Discurso proferido pelo Comandante Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário da Direcção Nacional das ORI e Primeiro Ministro do Governo Revolucionário, ao resumir a reunião com os directores de Escolas de Instrução Revolucionária, celebrada no prédio da Direcção Nacional das ORI, a 27 de Junho de 1962
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Companheiros directores das escolas de instrução revolucionária:
Eu já tenho experiência de que estas reuniões são muito longas —acho que tenho experiência de longa data em reuniões extensas— afinal, quando chega a altura de fazer este resumo ou esta conclusão, acontece, por vezes, que já as pessoas estão esgotadas e nós próprios estamos um pouco esgotados, depois de reunir durante muitas horas, e ontem tivemos uma que foi ainda mais extensa do que esta; acho que esta foi um bocado mais ligeira e mais breve.
Em primeiro lugar, quero exprimir a nossa impressão sobre a reunião. Em abono da verdade, esta reunião causou-nos muito boa impressão, embora em regra nunca possamos ficar totalmente satisfeitos daquilo que tenha sido atingido no trabalho, porque em realidade todo o trabalho revolucionário —e todo o trabalho revolucionário tem sempre muitas dificuldades a ultrapassar—designadamente na primeira fase, na primeira etapa de uma revolução, há muitas lacunas, muitos defeitos, e não pode ser de outra maneira.
Em efeito, fica-se com a impressão numa reunião como esta, de que aos poucos, ultrapassando os obstáculos naturais, esbarrando, caindo, tornando-nos a levantar, lutando, está realmente em marcha um grande movimento de educação revolucionária.
Os companheiros que usaram da palavra em representação da direcção nacional das escolas de instrução revolucionária em cada província, falaram aqui de maneira séria, responsável. Demonstraram que há um grupo de companheiros seriamente engajados no trabalho da instrução revolucionária, que tem encarado com grande responsabilidade a sua tarefa e que, aliás, são companheiros que estão a demonstrar a vocação pelo trabalho que estão a realizar. E para além disso, nós sabemos que este movimento de instrução ou de educação revolucionaria surgiu praticamente de zero.
Sabemos que grande parte de vocês todos freqüentaram, precisamente, os primeiros cursos que foram organizados, e que a partir da selecção feita nas escolas, foi criada esta organização, que já conta com várias centenas de companheiras e de companheiros dedicados, envolvidos neste trabalho.
Lógico que hoje se conte com muitos mais recursos humanos —que é o mais importante— do que quando se iniciou a organização das escolas; e é também evidente o facto de vocês todos serem companheiros jovens com todas as possibilidades e todas as oportunidades de continuar a preparar-se, de continuar uma formação para este trabalho que quase se inicia.
O facto de esta organização ter surgido praticamente de zero, e a possibilidade de que das próprias escolas continuem a surgir valores revolucionários, valores jovens, matéria prima de qualidade para dar continuidade à formação de quadros para este movimento de educação revolucionária, permite fazer-se uma imagem optimista das perspectivas que este movimento possui.
E claro que é importante ou encorajador este esforço, isto é, essa possibilidade, tendo em conta a importância que reveste para a Revolução a elevação do nível político dos quadros e das massas.
Temos sido talvez menos exigentes do que nas academias, do que nas universidades, do que nos institutos, do que nos organismos. Há centros de ensino já pré-estabelecidos, de ensino técnico, de ensino universitário, que são muito exigentes. Eles se podem dar ao luxo de serem muito exigentes, desde que contem com um número, embora pequeno, de professores formados; ou tenham a possibilidade de contratar professores para ministrar engenharia, ministrar medicina, para leccionar nas escolas tecnológicas.
Porém, a direcção das escolas de instrução revolucionária não podia dizer que contava com uma equipa de professores altamente qualificados, muito menos se podia conceber que para um trabalho do género, fossemos contratar professores e técnicos para ensinar aqui em Cuba instrução revolucionária. E no entanto, aquilo que está a ser leccionado é mais importante do que a medicina, do que a engenharia, do que a arquitetura; é mais importante ainda do que qualquer faculdade tecnológica ou qualquer faculdade universitária. Aquilo que está a ser ministrado é mais difícil, para além de mais importante: e aliás, é também uma ciência, mas a ciência mais complexa, a ciência mais difícil, a ciência mais profunda, e não uma ciência morta senão uma ciência em total desenvolvimento histórico. Porque, o que é que pode haver de mais difícil e mais complexo, em primeiro lugar, do que uma Revolução? O que pode haver de mais difícil e mais complexo na vida dos povos do que a política? O que se pode tornar mais difícil do que aquilo que tem que ser aprendido no meio da luta, da batalha quotidiana? E que da própria luta e de cada batalha tem que ir tirando mais e mais conhecimentos. Isso também porque a política e a Revolução, em regra, todas estas atividades da sociedade humana, geralmente, aparecem perante os olhos do povo simuladas, escondidas por um monte de fachadas que ocultam à vista dos povos a verdadeira imagem das questiones políticas e sociais. Aliás, isto é uma coisa que tem que ser esclarecida a meio das paixões, a meio dos ódios de classe, a meio de tremendos conflitos de interesses. Por conseguinte, a política e a Revolução são muito mais difíceis do que qualquer disciplina que seja estudada nas universidades. Temos sido menos ambiciosos e no entanto somos mais ambiciosos; quer dizer, Conformamo-nos com começar recorrendo àquele pouco que tínhamos, mas pretendemos, algum dia poder utilizar aquilo que de muito estamos a formar hoje. Temos sido mais práticos, porque temos tomado estes caminhos, avançando lentamente, mas ganhando terreno cada dia; temos ido ganhando terreno, com constância, com tenacidade, e assim iremos atingindo no caminho da ciência política tudo aquilo que pretendamos obter. E quando falamos em ciência política e ciência revolucionária, referimo-nos à única ciência política e à única ciência revolucionária verdadeira, que é o marxismo.
Para a nossa Revolução, processo convulso, audaz, que penetra na história firme e decididamente, a desafiar tantas e tantas dificuldades, significa muito o facto de que o nosso povo, nós todos —alguns mais tarde, outros mais cedo— tenhamos ido apropriando-nos da única ciência política e revolucionária verdadeira que existe.
A partir do momento em que a nossa Revolução, pelo facto mesmo de ser uma revolução, pelo facto de ter libertado as forças revolucionárias da nossa sociedade, pelo próprio facto de ter encarado firmemente o inimigo —e o inimigo não era outro do que o imperialismo—, pelo facto mesmo de termos enfrentado os inimigos dos povos —e os inimigos históricos dos povos não eram outros do que os exploradores dos povos—, pelo facto de ter desencadeado a luta de classes em toda a sua dimensão, atingimos inevitavelmente à única formulação ideológica possível, ter feito nossa a riquíssima experiência, experiência de mais de um século, o caudal extraordinário de conhecimentos que o marxismo encerra, que para nós significa uma vantagem extraordinária nesta luta.
Porque o marxismo não é apenas a única verdadeira ciência da política e da revolução, senão que desde que o homem tem consciência de se próprio, é a única interpretação verdadeira do processo de desenvolvimento da história humana. E é nesse domínio, nesse caudal imenso de experiência e de conhecimentos, que temos penetrado com aquilo que tínhamos, com o pouco que tínhamos, para desenvolver um movimento da magnitude deste movimento de educação revolucionária, e no entanto, modestamente, temos ido ganhando terreno, temos ido avançando e temos criado praticamente as bases para continuar para frente.
Porém, temos que ser conscientes, bem conscientes, de que apenas estamos a começar, e que ainda temos muito caminho pela frente. Contudo, nós não estudamos marxismo por simples curiosidade filosófica ou histórica. Não é assim. Para nós é vital, basilar, estudar marxismo e ensinar marxismo: para a Revolução é vital e decisivo estudar marxismo e ensinar marxismo.
Para um processo político normal, para uma revolução de mentirolas —como essas revoluções que temos visto muitas vezes pelo mundo fora, nas quais os demagogos ou os mal intencionados, para confundir os povos quanto às revoluções verdadeiras, decidiram denominá-las de revoluções—, não é preciso estudar marxismo, nem estudar nada; se calhar, com estudar para politiqueiro chega!
Na época de politiquice ninguém tinha que estudar absolutamente nada. Mas numa revolução, numa revolução verdadeira como esta, a braços com uma mudança tão profunda, tão audaz, a meio de um conflito de tamanha dimensão histórica como este conflito com o qual estamos apostados, com a mais poderosa força reaccionária do mundo em contra, é preciso estudar, e estudar a sério; aprofundar conhecimentos, e mostrar todas as armas e todas as forças da ciência e da verdade.
Para poder orientar-nos nós próprios, em primeiro lugar, e para poder orientar corretamente o nosso povo, temos que aprender e temos que ensinar. Estudar e ensinar, porque é basilar e é decisivo para a Revolução, tendo em conta que aqui se estão a enfrentar forças históricas, interesses antagónicos e irreconciliáveis, numa luta a morte. Então não se pode ser irresponsável, não se pode ser superficial, não se pode pôr de lado a instrução, pelo contrário, é preciso apostar nela, porque nela vamos encontrar as nossas melhores armas, nela vamos encontrar as mais claras explicações e nela vamos encontrar a orientação que devemos dar ao nosso povo. Pois no choque destas forças históricas chocam as ideologias, e o inimigo recorre as suas melhores armas, o inimigo utiliza as mais subtis mentiras, o inimigo utiliza toda a força da tradição, o inimigo vale-se da ignorância, o inimigo recorre, enfim, a todos os recursos. E os revolucionários temos, por conseguinte, que recorrer as melhores armas da verdade, aos mais claros raciocínios para as massas, e com o apoio da verdade, da razão e da paixão revolucionária, ensinar as massas e conduzí-las vitoriosamente para a frente.
Acho que ninguém terá dúvidas da importância que nesse sentido têm as escolas de instrução revolucionária.
Lamentavelmente, por vezes, confundiu-se o objectivo das escolas; lamentavelmente, houve gente irresponsável, como há em todas as partes, que acreditou que as escolas eram para adestrar adultos, um reformatório para pessoas problemáticas, ou um centro para consertar pessoas politicamente avariadas.
E tal não se passou só com as escolas de instrução revolucionária. Passou-se muitas vezes com outro género de escolas; houve administradores que eles próprios escolheram os candidatos para uma determinada escola e enviavam para os cursos aqueles que mais lhe incomodavam.
Infelizmente, tivemos muita gente, em muitas partes, cujos cérebros não estiveram aptos para compreender a importância da educação em qualquer âmbito para a Revolução, em qualquer domínio, não apenas neste domínio, que é o mais importante, isto é no quadro da educação política, senão no do ensino técnico, ou de qualquer área do ensino dos tantos que a Revolução tem que ministrar às massas.
Lamentavelmente, as nossas escolas de instrução atravessaram e sofreram também as consequências de conceitos errados; as escolas também sofreram, como sofreram todas as organizações de massas, como sofreu o aparelho político da Revolução as consequências de conceitos errados sobre o papel das massas na Revolução e, portanto, a importância das organizações de massas e dos organismos destinados a fortalecer a consciência revolucionária das massas. E das escolas tiravam quadros, como das organizações de massas tiravam quadros, como às instituições políticas lhes tiravam quadros, numa política tendente a produzir uma anemia permanente, privando todas as organizações dos seus melhores quadros.
Assim, não tinha nada de raro tirar o director de uma escola para nomeá-lo, por exemplo, administrador de um armazém; ou tirar o secretário de um sindicato nacional, para o nomear administrador de uma empresa; ou o secretário de uma secção sindical, para o nomear chefe de uma oficina. Em abono da verdade, tal é simplesmente o resultado de um conceito errado, que surge de uma postura que é definitória sobre o revolucionário: a sua atitude perante às massas. Ou se tem fe nas massas ou não se tem fe nas massas! E dessa postura perante as massas dependerá o método a utilizar: ou um método de massas ou um método antimassas.
O método antimassas caracteriza-se pela selecção subjectiva, a dedo, dos métodos subjectivos, as selecções a dedo, a ideia messiânica sobre a importância do funcionário, do administrador; pretender arrastar os povos pelos cabelos, em lugar de fazer andar o povo, em lugar de pôr o povo em andamento.
E claro, uma concepção errada induziu-nos em métodos errados, ou numa atitude errada perante as massas, induziu-nos na prática de métodos errados e em resultados simplesmente absurdos.
Mas isto não pode desencorajar ninguém, tal não tem desencorajado ninguém. E o espírito com o qual foram ultrapassados os erros tem sido um espírito verdadeiramente revolucionário, verdadeiramente marxista, tendente ao fortalecimento de todas as frentes revolucionárias, e cujos frutos hão de ser vistos, e não vai demorar em serem vistos! E todos vamos compreender isso, todos, absolutamente todos, vamos compreendê-lo.
Porque dentro da Revolução também há muita gente honrada que se pode enganar y de facto se engana, porque antes de mais é gente honrada, honesta essencialmente, pois compreende rápida e perfeitamente onde se enganou e decide ultrapassar o erro.
Os métodos errados conduziram-nos para a formação de um partido que se enchia cada vez mais e mais de oportunistas e de medíocres, isto é, a não termos nenhum partido; os métodos errados levaram-nos a esbanjar milhões e milhões de pesos —produzidos pelo esforço dos trabalhadores— na educação não da classe operária, senão em muitos casos, da pequena burguesia, e em “corrigir” gente. E constatamos as consequências em mais de um curso e em mais de uma escola, quando deparamos nalguns casos na pobre qualidade de alguns cursos ou parte de alguns cursos, naturalmente.
E é claro que a tarefa da educação revolucionária tem que estar estreitamente ligada à tarefa da organização da vanguarda revolucionária, à tarefa da formação do partido revolucionário da classe operária, porque são dois factores interligados.
Se não houver partido revolucionário, se não houver método revolucionário, não haverá educação revolucionária. E se não houver educação revolucionária não haverá partido revolucionário.
Um partido de burocratas pode ser organizado perfeitamente; métodos mecânicos podem ser implementados perfeitamente, e então a instrução responderá a esses métodos, responderá a essa concepção, porque a educação não estará isenta das consequências dos erros.
Agora, as condiciones que estão a ser criadas são diferentes: os oportunistas de qualquer tipo têm as portas fechadas. Houve aqui alguns que acreditaram que a rectificação de erros era a justificação de outros erros; houve, inclusivamente, aqueles que sem entenderem bem a questão do anti-sectarismo, pretenderam disfarçar de anti-sectarismo o seu antimarxismo; houve aqueles que até afiaram os seus dentes. E no entanto, a rectificação de erros não significava um passo atrás, senão um grande passo enfrente em todas as esferas. E em todas as esferas tínhamos que dar um grande passo enfrente, porque em todas as esferas estávamos a sofrer as consequências dos erros e também na economia, onde estávamos a sofrer as consequências da anarquia, da irresponsabilidade e do caos.
Vamos demorar alguns meses, mas no domínio da economia também serão constatados os resultados do esforço que se está a realizar. No domínio político, anda-se lentamente, mas, ah! quanta aldrabice estava disfarçada e tem ficado de fora, quanto vigarista e quanto oportunista.
Que coisa tão triste que o desertor, o traidor, o fraquitolas, o cobarde, conseguisse empurrar mais do que ninguém, que estivesse a emergir e a aparecer por todos os lados, e acontecia, porque esse é o mais perigoso; o oportunista é muito perigoso, porque "fura" e depois empurra tudo quanto pode. Não obstante, com os trabalhos que se estão a realizar, há uma magnífica selecção de companheiros revolucionários!, uma magnífica integração! Porque é uma integração com base nos aspectos que precisamos levar em conta, isto é, a qualidade, atendendo ao mérito, a honradez revolucionária, a conduta de cada revolucionário, em estreita relação com as massas.
Grande peneira! Não grande pelo número, não. Grande pela qualidade dos elementos negativos que se tinham infiltrado, nada menos que dentro do aparelho de vanguarda da classe operária.
Ah!, e isso reflete-se imediatamente nesta frente de trabalho, porque nós tivemos a oportunidade de descobrir que estávamos a gastar milhões de pesos não na educação da classe operária senão da pequena burguesia. E vamos deixar-nos de histórias, é preciso integrar, há que integrar aquilo que for necessário, temos que ganhar a pequena burguesia —evidentemente, ganhar aquilo que se possa ganhar—, há que juntá-la ao proletariado, não ao imperialismo, não à reacção. Isso está bem claro! Mas isso não significa de maneira nenhuma educar a burguesia, a pequena burguesia e torná-la a vanguarda da revolução proletária.
Vamos falar claro, aqui entre nós, entre pequenos burgueses e proletários, como os que estamos reunidos aqui tendo em conta a nossa origem; vamos falar claro, sem que ninguém fique vermelho, porque no fim das contas, a postura de cada qual perante a revolução é a que cada qual decida adoptar, se adoptar a postura do pequeno burguês ou adoptar a postura do proletário. E o pequeno burguês pode adoptar a posição do proletário, a ideologia do proletariado e a atitude revolucionária condizente com o proletariado, porém não acreditemos que estamos a fomentar o espírito proletário, ou a desenvolver o espírito proletário desenvolvendo a pequena burguesia. Desenvolveremos o espírito proletário, desenvolvendo o proletariado, educando o proletariado, libertando-lo, inclusivamente, de muitos dos entraves e das mazelas, porque todos aqueles vícios e todas as consequências derivadas daquela vida dentro de uma sociedade capitalista e antiproletária, deixam severas marcas no proletariado.
O espírito do proletário é mais forte, companheiras e companheiros, o espírito do proletário é mais enérgico; como classe, as suas características são diferentes às do espírito do pequeno burguês e evidentemente, ao espírito do burguês.
E as virtudes do proletário são mais sólidas, mais fortes, mais firmes, e para chegar aí não faz falta raciocinar demasiado. Como eu disse aos companheiros da escola de instrução revolucionária da província de Havana, não é igual o espírito de um escriturário que funciona num ministério, do que o espírito de um mineiro que trabalha a 1 000 metros embaixo da terra. E constantemente reparamos: não é igual o espírito de um escriturário que o espírito do camponês que sobe todos os dias a montanha; porque até esse camponês, até esse camponês que não é proletário, mas tem que encarar a natureza dura e rude, ele desenvolve um espírito mais firme, desenvolve uma capacidade de abnegação maior, uma capacidade de sacrifício mais acentuada.
Tal é evidente, as selecções para as escolas eram feitas a dedo: fulano vai para a provincial, sicrano vai para a nacional. Não se tinha em conta absolutamente para nada as características, as qualidades, o mérito. As selecções dos núcleos eram feitas a dedo, e até clandestinas —mas disso não vamos tratar hoje, faço uma simples referência—, infelizmente era assim. Claro, muitas vezes a dedo pode ser escolhida muita gente boa, porque qualquer pessoa a dedo pode escolher um grande individuo, e nos núcleos tinha muita gente boa escolhida a dedo, mas que a sua condição de membro do núcleo não tinha nada a ver com a sua conduta, com os seus méritos, senão a sorte de ser conhecido, a sorte de que aquele que organizou o núcleo lembrou-se de que ele existia; facto que nada tinha a ver com a massa, nem com a opinião da massa. E isso também se passou na escola, e então a Revolução estava a gastar 10 milhões de pesos, dez milhões de pesos! —e que são pesos de verdade, porque são pesos em comida, são pesos em despesas materiais—; gastava-se nisso 10 milhões de pesos.
E em abono da verdade, todo o esforço que faziam os companheiros nas escolas se via emperrado por esses métodos.
Doravante, as funções da escola serão bem diferentes. Um companheiro disse há bocadinho que a história diria se esteve bem ou mal que se tivesse “consertado” muita gente. E concordo com esse ponto de vista do companheiro. Incluso quando a escolha não era a melhor ou ideal, a escola não deixou de surtir os seus efeitos sobre muita gente, incluso não deixou de “consertar” muita gente, que de facto foi consertada; mas as escolas não são para consertar, e independentemente de que a história dirá se foi bom ou foi mau, sem sombra de dúvidas, não temos que aguardar pela história para saber que nesta altura o único correcto é que as escolas deixem de ser escolas para consertação, o único correcto é que as escolas se tornem em escolas da classe operária fundamentalmente.
E já se constata nas escolas a nova composição dos alunos. Porque as escolas não funcionam apenas com um programa melhor —em virtude naturalmente da experiência—, funcionam com um programa mais elaborado, programas que naturalmente estão em processo de adaptação, até que no futuro fique para cada nível a matéria que é preciso estudar; para além dos programas, nas escolas já há outra composição.
E eis aqui uma evidência. Na província de Havana, o curso anterior apenas foi frequentado por 18% de operários industriais, a esmagadora maioria de procedência não proletária. E presentemente há 46,2% de operários industriais na escola provincial de Havana.
Quer dizer que a composição cresceu de 18% para 46,2% e claro é esta uma porcentagem alta se tivermos em conta que somos um país subdesenvolvido.
Escriturários, 15,48%. A proporção anterior era possivelmente ao contrário, digo possivelmente por não possuir os dados exactos.
Técnicos, 5,31%; administração pública, 4,87%; forças armadas, 3,98%; trabalhadores do ensino, 1,33%.
Mas já na escola a composição é de uma influência decisiva de alunos de procedência proletária.
Naturalmente, em muitas províncias não há sequer indústrias, porém há trabalhadores agrícolas, há operários não industriais e em regra, nas províncias regista-se uma grande proporção de burocracia, porque embora Havana seja uma cidade burocrática por excelência, também regista uma grande presença de operários industriais, tendo em conta que as indústrias com que contava o país estavam esmagadoramente concentradas na capital da república.
Já nas escolas está a mudar a composição, e doravante —como explicou o companheiro Lionel— as escolas provinciais serão freqüentadas por 80% de alunos escolhidos por méritos nas escolas básicas.
Às escolas básicas serão destinados os membros dos núcleos e os melhores trabalhadores, trabalhadores seleccionados de cada centro. Isto é, as escolas básicas poderão ser frequentadas por operários não membros do núcleo; inclusivamente, poderia dar-se o caso de que um operário não membro do núcleo demonstre ser tão bom aluno, tão correcto, pontual, e evidentemente revolucionário no seu comportamento, que seja promovido para uma escola provincial embora não seja membro do núcleo. E é bem provável que esse operário que frequentou a escola básica e posteriormente a escola provincial, tenha muitas possibilidades de ser aceite depois no núcleo do centro de trabalho de procedência.
As escolas, naturalmente, não serão apenas para os núcleos, senão para instruir as massas, a classe operária, e servirão também para descobrir inteligências, servirão para descobrir mentes revolucionárias e caracteres revolucionários; servirão para fortalecer não apenas ideologicamente, senão numericamente também os núcleos revolucionários. Porém, antes de mais, os membros dos núcleos; pois para os membros dos núcleos preparou-se também um programa e o correspondente material. Muitos dos membros dos núcleos frequentaram as escolas básicas; esses companheiros vão ajudar os outros que não cursaram as escolas básicas no estudo do programa e do material que vai ser enviado a cada núcleo, e também se está a imprimir material para os círculos de estudo dos núcleos, nos quais estudarão os membros dos núcleos coadjuvados por aqueles que já freqüentaram as escolas básicas.
Nesses mesmos círculos de estudo dos núcleos podem participar outros operários, ainda que não sejam do núcleo, e assim eles vão ficando ao par da situação, para depois frequentarem às escolas básicas. E das escolas básicas poderão ser escolhidos para as escolas provinciais; poupa-se 20% para quadros, para enviar às escolas provinciais companheiros procedentes não directamente das escolas básicas, senão para quadros políticos.
Quer dizer, deixa-se uma margem para que organismos do Partido escolham o pessoal a ser enviado às escolas provinciais.
É bom esclarecer isto. Sabem qual uma das primeiras coisas que têm que ser explicadas aos alunos em cada curso? Que esse curso não lhes concede privilégio nenhum, que esse curso não lhes concede um direito especial, que finalizado o curso retornam ao centro de procedência, que depois de fazerem o curso não vão virar líderes pelo direito de terem frequentado o curso, que com o curso feito não vão mudar de emprego: que a escola é uma oportunidade de fortalecerem os seus conhecimentos políticos, mas que regressarão ao local de procedência. É salutar que não se repita o caso daquele operário agrícola que frequentou a escola “Sierra Maestra”, e volvido um tempo, num encontro com alguns companheiros da granja, disse-lhes: "Olha, vocês esqueceram-se de mim e ainda estou com a enxada nesta granja.” O homem fez um curso de três meses, e quando retornou para o campo acreditava que ele devia realizar uma outra tarefa e não a de antes.
E ainda há mais: com aqueles que fazem a escola provincial, há que insistir muito, os formados nesses cursos vão regressar ao seu centro de trabalho, porque as escolas provinciais têm por missão fundamental instruir também os quadros que já são quadros, preparar os militantes, preparar melhor os bons operários.
E então o que vai acontecer? Será que os 900 alunos que vão frequentar as escolas se vão tornar quadros? Não. Das primeiras escolas foi necessário trazer muitos quadros, muitos professores; contudo, o objectivo das escolas não é esse, os finalistas da escola provincial retornam ao seu centro de trabalho.
Quando o Partido precisar transformar um militante em quadro, naturalmente que vai eleger o militante que esteja melhor preparado; mas tal não significa que um finalista da escola automaticamente vire num quadro, senão que regressa ao seu núcleo, regressa ao seu centro de trabalho.
A Revolução está interessada em que em cada centro de trabalho haja obreiros preparados, obreiros com uma grande educação política, obreiros capazes de orientar os seus companheiros, obreiros capazes de explicar o socialismo, de discutir com os derrotistas, discutir com os ignorantes, de desfazer os argumentos do inimigo, de explicar a razão de cada dificuldade, de explicar o passado, de explicar o presente e de explicar o futuro.
A Revolução precisa de ter em cada centro de trabalho militantes instruídos, os mais qualificados politicamente, porque quanto mais militantes revolucionários e com alto nível de educação política tenha um centro de trabalho, mais força terá a Revolução, mais apoio nas massas, mais solidez.
Porque, meus senhores, é princípio elementar que a Revolução e o Partido não são instrumentos para benefício pessoal. Cada estudante deve ser esclarecido, cada aluno das escolas deve ser esclarecido, como um primeiro principio, de que ser revolucionário significa abnegação, significa sacrifício, significa humildade, significa ser o primeiro nas actividades mais duras, o primeiro no exemplo, o primeiro no esforço, o primeiro no perigo; e afastar da mente de qualquer pessoa o conceito de que a escola e o Partido são instrumentos de benefício pessoal, afastar a ideia de que se vai trocar a enxada pelo tractor, não é isso!
Troca-se a enxada pelo tractor numa escola de tractoristas, numa escola técnica. Passa-se de um trabalho para outro após a superação técnica; não através da escola, não através do Partido. O Partido não é prebenda, o Partido é sacrifício; o Partido não é para se beneficiar pessoalmente.
Antes de mais, devemos ensinar cada revolucionário, que ao Partido se vai para entregar tudo; e temos que defender cada revolucionário desses administradores que quando há um bom quadro sindical o querem tirar da organização sindical para o colocar à frente de uma oficina, ou quando um aluno finaliza a escola querem tirá-lo do seu trabalho para o nomear chefe de alguma coisa ou administrador de algo; porque aqueles administradores agindo assim, transformam-se em inimigos do nosso esforço, são inimigos do esforço destinado a criar um grande partido revolucionário.
Porque então haverá gente que queira ir frequentar a escola para ver se terminado o curso regressam, mas para um melhor posto de trabalho. E quando tenhamos um bom militante revolucionário vai ser tirado daí e colocado como chefe. E então eles vão ter um chefe, porém nós teremos perdido um militante, e um militante revolucionário interessa mais do que um chefe administrativo; e é esse um princípio fundamental.
Para administradores, escolas de administradores; para quadros administrativos, haverá que consultar a massa, porque a massa é uma grande canteira; temos é que criar condições não para eleger alguém por apenas ter ido a uma escola de quadros ou por ser do núcleo.
Cada núcleo deve esforçar-se para que no centro de trabalho existam condições que permitam que qualquer obreiro da massa, qualquer membro da massa, pelos seus méritos, pela sua capacidade, pelas suas qualidades, seja promovido para cargos administrativos mais importantes, para funções de responsabilidade. Que da massa surja qualquer obreiro; que nenhum obreiro veja no núcleo pessoas privilegiadas; que ninguém possa ver no núcleo o trampolim para melhorar a sua posição pessoal. O núcleo não é isso; o militante não é isso. Interessa-nos muito mais esse militante humilde, com o seu vencimento humilde, convertido num baluarte da Revolução, do que esse militante convertido num administrador.
Se a dado passo é preciso escolher num departamento um operário mais capaz, mais competente, que demonstra possuir mais conhecimentos, e esse resultar ser do núcleo, o militante, e é escolhido para lá ir, muito bem; mas que não seja escolhido por ser militante. Pois dentro de um mesmo departamento pode haver alguém que sem ser militante possua mais conhecimentos, mais experiência.
E o militante deve fazer o que? Deverá promover esse obreiro. E se pretendem que seja ele a ir, pois deverá dizer: "Não, não devo ser eu a ir, porque aquele companheiro tem mais conhecimentos, tem mais experiência e pode ter melhor desempenho no cargo; ele não poderá desempenhar como eu o meu papel de militante e soldado da Revolução, porém ele pode desempenhar melhor do que eu o papel de chefe desse departamento ou tal cargo na produção.
São essas as condições que nós temos que criar em todos os centros de trabalho. Isto é, condições para que das massas surjam os melhores valores, para que das massas surjam as melhores inteligências para cada coisa.
Não se concebe que num teatro falte o violinista e pretendam substituir o violinista pelo porteiro do teatro por ele ser o melhor militante do núcleo revolucionário. É preciso arranjar um outro violinista; o porteiro não pode substituir o violinista. E se ele não tem feitio para a música, não devemos pretender fazer dele um músico; devemos fazer dele qualquer outra coisa menos músico. Devemos tentar tirar das massas os seus melhores valores.
A organização política será sempre uma selecção. A organização política não é a massa, é a dirigente da massa; é aquela que dirige as massas, desenvolve as massas, promove as massas e cria as condições que permitam as massas dar o melhor de si, os seus melhores valores em prol da sociedade, trabalhar em prol da Revolução, em prol da pátria.
E são essas condições que têm que ser criadas pelo Partido em cada local. E qual o método que vamos seguir, qual a pauta a seguir? Pois vamos defender os quadros do Partido, defender os quadros das organizações de massa, defender os quadros das escolas; as escolas devem ir formando quadros, mas não devemos permitir que tirem os quadros das escolas, não se pode permitir que quando se precise de um administrador numa fábrica, então se tire o director de uma escola para o colocar numa fábrica, já que é bem provável que se tire esse companheiro daquilo que ele sabe fazer, para o colocar naquilo que não sabe.
Há que defender os quadros das escolas, há que defender os quadros das organizações de massa e, ainda por cima, há que defender os quadros políticos, não se pode estar a tirar os quadros políticos, temos que poupar os quadros da organização. Custa muito trabalho formar um bom quadro, custa anos adquirir experiência, e é simplesmente uma estupidez e um erro tirar os quadros das organizações de massas, porque as organizações de massas são o mais importante que tem a Revolução, o seu aparelho político, o mais importante de tudo, mais importante do que o aparelho administrativo. Porque um bom administrador claro que é importante para a produção; mas não é o homem, aquele que impulsiona a produção; são as massas; e as massas movimentam-se através das suas organizações, através dos seus sindicatos, através das suas organizações de jovens, de mulheres, os Comités de Defesa, os milicianos. Não. Essa é uma ideia messiânica, o administrador não é o non plus ultra; pois um mau administrador acarreta mais prejuízo do que um elefante numa loja de porcelanas, porque emperra o trabalho das organizações de massas (OVAÇÃO), emperra imensamente o trabalho dos quadros políticos e das organizações de massas. Mas o que pode fazer um administrador sozinho, embora seja um excelente administrador, se não existe espírito de trabalho nos obreiros, se não há emulação, se não há vanguarda dentro daquele centro de trabalho, se não há quem possa dar o exemplo, quem indique as pautas?
E trabalhar como quadro político, como quadro das organizações de massas, tem que significar para qualquer revolucionário a honra mais alta que lhe possa conferir a Revolução, e talvez será tanto maior quanto menor será provavelmente a sua retribuição e o seu vencimento será mais modesto, no fim das contas tal não tem que ser importante para um revolucionário. E nós temos que formar revolucionários. Ser revolucionário significa marchar à vanguarda em todos os sentidos, estar a vanguarda nas ideias; ser revolucionário significa observar, com realismo, as condições objectivas de cada momento histórico, porém ao mesmo tempo compreender que essa realidade objectiva não se ajusta ao ideal supremo que um revolucionário leva dentro de si —as supremas aspirações—, a realidade objectiva como podemos constatar, presentemente, mostra-nos muitas desigualdades, a realidade objetiva revela que ainda há muitos privilégios, e na nossa sociedade, a despeito de tudo quanto temos avançado e sem o puder evitar , subsistem ainda muitos privilégios, subsistem ainda muitas situações privilegiadas.
O revolucionário observa essa verdade com visão objectiva, com sentido real da história, mas sabendo que isso é apenas um trânsito. No entanto ele, a sua postura, tem que estar por cima de todos esses privilégios, a sua postura tem que ser de rechaço a qualquer privilégio em todo o momento.
Os revolucionários têm que ir à cabeça da fila, e a realidade impõe inevitáveis desigualdades por muitos anos, desigualdades que existem dentro da nossa sociedade e vão existir durante muitos anos.
Nós comparávamos o caso do médico que dava 60 consultas diárias na medicina rural e auferia 240 pesos, com o do dono de uma oficina da construção que ganhava 3 000 por mês. E comentamos-lhe: É triste pensar que enquanto uma pessoa como tu, que ajuda 60 pessoas todos os dias a conservar a sua saúde, recebe dez vezes menos do que aquele que dentro da nossa sociedade, sem tratar ninguém , aufere doze ou quinze vezes aquilo que tu ganhas.” E essas são realidades que existem e vão existir lamentavelmente, no nosso país por determinado tempo, que será um tanto mais breve em dependência do desafio que pretendam fazer essas classes de privilegiados que ainda permanecem dentro da Revolução (OVAÇÃO).
E se o poder da Revolução for desafiado por essas classes encorajadas pelo imperialismo, os seus interesses e a sua condição de classe vão durar bem pouco por estas bandas. (OVAÇÃO).
Nós faremos questão de eliminar essa realidade caso as circunstâncias o exigirem, é para tal que estamos a envidar esforços na tarefa de criar um poderoso partido revolucionário, para tal estamos a criar as condições: Para estar prestes a enfrentar o inimigo quando for necessário e nas circunstâncias necessárias! Nesse sentido estamos a desenvolver um novo método, uma nova concepção.
O nosso método anterior não nos permitia desenvolver essa batalha contra essa classe. E por que razão? Porque achar administradores para 160 empresas açucareiras não era tarefa impossível, encontrar 160 homens não era tarefa impossível, 160 companheiros mais ou menos competentes; enquanto a luta era contra a alta burguesia, com os nossos métodos anteriores se podia ir avançando, com o método de tirar daqui, tirar de lá, procurar por aqui e procurar por lá. Porém quando a batalha passa a ser contra essa classe que é mais numerosa, se os nossos métodos são os mesmos de antes, os nossos métodos de dedo: de tirar daqui e tirar de lá, e não houver já de onde tirar, como é que iríamos enfrentar essa classe? Ah! quando são métodos de massas, e quando se precisar de 3 000 para o curso de auxiliares de administração serão escolhidos pela assembleia dentre os melhores trabalhadores, e não escolheremos ninguém a dedo, porque confiamos muito mais no cérebro das massas do que no dedo dos homens (OVAÇÃO), porque é mais difícil enganar a massa do que enganar os homens, conquistar a massa do que conquistar os homens, dar graxa na massa, do que dar graxa nos homens.
E nós sabemos extrair das massas todos os seus valores, prova disso é que temos escolhido mais de 300 jovens para irem a Helsínquia... É bem impressionante ver como nas escolas e nos centros as massas têm escolhido os melhores jovens! Método infalível, do qual temos provas. Porque nós sabíamos que havia uma moça da Ciénaga de Zapata, praticamente analfabeta, que veio frequentar a escola, tinha um grande talento de escritora e foram tão evidentes as suas qualidades de inteligência que daí passou para a uma escola de professores, e depois soubemos que foi eleita por unanimidade pelas suas colegas para ir a Helsínquia. E nós dissemos: Não foi por acaso. Era lógico.
Quando tomamos conhecimento de um estudante dos Camilito, que em dois anos tinha avançado tanto que progrediu do analfabetismo até a secundária básica, um rapaz de relevantes qualidades, e vimos no jornal que foi eleito pelos seus companheiros, pensávamos: "Aqui não há engano de nenhum tipo.” Porque foi claro e evidente para nós que as massas quando escolheram, escolheram pessoas de cujas brilhantíssimas qualidades já tínhamos notícias, e onde estavam esses rapazes, não foram escolhidos outros, senão eles.
Quando em Oriente o exército escolheu um sargento que quando do desembarque de um grupo de mercenários, ele, conjuntamente com alguns homens foi persegui-los incansavelmente, até os liquidar; ou quando escolheram aquele comissário, que rodeado de contra-revolucionários pediram-lhe para se render e disse: "Como é que me vou render na minha pátria livre?” e logo após disparou contra eles, matou dois e afugentou o resto (OVAÇÃO), nós pensávamos: não foi por acaso, as massas não se enganam facilmente, as massas têm um alto espírito de justiça.
Com efeito, há alguns companheiros seleccionados para irem a Helsínquia que não foram seleccionados pelas massas. Certos atletas, seleccionados pelos seus músculos, ou certos companheiros de qualidades artísticas, seleccionados pelas suas qualidades perante a necessidade de organizar alguns grupos artísticos. Mas a esmagadora maioria foi escolhida pelos seus méritos e pelas massas.
Magnífico método! Quanto eleva isso o mérito perante os olhos da sociedade, quanto eleva o sacrifício, quanto eleva o conceito de trabalho e, acima de tudo, quanto eleva a opinião das massas proletárias e trabalhadoras!, e vai indicando a cada qual que aqui não há gato, porque cada dia há mais opinião desenvolvida, há uma opinião vigilante, uma opinião justa, que sabe diferenciar o mérito da falsidade.
E quanto nos vai ajudar isso na nossa gigantesca tarefa histórica! Quanto nos ajudará na construção de um povo melhor, quanto nos ajudará na construção de uma consciência verdadeira e real da Revolução e do trabalho! Quanto nos ajudará!
E esses métodos são os únicos métodos que nos permitem encontrar em qualquer localidade, grande ou pequena, 20, 30 ou 40 administradores, se precisarmos deles. Já fizemos a prova numa pequena localidade bem próxima, onde os contra-revolucionários estavam à ofensiva, onde os burgueses do lugar, a pretexto de um incidente inevitável, registado com a força pública na altura em que foi cercar um grupelho de elementos que estavam reunidos no mato, num sítio onde no dia anterior a uma companhia em manobras lhe tinham ferido um soldado e ao dar-lhes a ordem de alto e eles terem deitado a fugir, pois um deles foi morto e um outro ferido —um acontecimento absolutamente acidental, que nada tinha de criminoso—, então os burgueses, velhos sargentos políticos enriquecidos a coberto de Guás Inclán e de Orúe, ou devido à exploração de obreiros nessa localidade, saíram à rua, fecharam os negócios e tentaram protagonizar uma manifestação contra-revolucionária.
Quando nós tomamos conhecimento disso, decidimos tomar as medidas pertinentes e propor à direcção nacional o apuramento de todos os antecedentes, das fraquezas das organizações de massas no local, das fraquezas da Revolução aí e a causa dos erros cometidos —que foram muitos por sinal—, e fizeram com que a contra-revolução adquirisse determinada força para promover tal espectáculo. Mas, ao mesmo tempo, levando em consideração o facto de que no regime capitalista um burguês que fecha o seu negócio possa ser considerado uma virtude —de aquele "grande cidadão" que fecha o seu negócio, aquele cidadão "cívico"—, pode passar por um bom cidadão, e por cívico num regime capitalista, que é o regime dos burgueses, mas que um burguês feche o seu negócio numa revolução socialista jamais poderá ser admitido (OVAÇÃO).
Porque aqui jamais poderá passar por virtuoso nenhum explorador. Que seja feliz e tolerado pelo tempo que necessário, porém que não fique nessa brincadeira contra a Revolução dos proletários, porque correrá o risco de cessar imediatamente na sua condição de explorador, e muito antes talvez daquilo que teria podido permanecer.
E foi isso que fizemos naquela localidade. Apuramos as causas das nossas fraquezas, erros —que são erros cometidos em muitos sítios—: um péssimo quadro político, desacreditado, e toda uma série de outros erros; reunimos com as organizações de massas, analisamos todas essas dificuldades; reunimos com os trabalhadores, as mulheres, com os Comités de Defesa, as milícias, os jovens comunistas —núcleo praticamente não havia—, reunimos também com as organizações de massas. Ao passo que as organizações de massas reuniam, a Segurança do Estado ia fazendo as detenções de todos os burgueses daquela população (OVAÇÃO), com excepção dos poucos que tiveram uma boa atitude perante a Revolução. E que não fecharam os seus negócios; e logo após foi nomeado pelas massas das organizações revolucionárias, das organizações de massas, um administrador para cada um dos negócios (OVAÇÃO), desde a casa de pasto de um português daquela região, até aos telhais da zona, passando pelas mercearias, farmácias, padarias e quanto negocio tinha aderido à contra-revolução (OVAÇÃO).
E as massas souberam escolher. E para cada oficina e para cada negócio escolheram o melhor. E não encontrando a quem escolher para a farmácia, eles falaram de um companheiro miliciano que estava em Sagua, diziam: "Aquele, aquele é um grande revolucionário, tragam-no para a farmácia.”
E o que é que aconteceu? Verificou-se revolucionariamente a intervenção e confisco desses negócios (OVAÇÃO), com a nomeação imediata dos administradores por parte das organizações de massas, foi constituída uma comissão económica honorária para supervisionar o trabalho de cada negócio e de cada administrador, foi indigitado um contabilista para levar a contabilidade conjuntamente com cada um dos administradores, supervisionado pela comissão económica, e criada uma junta das organizações revolucionárias, perante a qual a comissão económica teria que prestar contas da sua gestão.
Não subordinamos a casa de pasto a uma empresa, tampouco o telhal. Era necessário descobrir novos organismos, e foram descobertos. Posteriormente, procedeu-se a intervir um telhal em Trinidad e foi passado a uma empresa consolidada, que é como pôr agulhas num palheiro, por vezes executa-se a intervenção de negócios porque emigra o dono, ou por qualquer uma outra razão, e metem-no no mesmo saco, subordinam o negócio a uma empresa qualquer, tiram um administrador de sei - lá onde e o colocam à frente da mesma, sem ser fiscalizado, nem controlado por ninguém, então cometem-se erros a fio durante meses e ninguém toma conta disso (OVAÇÃO). Nós concebemos uma empresa consolidada de açucareiras, grandes fábricas, com problemas semelhantes, com reparações e peças semelhantes, mas quem concebe coisa semelhante para as mercearias, quem concebe uma estrutura destas para as casas de pasto? Por vezes acontece como com o INIT, que tem, a título de exemplo, uma cafeteria na localidade de Consolación del Sur com dois empregados e um bar em Baracoa, cuja gerência foi unificada, pela partida dos donos ou por seja lá o que for, e tal é simplesmente um absurdo.
Da própria população surgiu o administrador para cada estabelecimento, com um vencimento modesto, tendo este sido advertido com antecedência de que o seu cargo não era a perpetuidade, que se não trabalhasse bem seria substituído, e estaria fiscalizado por uma comissão económica honorária, e por uma junta das organizações revolucionárias. Se o administrador escolhido não der conta do recado, será do conhecimento imediato de todas as organizações, ficando a saber disso a comissão económica, resolve-se imediatamente o problema, tudo a nível local, substitui-se, se necessário e toma-se a medida pertinente.
E que pensamos disso? Pois que no fim do ano reúna uma assembleia geral do povo, e os administradores prestem contas perante a população sobre a administração daqueles bens (OVAÇÃO), os bens socializados locais, empresas socializadas locais, que continuam a funcionar igual do que antes, como a casa de pasto que era do português, agora a funcionar sob a administração de um companheiro do povo, fiscalizado por uma comissão económica, um contabilista e, aliás, pelas organizações de massas. Qual o resultado? a noite, a casa já estava a servir comida, na padaria vendeu-se pão quente, e no dia seguinte tudo estava como de costume, ou melhor que antes.
O que é que aconteceu realmente nessa localidade? Refiro-me a El Cano, em Marianao, acho que não tinha especificado o lugar, uma zona de muita influência politiqueira dos velhos caciques. Aí os burgueses eram os donos de todos os negócios, donos de todas as viaturas, de todos os camiões; todos tinham telefones nas suas casas e para além disso eram donos do dinheiro e aqueles que controlavam os obreiros artesãos da localidade eram os amos do sítio... Então, foram-lhes confiscadas todas as viaturas! —vinte e oito viaturas confiscadas!—, foram confiscados todos os camiões, todos os telefones e foram instalados nas casas dos trabalhadores, os telefones do povo (OVAÇÃO). O seu poder desabou como castelo de cartas, na única coisa que não se mexeu foi nas contas dos bancos, em virtude de que a Revolução, que promove a poupança, tem que estabelecer o princípio de que é sagrado o dinheiro guardado nos bancos, como se fez quando da mudança de moeda (OVAÇÃO); e, aliás, para que no dia seguinte não saíssem à rua a pedir esmola. Ficou-lhes alguma coisa para subsistirem... (RISAS) enquanto se adaptam ou vão para Miami!
E o que aconteceu? Eles tinham mobilizado 60 ou 80 pessoas; na reunião das organizações de massas havia 200, não foram citados todos, senão uma representação. No dia seguinte, realizou-se um acto e compareceram 2 000 populares da localidade. O que ficou demonstrado? Que muito embora a grande influência desses elementos negativos naquela população, daquela grande influência negativa do passado, a proporção em favor da Revolução era de 10 em 1, foi isso que ficou constatado; responderam os sectores humildes, responderam os trabalhadores, responderam os desfavorecidos, com espírito, com energia, com entusiasmo (OVAÇÃO).
Quando a nossa organização for forte, quando em cada município, em cada população, em cada local, houver um secretário do Partido formado, disciplinado, educado na fe nas massas, convencido de que nas massas há uma canteira infinita de valores, que nas massas estão os homens e as mulheres que precisamos para cada tarefa, ah!, então estaremos em condições de dar a batalha contra os inimigos da classe obreira, contra os inimigos dos nossos trabalhadores a nível da vila, da cidade, da província ou da república, se as circunstâncias o exigirem.
Este exemplo serve para ilustrar a importância do aparelho de vanguarda da Revolução; serve para orientar os revolucionários e para advertir os contra-revolucionários, para advertir os burgueses, para saberem que não estamos a brincar a revolução, para saberem que têm que evitar o choque com os trabalhadores, que têm que evitar o choque com a classe obreira, e para saberem respeitar a revolução proletária, para saberem o que devem aguardar, se desafiarem o poder dos proletários.
Por conseguinte, companheiros directores, é bem importante que conjuntamente com as experiências referidas sobre o papel da escola, o espírito de sacrifício com o qual é preciso frequentar a escola e ir ao Partido, é salutar explicar aos alunos que a nossa Revolução atravessa um período de aguda luta de classes, a nível nacional e internacional, tendo em conta que subsiste uma burguesia rural numerosa, de proprietários médios, que subsiste uma numerosa burguesia urbana, com viaturas, com dinheiro, com telefones, com recursos, com intrigas, com uma certa cultura, com um profundo ódio de classe para com o proletariado, de olhos virados para o estrangeiro inimigo da pátria, de olhos virados para o poder do imperialismo, a sonhar com esmagar a Revolução proletária, a sonhar com restabelecer o seu nojento regime de exploração, de parasitismo no nosso país, de fome e de miséria, o seu regime desapiedado para com as massas, forçadas a viver sem futuro e sem esperanças. E essas classes sonham com isso.
Ensinar o aluno que a Revolução não se fez o dia um —nem o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro, nem o quarto, nem o quinto ano—, que a Revolução é uma longa batalha, uma longa luta, como foi a luta por conquistar o poder. Porém que depois de conquistado o poder é preciso seguir a luta, e ainda com mais força, contra essa classe, contra a sua influência, contra o seu espírito reaccionário. Porque são esses os que criam as dificuldades, uma vez que quando nós levantamos as restrições aos camponeses, por serem os nossos aliados, quando adoptamos medidas para facilitar aos camponeses a venda dos seus produtos, aparecem eles a pagar 10 pesos por uma galinha, 50 pesos por três perus.
São aqueles que por terem dinheiro e recursos, deslocam-se a Rancho Mundito, e apenas num domingo compram 400 kg de inhame. O inhame que precisamos para cumprir as obrigações do racionamento durante seis dias na capital da república: o inhame para alimentar os filhos dos obreiros e das famílias humildes, então eles vão nas suas viaturas a comprá-lo, pagando qualquer preço.
São aqueles que neste momento de dificuldades acrescentam as nossas dificuldades, promovem a especulação, o engano, a corrupção, aqueles que se apropriam como parasitas dos recursos daqueles que não têm viaturas, nem benefícios.
São aqueles que criam dificuldades, aqueles que interferem. E essas classes subsistem, e essas classes estarão a apresentar batalha contra a Revolução, caso não decidirem aceitar a etapa da transição inevitável, se continuarem a pregar-se ao imperialismo, se não se adaptarem.
E é bem lógico que num país como o nosso, situado apenas a 90 milhas do imperialismo ianque, o maior poder reaccionário do mundo, eles conservem as esperanças e sintam-se encorajados. É por isso que temos que recorrer à teoria da luta de classes, para oferecer uma explicação clara aos alunos das escolas, para que não fiquem iludidos, para que não se enganem como aqueles que acreditaram que uma revolução era coisa fácil, que já estava feita, aqueles que caíram nessas posições idealistas, alheias à realidade da historia, alheias à essência duma verdadeira revolução; para que cada aluno saído das escolas compreenda a etapa que estamos a viver e compreenda esta luta, para que saiba e possa explicar os motivos pelos quais a Revolução tem que lutar arduamente e vencer ingentes obstáculos. É necessário criar em cada aluno uma consciência de revolucionário verdadeiro, de revolucionário combatente, de individuo pronto a defender a pátria a qualquer momento. Porque não se pode aceitar nem conceber esse revolucionário que depare com o inimigo na rua e não lhe confronte, que veja o inimigo falar mal da Revolução e não o encare imediatamente, porque se há um revolucionário na rua e aparecem 100 inimigos, embora ele esteja sozinho, tem que os enfrentar até com a vida se for preciso (OVAÇÃO).
É essa a atitude de quem está ciente de uma causa, é a atitude do verdadeiro defensor de uma causa: não repara em quantos são os seus inimigos, senão que pensa na causa que está a defender, na determinação que tem sobre os interesses que defende frente aos interesses do inimigo, dos traidores, dos cobardes, dos exploradores.
E a Revolução enfrenta-se hoje aos inimigos de classe do proletariado, aos anti-sociais, aos parasitas de todo o tipo, aos instrumentos do imperialismo, aqueles que estão dispostos a fazer o jogo ao imperialista que nos bloqueia. Àqueles que com as panelas pretendem fazer o jogo a Kennedy, é preciso partir-lhes a panela na cabeça! (OVAÇÃO.)
Porque com esses exploradores, com esses reaccionários que tencionam acrescentar as dificuldades da pátria, com esses todos é que está a contar o imperialismo ianque; com esses traidores, com esses exploradores, com esses burgueses e anti-sociais que se lhes juntaram. Porque para enfrentar o proletariado tem-se juntado latifundiários, traficantes, negociantes de todo o tipo, politiqueiros, criminosos de ontem, viciosos de péssima ralé, é este o conluio do anti-social com o vício e o crime, com o privilégio e com a exploração.
Esses são os nossos inimigos, e serão eternamente. E para com o inimigo não devemos ter consideração nenhuma; para o companheiro todas as considerações. Para o companheiro camponês, para o companheiro obreiro, para aquele que trabalha para beneficiar a sociedade com a sua inteligência ou com o seu braço, o nosso coração, a nossa vida. Para o inimigo, estiver onde estiver, o nosso punho; para o inimigo, mão dura, a destruição, apareça lá onde aparecer (OVAÇÃO).
Porque pretendem instaurar um São Bartolomeu dos proletários, um São Bartolomeu dos revolucionários, um São Bartolomeu dos humildes. Estão a sonhar com isso, estão a sonhar com um banho de sangue proletário, camponês, revolucionário e humilde, no solo da pátria, para instaurar o seu mundo de ódio, vícios, corrupção e infâmia.
E como nós conhecemos as suas pretensões, também sabemos como lhes fazer face desde que decidam enfrentar a Revolução proletária. Porque a Revolução tem força, convicção, moral, entusiasmo, e toda a dignidade que necessário para encarar os seus inimigos e até para liquidar os seus inimigos se for preciso, aniquilar os seus inimigos.
Somos convictos de que esta é uma luta de vida ou morte. Somos convictos de que uma revolução é uma batalha que apenas pode terminar com o triunfo dos revolucionários ou com o triunfo dos contra-revolucionários. Mas a história demonstra que sempre termina, em cada hora histórica, com o triunfo dos revolucionários que sabem interpretar essa hora da história.
É mesmo por isso que nós sabemos que embora eles não se conformem facilmente, embora façam tudo quanto possível, a vitória estará inexoravelmente do nosso lado. Sabemos o que significa uma revolução, sabemos dos antagonismos que se enfrentam numa revolução, sabemos, aliás, que esta revolução se desenvolve em condições especiais, que não seria igual talvez se estivéssemos a muitas milhas de distância do império ianque. E digo só talvez, porque os imperialistas ianques têm as suas mãos metidas em todos os continentes; porém a circunstância de estarmos a 90 milhas deles torna especial a nossa situação, e tal determina em grande medida a atitude do inimigo de classe: a circunstância especial da proximidade do imperialismo.
É mesmo por isso que lhes custa se conformar, é por isso que se sentem encorajados. E então os acontecimentos é que decidirão, a realidade objectiva pautará o futuro das nossas relações com essa classe; contudo, de todas as formas devemos prontificar-nos para a batalha, devemos estar prontos para a batalha, se necessário apresentar a batalha quando necessário. Nunca será de forma desnecessária, jamais cairemos em extremismos desnecessários; preferimos não cair nesses extremismos desnecessários , antes bem, não se poderão denominar extremismos desde que necessários. Será melhor dizer: preferimos que não seja necessário o fazer; preferimos que a Revolução continue o seu andar ascendente sem estarmos forçados a tomar medidas drásticas contra os nossos inimigos de classe. Preferimos que se resignem à Revolução e fiquem resignados a desaparecer paulatinamente, sem grandes sacrifícios, antes de recorrer a necessidade de fazê-los desaparecer drasticamente como classe.
Por conseguinte, é preciso que todos reflitam que para a resolução dos problemas do processo revolucionário, precisamos fortalecer as nossas organizações de massa, o nosso aparelho revolucionário, os nossos quadros, o nível ideológico e político das massas.
Companheiras e companheiros:
É impressionante a força da nossa Revolução neste momento. É impressionante o avanço do povo em todas as frentes; há avanços quer no domínio militar, quer no domínio laboral. É impressionante o esforço que se constata a toda hora em todas as partes. É impressionante este próprio movimento de educação revolucionária. Ultrapassa o almejado o número de escolas de divulgação do marxismo, as dezenas de milhares de homens e mulheres que frequentam essas escolas.
Poucas vezes tem-se verificado um acesso tão vertiginoso das massas à educação, um acesso a verdade. Tudo impressiona, e impressiona ainda mais quando se pensa nas dificuldades que tivemos que ultrapassar, nas armadilhas colocadas pelo imperialismo; impressiona ver os cerca de 100 000 bolseiros existentes, o movimento de educação e de preparação que há no país, o esforço que se realiza em todas as partes.
Claro, nós, a braços com todas estas dificuldades, temos tido mais sorte do que outras revoluções, porque nós tivemos três anos e meio para fazer isto, quando foi da revolução soviética, a título de exemplo, eles tiveram que passar esses três anos a combater nos campos de batalha frente à intervenção estrangeira. Eles não puderam fazer o que nós estamos a fazer neste momento, o impulso que estamos a dar na educação revolucionária das massas.
E tal nos permite ganhar em força; permite-nos tornar mais sólida a Revolução; permite-nos que a Revolução deite profundas raízes, bases sólidas e indestrutíveis; permite-nos pensar na nossa Revolução como um facto irreversível, como uma página luminosa na história do nosso continente; permite-nos ter mais segurança e mais fe na vitória final do nosso povo.
Devemos explicar e ensinar e estudar para poder ver mais e ensinar mais; para compreender as realidades, para que não haja mistério para nenhum de nós no caminho revolucionário, para que saibamos reconhecer os nossos amigos e os nossos inimigos, os aliados da classe obreira no pequeno campesino. Como aquele admirável camponês das montanhas, que deu às forças armadas da Revolução dezenas de milhares de filhos valentes e estóicos; como aquele camponês das montanhas orientais que defendendo a Revolução proletária combateu contra as bandas mercenárias em Matanzas, em Las Villas e em todos os sítios; saber reconhecer esse aliado, esforçarmo-nos em todas as frentes da produção para fornecer a esse camponês roupa, para lhe fornecer sapatos, para lhe fornecer medicamentos, para lhe levar professores, para lhe levar médicos, para lhe fornecer ajuda económica.
Sabemos muito bem que não temos todos os professores que precisamos, nem todos os médicos que precisamos. Já sabemos, e é lamentável pensar que há professores que apenas comparecem dois dias para dar aulas, médicos que não são capazes de dar uma consulta a um doente. Sabemos disso, mas não interessa. Não só estamos a fazer um esforço por elevar a consciência revolucionaria dos professores, senão que estamos a formar novas gerações de professores, novas gerações de médicos, novas gerações de técnicos; igualmente estamos a formar novas gerações de pescadores conjuntamente com os projectos de construção de grandes frotas de pesca; como estamos também a formar novas gerações de quadros administrativos; como estamos a impulsionar o futuro da pátria, com fe, com convicção, sem recuar perante as dificuldades de hoje, porque sabemos que são transitórias; e, aliás, porque nos honram; e também porque sabemos que nos tornam mais fortes (OVAÇÃO); e ainda por cima, porque os povos se tornam mais fortes não na abundância, senão no sacrifício, na luta, face à adversidade. E nós sabemos de que são capazes os povos.
Tudo vai depender daquilo que sejamos capazes de compreender e saibamos fazer compreender aos outros, quanto a que uma Revolução não é um passeio, nem um caminho de rosas, senão de sacrifício: uma luta dura e abnegada. Que saibamos que não estamos a viver em épocas normais, senão que a Revolução é uma luta tremenda, uma guerra que muda de forma, que por vezes se torna guerra armada e noutras guerra de classes desarmadas —sabotagem, campanhas, resistência, interferência no trabalho revolucionário—, que pode adquirir forma de luta armada, como adquiriu em Girón, como foi no Escambray quando da campanha contra as bandas armadas naquele sítio; sabermos que o inimigo não descansará, que não descansará na sua tarefa de tentar semear o terror, assassinar professores, assassinar milicianos, assassinar obreiros, perpetrar os crimes repugnantes e nojentos que cometeram em todas as partes as bandas reaccionárias. Saber que esta é uma luta dura. E nós sabemos quanto são capazes de resistir os povos, porque constatamos isso na Sierra, quando nem nós, nem o povo tínhamos nem sal, nem açúcar, nem cigarros, e tínhamos aviões, bombas, famílias a viver em grutas. E com quanto estoicismo suportaram tudo!, sabendo que aquilo era a luta, sabendo que aquilo era a guerra, sabendo que viriam tempos melhores.
Nós também sabemos que os povos são invencíveis, são capazes dos mais inconcebíveis sacrifícios, e lá onde ao fraquitolas e ao falto de fé lhes falta a coragem, o povo reage com energia, com valor, perante os seus inimigos. Os inimigos ganharam fólego e não demorou em aparecer a reacção do povo, que já se vê, em todas as partes, e ver-se-á cada vez mais, ver-se-á no dia 26 de Julho, no quarto aniversário que assinalamos após o triunfo da Revolução, que será também um dia de luta, de reconto; será um dia de batalha, no qual mobilizaremos o povo de Santiago de Cuba, para desde aí enviar a toda a nação uma mensagem revolucionária.
Com este espírito companheiros, de luta, de combate, de ofensiva, tem vocês que iniciar esta nova etapa das escolas, com esse espírito têm vocês que ir ensinar os seus alunos.
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)