Fragmento da mesa-redonda informativa sobre os acontecimentos na Embaixada do México, com a participação do Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, nos estúdios da Televisão Cubana, em 5 de Março de 2002, "Ano dos heróis prisioneiros do império"
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Comandante – Desejaria fazer primeiro um comentário: dizer que acompanhei estas mesas-redondas durante muito tempo, e que foi ontem que se analisou um problema com mais clareza e precisão. Depois, lamentei muito, quando soube que os fortes ventos que passaram ontem pela cidade haviam interrompido o fornecimento de energia elétrica em muitos pontos. Por isso, inclusive, sugeri que fosse repetida, mas sei que ainda agora, ou pelo menos ao meio-dia, muitos problemas não estavam resolvidos, e neste momento é ainda uma incógnita quantas pessoas estão escutando esta mesa.
De fato, tornei a vê-la hoje, porque, como havíamos combinado que daria algumas opiniões, queria ver que pontos vocês haviam destacado e onde podia haver algum detalhe para cujo esclarecimento eu pudesse contribuir.
Ontem, falou-se, por exemplo, da reunião de Castañeda com os dissidentes. Sobre isso, devo dizer o seguinte:
Nas semanas anteriores à visita do Presidente Fox a nosso país, que foi muito bem recebida por todos nós e que muito nos alegrou, os Estados Unidos já desenvolviam sua cruzada habitual com relação à reunião de Genebra – que é, como alguém disse aqui, sua obsessão. Naqueles dias, desenvolviam uma intensa campanha na esfera latino-americana, porque, como sua manobra vem se desprestigiando e tiveram que pagar um alto preço, como aquela humilhante decisão de não ser eleito membro da Comissão de Direitos Humanos, sem que se soubesse quem votou, porque essa votação não era aberta, os desejos de vingança são grandes, e estavam elaborando um plano na América Latina, contra Cuba em Genebra.
Aqui já se discutiu sobre esse tema, mas não pareceu prudente dizer tudo. Para mim, basta dizer que nós conhecemos todas as manobras que o Departamento de Estado fez neste hemisfério, todas as conversações e todas as pressões; para dizer algo mais, toda a conspiração, e com quem contam e com quem não contam – uma pontinha do iceberg foi aquela vez que o cavalheiro Ministro de Relações Exteriores da Argentina, que é o paradigma do neoliberalismo, saiu correndo para Washington, para vender Cuba como se fosse uma mercadoria; bem, há aqueles que a vendem todos os anos, e faz tempo que existe essa prática – e analisou-se, mas não se disse tudo. Não vou agora, aqui, revelar tudo que sabemos sobre esse tema.
Alegrou-nos muitíssimo a oportunidade da visita de Fox. Digo que nos agradou, foi um gesto realmente novo. Em geral, os presidentes mexicanos nos visitavam ao final de seu mandato; ele, desde o princípio, disse que faria uma visita rápida a Cuba; evidentemente estava convidado, porque se supõe que, quando um presidente do México deseja vir a Cuba, nossas portas estão abertas. Quase dou risada pela frase "portas abertas". Então, alegramo-nos muitíssimo quando tomou essa decisão, porque para nós era uma oportunidade para analisar muitos temas de interesse econômico, cultural, internacional; há muitos temas.
É preciso considerar, por exemplo, que o México agora é membro do Conselho de Segurança, por um período de dois anos, e que quando apresentou sua candidatura, ninguém teve de pedir nosso apoio ao México, porque, de forma espontânea, demos nosso apoio ao México, e sabemos que o Presidente Fox apreciou muito esse gesto, que lhe transmitimos diretamente.
Além de todos esses assuntos de interesse comum e de problemas que são internacionais, desejávamos ter a oportunidade de discutir esse assunto relativo a Genebra, e conhecer bem quais era suas posições, expor as nossas e, efetivamente, assim fizemos. Nossas conversações, tanto as oficiais, das quais participaram várias pessoas, como as pessoais, foram muito boas, e tivemos oportunidade de expor nossos pontos de vista.
Nesse mesmo dia, embora, como vocês sabem, a visita tenha sido muito rápida, eu o acompanhei a diferentes lugares, estive com ele quase todo o tempo, desde que pôs a oferenda no monumento, e fomos a distintos pontos: a Havana Velha, à área onde está nossa usina elétrica de ciclo combinado, que funciona com o gás que acompanha nosso pesado petróleo – pesado, mas muito útil, já que está se convertendo na fonte energética de toda a nossa eletricidade, porque, de outra maneira, custaria muito mais, à base de fuel – e até aí o acompanhei, depois de Guanabo.
Pelo caminho vim conversando, havia lhe falado sobre a mãe de Leal, uma pessoa muito abnegada, muito sacrificada, muito querida por todos nós, e até lhe sugeri que, tanto quanto a condecoração, Leal se comoveria com uma visita sua à mãe; disse-me que sim e até fomos fazer a visita.
Depois fomos até o CIREN, onde um numeroso grupo de mexicanos recebe atendimento médico, com grandes resultados. Aí aconteceu um ato comovente, a que compareceram muitos dos doentes. Depois, deixei-o por alguns minutos, pode-se dizer que até que nos encontramos à noite, quando estava programada uma conversa particular. Em realidade, houve muitas, visto que ao longo dos trajetos íamos conversando sobre temas variados, e tudo em excelente clima, que se manteve até o final.
Felipe também tinha algumas conversas, pela tarde, com o chanceler.
Não me lembro agora da hora exata, mas mais ou menos à hora prevista nos reunimos em meu gabinete, ele e eu. Aí tivemos também uma boa conversa, tudo com muita franqueza.
Em todo o período de preparação do programa, nunca nos disseram uma palavra sobre uma provável reunião com os famosos "dissidentes", fabricados pela propaganda, dirigidos pela Repartição de Interesses dos Estados Unidos, eternos convidados aí, que desfrutam uma esplêndida vida, visto que os fundos para isso são os milhões que a USAID e outras instituições com fins similares invertem, e cada vez que um personagem ilustre nos visita, eles utilizam o mecanismo de fazer pressões públicas, independentemente das que fazem por outras vias, é quase uma exigência reunir-se com os cabecilhas dos grupelhos. Não pode vir ninguém aqui, qualquer que seja seu nível político – norte-americano ou de outro país – que não lhe exijam uma reunião, porque é a maneira de manter essa ficção.
Tais sujeitos são pessoas bastante ligadas a essa rádio mercenária, cujo simples nome é um insulto para nossa pátria, insulto cada vez maior, à medida que nosso povo e nossas crianças conhecem a Martí. Sempre em permanente contacto, violando leis, ninguém se esqueça disso; violando leis discutidas e aprovadas pela Assembléia Nacional de Cuba, oferecendo informação falsa, fazendo campanhas, sempre em sintonia com a política do império contra Cuba, em tudo, nas cínicas manobras de Genebra e em toda a política imperialista contra a nossa pátria; e andam ligados à máfia terrorista de Miami, disso também não podemos esquecer.
Agora que no mundo se fala de terrorismo e até os reúnem e os enviam para uma base naval norte-americana, adquire especial significado, diante da consciência mundial, o que é o terrorismo, e em nossa pátria ninguém ignora todas as maldades cometidas contra ela, a partir de Miami, onde estão permanentemente favorecendo e financiando crimes contra nosso país. Dezenas de anos de terror contra nosso povo, fatos totalmente tolerados pelos Estados Unidos ao longo de mais de 40 anos, assim que é um pouco difícil mostrar como pessoas com critério próprio a mercenários que servem a essa política, que se disfarçam de uma coisa e de outra, e que querem isso, publicidade muitas vezes, ou fazer o papel de vítimas; provocadores permanentes, tergiversadores e mentirosos permanentes em tudo que se refere a Cuba; mas é a única coisa que o império tem aqui, como uns peixinhos em um aquário sem água, porque realmente não há água em que se sustentar. Não será nas águas de um povo cada vez mais revolucionário, e com cada vez maior cultura e conhecimento, que estará o oxigênio para esses peixinhos coloridos, além do mais, muito conhecidos além da fronteira de nosso país, muito conhecidos de forma artificial no exterior. É bom que se sublinhe, porque é um mecanismo montado por eles. São dirigidos pela Repartição de Interesses dos Estados Unidos, que os convoca e paga de mil maneiras diferentes.
Ah! é o tributo que cobram a todo visitante que vem.
Não vou dizer que tenha um conceito de Fox como homem débil, homem sem caráter, pelo contrário. Tenho dele a impressão, e não hesito para afirmá-lo, de que é um homem que tem um senso de dignidade pessoal, é um homem de caráter, e, para mim, é evidente que ele, que conhece a nosso povo, não estaria propenso a exercer um papel que absolutamente não lhe agrada. Mas a fórmula que apareceu à última hora, sobre a qual não nos disseram uma palavra, foi a fórmula de um café da manhã.
Alguém tem de haver elaborado esse programa, alguém inventou esse café da manhã, e, naturalmente, ele é um homem absolutamente livre, pode viajar aqui e podem dizer-nos: "Queremos isto, queremos aquilo, desejamos este programa e mais aquele", porque aqui não andamos impondo restrições a nenhum de nossos visitantes, e ainda menos perdendo o sono por uma coisa que lhe impuseram como forcas caudinas – essa é uma expressão que vem da época de Roma, quando os prisioneiros eram atravessados sob uns arcos ou alguma coisa assim, como humilhação –; converteu-se em um instrumento de humilhação e em uma complicação para todos os visitantes, que não sabem o que fazer, como fazer. Às vezes nos dizem, ou não dizem, mas isso é aplicável a todos os visitantes, de direitas e de esquerdas. E desta maneira conhecemos a muitas esquerdas, inclusive, e sobretudo, algumas esquerdas européias, das quais exigem o tributo: "Ah, sim, está bem; mas olha, passa por aqui", e obrigam homens ilustres e destacados a passar por momentos penosos; depois se reúnem comigo e caladinhos têm alguma coisa, o Repartição de Interesses organizou algo, se é norte-americano, um almoço ou alguma outra coisa para reuni-los.
Eles se encarregam disso, os organizadores de todos os encontros com os visitantes, fundamentalmente o Repartição de Interesses, e também pressões de cima.
Vou isentar Fox de um ato desleal, não considero que o ato fosse desleal, mais exatamente rendo tributo ao cuidado com que manejou uma entrevista que alguém inventou; mas ele é um homem sério, honrado. Fala-me do tema antes do jantar, quando temos aquela reunião, e explica-me que no dia seguinte teria um café da manhã na Embaixada, onde cumprimentaria os empregados da Embaixada do México, e que ali os famosos dissidentes teriam uma reunião com Castañeda, e que ele iria cumprimentá-los, nada mais. E, de fato, foi o que ele fez, cumprimentá-los; mas os cabos no exterior depois falavam da famosa reunião em Havana com os inimigos da Revolução, de todos os temas de que havíamos falado, porque esse é o mecanismo criado.
Eu simplesmente lhe disse: "Veja, você não vai ter nenhum problema comigo por isso; minha preocupação é que, por este ser um tema muito sensível para nossa população, isso pode prejudicar sua imagem diante de nosso povo, por esse contacto", foi o que lhe disse. E também reiterei: "Comigo você não vai ter problema".
Depois, no dia seguinte, apareceram também alguns mal-entendidos, porque os cabos publicaram que me havia entregado uma lista de presos. Realmente, isso de lista de presos faz tempo que foi ficando para trás, porque antes cada um que vinha –fosse de Europa, Canadá ou onde fosse –, recebia dos Estados Unidos uma listinha de presos pelos quais advogar, uma forma de estropiar a visita aos visitantes e de fustigar-nos, incomodar-nos com sua listinha de presos. Mas já faz tempo que dissemos que as listinhas de presos se acabaram aqui, definitivamente e para sempre; passaram à pré-história, e já dissemos de maneira bem clara: Aqui não há lista de nenhum tipo; podem trazê-las, mas eu realmente nem olho.
Os cabos imputam a Fox haver-me entregado uma lista de presos. Eu tive de esclarecer que Fox não me havia entregado nenhuma lista de presos, nem me havia falado do tema. É um homem com suficiente tato, tem senso de diplomacia, e realmente entregou – não a mim – a Felipe, que o acompanhou até o aeroporto, uma listinha. Os cabos diziam que me havia entregado uma lista de presos, e como isso não se ajustava estritamente à realidade, expliquei que comigo não tinha nem falado disso, nem havia me dado nenhuma lista de presos.
Pela listinha, podemos saber em quem o império tem mais interesse, quais são seus presos mais queridos, embora pouco lhes importe o destino de seus mercenários.
Agora, nós também poderíamos enviar uma listinha aos que viajam aos Estados Unidos, mas não mandamos listinhas, e sim falaremos todos os dias de nossos queridíssimos e heróicos presos, Heróis da República de Cuba, que de maneira impiedosa foram transferidos a prisões distantes; sem razão, inclusive, são mantidos em celas solitárias até que finalmente chegam ao lugar definitivo, e tem de ver que duras condições de vida esperam a esses companheiros, cada um a milhares de quilômetros do outro, absolutamente incomunicáveis entre si. Mas não precisamos de listas, nós, com a verdade na mão e com toda a razão na mão, é que reclamamos a liberdade de nossos heróicos presos, porque esses são heróis e não mercenários, verdadeiros patriotas e não traidores.
Assim que, por motivo da visita e das intrigas ianques, foi necessário fazer alguns destes esclarecimentos; mas, por sua vez, o presidente Fox me disse, como também o senhor Castañeda disse a Felipe, que o México não promoveria, nem propiciaria, nem apoiaria nenhuma manobra contra Cuba em Genebra. Disse assim, disse-me com muita dignidade e muita segurança.
Visto que falamos de muitos temas, esquecemos o assuntinho da reunião, porque aquela reunião não tinha nenhuma importância, nem a questão da listinha. Comparado com nossa satisfação pela visita, com os temas que abordamos, aquilo era insignificante. Não existia a menor razão para que surgisse o mínimo atrito, que não surgiu; pelo menos para nós, não surgiu nenhum atrito de nossa parte.
Sim, foi necessário, no dia da inauguração da Feira do Livro, explicar à imprensa que ali estava alguns detalhes relacionados com a famosa lista, que eu não havia recebido e sobre a qual ninguém me havia dito nada com antecedência, e também um pouco relacionado com a estranha frase do chanceler, de que desde aquele momento as relações com a Revolução Cubana se haviam rompido e que daí em diante haveria relações com a República de Cuba. Eu fiz alguma reflexão. Como puderam separar-se, se aqui existe república verdadeira desde que existe Revolução? Aquela caricatura de república, como se poderia chamar de república?
A república em Cuba é inseparável de nossas lutas e das lutas de nossos mambises, durante tanto tempo no século passado, e das proezas de nosso povo durante mais de 40 anos, que não tem paralelo na história, por sua capacidade de resistir e de fazer coisas que nos situaram acima de qualquer outro país do mundo, e de dispor hoje das condições para fazer o que, com mais força, mais intensidade e mais convicção que nunca, estamos fazendo agora. Como se pode separar isso da Revolução? Não vimos grande transcendência na frase, uma frase mais, uma frase menos; mas não se deve andar brincando com as frases.
Depois vem o incidente de Miami, e volta com a famosa história ininteligível. O fato de que vocês aqui tenham mencionado uma frase estranha foi tomado pela máfia de Miami e alguns amigos seus, no próprio México, para sugerir a idéia de que nós havíamos inventado essa penetração na Embaixada, como se isso pudesse ser inventado. Nem que fôssemos adivinhos e tivéssemos 25 bolas de vidro, para saber que ali, em um ato do qual nem sequer tínhamos notícias, em que se inaugurava a Casa da Cultura Mexicana, e onde se ia inaugurar também um consulado, aconteceria aquele discurso.
Podia haver muita gente decente e honrada naquele lugar, mas o certo é que havia também uma praga de terroristas na inauguração. Não sei, realmente, o que têm que ver os terroristas com a cultura. Ontem vocês fizeram piada com relação à rádio subversiva, não sei em que momento, buscando professores para que lhes ensinassem geografia de Cuba, porque não sabem nem como é a geografia de nosso país, o número e a localização das províncias, muito menos após a Divisão Político-Administrativa. Eles não devem ter sabido disso, nem dos Poderes Populares, da mesma maneira que não sabem de eleições, nem de delegados de circunscrição, isso é horrível de lhes explicar, porque eles não sabem nada, senão fazer os mortos votarem e bandalheiras eleitorais, campeões olímpicos de tudo isso. Nada que tenha a ver com a cultura. O autor do discurso estava muito vaidoso; muito vaidoso e muito feliz.
Nós não dizemos – quero esclarecer categoricamente – que Castañeda tenha responsabilidade no que aconteceu; nós temos dito que suas palavras foram manipuladas. Creio que vão por aí minhas primeiras declarações: "As palavras proferidas na noite anterior pelo senhor Castañeda foram imediatamente tomadas pela mal chamada Rádio Martí e cinicamente manipuladas".
Os cavalheiros dessa emissora do governo dos Estados Unidos defenderam-se de certas afirmações de Castañeda, que disse que tinha havido um uso indevido, ou alguma coisa assim, de suas palavras, dizendo que eles não tinham mudado nada do que disse Castañeda, que o que eles fizeram foi transmitir textualmente o que disse Castañeda. Mas, realmente, as palavras foram manipuladas, e manipuladas de maneira que lhes mudou o sentido.
Castañeda é amigo da literatura, de escrever e proferir frases para a história – talvez, não?, digo eu – sempre há uma fraqueza que temos todos os que dizemos ou escrevemos algo. Usou outra vez sua famosa frase de que se haviam rompido as relações com a Revolução Cubana, para substituí-las pelas relações com a República de Cuba. Como a repetiu ali, e tenho a mais absoluta convicção de que não foi em conchavo com a máfia terrorista de Miami, nem com o governo dos Estados Unidos, que pronunciou essas palavras, então não dizemos que tenha responsabilidade sobre isso.
Os outros tomaram as frases e realmente as manipularam, e manipularam-nas de forma a dar-lhes um sentido totalmente diferente: "portas abertas" – por isso eu ri. Portas abertas é uma expressão que se usa.
Que fez a rádio gusana? Tomou a frase e desde muito cedo, desde as 7h 30min, começou a repeti-la, a repisá-la – já se explicou aqui –, cerca de oito vezes. Lázaro falou de não sei quantas vezes mais.
Randy Alonso – Sessenta notícias sobre esse princípio.
Comandante – No dia 27, que a repetiram. Mas entendi que foram subindo o tom, e pela tarde já falava – isso a que você se referiu hoje, que você mencionou –: "As portas da Embaixada do México estão abertas para todos os cubanos", é a frase exata, não?
Randy Alonso – " ‘As portas da Embaixada mexicana em Havana estão abertas a todos os cubanos’, diz em Miami o chanceler mexicano, Jorge Castañeda."
Comandante – O que põem é o título. Muitas vezes os títulos – é uma forma de manipular – não têm nada a ver com o texto; mas. além disso, estava precedido pelo uso da famosa frase, de que as relações do México com a Revolução Cubana haviam sido rompidas. E o que é que começa a chegar aos ouvidos de muita gente que tentaram se meter aí?, que não são políticos, nem lêem jornais, e muitas vezes nem escutam nenhuma rádio; o que chegou a muitos deles foi o rumor, e o rumor é de que as relações entre México e Cuba se haviam rompido e de que as portas da Embaixada estavam abertas para os cubanos.
Essa foi a intenção, essa foi a perfídia, a manchete e a manchete; aí já não era questão de transcrição, mas de utilização de duas frases, uni-las em manchetes e repeti-las várias vezes, com outro sentido. Foi no que as pessoas acreditaram, sabemos disso, porque lhes perguntamos como chegaram as primeiras notícias. E devo dizer que as primeiras notícias sobre esse fato chegaram quase ao meio-dia. As pessoas se perguntam: Bom, mas quando saíram essas notícias? Aqui, geralmente se recebem todos os dias tantas barbaridades e tantas mentiras, que o que se faz é recolhê-las por dois monitores diferentes e fazê-las chegar a quem correspondam rotineiramente. Na embaixada havia dois guardas ao meio-dia; mas apareceram por ali nove indivíduos um pouco suspeitos; nem os guardas, nem ninguém quase, sabiam que tinha sido dada aquela notícia, e como a mentira é coisa habitual, mesmo quem sabia prestou-lhe uma atenção relativa.
Dois guardas vêem aqueles indivíduos, que lhes parecem suspeitos, e lhes perguntam o que estão fazendo ali. Dizem: "É que foram rompidas as relações entre México e Cuba, e disseram que as portas do México estão abertas a todos os cubanos; nós queríamos saber o que estava acontecendo, para entrar na Embaixada do México." Mas ao mesmo tempo uma pessoa, uma funcionária da sede, informa que durante toda a manhã tinham chamado perguntando-lhe se era verdade que tinham direito a asilo ali. Isso foi à uma da tarde, mais ou menos, é quando enviam um pequeno reforço, pode-se dizer, à Embaixada. Creio que os primeiros enviados ali foram 20 pessoas para reforçar a proteção, entre os quais estavam os que são do regimento de guardas das embaixadas. Isso foi durante o dia;mas tenho de voltar a isto, quando analise outro tema. Cheguei ao ponto em que se fez, mas isso será mais adiante.
Creio que isto esclarece e em nada altera nosso conceito do presidente Fox, nem a apreciação sobre sua viagem, ou sobre seu gesto de visitar-nos, para discutir coisas de interesse comum e coisas de interesse da América Latina e também de interesse mundial, porque hoje é membro do Conselho de Segurança, e o México teve, historicamente, em determinado momento, um papel destacado na política internacional. Quero ir separando as coisas, e não estou acusando a Castañeda, pelo contrário, estou isentando-o de culpa, porque não creio que ele tinha intenção de fazer isso, nem que se tenha colocado de acordo com a emissora subversiva para fazê-lo.
Diferenças políticas e ideológicas à parte, não tenho nenhuma intenção de ofendê-lo nem de culpá-lo, mas de explicar quê mecanismos produziram o problema, a verdade verdadeira; porque há tantas verdades entre aspas neste mundo, e tantas mentiras que aspiram à credibilidade, que não tenho outro remédio, se vamos falar, senão explicar a verdade verdadeira, como devemos falar à nossa população.
Bem, e o que acontece no dia 27? Já lhes disse uma pequena parte, como os guardas praticamente percebem ali que está acontecendo algo estranho.
E quando foi que eu tive notícias – vocês poderão rir – de que havia problemas na Embaixada do México? Simplesmente, tive notícias sobre os incidentes da Embaixada do México às 22h 55min da noite desse dia 27.
Todos sabemos que temos muito trabalho, atendendo a visitas, delegações, conversações, não aparecem nos jornais. Nesse dia, eu tinha uma reunião, e já estava reunido desde as 20h 20min, com uma delegação chilena, encabeçada pelo que foi candidato à presidência do Chile nas últimas eleições e que será, sem dúvida, o futuro candidato nas futuras eleições daquele país, com boas possibilidades. Bem, isso não é assunto nosso, quem é candidato ou quem não é, ou a ideologia de direita ou de esquerda, segundo essas variadíssimas e às vezes confusas denominações. Porque já falamos de alguns de esquerda que vêm aqui, mas com os olhinhos postos lá, mirando para o Norte e dispostos a todas as complacências havidas e por haver. Esta delegação vinha presidida, fundamentalmente, por dois prefeitos de Santiago do Chile, um deles do Partido da União Democrática Independente, UDI, e outro de, Renovação Nacional.
Nós já tivemos relações com diferentes líderes de esquerda e de direita neste mundo, e muitas vezes é porque vêm a Cuba, interessados em conhecer alguma experiência, outras, porque necessitam de alguns serviços médicos, e nós não podemos perguntar a ninguém: Como você pensa?, e dessa maneira conhecemos a muitas pessoas, sim, inclusive de direita, como também conhecemos de esquerda; são pessoas sérias, e você tem de admiti-lo, ainda que estejam a mil léguas e que você não coincida nem compartilhe em nada sua ideologia. Ah! mas há muitas coisas sobre que conversar neste mundo, além da política.
Ao próprio presidente Fox, eu havia conhecido há quatro anos, quando era governador do estado de Guanajuato; estivemos seis ou sete horas conversando, e era sobre problemas ecológicos, do estado, os problemas da agricultura, a seca e um monte de coisas que são de interesse de um governador: desenvolvimento tecnológico, mercados e problemas de todo tipo, disso falamos muitíssimo, interessou-se por muitas coisas, a ponto de que quando o elegem presidente declara que iria pedir a colaboração de Cuba em educação, saúde e esportes, porque era o país que mais experiência tinha. Primeira vez na história do México que um presidente, com modéstia, faz tal declaração. Creio que foi objetivo, porque nós acreditamos que sim, que temos e melhor sistema de saúde, o mais justo, o mais eqüitativo, e de educação e de esportes, do mundo; não hesito em dizê-lo, e não é nada, porque são campos, especialmente medicina, educação e cultura, em que vamos continuar avançando consideravelmente.
As proezas que nosso país já pode fazer no campo da medicina, o enorme capital humano com que conta, nenhum outro país do mundo tem; profissionais capazes de viajar a qualquer lugar do mundo, por difícil que seja, que não têm os demais. Se juntamos Europa e Estados Unidos, para atingir a quantidade de médicos que temos prestando serviços integrais da saúde, não conseguem reunir. Os médicos que conseguimos reunir em uma semana, eles não conseguem nem em dez anos, e se podem reuni-los, é no máximo por quinze dias, e um quinto do que temos neste momento e que não significa nosso potencial total de saúde. Bem, foi honesto.
Neste caso, o prefeito de Santiago do Chile, que é presidente da UDI, Joaquín Lavín, por iniciativa própria, propôs realizar uma visita a nosso país para estudar o sistema de médico da família. Imediatamente, demos-lhe uma resposta positiva: "Sim, claro, com muito prazer". E assim se realizou a visita que coincidiu com esse dia; seu interesse número um era esse. E, claro, em qualquer reunião, você pode abordar qualquer tema, nós não proibimos ninguém de abordar o tema que o visitante queira, e foi atendido, como nós atendemos aos visitantes, com a hospitalidade requerida.
Nessa noite íamos ter uma conversa, eu já o havia visto, porque tinha visitado a Escola de Trabalhadores Sociais, e eu estive ali, interessado na explicação, já que uma escola assim, sozinha, não se pode entender, senão está enquadrada em um programa, que é um trabalho social, e que tarefas tem. A Escola de Trabalhadores Sociais é parte de um programa social muito ambicioso, e eu tinha interesse em que ele pudesse conhecê-lo.
Já havia estado ali, quando veio Oliver Stone; ele queria visitar uma escola, tínhamos uma reunião ali, foi naqueles dias em que se estavam revezando as escolas que estavam participando na campanha contra o mosquito, a de Villa Clara, a de Holguín e a de Santiago, fui e observei bem. Aí estavam de visita mais de cem norte-americanos, que fazem parte de um movimento de cidades-irmãs dos Estados Unidos e de Cuba, os quais tornei a ver em Matanzas.
Eu, inclusive, contribuí de certa forma para explicar o que era a escola. Aí estava Oliver Stone, mas percebi que as explicações que lhe tinham dado não tinham sido suficientes, era necessário complementá-las com alguns elementos adicionais.
Nesse dia, além disso, eu pretendia convidar os chilenos a jantar, quando terminássemos a conversa. Antes de nos reunirmos, ele me pediu para conversar a sós por um momento, e aquela conversa se prolongou , porque foram abordados outros temas, sempre há temas dos quais falar, até mesmo perguntar que avaliação tem de uma coisa ou outra; qual é seu pensamento sobre um problema ou outro, não para um debate, mas para trocar idéias e conhecer opiniões. Então, a essa hora, Carlitos me toca e diz que recebeu notícias importantes. Saio, e me informam que estavam ocorrendo determinadas desordens na Embaixada do México, e que um ônibus havia entrado violentamente, tinha sido atirado contra a grade da Embaixada do México. Isso foi cerca de 10 minutos após a entrada do ônibus.
Explico-lhe ao visitante que estava ocorrendo um incidente na Embaixada do México, peço desculpas, que posso continuar a conversa no dia seguinte; mas que, se desejavam, podiam esperar que eu me ocupasse do assunto, e lhe disse: "Isso vai tomar pelo menos uma hora". Realmente tomou mais, levou mais de duas horas.
Então – eu também tenho minha cronologia:
"23h 15min, peço aos visitantes que me permitam ausentar-me por pelo menos uma hora."
"23h 16min, saio de meus gabinetes e dirijo-me ao Departamento de Contra-Inteligência da cidade para precisar a situação." Estava perto, estava daquele lado, se sai do Palácio e se vai naquela direção. A Embaixada do México está do outro lado do rio Almendares.
23h 32min, analiso pormenorizadamente a situação com o chefe da Direção Geral de Contra-Inteligência e que medidas tomar", ou que tinham sido tomadas, algumas, e outras novas que era preciso tomar, "e vou reunindo os dados pertinentes para informar à população." Era elementar informar quanto antes a população sobre o que tinha visto. Vou com uma caderneta, colhendo dados. É aí que tenho as primeiras notícias sobre o que tinha originado o problema; as primeiras notícias do que ocorreu, do discurso no Instituto Cultural, cujos primeiros frutos, desgraçadamente, não foram dos melhores, e da manipulação feita pela rádio subversiva, a mal chamada rádio Martí.
Tudo estava claro, claríssimo. Foi feito deliberadamente, e sabiam a que público se dirigiam. Era algo – como se disse aqui – que recordava os fatos de 5 de agosto, quando, por procedimentos similares de mandar notícias de lá sobre uns barcos que vinham recolher, deram origem àqueles motins, às famosas e conhecidas desordens de 5 de agosto.
Vou reunindo os dados, eu ia pondo dados porque ia vendo o que estava acontecendo e anotando, já que era necessário fazer imediatamente uma Nota Oficial. Já tenho os elementos fundamentais. Foi quase igual ao 5 de agosto, da outra vez estava Felipe, desta vez também; da outra vez estava Lage, e desta vez também; no dia seguinte, não, porque houve uma longa reunião do Conselho de Ministros, e estava morto de cansaço por dois dias sem dormir, já na noite de 28. No dia 27, somava-se a nós, desta vez, Carlitos Valenciaga. Éramos quatro, mais José, que ia atrás. Eu me sento onde me sento sempre no jipe. Realmente lamento havê-lo sabido um pouco tarde.
Depois lhes peço que dêem instruções de precisar o que disse cada um, para tê-lo no outro dia, porque ali o máximo que se podia informar era o que tinha acontecido, e depois havia que preparar outros dados para o dia seguinte. Esse dia era quarta-feira, 27, o outro era quinta-feira, 28. Era necessário reunir informação, isso tinha de ser feito a toda velocidade, para que pudesse sair no jornal pela manhã.
"0h 13min" – já passaram vários minutos, desde as 11h 32min, temos essa análise, mantivemos a reunião e coletamos dados –, "faço uma pequena incursão por ali, inclusive converso com alguns dos grupos que davam voltas em torno da embaixada" – foram muito amáveis, para dizer a verdade; mas já eram grupos retardatários; o momento crítico foi, realmente, às 22h 30min, mais ou menos, quando o ônibus penetrou violentamente, a toda velocidade, pela grade –, "continuo até a embaixada e me detenho frente à entrada, por onde penetrou o ônibus. Observo a situação e converso com os responsáveis." Tudo isso pertence ao dia 27. "Despeço-me dos companheiros que estão no lugar e regresso ao Palácio da Revolução."
Randy Alonso – Já é madrugada de 28.
Arleen Rodríguez – Sim, já é o dia seguinte.
Comandante – Então, concluo a nota – mais exatamente, dito-a a toda velocidade – e continuo a entrevista com os convidados que, muito amavelmente, esperaram-me. Eram 2h 55min da madrugada.
Temos o privilégio e a sorte de contar com companheiros que fazem uma nota à velocidade do relâmpago, distribuem-na e a enviam a toda parte. Nisso, Carlitos é o regente da orquestra (risos), por isso, cada vez que o necessito não o encontro, porque está fazendo alguma coisa. Bom, essa é a história do dia 27.
Agora vem o 28. Eu estou tranqüilo, sei que enfiaram o pé até a cintura; estimularam-se entre si e começaram a fazer todos esses disparates, todas essas barbaridades, porque o país que encontraram não era o mesmo país de 1994. Eles não sabem o que enfrentaram. Bem, tranqüilos. Nós, sem qualquer preocupação, teríamos cumprido nosso dever de proteger a Embaixada do México. Já havíamos dito à nossa gente: "É preciso protegê-la a qualquer preço, no peito; não usem armas em nenhuma circunstância, é no peito."
Nesse dia 28 de fevereiro, às 15h 13min – ou seja, às 3 e 13 da tarde –, recebo uma chamada do Presidente do México, muito amistosa, muito respeitosa, para agradecer-me pelo que havíamos feito; referia-se às medidas de proteção da Embaixada no dia 27.
Depois apareceram cabos dizendo que ele me havia agradecido pela questão da evacuação da Embaixada. Não foi assim. Agradeceu pelo que fizemos no dia 27; agradece-me duas vezes, e inclusive me agradece porque estive pessoalmente na Embaixada porque tomamos todas as medidas pertinentes para protegê-la. Uma conversa muito amável, muito amistosa, muito construtiva. Dizia que esperava que se pudesse encontrar uma solução para o problema. A conversa durou alguns minutos. Digo apenas isso, porque é elementar que se deve manter a conversa confidencial; mas ele me chama para agradecer-me pela proteção da Embaixada.
Como continua tudo isso? Bem, aqui há detalhes do que aconteceu pela manhã. Não quero mencionar nomes de funcionários que conversam, não é necessário, porque não queremos prejudicar ninguém, embora fosse legal, normal e correto; mas como isto é público, você pronuncia um nome, e já vêm até ameaças e tudo mais. Dizem-nos que, para o México, é importantíssimo evitar uma crise bilateral, isso nos dizem às nove e meia da manhã. Dizem-no ao Ministério de Relações Exteriores, e que estavam muito aborrecidos com a situação criada na sede: "Para o México, era importantíssimo evitar uma crise bilateral. Houve dolo claríssimo na manipulação das declarações de Castañeda em Miami."
Bem, meio-dia e meia do dia 28. "Chegou a Havana o sub-secretário Iruegas" – subsecretário de Relações Exteriores do México – "que foi recebido no aeroporto pelo Diretor de América Latina da Chancelaria. Segundo disse Iruegas, tinha havido uma evidente manipulação das declarações do chanceler Castañeda em Miami.
"Reiterou que, para o México, estava clara a condição das pessoas que entraram na Embaixada, e que solicitaria nossa ajuda, para que o assunto fosse resolvido da maneira mais discreta possível.
"Iruegas disse que, do aeroporto, iria diretamente para a Embaixada, reunir-se com as pessoas que estavam ali, para sugerir-lhes que abandonassem essa sede e deixar-lhes claro que não se pode viajar ao México aplicando esses métodos.
"Acrescentou que tentaria conseguir que abandonassem a missão por vontade própria e, em caso contrário, conversaria com nossas autoridades, para combinar a forma mais apropriada e discreta, com o uso da polícia de nosso país."
Às 16h 40min. "O Vice-Ministro do MINREX e o diretor de América Latina receberam o Subsecretário mexicano e o Encarregado de Negócios daquele país. O Subsecretário informou que se haviam reunido com as pessoas que entraram na Embaixada e que o que diziam é que o México os ajudasse a sair de Cuba e a trabalhar naquele país. Não aceitaram abandonar a Embaixada." Esses estão muito mal-criados, não aceitam nada, só apoio universal imediato, o que o porta-voz do Departamento de Estado alimenta, vocês o mencionaram: "Ah!, cuidado, que a integridade desses jovens, que México tem de cumprir os direitos humanos, e não se sabe quantas coisas mais", pressionando os mexicanos. Isso todo mundo sabe, já conhecem o truque de cor.
"O Subsecretário informou que disse aos ocupantes que o México se sentia agredido pelo que haviam feito, e que não viajariam àquele país, pois essa não era a forma de entrar na Embaixada." A posição do governo mexicano, irrepreensível e fundamentada.
"O Subsecretário perguntou se poderíamos autorizá-lo a dizer a essas pessoas que lhes dávamos garantias de que poderiam sair e que não lhes aconteceria nada, para dessa maneira tirá-los pouco a pouco em autos da Embaixada." Esse foi o erro, se alguma vez o fizemos, e o fizemos. Isso destrói todo o sistema de proteção das embaixadas e estimula a penetrar pela violência nas embaixadas.
"Foi-lhe respondido que não podíamos dar essa garantia, porque essas pessoas deviam ser processadas pelos delitos que haviam cometido ao seqüestrar um ônibus e fazer uso da força, já que, se essas ações ficavam impunes, estaríamos pondo em perigo a segurança das sedes diplomáticas. Explicou-se que o melhor era que essas pessoas saíssem por sua própria vontade.
"O Subsecretário reiterou que essas pessoas se negavam a abandonar a Embaixada por vontade própria, razão por que destacou a necessidade de que se agisse quanto antes, e sugeriu a possibilidade de fazê-lo na madrugada, de maneira discreta e sem excessivo uso da força.
"11h da noite, o embaixador do México, Ricardo Pascoe, que havia chegado a nosso país às 21h 40min – 9h 40min da noite –, no vôo da Aerocaribbean, procedente de Cancún, chamou o vice-ministro Núñez Mosquera a sua casa, para reiterar o pedido feito pelo subsecretário Iruegas e dizer-lhe que, se fosse necessário, ele podia entregar-lhe uma carta assinada por ele com o pedido."
Nós não havíamos decidido nada, e isso foi às 11 da noite.
"O Vice-Ministro chamou ao gabinete de Felipe, daí se passou a chamada ao gabinete do companheiro Valenciaga. Valenciaga chamou ao Palácio das Convenções, onde eu me encontrava, após haver terminado a reunião com o Conselho de Ministros e os presidentes provinciais e municipais do governo, incluindo os primeiros-secretários do Partido em cada uma das províncias, redigindo nesse momento a segunda nota oficial, onde se incluíam os antecedentes de 13 dos 21 ocupantes da Embaixada mexicana."
Parecia-me muito importante que a opinião pública nacional e internacional soubesse quem eram essas pessoas, porque já durante o dia se havia buscado a identidade e os antecedentes, pois de imediato suspeitei quem eram os autores do assalto; são similares aos que se vão ilegalmente por mar, em virtude da Lei de Ajuste, e em virtude do mesmo privilégio: Lei de Ajuste, então, para os Estados Unidos. Se é delinqüente, é um lugar ideal para roubar, há mais coisas para roubar que aqui; não há dúvida de que alguém que goste de roubar prefere aquele mercado, a este mercado, e aqui o mais provável é que, de uma forma ou de outra, seja descoberto ou sancionado. Porque no mundo já não se sancionam os delitos; o delito está caotizando à sociedade, está ultrapassando–a, os países estão se tornando ingovernáveis. Aqui, pelo menos se sancionam os delitos, e nem todos, é preciso dizer. Mas se analisamos o que acontece, digamos, no México e em muitos outros países, as pessoas se eriçam, assombram-se com o que vêem.
Estava redigindo a nota, porque eu já tinha os antecedentes penais e policiais de 13 dos 21 ocupantes – algo realmente exagerado.
Era conveniente que, antes de continuar o debate sobre o que aconteceu e o que não aconteceu, a opinião pública soubesse quem eram os inquilinos, era preciso torná-lo público; enquanto, por outro lado, tínhamos o pedido de que se agisse rapidamente, o que eu compreendo perfeitamente bem. Parecia-me inteligente essa posição do governo mexicano, porque se o México amanhecia com as notícias... No México há muitas pessoas que são amigas de Cuba, muitas personalidades importantes, de distintas frentes políticas; nós temos amigos de praticamente todos os partidos mexicanos, e são dos que mais se opõem a qualquer apoio do México às manobras dos Estados Unidos em Genebra. Por outro lado, viriam as pressões de todo tipo do exterior, promovendo a impunidade dos agressores.
É indiscutível que, da forma como ocorreram os acontecimentos, das imprudências que se cometeram, no dia seguinte a situação ia ser bastante complicada, e nós desejávamos cooperar com o governo do México. Estávamos preocupados, também, com que não se criassem problemas políticos no México por esse motivo, porque seria sumamente escandaloso e, sobretudo, a partir do momento em que se conhecesse a laia dos que haviam penetrado na Embaixada.
Então, tínhamos dois problemas: um, a necessidade e informar, e outro, a necessidade de uma resposta rápida ao pedido do governo mexicano, cujos representantes esperavam impacientes a resposta, e acabo de dizer, em minha opinião, o porquê da impaciência: desejavam que fosse rápido. Isso também me havia dito o Presidente. Quanto mais se dilatasse a solução, mais se complicava esse caso, mais prejuízo podia causar ao México, e mais problemas dentro do México.
Não tenho que repetir os argumentos, qualquer um compreende, de toda a informação que vocês explicaram aqui e de tudo o que publicam os jornais. Então ia tornar-se, também, um problema dentro do México, e nós absolutamente não desejávamos isso. Mas era essencial que isso fosse informado, porque depois continuaria a discussão em torno disso. Insistíamos em que os persuadissem, porque não queríamos usar nosso pessoal nisso; mas ainda não havia uma resposta nossa ao pedido.
"12h da noite. O Embaixador do México voltou a chamar o Vice-Ministro do MINREX, para dizer-lhe que já tinha a carta pronta e perguntar-lhe como podia fazer para entregá-la.
"O Vice-Ministro respondeu-lhe que às 0h 30min o receberia na Chancelaria, e imediatamente informou a Felipe, que o orientou a receber a carta.
"0h 30min" – já era sexta-feira, primeiro de março, o ano não é bissexto –: "Ao sair do Palácio das Convenções, consultam-me sobre receber ou não a carta que o Embaixador mexicano solicitava entregar. Do carro, chamo a Carlos, pergunto-lhe qual é exatamente a consulta e digo que Núñez Mosquera deve receber a carta" e acrescento que isto seja informado imediatamente – Felipe, por seu lado, já havia feito o mesmo – eu não sabia que Felipe já havia dado instruções, eu lhe digo o que deve dizer-lhe – "que receba o documento e que lhes diga que não se impacientassem com relação à medida que desejavam fosse aplicada rapidamente.
"0h 35min. O Embaixador do México, junto com o Subsecretário daquele país, entregaram a nota ao Vice-Ministro do MINREX e ao diretor de América Latina, com a solicitação expressa de desocupação da Embaixada." Entregaram-na a essa hora.
O Vice-Ministro, que ainda não tinha minha instrução, porque, como vocês vêem, a entrega da carta foi feita cinco minutos depois de enviada a instrução, ainda não recebida, disse-lhes simplesmente que "transmitiria a solicitação". Perguntou ao Embaixador onde estaria, ao que este respondeu que "esperaria em seu gabinete."
"0h 37min. Chego ao Palácio com Lage" – vínhamos da reunião –, "chamo a Carlitos e solicito que as taquígrafas se dirijam ao gabinete, para ditar-lhes a Nota Informativa, o título era A laia dos sujeitos utilizados pela máfia terrorista de Miami e pelo governo dos Estados Unidos. Isso está sendo ditado, já são 0h 37min do dia 1º, e é preciso falar depois com o Embaixador, dar resposta; ainda não há resposta, enquanto há pressão para que resolvamos rápido.
"0h 50min. O Vice-Ministro do MINREX telefonou ao Embaixador, para dizer-lhe que estava processando a nota que lhe havia entregado, a fim de tramitá - la imediatamente, como lhe havia dito, razão por que pedia que não se impacientasse." É a essa hora que lhe dá o recado recebido: às 0h 50min. Nós tínhamos primeiro que terminar a nota número dois, porque víamos claramente que se produziriam duas notícias: uma, esta, que se refere à "laia das pessoas...", e outra se adotávamos a decisão de desalojar àquelas pessoas.
Às 2h 30min, realmente, é que se pode enviar a nota dois, porque passam-na, revisam-na, enviam-na ao jornal e a enviam, inclusive, à rádio e a todos os órgãos de imprensa, para ser publicada pelos jornais Granma e Juventud Rebelde, também pela rádio, a essa hora não está a televisão.
"3h da madrugada. Orienta-se a que seja imediatamente enviada ao México, para informá-la aos meios de imprensa daquele país" – para que os mexicanos soubessem quem eram as pessoas que se haviam alojado ali –, "envia-se também a Ponce, do Escritório de imprensa de Cuba, que se encontrava com 13 meios da imprensa estrangeira, na rua 7ª esquina a 10, vigiando a Embaixada para ver que aconteceria ali. Estavam a se turnarem já aborrecidos de tanto esperar –, "e envia-se também ao Centro de Imprensa Internacional e ao ICRT. A rádio começa a dá-la a partir das três e meia da madrugada." Creio que foi um pouquinho antes, mas, bem, era tarde.
"A resposta à solicitação de apoio para evacuar a Embaixada não foi respondida até as 3h 15min da madrugada do dia primeiro.
"Junto com o chanceler Felipe Pérez Roque e o Vice-Ministro do MINREX, recebo no Palácio da Revolução o subsecretário Iruegas e o embaixador Pascoe." Eram 3h 15min, e eles queriam a ação às 4 horas.
"Nessa ocasião, e tendo em conta a solicitação que eles haviam feito, digo-lhes que se agiria às 4h 30min da madrugada, ao mesmo tempo em que se lhes consultou a nota que seria publicada sobre o tema imediatamente após a realização da operação." Porque além da outra, e antes que eles chegassem, foi necessário fazer um projeto de nota, informando a ação de evacuar as pessoas que haviam assaltado a Embaixada. Está elaborada duma forma que se ajustava ao modo em ao que se supunha que todo aconteceria.
"Às 3h 39min, o Embaixador e o Vice-Chanceler mexicanos voltam para a Embaixada, onde estariam presentes à hora da operação." Estariam ali, muito bem e com muito boa disposição.
"Às 3h 45min da madrugada, saio do gabinete com Felipe, Núñez Mosquera e Carlitos"; já havíamos dito a Lage que fosse descansar, era já a operação, e íamos observar como se desenrolava.
"3h 51min, analisamos na Direção de Contra-Inteligência de Cidade de Havana" – o mesmo lugar onde havíamos estado antes –, "com o General de Divisão Carlos Fernández Gondín, o General de Brigada Armando Quiñones Machado e o Chefe do Destacamento Operativo, José Rodríguez, o plano de evacuação em todos os detalhes, com ênfase especial na idéia de fazê-lo sem portar nenhuma arma, emprego mínimo da força física, se encontravam resistência, exortando-os desde o primeiro instante a cooperar, que lhes dissessem: ‘temos instruções disso e disso, pedimos que cooperem’." Isto, sem perder um segundo: comunicar-lhes-iam sua missão. Os ocupantes estão todos juntos, os funcionários não haviam podido separá-los, não tinham lugar. Estavam na biblioteca. O chefe do pessoal tinha a instrução de exortá-los a cooperar sem perder um segundo.
"A operação havia sido elaborada de antemão, minuciosamente, pelos chefes e o pessoal do Destacamento Especial", já vinham trabalhando nela, tinham todos os mapas, todos os dados, todas as idéias. O que se esteve examinando ali foi cada passo e todas as eventualidades possíveis.
"O operativo foi realizado exatamente à hora planejada, em quatro minutos e 33 segundos, sem o menor incidente", e o digo porque, com este relógio, que é bastante exato (mostra-o), estivemos medindo-o. Essas imagens que apareceram são as imagens de onde se via a entrada e a saída, tomadas de fora da Embaixada: a partida, a marcha da gente, a chegada. Os minutos, eu fui contando, não desde o momento em que se iniciou a aproximação, mas desde o momento em que penetraram no edifício até o momento em que saíram, haviam transcorrido quatro minutos e 33 segundos. Havíamos calculado seis, e fizeram-no em menos tempo.
"A coordenação com o Vice-Chanceler mexicano, o Embaixador e o pessoal diplomático foi precisa, serena e sumamente útil." Devo dizê-lo, esse foi o comportamento do Vice-Chanceler e do Embaixador, muito decidido.
Não gosto tanto da explicação dada depois pelo Embaixador; assim como tenho a mania do detalhe e da verdade, é meu dever dizer que não gostei da idéia de que estavam ali como se fosse para vigiar-nos. Vá lá, ou para vigiar como se fazia tudo. Há três pontinhos.
Randy Alonso – Sim. Aí, Comandante, desculpe-me que o interrompa por um momento, Taladrid destacava – já que estamos falando do momento do operativo e dessa operação – uma incongruência que há entre a Nota Oficial, que o senhor diz que foi discutida com a parte mexicana e que saiu publicada, onde se fala do desejo – o senhor, inclusive, dizia que havia um desejo apressado de que se resolvesse o problema, pela própria situação interna mexicana – e, por outro lado, bem, as declarações que Taladrid apresentava, do Embaixador mexicano, de que haviam apresentado três condições a nosso país. Parece-nos um pouco estranho que saia, por um lado, desejo, e, por outro lado, condições...
Comandante – Sim, eu a vi por aí, e inclusive a pedi a Taladrid. Leia, por favor, as três condições. que se mencionam.
Reinaldo Taladrid – Diz o embaixador Pascoe: "Em nossa solicitação ao governo de Cuba nesse desalojamento, colocamos várias condições.
"A primeira condição é que colocamos que o governo do México não teria, posteriormente, a intenção de levantar qualquer querela jurídica contra aquelas pessoas. Ou seja, nós não tínhamos intenção de entrar em um conflito jurídico com aquelas pessoas, nem de proceder, ou participar de uma perseguição jurídica contra aquelas pessoas.
"Em segundo lugar, exigíamos que fosse, pedíamos que fosse um desalojamento com policiais desarmados, porque iam entrar em uma sede diplomática de outro país, e que, em atenção e respeito a esse país, pedíamos que os corpos de segurança entrassem desarmados em nosso local.
"Em terceiro lugar, que fosse uma ação policial, se fosse o caso, com absoluto respeito aos direitos daquelas pessoas; que pedíamos que fosse um desalojamento pacífico, entendendo, é claro, que de qualquer maneira estávamos falando de um desalojamento."
Comandante – É uma lástima. É realmente uma lástima, porque tiveram um comportamento excelente, ele e o Vice-Chanceler, assim que eu me vejo no dever de dizer como as coisas aconteceram exatamente.
No primeiro ponto, é rigorosamente certo, o que se refere a que não tinham intenção de apresentar querela. Mas no segundo e no terceiro, não vou dizer que se trate de uma mentira, vou dizer, delicadamente, que é a diferença entre a verdade e a ficção, e posso prová-lo. Aqui tenho a famosa carta, e diz textualmente:
"Senhor Ministro:
"Tenho a honra de dirigir-me a Vossa Excelência, para referir-me aos lamentáveis fatos ocorridos na quarta-feira, 27 de fevereiro corrente, às 22h 45min, quando um grupo de pessoas ingressou violentamente na chancelaria da Embaixada.
"Como fiquei sabendo, nessa noite, várias centenas de pessoas rodearam nossas instalações, com a intenção de invadi-las. Desafortunadamente, apesar de as autoridades policiais tentarem resguardar o local, um grupo de 17 indivíduos conseguiu ingressar, atirando um ônibus contra a porta principal, o que ocasionou ferimentos consideráveis a duas pessoas que viajavam com eles." Devo esclarecer que foram mais de dois, foram nove, no total, os feridos. Cinco eram policiais ou civis, se incluímos o momento em que apedrejam um ônibus para pará-lo, e um cidadão particular de um automóvel, e outras pessoas, como um passageiro do ônibus, que ficou bastante ferido, já que não pôde desembarcar e foi gravemente ferido quando investiram o ônibus contra a grade, quatro dos que assaltaram esse veículo, ou dos que quiseram aproveitar o momento do ônibus para penetrar. São nove os feridos, não são dois; mas ele diz: "Duas pessoas que viajavam com eles e que puderam ser atendidas pelos serviços médicos da cidade."
Sim, porque imediatamente nos pediram que lhes enviássemos médicos para examiná-los, e que evacuássemos os feridos graves que estavam ali. Foi necessário evacuar a esses e a outros, porque os outros foram feridos quando apedrejaram um ônibus e quando tentaram tirar um automóvel de um cidadão que passava por um lugar próximo.
"Outras quatro pessoas ingressaram, segundo suas próprias palavras", porque nem todas ingressaram no ônibus. Eu creio que três saltaram pela Nunciatura, que está contígua, e se introduziram na Embaixada, foram descobertos no dia seguinte, em um banheiro, por isso diz:
"Outras quatro pessoas ingressaram – segundo suas próprias palavras –, um a partir da rua 14, e os demais pelos terrenos da adjacente Nunciatura Apostólica; no total, 21 pessoas permanecem ainda nos escritórios da Embaixada do México."
Continua a carta: "Apesar dos inumeráveis pedidos que lhes foram feitos para que abandonem o recinto de forma pacífica, negaram-se a fazê-lo. Ante tais circunstâncias, e embora o governo do México não pretenda fazer acusações formais contra nenhuma dessas pessoas, vejo-me na necessidade de solicitar a Vossa Excelência que disponibilize o necessário para a evacuação da Embaixada.
"Aproveito a oportunidade para reiterar a Vossa Excelência...", etc.
Bem, aqui está, com a assinatura, com tudo (mostra-a). Como vocês vêem, nada dos outros dois pontos aparece em nenhum lugar.
Realmente, na nota oficial número três, que tivemos a delicadeza de lhe mostrar, o projeto já elaborado por nós, fui eu que introduzi a seguinte frase: "O governo mexicano expressou seu desejo de que a referida medida fosse cumprida de modo a evitar qualquer dano físico aos intrusos e com emprego mínimo da força." Essa frase, eu a introduzi, porque eu havia redigido o projeto e lhe mostrei. Houve uma palavra que Iruegas sugeriu.
Randy Alonso – A palavra intruso.
Comandante – Ah!, queriam pôr a palavra "intrusos", e eu havia utilizado a palavra "assaltante". Aceitou-se imediatamente a sugestão.
Também fui eu que dei instruções ao chefe do destacamento de que não levassem nenhuma arma. Porque quem tinha o direito de pedir ou exigir que os homens entrassem sem armas no edifício? E se tivessem armas escondidas por ali, ou algum as houvesse introduzido pela Nunciatura ou por qualquer outro lugar? Fui eu que lhes dei as instruções de não levar armas, como antes havia dado instruções aos guardas da sede, de não usar armas enquanto estivessem ali, em um momento em que estavam em minoria, e tratava-se de um grupo pequeno de policiais frente a mais de 200 indivíduos que pugnavam por penetrar na sede, e já se havia produzido algum tumulto, algum forcejo. Quando o ônibus irrompe, por milagre não mata a dois guardas que estavam próximos ā guarita , e outros dois os salvaram apartando-os bruscamente, para evitar que fossem esmagados contra a grade.
Então os outros aspirantes a invadir a sede, que não estavam muito longe, vendo o ônibus, que entra a toda velocidade por determinada rua, arremetem contra a grade, trataram de aproveitar a confusão e o momento, para entrar na sede. Os homens que a protegiam lutando valentemente conseguiram impedir valentemente que centenas de pessoas se introduzissem na instalação. Esse foi o mérito dos que estavam ali de guarda, e era, repito, um número pequeno.
Chega um momento em que se produzem fortes forcejos, e há, inclusive, dois jornalistas que acabaram afetados naquela situação, não sei se receberam algum golpe, e perderam um equipamento de filmagem e uma câmara fotográfica. Fez-se contacto com eles, que se portaram de maneira muito decente, eles compreendem; a polícia não tinha por que agredir jornalistas, mas imagine-se um grupo reduzido de policiais contra o qual atiram um ônibus, que por pouco não mata a vários, e estão ali. Nenhum deles usou armas de fogo, nem para fazer disparos para o ar, e os outros aproveitam para tentar entrar pela brecha do ônibus. Pelo que sei – porque mandei investigar – foi nesse momento que os jornalistas foram afetados, mais ou menos às 10h 30min, porque estavam, logicamente, como jornalistas, registrando os acontecimentos.
Não sei se apareceram alguns guardas com cães por ali, não sei em que lugar. Eu não entendo o que faziam os cães ali, não era necessário nenhum cão, nunca usamos cães para garantir a ordem nessas circunstâncias, os policiais têm coragem suficiente, e quem sabe por que levaram esses cães para lá, creio que saíram até pela televisão. Se nós não usamos nem cavalos, nem gases lacrimogêneos, nem carros de bombeiros e outros meios similares, tudo isso que utilizam no Ocidente, todos os dias, para reprimir a trabalhadores em greve e a pessoas que protestam, pergunto-me que papel podem jogar os cães.
Temos a glória e a honra de que o que pomos é o peito, quando se trata de gente que esteja desarmada, e toda a coragem necessária, quando se trata de gente armada e em combate limpo; nosso povo já o demonstrou mais de uma vez. Mas até uns cães apareceram por aí. A alguém ocorreu levar uns cães para lá. Os cães, que eu saiba, são para outras missões, não? Em casos como esse, há coisas muito mais efetivas: lançam-se uns gases lacrimogêneos ou gás de mostarda, e dispersa-se todo mundo. Mas nunca utilizamos esses meios?, nem tivemos necessidade de fazê-lo. Foi nossa decência que fez que tivessem de lutar ali, a mãos limpas, com aqueles cidadãos enganados e confundidos. Não usaram armas, se não, quantos feridos sairiam dali, onde cerca de 200 pessoas iam atrás do ônibus? É assim.
Randy Alonso – Podia ter chegado a uma provocação muito mais grave, se não se pára essa avalanche.
Comandante – Não, não, lembre-se de que essa é uma "pequena provocação". Tudo isso que estou contando é uma "pequena provocação", não se esqueça.
Quem pode exigir de nós como irão os homens e como vão se proteger? Só nós podíamos dar essa ordem. E não teríamos admitido condições, porque, em tais circunstâncias, podíamos responder: "Pois não." Continuaremos protegendo a Embaixada, que é nosso dever.
Sem pensar que faríamos outra coisa, aceitando condições que punham em dúvida a retidão e a limpeza com que sempre atuamos, teria sido inaceitável. Nós não tínhamos interesse nenhum em invadir território mexicano, nem em penetrar ali, ao contrário. E se os ocupantes estivessem armados? Com que direito se podia dizer aos homens: "Vão sem armas."
Apesar disso, corremos o risco, porque também existe a psicologia, o estado de ânimo dos ocupantes, a surpresa com que se fizesse tudo, em detalhes, a habilidade dos homens, seu treinamento, de modo que, ainda que tivessem armas, poderiam ser desalojados. Bom, mas gostaria de dizer-lhes que esse tipo de inexatidão dói, não é? Não era necessário impor-nos condições, nós introduzimos aquela frase porque o Vice-Chanceler, como li anteriormente, quando chegou disse que "essas pessoas se negavam a abandonar a Embaixada, etc., e sugeriu a possibilidade de desalojá-los durante a madrugada, de maneira discreta e sem excessivo uso de força."
Há algo mais: se nós queríamos cooperar com o governo do México em uma decisão justa e honrada, tínhamos de esmerar-nos para que ninguém saísse machucado ou ferido; não se tratava apenas de uma tradição de nossa Revolução, que sempre mantivemos, mas também da consideração pelo governo mexicano, ninguém tinha de pedir-nos, se não existisse confiança, se fôssemos esbirros, se fôssemos atirar granadas, disparar, ou alguma coisa parecida: Assim que eu sinto muito, mas me vejo obrigado a esclarecê-lo: é ficção, e o provei aqui.
Mais exatamente, fomos fortemente pressionados, e mais de uma vez, em realidade, para que agíssemos rápido.
Arleen Rodríguez – Comandante, mas a primeira condição também não é condição, parece-me; porque quando eles dizem que não vão julgá-los, não é uma condição.
Comandante – Isso é assunto deles, mas nós temos jurisdição sobre o que ocorre neste território; fazem muito bem eles, se não querem estabelecer querela.
Mas nós devemos permitir a impunidade dessas ações? Que garantia teriam as demais embaixadas, cada vez que lhes queiram atirar um ônibus, um caminhão, ou uma plataforma blindada, para entrar em uma embaixada? Isso está dito faz tempo, que daqui jamais sairá alguém que penetre em uma embaixada pela força, jamais obterá permissão de saída! E faz tempo que deviam ter aprendido os que pretendam. Poderão constituir-se em residentes permanentes, e nenhuma embaixada deseja residentes permanentes, porque já experimentaram o que são alguns residentes permanentes, que, se não se cuidam, como são desocupados, em geral querem tornar-se donos das embaixadas.
É preciso analisar aqui também esse problema do direito a asilo, de que se abusou muitíssimo, basta ver as páginas dos primeiros anos da Revolução, milhares saíram, algumas embaixadas se enchiam como colméias. Levavam-nos, porque era parte da propaganda e da campanha contra Cuba, em virtude do famosíssimo direito a asilo.
Em todos esses anos de Revolução, que me lembre, Cuba nunca usou o direito a asilo, ninguém nunca se asilou em uma embaixada, que me lembre, ainda que quebre a cabeça. E agora, quê? Vai ser o direito de penetrar pela força nas embaixadas? Não, não vamos admitir. É faculdade nossa, e nosso dever, e asseguro-lhes que o lamento.
Mas, bem, o Embaixador é repórter, falei várias vezes com ele. Recebi-o no mesmo dia em que chegou a Havana, e no dia seguinte vi pelos cabos várias reportagens publicadas na imprensa mexicana sobre temas relacionados com o encontro. Tem o hábito de ser repórter. Cada vez que tenho um encontro, é noticiado por aqui, por lá e por vinte lugares, e a reportagem é a reportagem, até se pode admitir que a ficção seja utilizada em uma reportagem; mas em coisas tão essenciais e tão de princípio como esse assunto, não posso resignar-me a aceitar uma ficção.
Há algo mais? Vocês querem saber algo mais?
Randy Alonso – Eu, inclusive, coincido com Arleen, que no caso da primeira nem sequer pode ser uma condicionante, quando o próprio Embaixador, na conferência de imprensa, reconhece que está na jurisdição de Cuba julgar os acontecimentos e aplicar as leis do território cubano, a que, realmente, pertencem os cidadãos que penetraram nessa Embaixada; portanto não pode haver condicionante na atitude do México de eles não julgá-los, ou de não pedir um juízo contra essas pessoas.
Comandante – Isso não se questiona, ele não questionou; mas enfeita a história com algumas coisas que não têm nada que ver com uma realidade em que nós fomos pressionados, durante várias horas, para dar uma resposta. Estamos preparados, até lhe consultamos a nota, e a partir do que ele mesmo pediu que fizéssemos, além de nossos princípios, e porque nosso propósito era ajudar ao Presidente mexicano, colaborar com a verdade, quando vieram a máfia e os facínoras a dizer horrores, a declarar a guerra, a decidir um ridículo boicote ao México. Terão de boicotar os automóveis fabricados no México e que eles usam, terão de boicotar milhares de componentes fabricados nas maquiladoras no México. Qualquer um dá risada, imagino que os mexicanos estejam rindo disso neste momento.
Esta é a realidade, e posso dizer, desafio a quem o negue, que é uma bobagem bem grande.
Há algo mais? Querem perguntar alguma coisa? Faltam-me umas coisinhas, mas já tenho medo da hora, no outro dia terminamos às 11 horas, não quero que a história se repita; mas, sim, quero dizer-lhes, a esse propósito, quanta verdade havia nessa primeira nota, quando dissemos que eram desocupados e delinqüentes.
Aqui está esta pasta, que contém os antecedentes penais e policiais de 122 pessoas que foram detidas durante a noite de 27, na madrugada e no dia 28 de fevereiro, por tentativa de penetrar pela força na Embaixada do México. Aqui há 122 pessoas, além dos 13.
Randy Alonso – Que esses 13 eram 64% dos que penetraram, a grande maioria.
Comandante – Isso está bem aproximado, ou mais ou menos a metade, porque alguns "bichos" fugiram, daqueles que estavam tentando entrar e que foram detidos. Depois, em seguida, reforçaram-se as forças policiais. É verdade que às nove e meia da noite aumentou o número dos que tentavam entrar. Isso tem uma explicação. Aqui estão nomes e sobrenomes, registro de identidade, ocupação, se tinha, residência. Alguns discutiram sobre causas, se era por tal causa ou não, qual é a causa.
Aqui estão os indivíduos que foram sancionados, e mais de uma vez, ou que estavam sob fiança, ou, tendo em conta sua baixa periculosidade, alguns que foram advertidos e postos em liberdade. Por exemplo, mulheres, há muito poucas e, precisamente para evitar amarguras e humilhações, não queremos mencioná-las. Há muito poucas, algumas estavam advertidas, e mais de uma vez, por prostituição. Não desejamos publicar seus nomes, pode ser que se recuperem e no futuro sejam mulheres honradas. Mas aqui tenho tudo, umas paginazinhas. Um qualquer, escolhido ao azar. Antecedentes: processado por roubo com força em 1999 (denúncias 1367/99, 1487/99, 3317/99 e 3357/99). Outro, abrindo qualquer página deste volume. Antecedentes: detido em 1994 por roubo com violência. Em 1996, processado por porte de arma branca (denúncia 11412/96). Em 1996 foi processado por desordem em estabelecimento penitenciário (denúncia 11021/96). Em 1997, processado por desordem pública (denúncia 11313/97). Cumpriu sanção em 1997, por roubo com violência. Em 1998, processado por roubo com violência. Em 2001 foi detido para investigações. Mais, outro qualquer. Antecedentes: em 1998 cumpriu sanção por roubo com força; em 1999 foi processado por violação de domicílio (denúncia 376/99); em 2000, cumpriu sanção por roubo com força. A lista prossegue até 122. Há casos piores. Uma verdadeira coleção de pessoas com antecedentes penais e policiais que foram detidas tentando penetrar na Embaixada do México, aos quais é preciso somar 13 dos que ingressaram no ônibus. Pode-se dizer que dois de cada cinco eram delinqüentes. O restante, pessoas marginais e anti-sociais. Que teria acontecido, se todos houvessem penetrado na sede da Embaixada, atendendo ao convite da mal chamada rádio Martí?
Outra coisa, quatro ou cinco disseram que eram estudantes. Investigou-se bem, e nenhum era estudante, só um, que creio que foi dos 12 que estavam na Embaixada, era estudante duma escola técnica.
Randy Alonso – Algum profissional, Comandante?
Comandante – Espera (revisa o documento). Nenhum, nenhum é profissional, nenhum é intelectual, nenhum é artista; talvez houvesse algum que tocava violão em seu bairro (risos). Mas, vejam bem, não há nenhum estudante universitário – tenho por aqui, quase como conclusão.
"Devo destacar que, do total, que foram várias centenas, quase nenhum desempenhava um trabalho estável", trabalho de assediar turistas e coisas parecidas não é um trabalho muito estável , nem muito honrado.
"Eram, em geral, desocupados habituais, e ganhavam a vida com atividades ilícitas" – vejam bem como eu digo, "eram, em geral", ou seja, que sempre há alguma exceção – muito poucos declararam que o faziam por disposição e espírito de aventura.
"A qualificação de desocupados e delinqüentes é absolutamente exata, não se pode encontrar entre eles um só profissional, dos centos de milhares com que conta nosso país, e nem um só intelectual, artista ou estudante universitário.
"Cuba, a verdadeira Cuba, não tinha absolutamente nada que ver com aquela escória irresponsável e marginal, utilizada para a provocação imperialista." Aquilo não tinha nada que ver com este país: estão lotadas as escolas, as novas, com 3.500 alunos, 2.000 por ali, instrutores de arte, de música, de centenas de coisas neste país, escolas de trabalhadores sociais, e as que estamos fazendo, de dezenas de milhares de alunos entre 17 e 30 anos, que estão nas escolas de formação integral de jovens. Nem um só deles, que eram muitos na capital, do chamado, em certa época, elo perdido.
Agora, isso nos chama a uma realidade, isso justifica o colossal esforço feito agora pelo país, porque esta categoria, senhores, deve desaparecer de nossa sociedade, pela única via, que é a via dos programas de educação e de cultura, que estamos levando a cabo por todos os meios.
Já o disse alguma vez, a relação que há entre educação, cultura e delito. Temos muitas informações, e sobre isso estamos trabalhando, porque todas essas escórias vão se formando por imperfeições do socialismo, pelo fato de que não existe ainda uma verdadeira igualdade de possibilidades para todas as crianças. Disso se tem falado em vários lugares. Para quê, os milhares de trabalhadores sociais que estamos formando e as escolas? Por que pesamos 2.200.000 crianças de 0 a 15 anos? E por que estamos distribuindo 97.000 cotas àqueles que estão abaixo do peso, em relação à idade? Porque até a inteligência da criança é afetada, se não recebe a alimentação adequada.
Por que visitamos 505.000 núcleos da capital? Por que as Brigadas Universitárias de Trabalho Social visitaram 76.400 crianças que vivem nos chamados bairros marginais? Por que e para quê? É que estamos muito conscientes do que deve ser uma sociedade inteiramente justa, e muito decididos a alcançá-la.
Por que vamos revolucionar o ensino primário, apesar de, em nosso país, as crianças de primária e secundária terem o dobro de conhecimentos da média da América Latina? Por que estamos buscando reduzir o número de crianças por professor e por classe? Por que nos propomos a revolucionar totalmente o ensino secundário, que é a etapa mais importante e mais crítica dos adolescentes? E não estamos sonhando, estamos fazendo coisas, e vemos os resultados, não são teorias passageiras.
Ah, mas hoje temos todo o capital humano, toda a experiência e todas as motivações do mundo para fazê-lo.
Que os Estados Unidos apliquem, como disse alguém, uma lei de ajuste cubano; que abram as portas dos Estados Unidos aos mexicanos, em lugar de assassiná-los quando cruzam a fronteira; que abram essas portas que dizem que abrem aos cubanos, sem se importar com crianças, mulheres e especialmente adultos, que morrem cruzando a fronteira do México, muito mais, por ano, que todos os que morreram nos 29 anos do muro de Berlim, e vejamos o que acontece.
Por que não legalizam a situação dos quatro milhões de mexicanos que estão ilegais no Estados Unidos e que não podem ir visitar à família, porque então têm que estar constantemente arriscando a vida, indo e vindo?
Todos esses são temas sobre os quais eu perguntei ao presidente Fox; não vou dizer nada do conteúdo de suas respostas, mas digo que é um tema importantíssimo, o problema da migração e a explicação de o que é a Lei de Ajuste Cubano. Por que nós não pedimos uma Lei de Ajuste Cubano para outros países? Porque é uma lei assassina. O que pedimos são recursos para o desenvolvimento; pedimos que cesse a exploração e o saque; pedimos, educação, saúde e emprego para os povos da América Latina, em lugar de pedir uma lei de ajuste. Mas com todo o direito do mundo, se foram abertas as fronteiras entre México e Estados Unidos, para o trânsito de capitais e de mercadorias, por que não se abre para os seres humanos, em vez de matá-los? Essa é a pergunta que eu faria hoje ao porta-voz do Departamento de Estado que disse as bobagens que disse. A quem esperam enganar, a essa altura, com todas essas mentiras, hipocrisias e demagogia?
Da mesma maneira como armam esse libelo sobre os direitos humanos em outros países; há tanta hipocrisia, tanta mentira, tanta demagogia e tanto cinismo, que penso que esse documento serviria apenas para uso higiênico. É para isso que, no meu entender, serve esse documento em que investem seu tempo, dito com todo respeito pela sanidade (risos). É fábula, é historinha, é mentira, não têm argumentos, não têm nada, estão desprovidos, estão órfãos e estão cheios de contradições. O que pergunto é: quando vão deixar de matar mexicanos que emigram para o território que lhes tomaram pela força e que ali realizam os trabalhos mais duros, que ninguém faz? Enquanto ganham aqui..., todo mundo sabe o que ganham.
Eu estou falando de temas, de todos esses temas, há muitos temas e coisas para discutir, e coisas em comum entre nós e os mexicanos. Nós reivindicando que suprimam a lei assassina, os mexicanos lutando para que se humanizem as relações, os problemas migratórios entre México e Estados Unidos.
Quantas coisas se poderiam dizer e discutir sobre direitos humanos, mas não falam disso, nem se preocupam com as crianças que morrem como percevejos na América Latina e no mundo subdesenvolvido. Deviam dizer que, para cada 1.000 crianças que nascem, aqui morrem menos que nos Estados Unidos; deviam dizer que aqui as crianças recebem 13 vacinas, e que se viajam para lá, é com o menor índice de AIDS, entre todos os países da América latina, com a melhor saúde e a melhor educação, até isso, porque é bem possível que inclusive os elementos anti-sociais de que falamos cheguem, pelo menos, à 9ª série.
Nós sabemos o que estamos fazendo, não podem discutir conosco; estão bravos por sua impotência, porque não puderam destruir a Revolução e não poderão jamais, apesar de todas as perfídias e agressões, calúnias e mentiras que sofremos.
Ninguém tem mais confiança que nós em nosso país, na Revolução, em sua obra, no tipo de povo com que se conta, de cujos excelentes cidadãos, nenhum aparece nessa lista.
E mesmo por estes, com antecedentes delitivos, é preciso lutar. E nós estamos fazendo alguns programinhas, dos quais já falamos.
Fala-se de reeducação, e nós dizemos que não se pode reeducar a alguém que nunca foi educado. Nós temos muitas idéias em relação ao tema. Ah!, mas com realismo, o que se pode e o que não se pode fazer; levará tempo, mas no ritmo em que vamos agora, não demorará muito. Vamos ver o que acontecerá dentro de cinco ou dez anos.
Não sentimos desprezo por essa gente. É necessário sancioná-los, não a todos, mas aos que atiraram pedras ou de alguma forma provocaram danos a outras pessoas.Calculo que cerca de 130 terão de comparecer diante dos tribunais de justiça, pelos delitos comuns cometidos. Não vão dizer agora que são presos de consciência e dissidentes. No momento, estão tentando descobrir como tirar uma lasca do incidente, e como defender os que foram detidos pela provocação imperialista.
Não, somos nós que vamos defendê-los; mas, ao mesmo tempo, vamos castigá-los. A todos? Não, porque aquele que não tenha realmente periculosidade, não é necessário. É preciso diferenciá-los bem, trabalhar com todos, independentemente da sanção que lhes corresponda, ver qual foi sua vida e levá-los a um compromisso com a sociedade.
O que fizeram os do ônibus é grave, as agressões contra outras pessoas são graves, por isso respondemos aos representantes mexicanos que não podíamos estabelecer compromissos. Quem faz isso deve saber que tem sua sanção, e que jamais sairá de Cuba quem entre dessa forma em uma embaixada. E garantiremos a segurança das embaixadas, como em nenhum outro lugar, não faremos nenhuma concessão em relação a isso.
E de todos eles, dos que estiveram, dos que atiraram uma pedra, agora temos os dados com mais precisão que no dia 27 ou 28. Agora se obtiveram todos os dados, porque inicialmente estavam em distintos lugares, em uma delegacia ou outra, quando estavam sendo detidos ali, no terreno; mas, de acordo com a falta e com as características de cada um, serão apresentados aos tribunais de justiça. Isso podem ir sabendo desde agora. Ah! e algum gusaninho andava misturado ali; eles buscaram a provocação, buscaram a desordem, mas não sabiam o que iam encontrar, e encontraram.
Bem, alguns compatriotas emitiram suas opiniões, aqui as temos. Se querem, podemos ler as do dia 2, as de ontem, vamos ver com que velocidade leio as opiniões, para que as pessoas saibam que são consideradas, escutadas, anotadas. Aqui há 742 opiniões, de 13 províncias; vou lê-las, digam o que digam.
"Os Estados Unidos se enganaram de novo, tudo dá errado para esses burros."
Estas podem ser opiniões representativas, porque as que não deixamos de pôr, mesmo que seja só uma, são as de oposição.
"Quiseram repetir o da Embaixada do Peru, mas os pegaram e tiraram. Estragou o show que eles tinham preparado.
"O show na Embaixada do México foi preparado para acusar-nos diante da Comissão de Direitos Humanos de Genebra.
"Isso só se faz neste país, tirar o pessoal que se meteu na Embaixada sem nenhuma arma; em outro lugar são expulsos a pontapés.
"Aí tem o governo mexicano uma boa resposta, por estar se reunindo com contra-revolucionários em Havana.
"Foi contundente a resposta aos provocadores da máfia de Miami; para cada um desses loucos, em Cuba há centenas de jovens com excelentes méritos.
"Aqui estamos preparados para o que seja, que nem pensem em Miami que os grupelhos contra-revolucionários vão derrubar isto.
"Muito boa a conferência de imprensa dada pelo Embaixador do México em Cuba.
"Parece que o Embaixador do México em Cuba e o Chanceler não falam o mesmo idioma.
"Parece que o Chanceler do México não sabe que aqui república e Revolução são a mesma coisa.
"Esperamos que o presidente Fox faça declarações concretas sobre esse problema, e ratifique ou retifique.
"O governo do México agora se faz de inocente, mas no fundo tudo isso é sua culpa.
"Já não vejo muito clara a posição do México com Cuba, quer estar com Deus e com o Diabo."
Está acontecendo o que nós temíamos, que se criasse esse tipo de reação, frente a uma visita tão agradável e tão amável como a que recebemos, e digo que o Presidente não tem culpa. Aqui estou lendo as opiniões como foram colhidas.
"O governo de Cuba tem uma posição favorável ao diálogo com o México, mas que se comportem bem conosco.
"Uma mais vez ficou claro que a Rádio ‘Martí’, o que faz é tergiversar as notícias a seu favor.
"É preciso felicitar a PNR, pela maneira como atuaram ante os acontecimentos na Embaixada do México.
"Pena máxima, é o que merecem todos esses delinqüentes.
"É preciso ser fortes com esses violadores, para que não vire bagunça nas embaixadas.
"As pessoas que se meteram na Embaixada tinham que ser delinqüentes com antecedentes penais e péssima trajetória.
"Os tribunais cubanos têm que adotar outros métodos, apertar mais, para que essas coisas não continuem acontecendo.
"Os delinqüentes devem estar presos." Aqui está presente a filosofia de que tudo se resolve com prisão. Comento de passagem, tendo em conta o que disse antes.
Ainda é preciso inspirar-se ou impregnar-se da filosofia de que há outros caminhos muito mais eficientes, e, na verdade, os únicos caminhos, se o que se deseja é acabar com essa categoria de cidadãos, e são os caminhos que estamos seguindo, que complementam as sanções e a repressão social, que não foi à-toa que localizamos os sete mil e tantos jovens que, na capital, haviam deixado o estudo e a escola, depois da 9ª série, dos quais descobrimos que 600, com idades entre 16 e 20 anos, haviam cometido algum delito de certa gravidade. É preciso estudar todas as causas: por que abandonaram a escola, por que isso e por que aquilo; há muitas coisas que analisar e meditar.
Vi uma das infâmias aí, das que constavam do libelo ianque, acusando-nos de que as mulheres são discriminadas, inclusive de que havia racismo. Não, os remanescentes de racismo que haja aqui, eu mesmo os assinalo. Ah!, porque diz: "O próprio Castro disse". Sim, eu disse publicamente que ainda não existe igualdade plena para todos; mas não só porque pode haver núcleos negros pobres, mas também brancos. Há marginalização branca e marginalização negra. Não vou dizer nada mais, mas não hesitei em falar desses problemas e de como vamos erradicá-los. Que descarados!
Continuo aqui, ainda tenho alguns minutos.
"Os tribunais" – criticam os tribunais também, porque ainda têm, como eu dizia, a idéia de preso e mais preso; a repressão e o cárcere.
"Não compreendo como pessoas com esses antecedentes andam soltas, se deviam estar na prisão.
"Nosso povo apóia as medidas tomadas com os que penetraram na Embaixada do México.
"O governo do México respondeu como devia, e as autoridades cubanas completaram a operação, ao desalojar a esses delinqüentes.
"O governo mexicano esclareceu a situação entre Cuba e México; os gusanos devem estar muito tristes.
"A resposta do Embaixador do México aos jornalistas foi ambígua, não entendi nada." (Um de Cidade de Havana.)
"Quando aconteceu o da Embaixada do México, apareceram dois caminhões do ‘Blas Roca’ e baixaram o pau a torto e a direito; bem feito." (Outra opinião de Cidade de Havana.)
Realmente, o que estão fazendo os do "Blas Roca" é lutar contra o mosquito, porque ninguém deve esquecer que neste momento o país está envolvido na batalha contra o ciclone e suas conseqüências; na batalha contra o mosquito, e com êxito crescente; na safra e em muitos programas, que nos propomos a levar a cabo de todas as maneiras, essa é a verdade. O "Blas Roca" está combatendo um inimigo perigoso.
Aquela opinião expressada, de que chegaram baixando o pau a torto e a direito, na verdade é a primeira vez que escuto, que estiveram ali os do "Blas Roca". Se estiveram, eu não sei... Eles e outros contingentes, são milhares de homens os que estão lutando contra o Aedes aegypti, e não foram tirados dessa tarefa, nem queremos tirar. Por isso, estamos tranqüilos, não queremos, inclusive, esgotar energias, porque aqui há forças para organizar ruidosos protestos; mas podemos usar a arma, a esgrima da verdade, a espada da verdade, para desmascarar e para fazer que todos os nossos compatriotas participem da batalha.
"Todos eram delinqüentes? Que não aconteça como com a Embaixada do Peru, que disseram que todos eram delinqüentes, e havia pessoas decentes." (Uma opinião da Cidade de Havana.)
"A culpa de que aconteçam todas essas coisas é do governo, porque tem a mão muito leve com os delinqüentes." Se deixamos a opinião pública tomar as medidas, seria do diabo, porque sei como muita gente sente e se irrita com essas coisas. Esta é uma opinião de Santa Cruz del Sur, Camagüey, de que a culpa é do governo.
"Desde cedo se observaram as pessoas dando voltas. Porque a Segurança do Estado não tomou medidas a tempo?" (Uma opinião da Cidade de Havana, uma de Cienfuegos e uma de Granma.)
"Assim nos atacam, é preciso proteger-se mais." (Uma opinião de Cidade de Havana.)
"Você vai ver que a essa gente que tiraram da Embaixada, vão dar uma chamada e soltá-los, e aqui não aconteceu nada" (risos). (Uma opinião de Cienfuegos.)
"Na sexta-feira, na Repartição de Interesses, meteu-se um cidadão, e não se disse nada." (Uma opinião da Cidade de Havana.)
É verdade, em meio a tudo isso, de repente um indivíduo passa por ali e salta para dentro. Esperamos para ver o que iam fazer com ele. Eles, que estavam falando, criticando se haviam desalojado ou não da Embaixada do México – digo: "Vamos ver que fazem esses cavalheiros agora" – agarraram-no, tiraram-no muito discretamente, fizeram manobra de confusão, e levaram o sujeito para casa. Ali, os vizinhos e todo mundo imediatamente souberam quem era o indivíduo. Investigada essa pessoa, viu-se que era um cidadão mentalmente enfermo. Justo ao mesmo tempo dessa confusão, nem valia a pena ocupar cinco linhas do jornal para falar do caso, não tinha qualquer importância; mas já que um cidadão opinou sobre isso, vejo-me no dever de explicar que sim, que o sujeito entrou, eles o pegaram e tiraram. Estava doente. Não digo o nome.
Assim que quem disse isso, disse uma verdade; por isso é bom ler os pontos de vista dos cidadãos. E aqui mostramos o que disseram os que expressaram suas opiniões sobre os fatos, o que disseram de todo mundo e o que disseram de nós.
Na realidade, há que dizer o seguinte: ali havia dois homens protegendo a Embaixada, como expliquei. Ao meio-dia chegam as primeiras notícias, porque há os que monitoram sistematicamente as transmissões inimigas. Normalmente são transmitidas aos que correspondam. São centenas de informações por dia. A pessoa tem que se pôr no lugar dos que recebem, analisam, e podem tomar alguma decisão, de acordo com sua apreciação. Geralmente os que as recebem são pessoas que ocupam determinados cargos e atendem a muitas tarefas todos os dias. Os que estão colhendo, vão informando.
Randy Alonso – A cada certo tempo.
Comandante – Sim. Mas, além disso, neste caso, o que haviam dito pela manhã de 27 era diferente do que disseram pela tarde, o tom e o caráter tinha mudado. Foram metendo sobretudo duas coisas: "As relações de Cuba com México foram rompidas, as portas da Embaixada estão abertas." Sobretudo, "as portas da Embaixada estão abertas". Bem, nós sabemos o que faz o desocupado, quando se diz que as portas das embaixadas estão abertas.
Quando, por exemplo, em épocas em que se roubava a lanchinha de Regla e se faziam muitas outras coisas, já em pleno período especial, declaramos que não estávamos obrigados a proteger as costas dos Estados Unidos e nos declaramos em greve, os desocupados, anti-sociais e até pessoas que desejavam emigrar ou reunir-se com suas famílias imediatamente se mobilizaram.
Randy Alonso – Provocado por essa mesma emissora anticubana.
Comandante – O mesmo. O que fizemos, então, foi tratar de persuadi-los na costa, se havia perigo. "Olhe, não utilizei isto", e depois os acompanhávamos até onde estava a guarda costeira norte-americana.
Hoje, quando existe um acordo migratório entre Cuba e os Estados Unidos, fazemos o mesmo com os que não recebem visto e tentam emigrar ilegalmente. Não tentamos interceptar embarcações quando já estão navegando, para evitar acidentes. Surge com força a modalidade de lanchas rápidas procedentes da Flórida, dedicadas ao tráfico de pessoas. Você pode capturá-las antes que cheguem, ou pode descobrir onde são esperadas. Temos mais de 100 piratas capturados, traficantes de imigrantes que residem nos Estados Unidos e dali partem; mas eles não os querem lá nem de graça, não se atrevem nem a julgá-los, deixam o pato para nós. Essa é a verdade real, e disso não falam.
Não é mau que as pessoas critiquem.
Na verdade, eu compreendo o mecanismo. O que aconteceu? Nossas autoridades perceberam algo anormal, reforçaram um pouco a guarda; à tarde, passadas algumas horas, tudo estava aparentemente normal. Quando chegou a noite, havia calma. Eles haviam reforçado a guarda com um reforço de 20 auxiliares, que são voluntários que cooperam com a polícia, e outros pequenos grupos de policiais. Quando anoiteceu, havia cerca de 60 homens ali, se me lembro bem, uns 63, não se verificava nenhuma atividade anormal. Havia tranqüilidade quase total.
Foi ao redor das 9 horas da noite, que dezenas de pessoas começaram a concentrar-se, por um lado e outro.
Randy Alonso – Às 8 horas, a manchete das emissões foi de mais impacto: "as portas estão abertas".
Comandante – A última foi às 8 horas da noite. Nem haviam avisado... Ao anoitecer, a Contra-Inteligência envia um relatório escrito comunicando o acontecido durante o dia e as medidas que haviam sido adotadas. Dada a pouca importância dos fatos, fizeram-no por escrito. Eles não imaginavam, foram realmente surpreendidos pela manipulação da emissora subversiva, enfatizada ao entardecer. Os rumores do rompimento de relações e as "portas abertas" haviam se multiplicado. Quase nenhum dos que tentaram entrar tinha escutado as transmissões, haviam colhido o rumor do que se dizia, e pensaram que a noite era o melhor momento; os da rádio subversiva conheciam esse mecanismo e realizaram deliberadamente a provocação, essa foi sua maior perfídia. Nós sabemos muito bem que se alguém diz: "O Capitólio está com as portas abertas para os que queiram emigrar para os Estados Unidos", esses mesmo elementos rapidamente se movem para lá.
Nós sabemos o potencial desse tipo que ainda existe, que se sentem privilegiados pelo governo dos Estados Unidos, o inimigo manejou tudo isso. Mas até agora a inteligência imperialista se destaca por sua ausência, fracassaram em tudo.
Nós podemos ter uma segurança total e absoluta com o que estamos fazendo, absoluto e total respeito com relação ao futuro.
Penso que os próprios companheiros da Contra-Inteligência e todos os que intervieram ante a provocação, a unidade especial que atuou com perfeição, realmente, foi um punhado de homens, as unidades especiais foram reduzidas; talvez esta experiência nos conduza à análise do que se deve fazer. Força há neste país, desde a mobilização de 100.000 homens da capital em questão de horas, além do poderoso potencial das forças armadas e suas tropas especiais, e um povo inteiro organizado, treinado e armado para a guerra de todo o povo. Aqui há forças para mobilizar centenas de milhares de homens em um minuto. Mas não se deve nunca matar um passarinho com uma bala de canhão.
Uma força bem treinada, bem especializada, pode resolver rapidamente situações desse tipo. Mas os que estavam ali eram forças auxiliares, não eram gente do "Blas Roca", não. E no momento em que entra o ônibus, ali havia cerca de 60 ou 63 homens. Aqueles contiveram os assaltantes, não deixaram que entrassem. Penso que deviam estar mais reforçados, é minha opinião pessoal, porque às 9 da noite começaram a concentrar-se ali os elementos anti-sociais.
Os companheiros haviam enviado um relatório de quatro páginas; todo mundo sabe, é preciso redigi-lo, elaborá-lo, precisar os números, ditá-lo, transcrevê-lo. Isso foi o que aconteceu. Eu, assim que fui informado, às 11 da noite, percorri os lugares com uma caderneta na mão. O relatório escrito chegou, mais ou menos, na hora em que o ônibus já havia penetrado na sede. Desde as 9 horas haviam feito algumas pressões e forcejos, porque os congregados iam avançando em direção à Embaixada, e ali fez falta um reforço, visto que a essa hora começaram a mostrar-se uns 100 por aqui, outros 100 por ali, isso é o que eu penso.
Nossos companheiros trabalharam esplendidamente bem, as observações eles sabem. Alguns se perguntam como é possível, porque, realmente, isso surpreendeu um pouquinho, por esses dois fatores: a campanha forte de rumores e tudo, que já tinha quase 13 horas sendo perfidamente transmitida, das 7h 35min às 20h são 12 horas e meia. Divulgaram-se algumas notícias e rumores, e a tranqüilidade, em princípios da noite, embora houvessem reforçado, deixou-os um pouco confiantes. Acho que desde as nove horas deviam haver enviado um reforço. A partir dessa situação, portaram-se heroicamente ali, alguns homens, que não usariam armas, e enfrentando os que empurravam; os desordeiros sabem que a polícia não vai disparar, sabem que não se usam esses procedimentos que todos os dias vemos em outras partes, pela televisão.
É o que posso dizer sobre a história. E há mais coisas, há mais umas coisinhas por aí, que podemos discutir a qualquer momento. Mas amanhã veremos o que vocês decidem na mesa-redonda; pode ser que tenhamos de estar uma semana discutindo, bem, estamos prontos.
Randy Alonso – Comandante, queria mostrar um cabo da Prensa Latina, que chegou há poucos minutos, datado no México, que diz que "O presidente mexicano Vicente Fox afirmou hoje a Prensa Latina que os vínculos entre seu país e Cuba estão em um magnífico nível, e que ambas as partes trabalham para fortalecê-los, com o mesmo entusiasmo de antes.
" ‘As relações estão como estavam antes, ou talvez melhor, porque tivemos a oportunidade de falar com o próprio presidente Castro de forma direta’, afirmou. Explicou que seu governo costuma proceder dessa maneira, apanhar o telefone e falar com quem for necessário, quando há esse tipo de situações.
"Em coletiva de imprensa com correspondentes estrangeiros, esta tarde, Fox declarou que ‘as relações bilaterais ficaram em magnífico nível, e continuamos trabalhando com o mesmo entusiasmo de antes’.
"Perguntado sobre a reação que provocou em Miami e nos Estados Unidos a entrada na sede diplomática em Havana, respondeu: ‘Parece-me que cada um, cada grupo é livre para interpretar e pensar a sua maneira os acontecimentos e sucessos’. Qualificou de intempestiva a entrada desse grupo de cubanos na Missão oficial mexicana, sem mencionar em nenhuma ocasião pedido de asilo político ou perseguição política, simples e singelamente irromper com o ônibus dentro da Embaixada.
" ‘Isso nos levou, argumentou, a pedir ao governo cubano a devida proteção a nossa Embaixada e o desalojamento dessas pessoas, pois não tinham nenhuma colocação, nem foram solicitar vistos nem proteção política ou de alguma outra espécie’."
Comandante – Uma declaração limpa, honesta, que comprova as coisas que eu disse aqui, e nos alegra muitíssimo que esta mesa-redonda termine com isso.
Randy Alonso – Comandante, agradecemos de maneira especial sua presença nesta mesa, creio que contribuiu para dar mais argumentos a nosso povo sobre o que sucedeu. Creio que esclareceu elementos importantes de todos esses acontecimentos que se deram na Embaixada do México, dessa provocação financiada, levantada por essa máfia anticubana, com a colaboração de seus mercenários dentro do país, e utilizando elementos anti-sociais que, como o senhor dizia, ainda subsistem em nossa sociedade, pois tentaram provocar, e uma vez mais o que encontraram foi a derrota, que é a que está acostumada essa máfia e suas pérfidas intenções, novamente foram condenadas ao fracasso.
Esses argumentos apresentados nestes dois dias contribuíram, evidentemente, para dar muito mais informação a nosso povo, que, desde o primeiro momento, esteve informado pelas notas oficiais que se emitiram imediatamente ocorridos os fatos; mas creio que tudo isto contribuiu para esclarecer ainda mais.
Comandante – E faltam algumas notícias. Além das que mencionei, lembrei-me de uma em especial, que não teve nem espaço para ser amplamente divulgada, porque teria de ser analisada, relacionada com alguns delinqüentes que assassinaram, para roubar-lhes, a alguns emigrados procedentes de Miami, que vieram visitar familiares. Essa é outra tarefa na qual se trabalhou duríssimo, e a polícia, com grande afinco e inteligência decifrou o caso, que era difícil de esclarecer.
Descobriu-se tudo e, ainda que nós não utilizemos nem pratiquemos a crônica sangrenta, que muitas vezes serve mais para incitar os delitos que para combatê-los, não tivemos espaço nem tempo para analisar devidamente os fatos. Alguns se perguntam sobre o que aconteceu e a que haviam chegado as investigações.
Posso comunicar-lhes que todos os responsáveis foram capturados. O assassinato foi cometido lá pela Auto-estrada, como muita gente sabia, tinha ouvido falar do tema. Era necessário investigar a fundo, reunir todas as provas e demais detalhes necessários para o julgamento e para impedir que os culpados escapassem. Fazia falta um Sherlock Holmes, mas por fim, entre muitos Sherlock Holmes, descobriram até o último detalhe. A verdade é bastante repugnante, porque os criminosos mataram também a uma criança. De tudo isso, é preciso também tirar lições (aplausos).
Randy Alonso – Agradecemos mais uma vez ao Comandante, aos comentaristas que nos acompanharam, aos convidados que tivemos no estúdio, em especial a nosso Chanceler e ao companheiro Lage.
Amanhã estaremos novamente em mesa-redonda.
Muito boa noite.