O DISCURSO DE EVO
Há momentos na história que precisam de um discurso, ainda que tão breve como o “Alea jacta est” de Julio César quando atravessou o Rubicão. Era necessário atravessá-lo nesse dia, justamente quando os Ministros da Defesa dos Estados soberanos do hemisfério ocidental estavam reunidos na cidade de Santa Cruz, onde os ianques têm estimulado o separatismo e a desintegração da Bolívia.
Era segunda-feira 22, e as agências de notícias dedicavam-se a divulgar e fazer comentários sobre a reunião da NATO em Lisboa, onde essa instituição belicosa, em linguagem arrogante e grosseira, proclamou seu direito de intervir em qualquer país do mundo onde julguem que seus interesses estão ameaçados.
Ignorava-se por completo a sorte de milhares de milhões de pessoas, e as verdadeiras causas da pobreza e do sofrimento da maioria dos habitantes do planeta.
O cinismo da NATO merecia uma resposta, e ela veio na voz de um indígena aimara da Bolívia, no coração da América do Sul, onde uma civilização mais humana floresceu antes que a conquista, o colonialismo, o desenvolvimento capitalista e o imperialismo impusessem o domínio da força bruta, baseada no poder das armas e das tecnologias mais desenvolvidas.
Evo Morales, presidente desse país, eleito pela imensa maioria de seu povo, com argumentos, dados e fatos incontestáveis, talvez sem conhecer ainda o infame documento da NATO, deu resposta à política que o governo dos Estados Unidos pratica historicamente com os povos da América Latina e do Caribe.
A política da força expressa através de guerras, crimes, violações da constituição e das leis; treinamentos de oficiais dos institutos armados para participar em conspirações, golpes de Estado, crimes políticos que foram usados para derrubar governos progressistas e instalar regimes de força aos quais oferecem sistematicamente apoio político, militar e midiático.
Jamais um discurso foi tão oportuno.
Usando muitas vezes as formas expressivas de sua língua aimara, disse verdades que passaram à história.
Tentarei fazer uma apertada síntese, usando suas próprias frases e palavras, o que ele disse:
“Muito obrigado.
“Apraz-me imenso receber em Santa Cruz de la Sierra os ministros e ministras da Defesa da América, Santa Cruz, terra de Ignácio Warnes, de Juan José Manuel Vaca, homens rebeldes de 1810 que lutaram e deram suas vidas a favor da independência de nossa querida Bolívia.
“Homens como Andrés Ibáñez, Atahualipa Tumpa, irmãos indígenas que durante a república lutaram por sua autonomia e pela igualdade dos povos em nossa terra.
“Bem-vindos à Bolívia, terra de Túpac Katarí, terra de Bartolina Sisa, de Simão Bolívar e de tantos homens que lutaram durante 200 anos pela independência da Bolívia e de muitos países na América.
“A América Latina [...] vive nos últimos anos profundas transformações democráticas buscando a igualdade e a dignidade dos povos...”
“... seguindo os passos de Antonio José de Sucre, de Simão Bolívar, de vários líderes indígenas, mestiços, crioulos que viveram há 200 anos.”
“Há exatamente uma semana, celebramos o bicentenário do Exército da Bolívia, que em 14 de novembro de 1810 indígenas, mestiços, crioulos se organizaram militarmente para combater contra a dominação espanhola...”
“Nos últimos tempos a América Latina retoma essa decisão de se libertar, como uma segunda libertação não só social nem cultural, mas também econômica e financeira, dos povos da América Latina.
“... esta IX Conferência de ministros da Defesa visa o debate sobre gênero e multiculturalidade nas Forças Armadas, democracia, paz e segurança das Américas, desastres naturais, assistência humanitária e o papel das Forças Armadas, temário acertado, temário bem colocado para debater a esperança dos povos, não só da América Latina, mas também do mundo.”
“Em 1985 [...] só tinham direito a serem eleitos ou eleger autoridades, aqueles que tinham dinheiro, que tinham profissão e os que falavam espanhol ou o castelhano.
“Menos de 10 por cento da população boliviana podia, por conseguinte, participar nas eleições ou ser eleita como autoridade, e mais de 90 por cento não tinham direito [...] tiveram lugar diferentes processos [...] algumas reformas, mas no ano 2009, com a participação pela primeira vez do povo boliviano, uma nova Constituição do Estado Plurinacional aprovada pelo povo boliviano.”
“... nesta nova Constituição, logicamente são incluídos os setores mais marginalizados [...] não tinham o direito de ser eleitos ou eleger as autoridades do Estado, da República da Bolívia.
“Tiveram que passar mais de 180 anos para fazer profundas transformações e incorporar estes setores marginalizados historicamente na Bolívia, e confio em não me equivocar, mas acho que é o único país, não só na América, mas também no mundo com 50 por cento de mulheres ministras e 50 por cento de homens.
“É lógico que, com respeito às normas da constituição [...] sinto que é mais importante a decisão política que deve ser tomada para incorporar os setores mais abandonados; é depois da aprovação da Constituição pelo povo boliviano em 2009, os mais marginalizados, os mais desprezados, os considerados animais, que era o movimento indígena, têm sua representação na Assembléia Legislativa Plurinacional e também nas assembléias departamentais.
“Algo importante, para os movimentos indígenas que não têm muita população foram criadas circunscrições especiais para que estejam presentes os irmãos indígenas do planalto, do vale, do leste da Bolívia.
“As circunstâncias uninominais também permitem que os irmãos indígenas estejam representados na Assembléia Legislativa Plurinacional...”
“Desta forma, permitimos a presença desses irmãos indígenas que estavam abandonados, condenados ao extermínio.”
“... isso não existia antes...”
“... quando eu era muito jovem, como líder sindical, às vezes me opus às Forças Armadas e depois, quando assumo a Presidência percebo que uma boa parte das Forças Armadas provêm das comunidades camponesas, principalmente do vale ...”
“Quero dizer-lhes queridos ministros, ministras, que nunca houve participação como agora, anteriormente apenas a cor da pele determinava o nível hierárquico da sociedade, agora um indígena, um líder sindical, um intelectual, um profissional, um líder empresarial, um militar, um general, qualquer pessoa pode ser eleita presidente,democraticamente, antes não existia essa possibilidade, de mudar a Bolívia e nossa Constituição.
“Quando esta Conferência enfoca apenas a democracia, a segurança e a paz, rever a história, revisar as normas para mim é muito interessante, dá gosto revisar, não só revisar por revisar, mas fazer qualquer coisa a favor da democracia na América Latina, da segurança, da paz na América ou no mundo.
“Se falamos da democracia no passado na Bolívia apenas existia uma democracia pactuada, não existia um partido que pudesse ganhar com mais de 50 por cento dos votos como expressa a Constituição Política do Estado Plurinacional...”
“ ... na Bolívia, até 2005, desde 1952, na década dos anos 50, só existiam democracias pactuadas, os partidos ganhavam com 20 por cento, com 30 por cento ...”
“Um partido que ocupasse o terceiro lugar podia ser presidente, dependia dos pactos e da distribuição dos ministérios, este tipo de pactos era justamente alinhado pelo embaixador dos Estados Unidos; nossos compatriotas, irmãs, irmãos, bolivianas e bolivianos, devem se lembrar, por exemplo do ano 2002, quando ninguém ganhava com mais de 50 por cento, o partido com mais votos conseguiu 21 por cento dos votos, e aí estava o embaixador dos Estados Unidos, Manuel Rocha, juntando, unindo os partidos neoliberais para que pudessem governar, e esses governos não duraram, não agüentaram.
“Felizmente, graças à consciência do povo boliviano vamos vencendo esta classe de democracias, agora não temos uma democracia pactuada, e sim uma democracia legítima a partir do sentimento do povo boliviano que acompanha um pensamento, um sentimento que vem do sofrimento dos povos sob um programa de governo.”
“... um programa de dignificação dos bolivianos, um programa que busca a igualdade dos bolivianos, das bolivianas, um programa que recupera seus recursos naturais, um programa que permite que os serviços básicos sejam um direito humano ..”
“... quando alguns de nossos adversários, como vocês em cada país têm sua oposição, nos dizem, um governo totalitário, governo autoritário, governo ditador, que culpa eu tenho, se este programa de governo proposto por um partido tem mais de dois terços nas diferentes estruturas do Estado Plurinacional?, só não consegui ganhar na prefeitura da cidade de Santa Cruz.
“Respeitamos nosso prefeito, nos ganharam, mas cumprimento-o senhor prefeito pelas ações que realizou na semana passada para combater o ágio, a especulação [...] parabéns, meu respeito, senhor prefeito...”
“E alguns nos dizem que temos pensamento único, não há pensamento único algum, apenas um programa trabalhado dos diferentes setores sociais à frente dos movimentos sociais originários e operários consegue esse apoio para mudar a Bolívia.
“Mas que enfrentamos no caminho se falamos de democracia, conspiração, golpe de Estado, tentativas de golpes de Estado em 2008 [...] quem era o organizador de este golpe de Estado, o ex-embaixador dos Estados Unidos.
“Estava revendo algo da história [...] sobre o golpe de Estado de 1964 quando o presidente era o tenente-coronel Gualberto Villarroel, que disse como presidente: ‘não sou inimigo dos ricos, mas sou mais amigo dos pobres’, este militar patriota foi o primeiro presidente que convocou um congresso indígena.
“Outro presidente, Germán Bush, que disse: ‘não cheguei à presidência para servir aos capitalistas’, um militar.
“O primeiro presidente que nacionalizou os recursos naturais, também foi um militar, David Toro, refiro-me ao ano 1937 ou 38 [...] porém este militar foi assassinado no Palácio em 1964.”
“ ... então a ofensiva concentrou-se no Palácio Quemado que recebe o fogo da rua Illimani, da esquina Bolívar, da rua Comércio, da Polícia e pela parte de atrás do edifício de La Salle e do edifício Kersul onde fica o consulado dos Estados Unidos.”
“ ... ao observar o fogo que provinha do edifício Kersul, do consulado norte-americano, contra este militar patriota que garantiu o primeiro congresso indígena, do consulado dos Estados Unidos, metralhando, disparando para acabar com a vida de um militar, aí estão os documentos que revisamos.
“... a história se repete, eu tive que enfrentar que um embaixador organize, planeje acabar antidemocraticamente meu mandato, e eu sinto que isso se repete em todo o mundo.
“Mas um companheiro, um compatriota nosso, vítima de tantos golpes militares, me disse, ‘presidente Evo, temos que nos cuidar da embaixada dos Estados Unidos, sempre houve golpes de Estado em toda a América Latina’ e me disse, ‘só não há golpes de Estado nos Estados Unidos porque não existe uma embaixada dos Estados Unidos, realmente compreendi que na história não escutei a respeito dos golpes de Estado.
“... os países que suportamos tentativas de golpes de Estado em 2002 na Venezuela; em 2008 na Bolívia; em 2009 em Honduras, em 2010 o Equador, temos que reconhecer compatriotas latino-americanos ou da América, que os Estados Unidos venceram em Honduras, conseguiram consolidar o golpe de Estado, o império norte-americano ganhou, mas também os povos da América na Venezuela, na Bolívia, no Equador, vencemos [...] o que será no futuro, veremos o futuro.”
“... esta avaliação interna deve ser um debate profundo dos ministros da Defesa para garantir democracias [...] meus antepassados, meu povo têm sido permanentemente vítimas de golpes de Estado, golpes sangrentos, não porque assim o queriam os militares, as Forças Armadas, mas sim por decisões políticas internas e externas para acabar com os governos revolucionários, com os governos que surgem do povo, essa é a história da América Latina.”
“... temos o direito de decidir quais a formas para garantir a democracia em cada país, mas sem golpes, nem tentativas de golpes
“Gostaríamos que esta conferência de ministras e ministros de Defesa garantisse uma democracia verdadeira dos povos, respeitando as nossas diferenças em cada região, em cada setor.
“Mas também quando falamos de paz, eu pergunto, como pode existir a paz com a presença de bases militares, e também posso falar com certo conhecimento porque eu fui vítima dessas bases militares dos Estados Unidos, sob o pretexto de luta contra o narcotráfico.
“Quando eu era soldado, soldado sem patente, das Forças Armadas em 1978, os oficiais, suboficiais me ensinaram a defender a Pátria, as Forças Armadas têm que defender a Pátria, as Forças Armadas não podem permitir que outro militar estrangeiro uniformizado e armado permaneça na Bolívia.
“ ... na etapa de dirigente fui pessoalmente testemunha de que não somente a DEA uniformizada e armada conduzia as Forças Armadas, nem conduzia a Polícia Nacional, mas também com sua metralhadora, sob pretexto de lutar contra o tráfico de narcóticos, combatia os movimentos sociais, perseguia com seus teco-tecos as marchas de Santa Cruz, de Cochabamba, de Oruro, e não podiam nos encontrar nem com seus teco-tecos, e diziam que eram marchas fantasmas, nada disso, eram milhares os companheiros procurando a reivindicação, a dignidade e a soberania de nossos povos.”
“... convencido de que se os povos lutamos por nossa dignidade, por nossa soberania, isso não pode ser feito nem com bases militares nem com intervenções militares; todos nós por menores que sejamos, países chamados subdesenvolvidos, em vias de desenvolvimento, temos dignidade, temos soberania; além disso quando era membro do Parlamento, tentaram me fazer aprovar a imunidade para os funcionários da embaixada dos Estados Unidos.
“O que é a imunidade?, que os funcionários da embaixada dos Estados Unidos, incluída a DEA norte-americana, se cometerem algum delito não serão julgados com as leis bolivianas, era uma carta aberta para matar, para ferir, mesmo como fizeram em minha região.”
“... a paz é a filha legítima da igualdade, da dignidade que é a justiça social, sem dignidade, sem igualdade, sem justiça social será impossível garantir a paz, de onde podemos garanti-la?, porque há povos que se rebelam porque existe a injustiça.”
“... escutando nosso secretário geral das Nações Unidas falar sobre as doutrinas, as doutrinas que conhecemos na Bolívia, doutrinas anticomunistas com golpes de Estado para intervir militarmente os centros mineiros, porque os movimentos sociais, os centros mineiros eram grandes revolucionários para transformar a Bolívia.
“Nas décadas de 50 e 60, acusavam-nos de comunistas, de vermelhos aos dirigentes sindicais do setor mineiro, para nos encerrar nos cárceres, para nos condenar ao exílio, para nos processar até sermos massacrados, essa época passou, agora não nos podem acusar de vermelhos nem de comunistas, todos temos direito a pensar diferente.
Se para um país, para uma região a solução é o comunismo, é bom; para outro é o socialismo, é bom; e para mais outro, o capitalismo, é bom também; é decisão democrática de qualquer país.
“Mas quando já ganhamos essa luta, que já não podem justificar com uma doutrina anticomunista para fazer calar os povos, para mudar de presidentes, para mudar de governos, apresentam a outra doutrina, a guerra contra a droga.
“Logicamente é obrigação de nós todos combater as drogas [...] a Bolívia não é a cultura das drogas, a Bolívia não é a cultura da cocaína, mas de onde vem a cocaína?, do mercado dos países desenvolvidos, isso não é responsabilidade do Governo nacional, mas é obrigado a combater.”
“... por trás da luta contra o tráfico de drogas não podem existir interesses geopolíticos, que sob pretexto de lutar contra o narcotráfico demonizam os movimentos sociais, criminalizam os movimentos sociais, confundem a folha de coca com a cocaína, confundem o produtor da folha de coca com o narcotraficante, ou o consumo legal da folha de coca com o marco dependente.
“Por que não combateram a coca antes, no século passado, se a coca provocava dano, os europeus foram os primeiros proprietários de terras a explorar a folha de coca, com certeza não existia o desvio para a cocaína.
“Os governos dos Estados Unidos antes entregavam uma certidão de reconhecimento aos melhores produtores da folha de coca, para que?, para que esse produtor da folha de coca pudesse manter, atender a folha de coca, e aos mineiros que exploravam o estanho, e dessa maneira puder levar o estanho para os Estados Unidos.
“... o mundo sabe, vocês sabem, a chamada guerra contra a droga fracassou, essas políticas têm que ser mudadas, logicamente, qual a nova política? como por exemplo, acabar com o segredo bancário, esse grande narcotraficante, o peixe grande do narcotráfico, anda com sua mochila carregada de dinheiro, também sua mala, viajando de avião, não circula nos bancos; por que não acabar com o segredo bancário para de essa maneira acabar com o narcotráfico, para controlar esse traficante de narcóticos.
“Por que não cada país defende a entrada de qualquer droga a seu território?, com essa tecnologia, fazendo uso de radares, eu sinto que existe capacidade para controlar; e não podemos controlar. Só sob pretexto da luta contra o narcotráfico impor políticas de controle e sobretudo orientados a como recuperar os recursos naturais para as transnacionais.”
“... o ex-embaixador dos Estados Unidos, Manuel Rocha disse: Não votem em Evo Morales, Evo Morales é o Bin Laden andino e os cocaleiros os talibans
“Quer dizer caros ministros, ministras da Defesa, vocês segundo este tipo de doutrinas estão neste momento reunidos como o Bin Laden andino e meus companheiros, os movimentos sociais, são os talibans, expressam essas acusações às vezes tergiversações.”
“... agora quando tampouco podem sustentar essas teses e doutrinas anticomunistas, anti-terroristas, existe outra nova doutrina que há dias ouvimos, e quero aproveitar esta oportunidade de informar a meu povo através dos meios de comunicação.
“No dia 17 deste mês, em uma reunião da qual participaram alguns latino-americanos e alguns congressistas norte-americanos, realizada nos Estados Unidos, foro que tinha como lema: perigo dos Andes, ameaças à democracia, os direitos humanos e a segurança interamericana.
“... a congressista Ileana Ros-Lehtinen disse: nos últimos anos temos observado com preocupação os esforços de vários presidentes na região, como Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega na Nicarágua, Rafael Correa no Equador, para consolidar seu poder custe o que custar. Os membros da aliança ALBA com Chávez na chefia, um após o outro, manipulam o sistema democrático de seus países para servir a seus próprios objetivos autocráticos.
“É a oportunidade para dizer a essa congressista que não ganhamos como nos Estados Unidos com uma diferença de um por cento, dois por cento; aqui ganhamos com mais de 50, ou mais de 60 por cento, e em algumas regiões com mais de 80 por cento, essa é a verdadeira democracia.
“O que é que diz a agenda sobre Daniel Ortega, da agenda da coca impulsionada por Evo Morales, é uma nascente aliança com o Irã e a Rússia, a respeito do caso de Rafael Correia, as duvidosas reformas constitucionais com postulados anti-americanos.
“... a Bolívia sob minha direção terá acordos, alianças com todo o mundo, ninguém pode proibir, temos direito, somos a cultura do diálogo.”
“... sem sócios democráticos estáveis não pode haver segurança regional, também procuram segurança regional para os Estados Unidos, como tal agora mais do que nunca é o momento de que os Estados Unidos apóiem seus inimigos ou debilitem seus inimigos, agora é o momento de que a Organização dos Estados Americanos absolva seu legado de dupla moral e que finalmente faça com que todos os estados membros cumpram os princípios e obrigações fundamentais da carta democrática interamericana, bom haverá que revisar a carta interamericana.
“O segundo congressista (fala de Connie Mack, e explica suas idéias com as palavras seguintes), tenho toda sua redação, toda sua intervenção, mas para ganhar tempo vou tentar resumir, assina-a e diz, quero falar sobre algumas observações dos últimos seis anos como membro deste congresso, eu vi francamente as duas administrações: o governo republicano e o governo democrata.
“Nessa linha acho que está a idéia de ambas as administrações a respeito de Hugo Chávez, que não intervenhamos, que nos sentemos e o deixemos explodir em si próprio, e o outro pensamento é que talvez Hugo Chávez esteja doido, e ele disse, eu não caio em nenhuma dessas noções, não acho que Hugo Chávez esteja doido, e não acho que deixá-lo explodir em si próprio funcionará. Hugo Chávez é uma ameaça para a liberdade e para a democracia na América Latina e ao redor do mundo.”
“isto é o que mais me preocupa, confio em que quando viremos maioria no próximo congresso, como presidente do subcomitê, façamos justamente isso, nos encarregaremos de Chávez, é derrotá-lo politicamente ou fisicamente.”
A seguir Evo expressa:
“Eu diria que este congressista Connie Mack já é um assassino confesso ou um conspirador confesso do companheiro irmão presidente da Venezuela, Hugo Chávez .
“Se acontecer alguma coisa com a vida de Hugo Chávez, o único responsável será este congressista norte-americano, ele o diz publicamente e aparece escrito nos meios de comunicação e em sua intervenção.”
“Companheiro, irmão, secretário-geral da OEA, você tem que expulsar a Venezuela, o Equador e a Bolívia e também noutro lugar diz, também a Nicarágua, e aplicar sanções, o que significa?, seguramente um bloqueio econômico como a Cuba.”
“Acho que a isso se referem as sanções, então como podemos alguns países da América garantir a segurança, a paz, quando estas são as expressões de alguns congressistas, de alguns latino-americanos.
“Estava revisando qual o motivo, por que Cuba foi expulsa em 1962, por ser leninista, marxista, e comunista Cuba. Agora a nova doutrina é uma doutrina anti-ALBA como esses países organizados. Cumprimentamos Fidel, cumprimentamos Chávez, e outros presidentes, por construírem um instrumento como a ALBA, um instrumento de integração, de solidariedade, solidariedade sem condicionamentos, como compartilhar em vez de competir, como praticar políticas de complementaridade e não de competitividade.
“... dentro dessa competitividade só grupos pequenos beneficiar-se-ão e não as maiorias que esperam de seus presidentes.
“Dentro de estas políticas de competitividade e não de complementaridade nem o capitalismo já é uma solução para o capitalismo, essa é a crise financeira.
“... a nova doutrina como antes vinham as doutrinas da escola de Panamá, o comando sul treinava nossos militares, fecharam isso graças às lutas dos povos e agora já não existe a escola das Américas, o que é que há?, operações conjuntas mediante forças especiais.”
“...admiro alguns oficiais de minhas Forças Armadas que informaram em detalhe sobre esse treinamentos que realizam todos os anos de maneira rotativa nos diferentes países da América, para o que?, para ensinar-lhes como acabar com esses países revolucionários, países que fazem profundas transformações democráticas, treinamentos inclusive para ensaiar o ensinar aos franco-atiradores como matar os líderes.
“... com muita indignação vi algumas imagens dessas operações conjuntas mediante forças especiais que vão passando de um povo para o outro. É lógico que a Bolívia já não participa e jamais participará enquanto eu continue na presidência; neste tipo de operações conjuntas para continuar atentando contra a democracia.
“... para o movimento indígena [...] este planeta ou a Pachamama pode existir sem o ser humano, mas o ser humano não pode viver sem o planeta, sem a Pachamama.”
“... o capitalismo não é a propriedade privada, porque às vezes tentam confundir e nos dizem que o presidente Evo questiona o capitalismo, que vai tirar nossas casas, nossos carros; não, a propriedade privada está garantida.”
“... a nova Constituição garante uma economia plural, e essa economia plural garante a propriedade privada, é garantida a propriedade comunal, estatal, de todos os setores sociais, mas quando falamos de capitalismo estamos falando deste desenvolvimento irracional, irresponsável, ilimitado.”
“Nossos companheiros já não encontram água nessa Amazônia, quando começamos a perfurar em alguma região a água é encontrada cada vez mais profunda e em poucas quantidades, e quando não garantimos água por causa da seca, justamente produto do aquecimento global, essa família fica abandonada a sua sorte, são milhares, milhões no mundo, são migrantes climáticos.
“Isso não o resolveremos com a participação das Forças Armadas, não o poderemos resolver com a participação dos ministros da
Defesa, nem com a cooperação, é um tema estrutural de caráter mundial.”
“... gostaríamos de resolver aqui a médio e longo prazo; a melhor solução para acabar com os desastres, ou acabar com os desastres naturais é acabando com o capitalismo, modificando essas políticas de exagerada industrialização.
“Logicamente todos os países queremos nos industrializar, nos industrializar para a vida, para o ser humano e não uma industrialização para acabar com a vida, com os seres humanos, existem doutrinas que proclamam e promovem a guerra, existem povos ou Estados que vivem da guerra, isso tem que acabar, e para acabar com isso temos que eliminar as grandes indústrias de armamentos que acabam a vida.”
“... eu sei que muitos ministros trazem a mensagem de seus presidentes, de seus governos, de seus povos, mas sejamos responsáveis com a vida, e ser responsável com a vida é ser responsável com o planeta ou com a Pachamama, com a Mãe Terra, e ser responsável com a Mãe Terra, planeta ou a Pachamama é respeitar os direitos da Mãe Terra.”
“... tomara que a América possa encabeçar através de vocês ministras e ministros da Defesa a garantia do direito da Mãe Terra para garantir os direitos humanos, a vida, a humanidade, não somente para a América, mas também para todo o mundo, sinto que temos uma enorme responsabilidade nesta conjuntura.
“Quero saudar a participação de nossas Forças Armadas, e também ser sincero com vocês, eu tinha muito medo, temor, nos anos 2005 e 2006 quando assumi a Presidência, se as Forças Armadas me acompanhariam ou não me neste processo.”
“... as Forças Armadas participando de trabalhos sociais, em mudanças estruturais, recuperando as minas, apoiando as políticas de recuperação dos recursos naturais, essas Forças Armadas agora são queridas pelo povo boliviano.”
“... o povo sente que tem umas Forças Armadas para o povo, agora felizmente temos duas estruturas importantes no Estado Plurinacional, os movimentos sociais que defendem seus recursos naturais e as Forças Armadas que também defendem seus recursos naturais, e se voltamos ao ano 1810, claro as Forças Armadas nasceram defendendo seus recursos naturais, a identidade, a soberania de nossos povos, só em alguns tempos fizeram mal uso de nossas Forças Armadas, não por culpa dos comandantes, mas sim por interesses oligárquicos ou alheios aos povos, que evidentemente nos fizeram muito dano.”
“... com as imposições de políticas de acima abaixo e de fora, que provinham do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, privatizações, desnacionalização das empresas públicas.”
“... dos lucros só [...] ficava 18 por cento para os bolivianos e 82 por cento para as empresas multinacionais.
“E no dia 1 de maio de 2006 mediante decreto supremo, decidimos primeiramente o controle do Estado de nossos recursos naturais, segundo, se convencidos de que aquele que investe tem direito a recuperar seu investimento e tem direito a ter lucros, dizemos que agora com 18 por cento eles podem obter lucros e recuperar seu investimento, assim os técnicos me demonstraram, e a partir do primeiro de maio de 2006, o 82 por cento passou para os bolivianos e o 18 por cento para as empresas que investem, essa é a nacionalização, respeitando seu investimento.”
Evo conclui seu discurso aportando dados incontestáveis sobre os resultados econômicos atingidos pela revolução.
“Antes o produto interno bruto era de 9 000 milhões de dólares, em 2005; agora em 2010, é de 18 500 milhões de dólares.
“... Com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional rendimento médio por pessoa era de 1 000 dólares por ano [...] em nosso governo 1 9000 dólares.”
“... em 2005, a Bolívia era o penúltimo país em reservas internacionais, agora conseguimos melhorar, a Bolívia tinha reservas internacionais de 1 700 milhões de dólares, agora neste ano temos 9 300 milhões de dólares...”
“... quando os governos dependiam dos Estados Unidos nem sequer podíamos erradicar o analfabetismo, graças à cooperação incondicional de Cuba especialmente bem como a da Venezuela, há dois anos atrás declaramos a Bolívia território livre de analfabetismo, depois de quase 200 anos.
“Em troca dessa cooperação Cuba, o que é que nos pedem? Nada, isso se chama solidariedade, compartilhar o pouco que temos e não compartilhar o que nos sobra, isso aprendi com o companheiro Fidel a quem admiro muitíssimo.”
Por pura modéstia Evo não falou dos colossais avanços obtidos pelo povo boliviano em matéria da saúde. Só na oftalmologia, por volta de 500 mil bolivianos foram operados da vista, os serviços de saúde chegam a todos os bolivianos e por volta de 5 000 especialistas em Medicina Geral Integral se estão formando e em breve receberão seu título. Esse irmão país latino-americano tem razões demais para se sentir orgulhoso.
Evo conclui:
“... sem o Fundo Monetário Internacional, isto é, que não imponham políticas econômicas de privatizações, de leilões, podemos melhor ainda no democrático, se não dependemos dos Estados Unidos melhoramos nossa democracia na América Latina, é o resultado destes cinco anos de mi desempenho como presidente.”
“Logicamente com isso não negou que a Bolívia precisa de cooperação, a Bolívia ainda precisa de créditos internacionais, de cooperação internacional, cumprimento os países que cooperam na Europa, na América Latina, que oferecem facilidade de créditos porque estamos em um processo de profundas transformações...”
“... que os povos tenham direito a decidir por si próprios sobre sua democracia, sobre sua segurança, mas enquanto tenhamos atitudes de intervencionistas com qualquer pretexto [...] certamente vai demorar a libertação dos povos, porém mais cedo ou mais tarde os povos, como estamos vivendo, vão continuar a se rebelar.
“É por isso que estou convencido da rebelião à revolução, da revolução à descolonização...”
Após o discurso de Evo, apenas 48 horas depois, caiu como um relâmpago o discurso de Chávez. As luzes da rebelião iluminavam os céus da Nossa América.
Fidel Castro Ruz
24 de Novembro de 2010
19h36