"Agora, esta massa anônima, esta América de cor, sombria, taciturna, que canta em todo o continente com uma mesma tristeza e desengano, agora esta massa é a que começa a entrar definitivamente em sua própria história, começa a escrevê-la com seu sangue, começa a sofrer e a morrer.
Porque agora, pelos campos e pelas montanhas da América, pelas faldas das suas serras, por suas planícies e suas florestas, entre a solidão, ou no tráfico das cidades, ou nas costas dos grandes oceanos e rios, começa a estremecer-se este mundo cheio de razões, com os punhos quentes de desejos de morrer pelo que é dele, de conquistar seus direitos quase 500 anos burlados por uns e por outros. Agora, a história terá que contar com os pobres da América, com os explorados e vilipendiados da América Latina, que têm decidido começar a escrever eles próprios, para sempre, sua história. Vê-se-lhes pelos caminhos, um dia e outro, a pé, em marchas sem fim, de centenas de quilômetros, para chegar até os “olimpos” governantes a reclamar seus direitos".