrega ao Comitê Executivo da CTC de mais de 300 casas em um antigo bairro de veraneio e de férias das classes dominantes, e que hoje têm passado às mãos dos trabalhadores, ao falar diante daqueles operários, pais de família, foi para nós de uma extraordinária significação, ali mesmo, junto de uma dessas escolas onde há 5 000 jovens estudando, onde antes não podia nem sequer transitar o cidadão; quando falávamos de tudo o que aquilo significava para o futuro da pátria, quando lhes perguntava se alguns deles tinham familiares ali, ao ver que muitos erguiam a mão, foi para nós de uma grande satisfação ao falar —repito— de que valia a pena o esforço que se estava fazendo, e que se tínhamos que passar fome para que essa juventude crescesse forte e saudável, estávamos dispostos a passá-la (APLAUSOS). E para nós foi de uma grande satisfação ver aquele estalido de entusiasmo e de aprovação.
Satisfação que se acrescentou quando mais adiante, ao nos deterem junto de uma construção onde havia meia centena de operários, conversando com eles lhes perguntamos se tinham algum familiar entre os estudantes bolseiros; e aqueles humildes operários da construção quase todos levantaram a mão, porque um tinha um filho, outro tinha dois, outro tinha um sobrinho, outro tinha um irmão; o outro tinha a namorada estudando no Nacional, na Escola de Domésticas, estudando taquigrafia e datilografia (APLAUSOS). E, praticamente, não havia um que não tivesse um familiar mais ou menos achegado.
Era a classe operária, essa classe que produz, essa classe que trabalha, e essa classe que sente tão profundamente a Revolução e que vê bem perto dela o que a Revolução significa.
Que melhores condições que essas —dizia— para forjar revolucionários, onde os jovens o recebem tudo, porque a sociedade e o povo trabalhador lhes dá tudo? E ali vão estudar conforme sua capacidade, e vão receber conforme suas necessidades. Inclusive, desde agora são estudantes que praticam uma espécie de fórmula comunista: cada qual estuda segundo sua capacidade e recebe segundo suas necessidades (APLAUSOS).
Que melhores condições e que melhor escola revolucionária? Que melhores condições para desenvolver, impulsionar o espírito revolucionário dos jovens, o verdadeiro espírito revolucionário, a convicção e a consciência, o conhecimento profundo, a preparação?
Temos escolas de instrução revolucionária onde estudam às vezes 45 dias, outras vezes três meses, quatro, oito. Se podemos dar oportunidade aos jovens de estudar marxismo não três meses, não um ano, mas cinco anos, sete anos, oito anos, desde o ensino secundário, desde o pré-universitário, desde o instituto tecnológico e desde a universidade (APLAUSOS). E forjar de forma maciça, criar de forma maciça quadros revolucionários, com o verdadeiro espírito revolucionário, com a profunda convicção de um verdadeiro revolucionário que sabe pensar, que sabe discutir, que tem uma convicção, que tem uma disciplina, que tem uma consciência nova, uma atitude nova perante a vida.
Esse é o revolucionário que nós queremos; esse é o revolucionário que nós queremos na organização política da Revolução, esse tipo de homem que seja exemplo; esse núcleo que tenha autoridade não simplesmente porque seja núcleo, mas porque seja exemplo; que tenha autoridade não porque a imponham a ninguém, mas porque todo o mundo a reconheça. Porque quem quiser passar por revolucionário sendo um vago, não irá ganhar o respeito de ninguém (APLAUSOS); quem queira passar por revolucionário sendo um privilegiado, não irá ganhar o respeito de ninguém.
E por isso deve-se ganhar a autoridade que dá o exemplo, que dá a conduta. E assim têm que ser as células. E não descansaremos, companheiros, nem devemos descansar, na incessante luta porque no aparelho político da Revolução, no Partido Unido da Revolução, se juntem os melhores homens e mulheres da pátria.
E que à organização juvenil da Revolução pertençam e militem os melhores jovens da pátria, os mais disciplinados, os mais cumpridores, os mais estudiosos, os mais abnegados, os mais trabalhadores, o melhor da nossa juventude; e que seja uma honra, uma altíssima honra, honra sempre, satisfação sempre.
Esse é o prêmio a que devem aspirar a receber os revolucionários: a satisfação de quem cumpre com seu dever de homem, de quem cumpre com seu dever para com a sociedade e para com a pátria.
Privilégios jamais! Guerra ao privilégio! Guerra a tudo o que for fraqueza, a tudo o que for acomodamento!
A Revolução tem integrado sua Direção Política; a Revolução tem avançado no campo da organização. Agora devemos seguir marchando adiante como uma seta disparada rumo ao futuro, trabalhando bem, selecionando o melhor, pondo fim a essas coisas minúsculas, a este tipo de sectarismo oco e vão, inútil.
Guerra a esse sectarismo, que leva ao privilégio, que leva ao pântano! Devemos sair desse pântano imundo de um sectarismo miserável! E comecemos, companheiras e companheiros, comecemos a fazer o que a história espera de nós, o que a pátria espera de nós, o que América espera de nós, o que o mundo espera de nós (APLAUSOS), com espírito verdadeiramente revolucionário, com espírito verdadeiramente novo, com espírito verdadeiramente criador, onde a pedra de toque de cada homem e de cada mulher da pátria seja o mérito, seja o espírito de sacrifício, seja a consciência revolucionária, seja o amor à Revolução!
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(EXCLAMAÇÕES DE: “Venceremos!”)
(OVAÇÃO)
VERSÕES TAQUIGRÁFICAS