Quem alegar que o bloqueio econômico contra Cuba não é real está agindo desonestamente e de modo deliberado
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«Naturalmente que se pode falar de um incremento da hostilidade, de um estado de aberta hostilidade, este Governo se empenhou e se comprometeu, como Governo dos Estados Unidos, a adotar ações extremas para pôr fim à Revolução Cubana, para derrubar o nosso Governo».
Com essas palavras respondeu o diretor-geral para os Estados Unidos, do ministério das Relações Exteriores, Carlos Fernández de Cossío, a primeira das perguntas que lhe fez a mídia, nas primeiras horas da manhã, do dia 20 de maio, na chancelaria cubana, durante o encontro que meios de informação nacional tiveram com o diplomata cubano.
Cossío pôs ênfase na forma de agir da presente administração da Casa Branca. «Parte daquilo que fez o Governo dos EUA é incrementar a agressividade verbal, lançar mão sem recato de uma alta dose de falsidades, de mentiras, mas, além do mais, esteve adotando ações de grande impacto, entre elas o acirramento do bloqueio, um aumento da perseguição das transações comerciais de Cuba em qualquer lugar do mundo, das transações financeiras das que depende nosso comércio exterior, das que depende o funcionamento da nossa economia», explicou o funcionário cubano.
Cossío expôs como se incrementou a ação negativa para terceiros países, ao se comprometer a atual administração na aplicação extrema da lei Helms-Burton.
«Este Governo, ainda, adotou medidas tão extremas como a de tentar impedir a chegada do combustível que requer a nossa economia para funcionar. E se não teve sucesso foi devido à solidez, à fortaleza de nosso sistema», sublinhou.
A administração Trump se propôs reduzir ao mínimo as trocas bilaterais oficiais entre os dois países; essa cooperação bilateral que chegou a existir em temas tão sensíveis como a aplicação e cumprimento da lei no combate contra o tráfico de drogas, contra o terrorismo, mas também colocou o maior número de obstáculos possíveis para as trocas que não dependem diretamente do Governo: as acadêmicas, culturais, religiosas, esportivas e científico-técnicas, e no âmbito da saúde. Pôs obstáculos aos vínculos entre os cubanos que vivemos a ambos os lados do estreito da Flórida, mediante a suspensão do tráfico aéreo e dos voos a diversas partes de Cuba e incrementou a perseguição contra a cooperação de saúde de Cuba», expressou Fernández de Cossío.
Quanto à intenção de impor a matriz de opinião de que o bloqueio contra nosso país não afeta o comércio com terceiros países, o diplomata respondeu, afirmando: ««é verdade que há alguém que diz isso, e é verdade que há uma matriz de opinião que estão tentando impor; e aqueles que o estão fazendo estão mentindo deliberadamente, é um ato desonesto».
É bem conhecida a motivação para aplicar o bloqueio, está escrita por funcionários do governo dos EUA desde o começo da década de 60; existiu o famoso Memorando do vice-secretário de Estado Lester Mallory, no qual é definido o propósito do Governo de criar penúrias, de criar escassez, de criar uma situação econômica insustentável em nosso país, para tentar tirar concessões políticas a Cuba. «E se isso não fosse suficiente, é algo que está escrito na Lei Helms-Burton, que diz que o bloqueio está encaminhado a criar dificuldades em Cuba e privar Cuba de recursos econômicos».
A lei estabelece claramente que o bloqueio não é somente a proibição do comércio entre Cuba e os Estados Unidos, o Título 1º diz explicitamente que é «obrigação do Governo, obrigação exigida pela lei, procurar, parar e obstaculizar as relações comerciais com Cuba, com qualquer lugar do mundo, ao ponto que exige que o Departamento de Estado tem que informar cada ano ao Congresso acerca dos resultados do cumprimento desta medida do bloqueio, que está custando anualmente mais de 4 bilhões de dólares a nosso país.
«É bem conhecido que Cuba não pode importar nada dos Estados Unidos, que Cuba não pode importar de nenhum lugar do mundo, se esse produto tem mais de 10% de componentes estadunidenses», explicou Fernández de Cossío.
«Em uma economia tão globalizada como a atual é muito difícil achar produtos que não tenham até 10% de fabricação estadunidense... Quem alegar que o bloqueio não é real, inclusive quem alegar que é apenas uma proibição de comerciar entre Cuba e os Estados Unidos, é alguém que está agindo desonestamente de modo deliberado», ressaltou.
O diplomata cubano qualificou de ação inverossímil a agressão da Casa Branca contra nossa colaboração médica. Um dos instrumentos fundamentais do Governo dos EUA contra Cuba é o propósito de desacreditar nosso país e desacreditar a Revolução, tentar demonstrar que este pequeno país, de escassos recursos e bloqueado economicamente não é capaz de ter sucesso nenhum.
«Mas Cuba tem um sistema de saúde tão vigoroso que não somente pode atender aos problemas de saúde de Cuba, mas que a colaboração médica internacionalista é capaz de prestar serviço a milhões de pessoas no mundo», disse Cossío.
Isso para os Estados Unidos é inaceitável, seu propósito com esta campanha é desacreditar Cuba, tentar sustentar a ideia de que somos um país inviável e tirar-lhe os recursos econômicos «que legitimamente, que diafanamente» recebe, como resultados dos serviços que presta em nível internacional.
Garantir os insumos que o país requer para fazer face à pandemia da Covid-19 chocou-se com as sanções de Washington, o qual argumentou, tentando esconder a barbárie, a possibilidade de solicitar uma licença do Departamento do Tesouro.
«Em tempos de emergência», explicou Cossío, «contar com a vontade do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos para solicitar uma licença que pode durar meses, inclusive um ano, é um absurdo».
Impediram a compra de aparelhos de ventilação pulmonar produzidos por subsidiárias estadunidenses, da chegada de doações vindas de amigos da Ilha maior das Antilhas, que dependeram de meios de transporte dessa nação do Norte.
Finalmente, o diretor-geral do Minrex se referiu às próximas eleições presidenciais nesse país, nas quais o tema Cuba apareceu particularmente no sul da Flórida, embora «seja difícil prognosticar o peso que vai ter nas eleições de novembro, inclusive nesse Estado».
Sondagens realizadas nos EUA nos últimos anos demonstram que, até para os votantes cubano-norte-americanos o tema do relacionamento com Cuba não é tão substancial. «Em sua lista de prioridades ocupa a quarta ou quinta colocação; para eles são mais importantes os assuntos relativos à saúde, o emprego, a segurança cidadã e a moradia», acrescentou.
«É difícil pensar que a maioria dos cubanos respalde uma campanha comprometida em obstaculizar as relações com seus familiares, o que nos faz pensar que a maquinaria política, sobretudo do Partido Republicano na Flórida, não leva muito em conta o critério ou a opinião dos cubanos, mas que os utiliza», precisou Fernandez de Cossío.