Discursos e Intervenções

Discurso do Presidente do Conselho de Estado da República de Cuba diante do grupo de crianças que custodiaram a Repartição de Interesses dos Estados Unidos em Havana, por motivo da marcha de reivindicação do menino Elián González, no Círculo Social José Antonio Echeverría, em 23 de dezembro de 1999

Data: 

23/12/1999

 

Queridos pioneiros,

Não gostaria de falar muito, mas algumas coisas quero dizer-lhes; apesar de que não temos muito tempo nestes dias, devemos trabalhar e lutar continuamente.

Vocês sabem por que estão aqui, não é verdade? (Exclamações de Sim!) Claro que sabem.

Vocês sabem que uma criança como vocês, menor que vocês, porque acaba de completar seis anos e vocês, que estão na quarta, quinta e sexta séries, têm mais idade do que Eliancito que está seqüestrado lá nos EUA.

Vocês ouviram pronunciamentos, lhes explicaram o que aconteceu e eu não tenho que repetir aqui; mas imaginem por um segundo que levem a qualquer um de vocês, que tenham uma desgraça, uma tragédia como a que sofreu esse menino que perdeu a mãe, como conseqüência da hostilidade dessa nação, do governo desse país poderoso que estimula as viagens ilegais, sem importar-se que morram crianças, morram mães, morram mulheres.

O Nosso país não coloca limites para aquelas famílias que queiram emigrar. Eles concedem um número de vistos todos os anos, porque sempre existem pessoas que sonham mudar-se para outro país e como esse é um país que sempre saqueou o mundo, continua saqueando o mundo, explora o mundo, possui muitas riquezas e pode ter muita gente pobre aí trabalhando para eles, milhões de mexicanos, de haitianos, de dominicanos e de muitas outras nações fazendo os trabalhos mais duros; se é preciso cortar cana ou colher tomates ou frutas, eles utilizam imigrantes desses países para que realizem as atividades físicas mais difíceis e sacrificadas.

Vocês sabem que nosso país e qualquer país justo distribui a riqueza entre todos. Num país justo não existe o egoísmo e eles se aproveitam de que há alguns muito pobres para que esses aceitem os piores trabalhos sem receberem nenhum benefício social, atendimento médico, educação; o que recebem é exploração, os obrigam a trabalhar para os ricos.

Quando vocês, as crianças, vão, um dia realizar alguma atividade ou um estudante secundário vai para o campo e colhem tomates, vegetais, não é para ele, não é para ganhar dinheiro, é para os hospitais, para as casas, para o povo, e ademais, para que vocês aprendam, como queria Martí, combinando o estudo como o trabalho.

Por isso, vocês, os pioneiros, vêem que nossa juventude é capaz de realizar grandes proezas, porque não se assusta se tem que colocar um tijolo ou arrancar capim ou trabalhar ao sol duas ou três horas. Por isso, Martí dizia que o trabalho e o estudo tinham que estar juntos como a melhor forma de educação.

Isso só pode ocorrer aqui no nosso país, porque lá os trabalhos duros são para os imigrantes que vêm dos países pobres. Nenhum trabalho desses é feito por aqueles que são ricos, esses nunca na vida colheram um tomate.

É por isso que muitas vezes há pessoas e famílias dos países pobres, às vezes influídos pela propaganda das sociedades chamadas de consumo - isso quer dizer sociedades das bugigangas - que aspiram a ir para esses países ricos para fazer qualquer trabalho.

A política da Revolução, se alguém quer sair de nosso país para outro, se lhe dão visto de entrada nesse outro país, é autorizado a sair. Nosso país não proíbe que nenhuma família emigre, porque construir uma sociedade revolucionária e justa como o socialismo, é uma decisão voluntária e livre.

Claro, as crianças não têm nenhuma culpa desse tipo de problema. As crianças são crianças, se estão formando, estão aprendendo, não são adultos e nós respeitamos o direito da família de decidir por eles. Se uma família quer viajar para outra parte do mundo, viaja com seus filhos; não se proíbe a ninguém.

Nosso país também não tem culpa de que existam pessoas que viajam ilegalmente e é perigoso viajar ilegalmente. Por que vão ilegalmente? Ah! porque não lhe dão visto na Repartição de Interesses, essa que vocês custodiaram. Dão um número limitado e se outros que não recebem o visto querem ir embora por vias ilegais, vão e então não lhes põem obstáculo nenhum.

Há muitos que por vias legais, não lhes dão vistos, porque não têm um nível cultural alto, porque não têm conhecimentos profissionais e outros também porque não gostam de trabalhar, não têm hábitos de trabalho ou são elementos anti-sociais, muitos com antecedentes penais; então o fazem por vias ilegais, sem nenhum visto e são bem-vindos nos EUA. Aplicam-lhes uma lei que vocês já ouviram mencionar nestes dias, que lhes dá direito a residência aos que viajam ilegalmente e logo que chegam, recebem imediatamente licença inclusive para trabalhar, se há ocupação. E apesar de que assinamos um acordo que concede 20 mil vistos por ano, para que as famílias que queiram emigrar, emigrem legalmente, com segurança, sem perigo algum, que é o objetivo dos acordos, aqueles que são excluídos da cota anual porque não cumprem as condições, ou não desejam esperar, que fazem? Roubam uma lancha ou fabricam-na, ou pegam uma embarcação rápida que venha dos EUA, ao preço de milhares de dólares pagos pelos familiares residentes naquele país, tratam de viajar para lá. Onde cabem seis, embarcam quinze. Muitas vezes as embarcações naufragam pelo caminho e se afogam.

Quer dizer que eles, aos que não dão vistos, lhes permitem que viajem de qualquer maneira, o que traz como conseqüência pessoas que se afogam, famílias que levam crianças em condições arriscadas. E digo, certamente, que isso não se deve fazer jamais, porque ninguém tem direito de arriscar a vida de uma criança, ninguém tem direito nem os próprios pais.

Às autoridades dos EUA não lhes importa o que aconteça. Existe a lei, existe uma forma normal de viajar com toda segurança. Seria justo que a qualquer um de vocês embarquem numa balsa, numa lancha dessas que podem naufragar no caminho? (Exclamação de: Não!) Não seria justo, seria praticamente a única vez em que uma criança - e se eu fosse criança o faria, me oporia a que me embarcassem numa dessas lanchas ou numa balsa, ou em algo que se desmonte pelo caminho. É muito triste quando isso acontece.

Temos insistido a que não estimulem as saídas ilegais. Essa lei de que lhes falava, só existe para Cuba e não para qualquer outro país do mundo; isso serve para fazer propaganda, dizer mentiras e assim muita gente tem arriscado ou perdido a vida.

Quando assinamos os acordos migratórios, eles se comprometeram a não estimular as saídas ilegais e não cumpriram, como explicaram numerosos companheiros, como explicou Alarcón que esteve discutindo todos esses acordos e não cumpriram porque continuam estimulando as saídas ilegais; morrem pessoas, morrem mães, morrem filhos, morrem jovens, morrem velhos por culpa dessa lei, por culpa desse estímulo às saídas ilegais é que se dão casos dramáticos como o que estamos enfrentando.

Neste caso, cuja história não é toda conhecida, esse barco em que levaram Eliancito, numa viagem aventureira, foi preparado um delinqüente, um indivíduo violento e agressivo, que durante toda vida dele nunca trabalhou. Tinha feito uma viagem ilegal aos EUA, esteve como três ou quatro meses ali, voltou também ilegalmente, o descobriram, esteve um tempo na prisão, talvez três ou quatro meses. Uma coisa raríssima: vai ilegalmente, volta ilegalmente, quem será esse homem? Disse que ele tinha ido, que se tinha aborrecido, que estava arrependido e o puseram em liberdade, o levaram para o lugar de residência em Cárdenas, para que trabalhasse, se queria trabalhar, apesar de que esse indivíduo nunca trabalhou em toda sua vida.

Esse homem é quem tem a responsabilidade principal dessa tragédia. Por que? se deve dizer para que compreendam. Converteu-se em padrasto e há padrastos que são muito bons e se ocupam das crianças com responsabilidade; essa criança de menos de seis anos não sabia o que estava acontecendo e esse bandido de que lhes estou falando é o responsável fundamental dessa aventura: fabricaram um barco por aí, com a cumplicidade de algum que outro sem-vergonha que se presta para essas coisas, com material roubado por aqui e por lá, uma embarcação frágil, e então este senhor, que era padrasto da criança, não seu pai, e não um padrasto que atuasse como um verdadeiro pai, mas um sujeito pérfido, foi quem influenciou decisivamente para que Eliancito viajasse, porque impulsionou a mãe e dessa forma, com outras pessoas que pagaram US$ 1 mil, se lançaram ao mar nesse barco frágil levando a mãe e a criança.

Havia outras crianças, não se poderia dizer exatamente quantas; pelo menos, um mais que se afogou. Havia uma criança que se salva por casualidade. O tempo estava mau, o barco voltou depois que partiu para buscar uma peça, o pai e a mãe a deixaram na praia, não a levaram. Mas Eliancito não teve essa sorte. A criança chorava alto nesse momento e o padrasto, de forma drástica, ordenou à mãe que o calasse ou o calaria ele. Há pessoas que viram a dramática cena e estão no nosso país. Esse dia, de fato, foram levados à força nessa frágil embarcação, dois indefesos passageiros: a mãe e a criança.

Partiu no dia 22 de manhã; uma patrulha os descobriu, tratou de persuadi-los de que não realizassem tal viagem - é o que se faz sempre, não se usa a força para interceptar um barco, porque usando a força pode dar lugar a um acidente e ali há mulheres, há crianças e então o que fazem nossas patrulhas, dentro das 12 milhas de águas cubanas, é tratar de persuadi-los, explicar-lhes os perigos, mas sem usar a força, porque uma embarcação com 14 pessoas, não se pode agarrar com uma mão, não se lhe pode atirar um laço como se laça um cavalo, sempre é perigoso, O que finalmente fazem nossas patrulhas quando não conseguem persuadi-los é avisar os guarda-costas norte-americanos que vai uma nave nessas condições, os avisam por correio eletrônico e por fax imediatamente para que lhe dêem apoio, a acompanhem visto que que vão para território dos EUA.

E assim ocorreu desta vez; se lhes informou imediatamente. Dizem eles que saíram a buscar o barco para localizá-lo e que não o encontraram, que enviaram dois helicópteros e não deram com eles.

Não se tem mais notícias desde meio-dia de 22 de novembro, em que a patrulha o acompanhou até os limites das 12 milhas, até o dia 25. Não se sabe o que sucedeu no dia 22 à tarde, nem no dia 23 nem no dia 24 e no dia 25 pela manhã. Chega a notícia no dia 25 à tarde - passaram mais de três dias - e a mesma informava que um barco com 14 pessoas tinha naufragado, que duas pessoas adultas tinham sobrevivido e que uns pescadores tinham encontrado uma criança agarrado a uma câmara de automóvel. Essa foi uma das tragédias, dos traumas. Imaginem uma criança, imaginem um de vocês naufragando num desses barcos e que sobrevive porque estava agarrado dum pneu.

Quanto tempo passou ali? Não se sabe. Porque há dois adultos que sobreviveram, ah! mas a esses ninguém os interroga, nenhum repórter os interrogou ali, nem o governo dos EUA nos quis informar a forma como naufragou o barco, o dia em que o barco naufragou, ainda que seja só para saber quantas horas esse menino esteve agarrado ali, de noite e de dia, a uma câmara.

Mas esse menino é tão forte, esse menino tem tais condições, tal resistência que agüentou, não morreu. Se tivesse morrido talvez não se teria ouvido falar mais dele; mas a casualidade quis que uns pescadores o encontrassem e o levassem a dar um tratamento correto, imediatamente, a um hospital.

As autoridades norte-americanas da Flórida têm que saber muito bem o dia em que o barco naufragou, quem e como se organizou a aventura, porque contam com o testemunho de dois adultos sobreviventes. E inclusive, um jornal de Miami falou de contrabando de pessoas antes de que soubéramos de alguns detalhes. Aquele bandido que organizou a expedição e cujo expediente é abundante em fatos delitivos comuns, de modo que esteve por isso mais de uma vez, na prisão, segundo nossos arquivos; era um tipo agressivo que mais de uma vez usou da violência contra a mãe do menino que trabalhava honradamente e era a única mantenedora da familia. Ele a explorava e dela vivia descaradamente. É bem possível e algumas pessoas muito próximas dela estão completamente seguras de que tenha usado sua violência habitual e tenha intimidado à mãe dessa criança a fim de que realizasse aquela viagem. As pessoas que sobreviveram e que devem conhecer tristes detalhes sobre o acontecimento, não aparecem. Onde estão? Não se sabe. Mas é evidente que falaram com as autoridades e algo relataram; um jornal que não é, amigo de Cuba, informou que as demais pessoas que viajaram nessa embarcação tinham pago, cada um, ao redor de US$ 1 mil.

Portanto, não se tratava só de uma saída ilegal organizada por um delinqüente comum que jamais trabalhou em sua vida, senão que era, além disso, uma operação de contrabando de pessoas que é sancionada pelas leis internacionais, incluídas as dos EUA. Não sei se vocês estão entendendo bem. Estão entendendo? (As crianças respondem que sim)

Vocês são realmente os primeiros a quem conto esta parte da história que não se mencionou ainda e se tratava de não mencionar para não ferir nem minimamente a sensibilidade de ninguém. Há uma mãe morta que foi vítima desse bandido. Nós tratamos de conhecer se a mãe queria sair do país e, pelo que investigamos, a mãe nunca tinha solicitado saída legal, licença para sair do país e teria podido obter o visto dos EUA porque tinha familiares ali, era uma trabalhadora que sustentava seu lar e teria cumprido todos os requisitos. Mas não, não há a menor prova de que a mãe tenha expressado o desejo de viajar para esse país e teria podido fazê-lo legalmente em companhia da criança se o pai o autorizasse; porque para que uma mãe viaje com o filho é necessário que o pai o autorize. Quem não teria podido obter visto por seus antecedentes penais era o que exercia o papel de padrasto.

Sempre é duro que uma criança se vá; mas respeitamos os direitos dos pais, o que não fazem as autoridades dos EUA com os filhos dos cubanos. Nós, ainda que nos doa muito, respeitamos esse direito do pai ou da mãe; não pomos nenhum obstáculo ao direito da família de levar legalmente seus filhos, porque é o direito do pátrio poder, enquanto estes não sejam maiores de idade. E damos provas do respeito desse direito todos os dias, todos os meses, todos os anos, porque todos os dias, todos os meses, todos os anos, viaja legalmente por via segura algum pai, alguma família com algum menor de idade para os EUA. Dói-nos porque é alguma criança que está estudando aqui e ninguém sabe o que a espera lá, essas coisas que vocês denunciaram. Dói-nos porque é um pioneiro a menos numa escola, dói-nos porque é uma cadeira vazia numa escola.

Cuba respeita como coisa sagrada esse direito dos pais, por muito que nos doa que uma criança, nascida nesta terra, seja desarraigado de sua pátria. E não nos arrependemos, não nos concerne o que decide a família sobre o futuro de seu filho ou o que faça este quando adulto; nós o protegemos com as treze vacinas para que não morra de doença previsível, para que tenha possibilidade de viver sadio, saudável e inteligente como vocês e procuramos que esteja bem alimentado, que não lhe falte medicamentos, que não lhe falte o leite de todos os dias.

Este é o único país do mundo onde cada criança até uma idade determinada tem assegurado, sem exceção, um litro diário de leite. É por isso que vocês vêem saudável nossa juventude, o que se observa no rosto, no físico, na dentadura, em tudo, pelos esmerados cuidados que nossa sociedade oferece às crianças. Vê-se quando já são adolescentes, quando já são universitários. É só ver esses rostos: ao que tem um defeito físico, o corrige; se tem algum problema, se não pode caminhar bem, vai aos hospitais ortopédicos, o tratam, lhe põem algumas coisas que são incômodas, mas o corrigem; corrigem qualquer defeito físico que diferencia alguma criança das demais; corrigem seus dentes, corrigem tudo e fazem o possível para que as crianças cresçam, não só cultas, instruídas, saudáveis, senão também belas, o mesmo as meninas que os meninos.

Essa é uma coisa que assombra os visitantes deste país, o rosto, a beleza generalizada dos nossos estudantes e dos nossos jovens. Cumprimos esse dever. Se o jovem quando adulto quiser ir para outro lugar, porque lhe puseram na cabeça qualquer um dos montões de "contos de fadas" com que enganam a muita gente através da publicidade comercial das sociedades de consumo, isso nos dói, mas respeitamos esse direito de emigrar, respeitamos o direito dos pais.

Em troca, lá, sem nenhuma razão, simplesmente porque lhes dá na cabeça, retém o menino e não respeitam o direito de pátrio poder do pai, do único antecessor sobrevivente; a criança que perdeu a mãe e só tem o pai, que tem sido um pai carinhoso, que sempre se ocupou de verdade de seu filho, está provado em todos os documentos, todo o povo de Cárdenas o sabe, todos os alunos da escola de seu filho o sabem, todos os professores o sabem, todos os vizinhos o sabem. Então, a esse pai não devolvem o filho, o entregam a um parente longínquo que só uma vez viu o menino, se apodera dele toda a gangue de inimigos que Cuba tem ali, os piores bandidos desse país, o autor dessa lei Torricelli para tratar de matar de fome a todos, incluídas as crianças; os promotores, autores e defensores intransigentes do cruel bloqueio que obriga o nosso povo a tantos sacrifícios.

Sim, falam de uma criança que chegou e querem sua felicidade, quanta hipocrisia! Quando por outro lado nos fazem uma implacável guerra econômica para tratar de matar de fome nosso povo, sem excetuar as crianças.

Que trabalho nos custa, às vezes, obter um medicamento, obter os alimentos, temos que buscá-los em lugares distantes, onde custam muito mais caro. E se apesar de tudo, não se fechou uma escola, se apesar de tudo somos o país que tem maior número de professores per cápita no mundo, entre todos os países do mundo, é porque a Revolução se consagrou primeiro que nada a apoiar as crianças e a apoiar as mães, a apoiar a família.

Vocês escutaram nestes dias a história de como uma vez, mediante enganos, mentiras e vis procedimentos, levaram ilegalmente 14 mil crianças de Cuba. Nesse caso, com licença dos pais, aos quais enganaram e os mercenários a serviço de uma potência estrangeira lhes disseram que a Revolução lhes ia tirar o pátrio poder, como se uma criança fosse um latifúndio ou uma usina de açúcar, uma mina. Não, a mentira! Porque trabalham à base de mentiras, toda sua propaganda é à base de mentiras, as introduzem na cabeça das pessoas à força de repeti-las mil vezes, um milhão de vezes. Ah! mas foi ilegal e agora já faz tempo que são adultos e escreveram histórias, histórias muito dolorosas porque depois os EUA suspenderam as viagens e milhares de crianças ficaram lá sem seus pais, em orfanatos, sofreram um trauma do qual falam ou escrevem e muitos deles, inclusive, com críticas a seus pais porque fizeram isso com eles, os separaram e os enviaram a viver uma aventura terrível. Alguns apareceram na TV num documentário, há alguns dias, contando essa triste história.

No caso de Elian, não há só uma injustiça, há pelo menos três fatos graves: a viagem era ilegal, a operação era uma operação de contrabando e foi organizada por um delinqüente que nunca trabalhou em toda sua vida, culpável pela morte de 11 pessoas, entre os quais, crianças, ocasionando a tragédia dessa criatura que não tinha completado seis anos e a perda de sua mãe.

Que direito tinham as autoridades dos EUA de tomar essa criança e entregá-lo a um parente que o tinha visto apenas uma vez e que o converteu numa mercadoria e num vulgar e grosseiro negócio, fazendo-o fotografar ali rodeado dos piores inimigos de nossa pátria, dos que querem que morramos de fome, com uma lei atrás de outra, que impede o comércio, que impede a importação de alimentos, de tecnologias e maquinarias, que obstaculiza ao máximo o desenvolvimento econômico e social do país? E nem sequer isso conseguiram. Somos o país que, em muitas coisas, ocupa o primeiro lugar do mundo, naquelas que dependem de nossa vontade; não já de grandes riquezas senão de grandes desejos de ajudar o povo, porque por isso é que existe a Revolução e para nada mais, para que haja escolas e atendimento médico, para que haja recreação, para que haja o que as crianças necessitam, os adolescentes, os jovens, os adultos e os anciãos. Em todas as idades há necessidades que são diferentes e que a Revolução trata de satisfazer.

Essa é a história. Ao parente longínquo, o entregam sem pedir um só papel. Ao pai, conhecido por todos, lhe pedem que o prove, e efetivamente vieram dois funcionários a levar todos os documentos que demonstravam de maneira absoluta e irrebatível quem é o pai e sua conduta moral.

A ele lhe pedem, ao pai verdadeiro. Àqueles que roubaram o menino, não lhes pedem absolutamente nenhum papel e agora não sabem que fazer, dando voltas, divididos ali, não acabam por tomar uma decisão e assim o retém, apesar do que disseram os médicos, apesar do que disseram os psicólogos vendo o rosto desse menino, com o qual fizeram tantas grosserias: tratar de comprar sua alma inocente com brinquedos sofisticados, bugigangas; levando-o para Disneyworld.

Muitas vezes, não o deixam falar com seu pai e o denuncio aqui, mais uma vez, que constantemente o pai se queixa e se queixam os avós paternos e maternos de que não os deixam falar com o menino, com o qual tinham relações tão carinhosas e íntimas. Inventam um pretexto, outro pretexto, ou o levam a passear e assim têm estado dois ou três dias sem poder falar com ele. O único que pode melhorar o estado de ânimo terrível em que está a criança é a comunicação com o pai, com os familiares mais chegados, conhecidos e íntimos e até isso lhe proíbem. É uma monstruosidade! Vejam que são bandidos os que integram aquela corja!

Todos esses que estão na foto rodeando o menino são bandidos dos piores inimigos de Cuba e querem de toda forma ficar com o menino e não vão poder ficar com o menino porque nossa causa é muito justa, todas as leis e todos os argumentos estão a nosso favor.

Exigimos que respeitem o pátrio poder do pai desse menino, como temos respeitado o pátrio poder de milhares, dezenas de milhares e talvez, ao longo de quarenta anos, de centenas de milhares de pais!

O que pedimos agora é que se respeite o pátrio poder de uma família cubana! É o que estamos pedindo (Aplausos) e não são capazes sequer de fazer isso.

Eu não tinha a intenção, hoje, de explicar-lhes isto. Aproveito a oportunidade e lhes conto, lhes conto de uma vez através destes meios de comunicação a todos os cidadãos de nosso país. É necessário que o saibam.

Mencionei uma pessoa e temos todos os papéis relacionados com esse personagem que até este momento não havíamos querido sequer mencionar, mas é preciso demonstrar ao mundo quanto descaramento e falta de vergonha há nisto: como se preparou a viagem e quem a organizou depois de residir vários meses nos EUA.

Já passou um mês e dissemos que vamos lutar sem descanso mais, mais e mais. Bem, muito bem.

Agora um funcionário deu declarações de que isto não se resolve imediatamente, que isto foi adiado para o dia 21 de Janeiro e assim, cada dia, inventando coisas novas, tudo por temor àquela "corja". E quando digo "corja" não me estou referindo a todos os cubanos que residem nos EUA, porque há muitos cubanos ali, membros da comunidade, que apóiam o regresso do menino e se opõem ao bloqueio, me refiro unicamente à "corja" mercenária que está a serviço de uma máfia anti-patriótica e comprovadamente terrorista, o grupo mais cínico, prepotente e reacionário dos EUA.

Por medo dessa gente não resolvem e parece que nos está desafiando a uma longa luta. Se é uma longa luta, eles devem saber bem que preço terão que pagar por um longo combate; que preço terão que pagar à medida que o mundo veja que é este povo e o conheça, na medida em que demonstremos nossa moral, nossa consciência, nossa razão e nossa força, porque a maioria dos cidadãos norte-americanos neste momento e, apesar da abundante sujeira da propaganda reacionária e de todas as mentiras que dizem ali, apóiam o regresso do menino, porque nos EUA as famílias, como em todas as partes, apreciam muito esse direito que se chama pátrio poder e vêem claramente que ali se estão violando os direitos desse menino e de seu pai. (Aplausos)

Assim que esta luta, quanto vai durar? É preciso preparar-se; mas, neste momento, quero dizer-lhes uma coisa: já a Tribuna Aberta não estará unicamente ali, aquela é sua sede oficial, o lugar onde está instalada há quase três semanas.

Escutem isto: já esta tribuna se pode deslocar a qualquer parte do país: um dia pode ir a Cárdenas, por exemplo, e dirigir-se ao país a partir de Cárdenas; outro dia pode ir à Praça Cadenas da Universidade de Havana e fazer o mesmo.

Já expliquei que se esta luta se prolonga, o que é bem possível, não nos podemos desgastar, há que acumular energia e força para uma longa luta. Vocês sabem bem: se vão caminhar três dias como exploradores, como crianças exploradoras que vocês são, levam água para a caminhada e não a tomam toda durante a primeira meia hora. Se vão estar seis horas, devem começar a tomá-la quando já se passaram pelo menos duas ou três horas.

Eu adquiri o hábito, quando fazia longas caminhadas, de não provar água até que não chegasse ao ponto onde podia reabastecê-la outra vez. Sabem por quê? Porque se sofre mais quando se tem sede com o cantil vazio que se o cantil tem água. A gente suporta mais a sede - é um segredinho que estou revelando a vocês - mesmo que se sofra a dureza do desejo da água, quando sabe que tem consigo um cantil cheio. Ah! quando está vazio, aquilo é o dobro ou o triplo de ansiedade e de sofrimento.

Daí, tirei a lição. Quando caminhava muito usei esse método. Devemos ter o cantil cheio para esta longa luta e quando tomamos um pouco, devemos tratar de repor quanto antes. E aumentar a quantidade de água, usar um cantil maior, ou podemos, se o caminho é muito longo, usar dois cantis: acumular força e energia para ir usando-a nesta luta em que temos toda a razão, toda a moral, absoluta razão, absoluta moral, em que eles caíram numa armadilha que eles mesmos armaram para si, porque tinham que ter resolvido isto imediatamente. Cada dia que passa têm que pagar com uma esfoladura de seu prestígio e, por esse caminho, ao final desta longa luta, pode terminar absolutamente esfolados. Assim, como lhes digo. É por isso que temos que administrar bem nossa força colossal.

Para a marcha de ontem, os organizadores convocaram 70 mil - sempre, porque se alguém adoecer e não pode participar por outro motivo importante, contar com uma reserva - se anunciaram 50 mil, realmente desfilaram 100 mil. Todos os que tinham uma camiseta dessa com a figura de Elián e muitos que não a tinham e ordenadamente se apresentaram nos blocos onde havia uma quantidade de camisetas de reserva; se foram entregando aos que ali expressaram que queriam participar de toda forma, por isso ontem foram não menos de 100 mil, ainda que o cálculo era de 50 mil. Por quê? Pela idéia de preservar forças e energia.

Quantas marchas nos faltam ainda se esta luta for longa? E temos aulas, temos exames, feriados, tudo isso há que calcular e por isso, não é correto, nem menos, lançar todas as forças. Estamos dispostos a empregá-las na medida em que seja realmente necessário. Os cantis cheios - talvez sirva esta imagem - preparados para uma longa marcha. Eles são que não estão preparados para uma longa marcha. Nós estamos preparados para uma longa marcha.

Claro que fazemos todo o possível para que a marcha seja mínima, porque o que nos interessa, acima de tudo, é que o menino regresse, que o menino deixe de sofrer.

Quem são os culpados de que essa criança sofra agora, mais um dia, mais uma semana, mais, um mês? Não somos nós. Inclusive, propusemos alguma fórmula honrosa, dissemos que não queríamos humilhar ninguém. Sabemos, ademais, que nos EUA estão divididos e bem divididos em torno deste problema, e que muita gente equânime, inteligente e serena é partidária de que o menino volte. Se a liberação dessa criança se atrasa e se o faça sofrer mais um minuto, mais um dia, mais uma semana, mais um mês, não será pela nossa culpa. Mas quanto mais tempo o retenham, com mais afinco, com mais decisão estaremos afrontando essa luta todo o tempo que for necessário. E vamos ver quem ganha essa batalha, se eles ou nós; (Aplausos e exclamações) vamos ver quem pode mais, se a força e a prepotência ou a razão e os sentimentos de um povo inteiro que não estará só no mundo.

E o que dissemos faz algumas semanas: Removeremos céu e terra! (Aplausos) E a responsabilidade total de cada átomo de sofrimento do menino é das autoridades dos EUA, e não só do menino, mas do pai que sofre terrivelmente, em especial quando não o deixam nem falar pelo telefone, e dos avós que sofrem terrivelmente e dos companheiros de escola que são 900 e sofrem terrivelmente, como sei que sofrem os milhões de pioneiros que há em nosso país.

Agora, quando me parece que vocês têm já uma explicação, que são capazes de entender, porque escutando as crianças que falam pela televisão e os que falaram lá na escola de Eliancito, aprecio cada vez mais a inteligência de nossas crianças, os conhecimentos de nossas crianças, os sentimentos de nossas crianças e sei por isso que vocês compreendem o que lhes estou dizendo. Se fossem pioneiros de primeira, segunda ou terceira série, não lhes falaria assim; mas a vocês, de quarta, quinta e sexta série, sim, creio que posso falar assim.

Por que estamos aqui esta noite e por que nos reunimos com vocês? Simplesmente porque ontem vocês escreveram uma página na história. Sabiam disso? (Exclamações de: Não!) Não o sabiam. Está certo, não têm porque sabê-lo, é preciso dizer e explicar, (Aplausos) e lhes estou dizendo, estou tratando de explicar-lhes, porque vocês fizeram ontem algo que não aconteceu jamais em nenhum país do mundo. Vocês que aqui cuidam de nossas seções eleitorais, onde não se compra um só voto e onde os cidadãos de verdade votam e não votam pelo que tem mais dinheiro, mais cartazes ou mais propaganda, senão porque os vizinhos sabem que é o que tem mais mérito e é mais capaz, algo sabido pelas nossas crianças; se essas seções eleitorais que em todas as partes do mundo são guardados por soldados armados até os dentes, e aqui não, aqui são os pioneiros, vocês que constituiam uma excepcional força moral, social e humana capaz de muito mais. Compreendemos uma realidade, que cada vez que havia uma marcha do povo combatente, como medidas especiais de segurança e, ainda que fosse para tranqüilizar mais os inquilinos do edifício da frente do qual se desfila, se adotasse o procedimento de localizar duas fileiras de combatentes de forças especiais, mas sem armas, sem armas! de modo tal que na última marcha não tinham pistolas, por certo, nem sequer cassetete, em acréscimo à custódia normal que o pessoal realiza que protege as embaixadas.

Fizemo-nos uma pergunta: Onde se radica realmente a garantia de qualquer dessas embaixadas em tais circunstâncias? Radica fundamentalmente na elevada cultura do nosso povo, na educação do nosso povo, na unidade de nosso povo. Pode apresentar-se algum indivíduo isolado por aí, enfurecido, que queira atirar uma pedra e essas medidas sempre se tomaram desde que começou este problema, para que não surgissem espontâneos querendo fazer coisas. Mas, nós temos uma confiança absoluta em nosso povo, em nossos estudantes, em nossos jovens, em nossos trabalhadores, em sua consciência, em sua serenidade, sabedoria e cultura política.

Eles sabem que têm que respeitar as missões diplomáticas; é um dever internacional e nós sabemos cumprir esse dever exemplarmente e sabemos oferecer essa segurança. Claro que a fundamental, o sabemos bem, radica, repito, na educação de nosso povo; e pode desfilar por aí um milhão de cidadãos e nenhum lança uma pedra, porque sabe que isso não é o que se deve fazer. Lança algo que é muito mais poderoso que uma pedra, lança uma idéia, lança uma mensagem, em breves palavras: "Liberem Elián", por exemplo, "Salvemos Elián". (Aplausos) Não são pedras, não são insultos. Nenhuma batalha de opinião se ganha com insultos; tais batalhas se ganham com a razão, com argumentos, com idéias.

Tenham a garantia de que cada uma das frases que vocês proclamam lá, cada consigna, digamos, cada exclamação leva uma mensagem, leva uma idéia, são armas inteligentes. E vocês ouviram falar das armas inteligentes que são as que se lançam e a milhares de quilômetros dão no pontinho exato, quase do tamanho deste pátio, para onde apontaram.

Nós temos que usar armas inteligentes e as armas inteligentes são nossas idéias; nossas armas inteligentes são nossos argumentos; nossas armas inteligentes se constituem de princípios, de nosso pensamento revolucionário e nosso arsenal de armas inteligentes é infinito, porque cada um de vocês, quando desfila ou quando vai ali a uma concentração e grita: "Devolvam Elián", "Que Elián regresse", "Salvemos Elián", "Liberem Elián", está usando armas inteligentes contra as quais não há defesa possível, (Aplausos) e essas armas inteligentes são a moral, a razão, o exemplo, imagem de um povo unido e de um povo defendendo uma causa justa com uma inteireza impressionante; um povo que não se rende e que não se desencoraja jamais, nem seus anciãos, nem seus adultos, nem seus pioneiros; com essas armas nosso povo é invencível, porque as podemos fazer chegar a qualquer rincão do mundo.

Esses fitas com a marcha, esses atos, ainda que eles sejam donos de não se sabe quantas cadeias mundiais de televisão e de outros meios de divulgação de massa, nós temos muitos amigos e muitas formas de fazer chegar a mensagem escrita, a mensagem fílmica, a mensagem falada a qualquer canto do mundo.

É por isso que seria ridículo, de gênero tonto e primitivo, ademais, lançar uma pedra e quebrar um vidro de uma embaixada, neste caso, do Repartição de Interesses dos EUA. Contudo, o que no mundo se vê todos os dias e quase todas as horas, são manifestações na frente das embaixadas norte-americanas, cada vez que fazem alguma brutalidade ou cometem algum crime, lançando pedras, quebrando vidros, queimando bandeiras ou figuras, bonecos com a figura do Tio Sam - tudo isso vocês vêem a cada instante - e umas brigas tremendas com a polícia em toda parte. Não os critico, é muitas vezes o único recurso com que contam para expressar sua indignação e sua repulsa neste mundo cheio de abusos e injustiças. Eles não têm a possibilidade da luta política de que dispõe todo um povo unido e livre, como Cuba. Muitas vezes são 500, 1000, 2000, 3000 pessoas que se reúnem para fazer-se ouvir e reclamar justiça no meio de uma atmosfera hostil e repressiva.

Nós, antes da Revolução, que não tínhamos esta força, que não tínhamos um povo unido, também íamos e passávamos em frente de um consulado ou de uma embaixada, a própria norte-americana quando éramos estudantes, para lançar pedras e a pintar muros e fazer coisas semelhantes.

Lembro-me quando uns fuzileiros navais subiram na estátua de Martí no Parque Central, que produziu grande furor, os estudantes descemos e chegamos até a embaixada que estava por lá, muito perto do museu de Leal, em Havana Velha e a polícia a golpes, com borrachas e garrotes sobre nós, para impedir que fizéssemos essas coisas.

Que diferente de hoje, que armas diferentes podemos utilizar! Fazemo-lo como lhes expliquei em detalhe, com argumentos, com idéias, e sei que vocês compreendem. (Aplausos)

Por que vocês escreveram uma página na história? Porque pela primeira vez no nosso país ou em qualquer lugar do mundo, em vez de tropas especializadas e soldados reforçando a proteção da Repartição de Interesses dos EUA, dois mil pioneiros, dois mil pioneiros! se encarregaram da custódia desse Escritório de Interesses ao longo da marcha.

Essa Repartição tem sua proteção normal, um número de guaritas, essas guaritas se reforçam quando há situações de tensão, precisamente para evitar que algum indivíduo isolado, de boa fé, ou algum provocador quiser lançar uma pedra, quebrar ainda que fosse o vidro de uma janela, manchando a honra de nosso país. Imediatamente, se armaria uma grande campanha publicitária e o escândalo de que está sendo agredida a sede diplomática dos EUA em Cuba. E nós temos o dever iniludível de proteger a imunidade e a integridade de todas as representações diplomáticas e, entre elas, dessa Repartição de Interesses.

Por isso consideramos um momento histórico o instante de ontem em que 15 minutos antes de se iniciar o desfile, vocês formaram uma espécie de muralha reforçando a custódia. Alguma vez esteve mais reforçada essa proteção? (Exclamações de: Não!) Não! e lhes vou explicar porque a reforça uma consciência crescente de nosso povo, uma cultura que cresce cada dia e a reforça o fato de que este povo não respeita nem protege a ninguém tanto como às crianças. Três fileiras de crianças são a proteção maior que jamais teve o Repartição de Interesses neste país. (Aplausos) Toda a vida vocês recordarão esse dia e os pais de vocês estarão sempre orgulhosos de vocês.

Nós sabíamos, como se compreenderá que vocês não corriam o menor risco físico, pelas razões que lhes expliquei: porque aí estavam os demais pioneiros desfilando, aí estavam os pioneiros secundaristas; aí estavam os estudantes de nível médio e superior, irmãos íntimos de vocês, desfilando; aí estavam os jovens que tanto os protegem, desfilando; aí estava o povo patriótico e revolucionário que tanto ama suas crianças, porque tem filhos, porque são pais, marchando. (Aplausos) Quem iria proteger vocês melhor que eles?

Essa tropa de pioneiros exploradores foi a custódia durante a marcha de ontem e creiam-nos, companheirinhos, que escreveram nesse momento uma página de glória. (Aplausos) E quando crescerem estarão orgulhosos e seus pais o estarão mais do que vocês.

Foram os primeiros, e todos daqui do município de Plaza. Por isso, pudemos dar este comício hoje, nesta instalação da juventude, sem caminhar muito, porque foram 17 escolas de Plaza as que enviaram ali a tropa pioneiril que custodiaria esse edifício. (Aplausos) Por acaso, o faziam para defender o imperialismo? (Exclamações de: Não!) Faziam para defender a Revolução, o faziam para dar um exemplo ao mundo do que é este país, para demonstrar ao mundo que unicamente este país pode hoje fazer isso, (Aplausos) custodiar não só eleições, custodiar embaixadas, custodiar o que seja necessário e que possa ser custodiado pelos nossos pioneiros.

É por isso que ontem mesmo, em reunião mantida com a direção da juventude, os estudantes e os pioneiros, tomamos a decisão de entregar-lhes esta tarde um diploma de reconhecimento para que a guardem por toda vida. (Aplausos e exclamações de: Viva Fidel! Viva Fidel!) Não, não, não, vivam vocês e vivam muito tempo para desfrutar o orgulho de levar este diploma! Conservem-no e transmitam-no a seus filhos quando tenham filhos e aos netos quanto tenham netos! Esperamos que o coloquem em algum lugar que o proteja e se por alguma razão se perder, como temos o registro dos que o receberam, lhe daremos outro. Mas, conservem-no porque este é o deste dia. (Aplausos e exclamações)

Ontem mesmo, ali na reunião, redigimos o texto. Escutem bem o que diz:

"Reconhecimento a:" e aqui vem o nome do pioneiro, esse sim que não houve tempo para colocá-lo e queríamos fazê-lo com letra bonita, de modo que as 17 escolas de vocês serão visitadas para escrever ali, com uma letra clara, bela, se for possível, o nome correspondente no diploma de cada um de vocês. (Aplausos)

"Reconhecimento a:" (Assinala a uma menina da primeira fileira) Como você se chama? Diga alto, vem, diga, corre. Como você se chama? (A pioneira se aproxima e diz seu nome)

Elizabeth Gálvez Soler. Então aqui dirá: "Reconhecimento a Elizabeth Gálvez Soler e depois vem o texto: "Pioneiro" - aqui não sei se poderão levar o perfeccionismo de pôr pioneiro ou pioneira, seria melhor, já que temos que fazer um arranjozinho ao texto, para que às meninas lhes ponham pioneira, ainda que pelo nome geral se diz aqui pioneiro, não se diz pioneiro ou pioneira; mas sendo individual o diploma, dizer: "À pioneira ou pioneiro exploradora ou explorador" - não nos custa nenhum trabalho fazê-lo assim - "que levou a cabo a missão encomendada pela Revolução, ao cumprir esta - isto é, a Revolução - seu dever de custodiar o escritório diplomático dos Estados Unidos durante a histórica Marcha dos pioneiros, estudantes e jovens trabalhadores pela libertação de Elián". (Aplausos)

Aparece minha assinatura abaixo; não poderia, naturalmente, assinar dois mil - e terá que repartir muitos - mas escrevi uma especial para vocês, eu queria que me saísse o melhor possível, e aqui está a assinatura. E, claro, já quando você escreve de próprio punho e letra, aparece impressa em todos os demais diplomas ainda que sejam cem mil. Não lhes vou enganar, não lhes vou dizer que passei um mês assinando, há muitas coisas que fazer; mas faço uma para este diploma de reconhecimento.

Hoje se tinha pensado de entregá-lo simbolicamente a um por escola e o que vamos fazer é enviar todos os correspondentes aos alunos de cada escola. Como lhes disse, é preciso corrigir um pequeno erro; há que dizer: "cumprir esta", isto é, a Revolução e não como está: "cumprir este". Não é um dever do pioneiro explorador proteger a sede; vocês cumpriram uma tarefa encomendada pela Revolução e em boa gramática, aqui deve haver um "esta" e não "este"; porque é a Revolução a que tem o dever de custodiar a Repartição de Interesses e o pioneiro o que fez, foi cumprir a missão que a Revolução lhe encomendara, de fazer o que vocês fizeram ontem. Está claro? (Aplausos e exclamações de: Sim!)

Muito bem, pois já sabem, amanhã todo mundo à escola, para ver se a FEEM e a UJC cumprem sua promessa esta noite de ter os dois mil diplomas com uma correção para distinguir a menina do menino, sim, e de pôr "esta" no lugar de "este". Foi um simples erro que veio bem porque, inclusive, nos permitiu aperfeiçoar o diploma.

Tudo isto se fez em horas, eles em horas organizaram a marcha. Não, marcha? quem sabe quantas coisas vão preparar eles. É infinito o caudal de recursos para esta luta, digo a vocês os pioneirinhos. É infinito o caudal de recursos e de idéias, (Aplausos) que não se baseiam na violência, se baseiam nas idéias. Não se esqueçam algo que disse Martí e talvez o tenham escutado já algumas vezes: "Trincheiras de idéias valem mais que trincheiras de pedra"; vamos demonstrá-lo de maneira irrebatível. E economizaremos forças, preservaremos a produção na economia e nos serviços, boas notas nas escolas, programa escolar; faremos tudo sem afetar nada.

A vocês, em todo caso, estudantes de primária, de secundária, de nível médio, universitário, a professores e a todos, lhes pedimos só um pequeno esforço adicional para que não deixemos de fazer o mais mínimo do que devemos fazer: produzir e ao mesmo tempo semear o que devemos semear na inteligência e nos corações desse enorme tesouro que é nossa infância e nossa juventude.

Pede-se a todos um pouco mais de esforço e sei que vocês têm energia de sobra e até tempo de sobra, talvez deixando de ouvir um dia algum programinha de que gostem muito. No momento, esses espetáculos extraordinários da Tribuna Aberta não devem perdê-los, porque se adquire cultura geral e cultura política, que é a mais importante de todas as culturas e da que mais carece o mundo atual.

Já lhes dizia: no sábado a Tribuna Aberta se disloca à sala do Teatro Nacional. (Dizem-lhe que é a Sala Avellaneda do Teatro Nacional) As duas vezes? (Respondem-lhe que sim) Num programa especial para as crianças, em que atuam as crianças, de apoio à luta pela liberação de Elián. (Aplausos) Assim que a Tribuna Aberta, com seus locutores, seus personagens e seus dirigentes que estejam ali, às cinco da tarde no Teatro Nacional e poderá ser vista ésta atividade pelos dois canais de televisão em todo o país; aspiramos a que sejam ambos. Os atos na Tribuna Aberta nas proximidades da RINA, sim, vão ser transmitidos sempre pelos dois canais; neste caso veremos. Mas até as crianças de Baracoa vão vê-lo por televisão e eu proponho à organização de pioneiros que um número de ingressos sejam entregues como prêmio a estes custódios que ontem escreveram uma página na história. Sábado e domingo ali, segunda-feira será em outro lugar.

Visto que um senhor funcionário disse que a solução se adia para não sei que mês e que data, e andam com tramóias e ardis, quero expressar-lhes uma idéia que vamos pôr em prática imediatamente, ou mais rapidamente possível, de estabelecer ali, onde está a Tribuna Aberta, uma Tribuna Aberta Permanente, (Aplausos) uma tribuna aberta permanente! Planejada melhor, mais forte; mas que saibam que essa tribuna será a sede por excelência deste programa e que estará ali para ficar. (Aplausos) O mais que faremos, quando devolvam o menino, é tirar os alto-falantes que apontam para o edifício da Repartição de Interesses, para não molestá-la o mais mínimo com o eco de nossas atividades não longe dessa sede; mas nossa gloriosa juventude precisa de uma tribuna permanente; uma escola permanente de educação cultural, uma escola permanente, digamos, de cultura geral e cultura política. (Aplausos) Essa tribuna, nascida ao calor desta batalha que vocês estão encarando, estará ali para ficar.

Pode ser que um dia, aí terá conferências históricas, econômicas, políticas, temas variados do mundo atual, terá de tudo, de tudo; terá um repertório muito rico; mas seu fim essencial será a educação cultural e política de nossas crianças, de nossa juventude e de todo nosso povo.(Aplausos)

Aproveito este minuto para comunicar-lhes essa notícia: diante da tática de prolongar até as calendas gregas o caso do menino seqüestrado e do prosseguimento da cruel e incessante hostilidade contra nosso povo, que dura já quase meio século, a resposta de Cuba é Tribuna Aberta permanente onde hoje se reclama o regresso de Elián. (Aplausos)

Muitíssimo obrigado, queridíssimos companheirinhos. Vocês se comportaram bem, os continuaremos recordando sempre, os teremos sempre como exemplo. E vou com a satisfação da atenção que vocês prestaram, a disciplina com que se comportaram e vou usar hoje uma frase, não definitiva, porque não devemos renunciar à idéia de Pátria ou Morte, nem à idéia de Socialismo ou Morte e vou dizer como disse uma jovem deputada na Assembléia Nacional: Pátria e Vida! Vida para vocês é o que queremos! (Aplausos) os Nossos pioneiros não terão que morrer.

Talvez na longa e histórica luta de nosso povo, que ninguém poderia precisar com exatidão quando concluirá, a nossos pioneiros, a vocês, convertidos já em jovens e em homens e mulheres, alguma vez a pátria lhes exija o sacrifício da vida; mas sendo hoje mais poderosos do que nunca e contando com tantas armas inteligentes, ganharemos esta batalha pela vida e não só pela vida de vocês, senão pela vida de todas as crianças do mundo.

O que nós façamos servirá a centenas de milhões. Pela brecha que abrimos hoje, marcharão amanhã milhões, centenas de milhões de crianças que no mundo atual não têm todavia escola, nem médico, nem a educação patriótica, revolucionária, socialista e internacionalista que tem nosso povo. (Aplausos)

Até a próxima vitória! (Aplausos e exclamações de: Fidel! Fidel! Fidel!)

Há uma carta também para os guias de pioneiros que estiveram com vocês ali nesse dia. Eles também vão receber seu merecido reconhecimento. Tinha esquecido de dizer. (Aplausos)

 

(Versões Estenográficas – Conselho de Estado)