As pegadas inapagáveis daqueles que caminharam juntos
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Em 25 de maio se comemora o Dia da África, o que desta vez honra o 57º aniversário da criação da Organização para a Unidade Africana, que atualmente se chama União Africana (UA).
Pelo ensejo da efeméride, a diplomata Gisela García, diretora para a África Subsaariana, do ministério das Relações Exteriores da República de Cuba, concedeu uma entrevista ao Granma Internacional, na qual destaca a importância das relações entre o Governo e o povo cubano e o continente «mãe» da humanidade.
Para Cuba, o dia 25 de maio é como uma data própria, devido aos vínculos diversos que a unem à África, bases de uma amizade alicerçada em profundas raízes culturais e históricas. É, também, uma comemoração de profundo reconhecimento a Fidel, inspirador da aproximação genuína do povo cubano à África.
Em que estado se encontram as relações entre a África e Cuba?
«As relações entre África e Cuba gozam de muita boa saúde. No último ano foi mantido um diálogo intenso político-diplomático. Como parte deste recebemos as visitas dos chefes de Estado de Angola e de Gana e dos reis de Eswatini e Lesoto. Dentro das delegações cubanas de primeiro nível que viajaram a essa região aparecem as visitas do vice-presidente Salvador Valdés Mesa a Angola, África do Sul, Etiópia, Namíbia e Eswatini, e as dos primeiros vice-ministros companheira Inés María Chapman a Zimbábue, África do Sul, Lesoto e Quênia e de Ricardo Cabrisas a Angola. Foram realizadas reuniões de consulta política com África do Sul, Zimbábue, Tanzânia, Ruanda, Camarões, Benin, Senegal, Libéria, Maurício, Comores e Costa do Marfim, durante a visita a estes países de altos representantes do ministério das Relações Exteriores».
«Também é importante ressaltar a presença de Cuba em fóruns e espaços regionais, como foram a Cúpula da União Africana, em Addis Abeba; a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, e a Cúpula da ACP de Chefes de Estado e de Governo, estas últimas celebradas no Quênia».
«Sucessos importantes no ano 2019 foram a abertura das embaixadas de Cuba no Gabão e Marrocos, e a da Tanzânia em Havana, elas todas com o credenciamento dos embaixadores residentes».
«Não se deve esquecer que Havana é uma das capitais do mundo com mais embaixadas africanas representadas (28), que constituem um corpo diplomático muito ativo. Igualmente, Cuba é uma das nações melhor representadas no continente africano, com um total de 24 embaixadas».
«Ao estreito diálogo político-diplomático devemos acrescentar o importante componente da intensa colaboração bilateral que temos com os países africanos».
A colaboração bilateral entre Cuba e os países africanos continua aprofundando-se e diversificando-se. Quantos projetos de cooperação existem neste momento e em quais setores?
«Hoje, temos projetos e cooperação em praticamente a totalidade dos países africanos. Por volta de 6 mil colaboradores cubanos prestam seus serviços nesse continente nos setores da Saúde, a Educação, a Construção, o Esporte, os Recursos Hidráulicos e a Agricultura, entre outros. Porém, embora não tenhamos presença física de colaboradores em projetos bilaterais, muitos outros países da África recebem a colaboração de Cuba através da formação de estudantes de pré-grau e pós-graduação em universidades cubanas. Por volta de 9 mil alunos africanos se encontram neste momento realizando estudos superiores na Ilha».
Será que pode fazer um breve reconto histórico da colaboração bilateral entre Cuba e a África?
«A colaboração bilateral entre a África e Cuba não é nova. Tem uma história tão longa como a da própria Revolução, sem fazer menção dos laços históricos e culturais que nos levariam, inclusive, às origens da nação cubana. É uma das páginas mais belas na história da humanidade. Iniciada em uma data tão longínqua como a de 1963, com o contingente médico cubano na Argélia, nosso país goza de um prestígio na África por sua contribuição sem interesse às lutas pela independência e a soberania das nações africanas e a favor do desenvolvimento».
«O principal promotor e defensor dos laços entre Cuba e a África foi o líder histórico da Revolução Cubana, Comandante-em-chefe Fiel Castro Ruz, quem sentiu uma profunda admiração pelos povos africanos, e o uniu uma entranhável amizade com vários dos seus líderes».
«No passado, a solidariedade do povo cubano teve sua expressão mais importante no apoio às lutas pela independência africana, com a participação de mais de 300 mil soldados e oficiais cubanos que combateram neste continente, muitos deles descendentes do 1,2 milhão de escravos que chegaram a Cuba, trazidos da África. Combatentes internacionalistas cubanos entregaram suas vidas nessa terra. Mas, tal como disse Fidel, em seu memorável discurso perante o Parlamento, em Cidade do Cabo, em 4 de setembro de 1998: «Das terras africanas, nas quais trabalharam e lutaram voluntária e sem interesse, tão só levaram de volta para Cuba os restos dos seus companheiros mortos e a honra do dever cumprido». Eis a gênese do respeito dos povos e governos africanos para Cuba, que não pode ser maculado com nenhuma campanha ao “estilo Göebbels”, como a que está sendo desenvolvida contra a colaboração médica cubana».
«A cooperação para o desenvolvimento continua mantendo um papel de destaque. Dentro dela, tem um lugar central a colaboração médica; mas Cuba cooperou e continua colaborando com a África em praticamente todos os setores. Não podemos esquecer exemplos como o do Destacamento Pedagógico Internacionalista Ernesto Che Guevara, em Angola, e o dos construtores da empresa Uneca, entre outros muitos dos mais diversos âmbitos. Entre os de maior impacto está a formação dos recursos humanos. Cuba já formou estudantes dos 55 países que conformam a União Africana, em números que superam os mais de 30 mil, em minha opinião um dos legados mais belos de Fidel. Muitos dos atuais líderes africanos estudaram em Cuba, como o presidente atual de Seicheles, Ex.mo sr. Danny Faure e um grande número de ministros de diferentes pastas em vários países».
«Um dos exemplos mais recentes, reconhecido em nível mundial, por organizações como a União Africana, as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde, foi o envio de uma brigada de 256 profissionais da Saúde, integrante do Contingente Henry Reeve, a Guiné, Libéria e Serra Leoa, para ajudar no controle da emergência sanitária provocada pelo vírus do Ébola. Cuba não recebeu um único cêntimo por essa colaboração».
«Novamente, respondendo ao apelo da África, as brigadas médicas cubanas ficaram à disposição dos governos para apoiar na batalha contra a pandemia da Covid-19».
Quantas brigadas médicas e em quantos países se encontram nossos colaboradores da Saúde na África?
«Até o dia de hoje, temos brigadas de colaboradores da Saúde em 31 países africanos».
Poderia mencionar-nos alguns fatos importantes da posição da África em apoio a Cuba nos organismos internacionais?
«Cuba agradece e reconhece as manifestações permanentes de solidariedade que recebemos dos nossos irmãos africanos, sobretudo devido às pressões de que são alvo. Destaque para dois momentos importantes: no 74º período da Assembleia Geral da ONU, no ano passado, África toda votou a favor da Resolução cubana contra o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba, e cerca de 25% dos oradores no debate desse documento foram dessa área geográfica».
«Além do apoio na ONU e em outros palcos, pela décima primeira ocasião consecutiva, a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana deixou claro, em fevereiro deste ano, seu firme rechaço ao bloqueio do Governo dos Estados Unidos contra Cuba. É uma posição sólida, de verdadeiros irmãos, a qual merece toda a nossa gratidão».
«Parabenizamos os povos africanos e sua diáspora, entre os quais estamos os cubanos, pelo ensejo deste dia 25 de maio, Dia da África, data que comemora o nascimento da Organização para a Unidade Africana, hoje União Africana, entidade que promoveu a unidade e a solidariedade entre seus estados membros, liderando, ao mesmo tempo, o processo histórico de descolonização, que levou o continente a ter presença própria no concerto das nações. Existe um provérbio africano que afirma: «As pegadas daqueles que caminharam juntos não podem ser apagadas”. É por isso que a relação entre Cuba e a África é tão profunda quanto indestrutível.»