Discorsi

Discurso proferido pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz na Inauguração da Escola Nacional de Solos, fertilizantes e alimentação do gado, em 1º de fevereiro de 1964

Data: 

01/02/1964

 

Companheiros professores;

Companheiros alunos;

Companheiros convidados:

 

Eu não sei se o pessoal do teatro ainda estará zangado, mas ainda eu estou rindo das coisas que aqui foram apresentadas.

A abertura esteve muito simpática; houve coisas muito naturais, espontâneas, sãs. A crítica que eu fiz foi gracejando, pois como o mestre de cerimônias reclamava tantos aplausos, era preciso dizer também as coisas que observamos mal. A parte intermédia da obra esteve muito prolongada.

Realmente — como tudo aquilo que começa — havia coisas que não estavam bem coordenadas. O companheiro que anunciava o programa errou várias vezes; disse que vinha a tocha e o que vinha era o ato cultural. Proferiram-se discursos de todos os tipos; cada artista do programa fez um discurso. Eu dizia aos companheiros que estes rapazes iam aprender a ser bons agitadores, não a produzir carne e leite.

Mas bem: tudo tem sido muito simpático. Podem continuar fazendo suas obras, melhorando-as, que com isso chegarão a tornar mais agradável sua estada aqui. Quando fizerem outros programas não pronunciem tantos discursos, ou será que nos estão doutrinando a nós?

Do que mais eu gosto é da forma em que começa a funcionar esta escola.  Desde nossa chegada nos impressionou muito o aspecto da escola, a disciplina, a responsabilidade, a seriedade, o entusiasmo dos rapazes. Esta escola nos parece que será o que nós pensamos que seria, ou talvez será mais do que nós pensamos.

Eu não vou ser muito extenso. Já falei longamente com vocês, quando do recrutamento. O número dos que se apresentou foi superior ao que nós esperávamos. Aceitamos todos os candidatos pensando em que haveria alguns que depois de oferecer-se, acabariam percebendo que essa não era sua vocação.

É importante que se chegue a conhecer o valor que tem a escola, e isso não se consegue até que se está nela. O fato é que nesta escola há mais de 600 alunos, e se nós conseguimos formar 500 técnicos do tipo que nos propomos, será um grande triunfo.

Esta será uma escola revolucionária, inclusive até nos métodos de ensino.  Vocês darão estudos básicos, como são física, química, matemáticas, que são muito importantes. Sem estes conhecimentos os estudos posteriores que devem realizar se tornariam mais difíceis. É muito desagradável se deparar, por exemplo, com uma fórmula da alimentação e não entendê-la. E vocês vão estudar botânica, vão estudar zoologia e vão estudar já alguns livros que se referem ao trabalho concreto de vocês.

O nome desta escola é um nome um pouco extenso, mas não há mais remédio de que seja assim. Realmente não deveria haver uma escola, deveria haver pelo menos três; acontece é que nós estamos fazendo desta escola um combinado de conhecimentos para um objetivo concreto. Não há especialistas em solos. Já uma escola de solos ela própria é uma escola que se justifica. E a questão da fertilização da terra é um problema também que pela sua importância era como para organizar uma escola sobre esse tema particular.

Aqui não temos especialistas em solos, nem em fertilização, nem tampouco em alimentação do gado. Então, que objetivo se persegue? Procura-se desenvolver até o máximo a produção de carne e de leite; carne e leite querem dizer muitas coisas mais: quer dizer sapatos, quer dizer derivados desses produtos, quer dizer riquezas de todo o tipo.

Mas para conseguir esse desenvolvimento é preciso obter a alimentação da terra. Há muitas coisas que fazer nesse campo, mas para nós todas as demais coisas que estamos fazendo na pecuária, como são os planos de genética, os planos de desenvolvimento de determinado tipo de gado, o desenvolvimento da inseminação artificial em grande escala, nada disso teria nenhum resultado, caso não se resolver o problema da alimentação do gado.

Realmente, nós já pensamos que neste país não há problema nenhum que não possa ser resolvido. E já os fatos o estão demonstrando. Por exemplo, nosso país já tem resolvido o problema econômico, a base para a economia, já que há possibilidades de produzir dez milhões de toneladas de açúcar. Mas para fazer dez milhões de toneladas de açúcar eram necessárias as máquinas. Primeiramente, mercado: eis os mercados; preços: eis os preços. Mas isso não bastava se não se resolvia o problema da colheita da cana. Tentar, cortando com um facão, produzir dez milhões de toneladas era uma doidice; e se tem resolvido também o problema, um problema técnico que parecia muito difícil e se resolveu em três meses — essa é a técnica — se resolveu em três meses!  A partir do momento em que se deram as instruções aos técnicos da União Soviética para desenvolver essa colheitadeira, fizeram-na em três meses.

E, há uns dias, nós observamos essa colheitadeira trabalhando e parece incrível a eficácia que essa máquina possui.

Resolveu-se o problema da colheitadeira. Está resolvido o problema dos dez milhões de toneladas! Resolvido o problema dos dez milhões, porque o mais difícil não era nem sequer plantar essa cana e que se produzissem os dez milhões; o mais difícil era cortar e carregar essa cana, problema resolvido com as colheitadeiras. Todas essas coisas pareciam muito difíceis, pareciam, inclusive, incríveis. Agora, os contrarrevolucionários estão magoados por todas essas coisas, magoados; as perspectivas econômicas do país os magoam, a solução do problema da safra mediante as colheitadeiras os acaba de magoar, a tal extremo que alguns desses “papagaios” contrarrevolucionários andavam falando de Miami, dizendo que essas máquinas, que não era possível... O que não era possível? É preciso ver como cortam essas colheitadeiras! Com uns quantos milhares de homens cortamos e recolhemos cana para cinco ou seis milhões de toneladas. E onde não se possa mecanizar completamente, porque seja um terreno irregular, se emprega então a semimecanização com as máquinas de içar a cana. O fato é que estamos em condições, mediante isto, de poder chegar a dez milhões de toneladas de açúcar.

Ora bem, nós em matéria de pecuária podemos chegar a produzir ainda mais riquezas que o que significa o valor de dez milhões de toneladas de açúcar. Nós podemos estar produzindo, para dentro de dez anos, mais de 30 milhões de litros de leite diariamente, e sacrificar uns quatro milhões de cabeças de gado anualmente. Em nosso país há condições para isso. Se conseguimos essas metas, o valor desse leite e dessa carne será superior, inclusive, ao valor dos dez milhões de toneladas de açúcar a seis centavos. Isso é o que significa a pecuária.

(Escuta-se o choro de uma criança).

Até esse rapaz vai ter leite abundante (RISOS).

Ora, contudo, é mais fácil cumprir a meta de dez milhões de toneladas para 1970, que cumprir essas metas na pecuária para dez anos. Porque para cumprir estas metas na pecuária é preciso fazer um trabalho muito grande, muito sério, muito sistemático, muito constante. Entre outras coisas é preciso transformar toda nossa pecuária; todas as vacas da raça zebu que há na república é preciso convertê-las em tetravôs das vacas, que sejam capazes de dar pelo menos 20 litros de leite. Reparem na grande tarefa que temos pela frente.

Certamente, continuar um plano muito sistemático em todo o problema da inseminação e começar imediatamente esse trabalho em grande escala, sobretudo realizar trabalhos de genética e também sobre uma série de pesquisas. Mas em termos gerais nós temos que acabar com esse tipo de gado, que o único que dá é um bezerro ao ano e não nos dá leite e nós estamos precisando de vacas que deem um bezerro — reparem — alimentem o bezerro e, além do mais, nos deem oito ou dez litros de leite todos os dias. E essas vacas existem, eu tenho uma vaca dessas (RISOS). Portanto, eu estou falando com conhecimento do problema.

Eu tenho uma vaca que está criando seu bezerro e está produzindo, em média, nove e meio litros de leite e há um mês disso; e penso que quando o bezerro crescer um pouquinho mais, a vaca vai dar um pouco menos de leite, mas aos 100 dias espero que o bezerro esteja pesando 150 quilos, aos cem dias! E então tiramos o bezerro e ordenhamos a vaca duas vezes. Então, produzirá mais leite.

Mas sabem quanto vai comer essa vaca de erva para produzir uns 900 litros de leite, que a 10 centavos valem 90 pesos, e um bezerro de 150 quilos, que como carne especial vale pelo menos outros 90 pesos? Vamos calcular um pouquinho menos de litros de leite, 800 litros, supondo que caia um pouquinho a média — agora tem uma média de mais de nove — mas supondo que crescesse um pouco mais o bezerro, antes dos 100 dias e a vaca produza um pouco menos de leite, calculem 800 litros de leite — 80 pesos de leite — 90 pesos de carne.

Sabem quanto vai comer essa vaca, quanto vale o que vai comer? Catorze pesos de pastagem. Claro que é preciso atribuir-lhe ao custo parte da erva que a vaca consome antes de nascer o bezerro, porque esse bezerro já vem ao mundo com 45 ou 50 quilos; mas, definitivamente, nesses 100 dias de cria essa vaca vai consumir 14 pesos de alimentação.

Não há alimentação mais barata no mundo que a que nós podemos produzir nesta terra.

Agora, percebam bem, essa vaca não vê nem uma grama, nem um grama de ração, nem uma onça de ração comeu essa vaca; isso é sem ração. E essa vaca, não “pensa”, se dedica exclusivamente a produzir leite e a alimentar o bezerro (RISOS).

E o lado interessante, senhores — para que vocês tenham uma ideia de nossas vantagens, das vantagens deste país — é que em qualquer lugar do mundo, do mundo desenvolvido que tiverem essa vaca, neste momento, teriam que estar alimentando-a com grãos e com feno colhidos na primavera e no verão. Contudo, essa vaca está comendo uma erva que a estamos cortando no mês de janeiro, em pleno mês de janeiro.

As vantagens que nós temos são realmente incríveis para isso, e é uma verdadeira pena que isso não tenha sido visto antes; inclusive não se podia ter visto antes, porque nosso país não tinha mercados nem para o açúcar, nem para a carne, nem para nada. E o que havia sobrava porque não havia quem pudesse comprá-lo. Somente com a Revolução é que surgiu a possibilidade de descobrir esta oportunidade; e é realmente incrível que com erva cortada no mês de janeiro e de fevereiro, naquilo que no mundo desenvolvido se chama inverno, onde os campos estão cobertos de neve, se esteja obtendo 15 e até 16 litros de leite de uma vaca, com erva colhida nesse mês. E essas são as características que nós temos, fantásticas. Mas, como é que têm sido utilizadas por este país? Horrivelmente mal. De fato, não têm sido utilizadas, de fato nosso povo nunca teve oportunidade de aproveitar isso.

Como é nossa agricultura? Uma agricultura antediluviana. Nossos métodos de trabalho se pode dizer que, em muitas questões agrícolas, como na cana e em outras muitas coisas, está à altura dos tempos pré-históricos, da época em que o homem descobriu um pau e com um pau fez o primeiro instrumento de trabalho. Porque uma enxada, senhores, não é mais do que um pau com um pedaço de metal na ponta. Na época de Roma possivelmente tinham métodos mais adiantados que esses.

Acaso vocês concebem um homem cortando cana com um facão? Quanto açúcar se pode produzir com isso? Bem, não somente a falta de técnica, de máquina para isso, mas também a falta de técnica para cultivar a terra.

Em nossa agricultura, por onde quer que vocês estiverem vão dar de cara com esse fenômeno, atualmente — e vocês vão poder familiarizar-se com isso, em breve... Por que não há leite nesta época? Bem simples. Por que se produz essa redução na produção de leite? Em duas palavras: porque o gado começa a passar fome. E aqui se estabeleceu o costume de alimentar o gado com ração, qualquer indivíduo no quintal de sua casa podia ter dez vacas; plantava um pouco de ‘erva de elefante’ perto dali para dar-lhe recheio — como dizia — ao gado. O país vendia açúcar, importava ração, isso não convinha à economia; podia ser bom para aquele indivíduo que gastava cinco centavos por litro de leite e depois vendia o litro a 10 centavos. E se acostumaram a alimentar o gado à base de ração. O resultado da ração foi que todo mundo pensa na ração, mas que realmente não sabem nem onde estão parados, não pensam em nada.

Criou-se a mentalidade de alimentar o gado à base de ração, e resulta absurdo que a uma vaca que produz seis litros de leite lhe estejam dando cinco quilos de ração. Uma vaca passando fome produz, comendo erva, sem comer a erva toda que se pode comer, que lhe cabe na pança — pança é uma palavra técnica (RISOS) — produz seis litros de leite. Inclusive, todo mundo se acostumou: agricultores particulares, estatais, de todo o tipo, que é muito mais fácil que ficar trabalhando a terra no campo, esperar que venha um caminhão com muitos sacos de ração; isso é muito mais fácil que encarar o trabalho de atender a erva; então, não atendiam a erva do campo. Chega esta época, da seca, o gado o que está é realmente passando fome quando vem esta temporada, com fome. Eis o resultado: não há leite. Porque embora haja seca se pode ter certa reserva de feno; esse feno se pode produzir em lugares como o Pantanal de Zapata, onde já estamos aplicando um plano de produção de feno. No pantanal pensamos chegar a produzir, em um futuro, de meio milhão a um milhão de toneladas de feno por ano, e feno de um tipo de forragem que é praticamente natural dali, típica daquele lugar, e que tem uma alta porcentagem de proteínas.

Então, nesta época, pois é, cai a produção de leite — a seca — não há comida para o gado, e se uma vaca não recebe comida — exceto que fosse a vaca de Aladim (RISOS) — não produz leite, porque para que uma vaca produza leite é preciso dar-lhe comida. É inconcebível que uma fábrica de tecidos produza, se você não lhe põe fio, tecido, nem meio metro de tecido; e o mesmo acontece com a vaca: durante um tempinho continua dando um pouquinho de leite, esgotando sua reserva, e a vaca acaba morrendo por causa da fome. E esses são os problemas. Não se sabe nada disso, praticamente nada.

E aqui nós podemos lançar um desafio aos muito famosos técnicos agropecuários de Cuba, porque podemos dizer que não sabiam nada disso, somente o que aprenderam nos livros norte-americanos, e então vinham aplicar em Cuba a técnica dos Estados Unidos, que é a técnica de um país frio. Claro, os técnicos ficam muito furiosos quando lhes dizemos estas coisas, mas já não me importa realmente nada, porque nós temos podido demonstrar, mediante os fatos, que eles estavam enganados, e há alguns problemas nos quais se gastou muito dinheiro aqui, e sobre os quais é preciso discutir seriamente, como é o problema do silo, e é preciso acabar de estudar se o silo como sistema — e à exceção, para determinados tipos de leguminosas que não se possam guardar bem em silos — se o silo, à exceção de alguns casos, serve para algo neste país e que, contudo, é insubstituível em um país frio. E aqui já se gastou muito dinheiro fazendo silos, que nem sequer os sabiam fazer bem, e guardando a erva, que a guardavam bastante mal. E esse problema todo tem que ser bem discutido.

Mas aqui há técnicos e são cabeças-duras, que são recalcitrantes e não aceitam as verdades; mas as verdades estão aí e não terão mais remédio que aceitá-las. E a grande verdade é que nossos técnicos estudaram por uns livrinhos norte-americanos e o que faziam era vir a aplicar aqui as técnicas norte-americanas. Nós também vamos estudar por uns livrinhos norte-americanos, e quase tudo o que eu sei de pecuária o estudei em uns livrinhos norte-americanos, mas o que não consigo é imaginar que as técnicas que são boas ali sejam aplicáveis aqui. E vocês vão estudar por livros quase todos norte-americanos, livros bons; é claro que esses livros nem sempre são os livros ideais, porque, às vezes, tratam de matérias que não nos interessam, mas são livros bons, porque eles têm uma boa técnica, bem desenvolvida a técnica de produção agrícola, de pecuária, e, sobretudo, são livros que temos podido ter ao alcance nosso porque estão traduzidos ao espanhol. É preciso estudar esses livros com um sentido crítico, para que não aconteça o que aconteceu aos técnicos: observavam o silo e então construíam um silo aqui; a alimentação fundamentalmente à base de ração, que é correta lá, então vinham aplicar esses princípios aqui. Isso não quer dizer que nós nunca devemos dar ração a uma vaca; pode ser que a partir de um dado momento nos convenha dar ração às vacas de alta produtividade, mas não a toda a massa do gado. Porque quando nós substituímos a forragem pela ração, já temos que produzir leite muito mais caro, já temos que importar muitos desses componentes; ou começar a produzi-los aqui, quando na mesma extensão de terra de onde nós tiramos 50 mil litros de leite à base de milho, produzimos 200 mil à base de forragem. E esse é o problema.

Nós vamos estudar por livros norte-americanos, muitos livros norte-americanos, alguns deles muito bons, sobretudo no que se refere aos problemas do solo, de fertilização; claro, vocês se acabarão percebendo, além do mais, que nem todos os livros coincidem, vocês se depararão com pontos de vista discrepantes. Não pensem vocês que vão achar em um livro todos os conhecimentos que necessitam; e que é preciso aplicar os mesmos conhecimentos que aparecem nos livros. E há uma série de questões e de princípios gerais e de conhecimentos técnicos gerais que são muito importantes. Vamos estudar esses livros com sentido crítico, recolhendo todo o que têm de útil e de aproveitável para nossas condições, e descartando tudo aquilo que não seja adequado às nossas condições.

Eu dizia que esta ia ser uma escola revolucionária em todas as ordens, nos métodos de estudo, na organização, no sistema de vida. Vocês aqui não somente vão adquirir conhecimentos técnicos, vocês vão adquirir uma cultura o mais ampla possível. Vocês não somente vão estudar: vocês vão trabalhar, porque no programa da escola há três horas de trabalho diário, trabalho físico.  Com o quê? Talvez com uma enxada, inclusive; nesse caso não terá tantos fins produtivos como fins pedagógicos. Para quê? Para que vocês saibam o que é o trabalho, porque se vocês vão ser técnicos e vão ter responsabilidades, no futuro, é muito conveniente e muito necessário que vocês saibam como é o trabalho e quais são os trabalhos que sofrem os homens que podem estar às ordens de vocês, e isso foi estabelecido como parte da formação de vocês.  Mas, ainda, vocês vão trabalhar nos centros de pesquisas, em alguns dos que estão já, em uma série de experiências que se estão fazendo e nos quais vocês façam, inclusive, as experiências que façam aqui mesmo nesta fazenda.

Vai haver um programa de estudo, um programa de trabalho; o lazer também vai ser considerado. Programas de tipo cultural, de cultura geral, receber palestras sobre pintura, sobre música, sobre teatro; aos sábados, por exemplo, à noite, algumas fitas desse tipo, cinema aos domingos de outro tipo, recreativo puramente. Mas, ainda, vocês não pensem que se vão sentar em uma sala de aulas, como tem sido sempre, sem saber uma palavra do que lhes vão falar, para que o professor lhes explique a lição; nada disso. A vocês lhes vão indicar a lição e vocês têm que estudar a lição antes de ir para a aula, e na aula o professor se limitará a dar uma explicação geral do tema que corresponde nesse dia; o resto do tempo a responder perguntas sobre dúvidas que vocês tiverem e a discutir. O professor empregará 20 ou 25 minutos, e o resto do tempo vocês perguntam, e vocês discutem, e vocês analisam, porque vocês têm que ser autodidatas, e porque depois vocês têm que continuar os estudos sozinhos, quando não vão ter um professor ao lado que lhes ensine, quando vocês estejam já na produção e que, contudo, vão continuar estudando e vão receber os cursos para poder realizar estudos superiores. E, ademais, as aulas não vão ser aulas aborrecidas, a vida de vocês não vai ser aborrecida nem um só minuto nesta escola; também vão receber instrução revolucionária, não vão pensar vocês que lhes vão pôr um instrutor revolucionário que lhes profira um discurso gasto, que lhes leia um calhamaço; nada disso, não é esse o tipo de revolucionário que nós queremos, nem é esse o tipo de instrução revolucionária, porque vocês vão ser outro tipo de revolucionários.

E nós propusemos que os sábados o tempo fosse dedicado, que fosse empregue na instrução revolucionária, e em vez de estar lendo coisas que não sejam coisas vivas, que estudem, por exemplo, a biografia de Karl Marx, se escolha uma das melhores biografias de Marx — que há e muito boas — e então estudem a vida de Karl Marx, a vida dos fundadores do marxismo, como surgiram as ideias marxistas e contra quais ideias eles se enfrentaram. E então vocês vão ter uma visão vivente, amena, sobre esses problemas. E depois a vida de Lenin, o fundador do primeiro Estado socialista do mundo. E então vocês vão receber uma instrução revolucionária profunda e amena, que não é essa instrução em que um indivíduo fica parado na frente e repete e repete e repete, e aborrece o pessoal todo que o está escutando, porque há um tipo de instrução revolucionária que temos que aprender todos os dias, e é a do trabalho, e é a da produção, e é a da disciplina, e é a da vida. Essa é a escola onde se têm que formar os mais perfeitos comunistas! (APLAUSOS), porque há pessoas que são capazes de recitar como um papagaio, de cor, os melhores trechos do marxismo, da dialética marxista, do Manifesto Comunista, ou dos escritos de Marx, Engels ou Lenin e, contudo, não são capazes de produzir uma batata-doce (RISOS); ignoram o mais elementar: que a vida nova, a sociedade nova que se quer criar, é preciso edificá-la sobre uma base material, sobre a base de bens materiais e sobre a base da abundância. E esses revolucionários teóricos é a coisa mais cara que pode ter uma sociedade, porque não produzem nada e comem muito.

E o que nós devemos ter é revolucionários de cada dia, de cada minuto e na realidade da vida e, sobretudo, criando as bases do socialismo e do comunismo, e que somente se podem criar na abundância, na plena e absoluta abundância que a humanidade pode conseguir hoje, por quê? Ter-se proposto isso como meta no ano 1.500 era um absurdo, porque quando um homem tinha que andar com uma gadanha cortando a erva, ninguém teria podido se propor uma meta de 30 milhões de litros de leite para um país com a superfície e a população nossa; mas quando podemos ter ceifeiras que cortam o mesmo que 300 homens, então sim, então nos podemos propor estes objetivos, e dessa mesma forma em todos os fronts. Com a ajuda da química, com a ajuda da técnica, com a ajuda das máquinas, podemos propor-nos metas de produção altíssimas.

E vocês vão ser os criadores dessas bases materiais, vocês vão preencher —na realidade da vida — uma importantíssima função para a construção de uma sociedade nova, na produção. Naturalmente que vocês necessitam uma preparação teórica sólida. Penso que todo revolucionário deve aspirar a ter uma preparação teórica sólida; o que nenhum revolucionário deve ficar na teoria, somente na teoria. E nós temos pensado que esta escola se caracterize por seu espírito revolucionário, e aqui vocês não só vão estudar, vocês também vão investigar. Isto vai ser um centro de estudo e um centro de pesquisas, ao mesmo tempo. E as possibilidades de levar a cabo este plano dependem, em boa parte, do sucesso que tenhamos nesta escola e dos especialistas que se formem nesta escola; que onde quer que estejam saibam distinguir o tipo de solo, quais são suas características, o que é preciso fazer a esse solo, todos os tipos de ervas, a produtividade do solo respeito a cada tipo de erva, os nutrientes, as proteínas. Vocês têm que estudar todas essas coisas. Daí que por isso seja preciso estudar o solo, porque sem conhecer o solo, o que é que vão produzir? Não é o mesmo a argila de Matanzas do que a turfa do Pantanal de Zapata; e não é o mesmo a forragem que se pode semear ali que lá, não é o mesmo a forragem que se pode plantar com água ou sem água, em terreno úmido ou em terreno não úmido.

E assim, é preciso adequar o tipo de forragem ao terreno; a preparação do terreno também tem que ser de acordo com suas características; a fertilização do terreno, de acordo com o que se quer, porque possuindo todos estes conhecimentos, se pode produzir todo o leite e toda a carne que se queira, porque se aprende a produzir os alimentos do gado, as proteínas, os nutrientes, os carboidratos que são precisos para produzir o que se quer. E assim vocês podem conseguir que uma erva tenha 10% de proteínas secas, ou 12, ou 13, ou 15, segundo a fertilização.

O emprego do esterco do gado na agricultura é muito fundamental. E segundo for maior a quantidade de gado que nós alimentemos por hectare, maior quantidade de esterco para cada hectare e, portanto, receberemos maior quantidade de alimentos por hectare.

Nós vamos rumo à política de pôr o gado em estábulos, e levar o alimento ao gado no estábulo, quando o animal esteja em ceva ou quando a vaca esteja em produção. E nesse sentido se têm estado fazendo uma série de experiências também com uma série de resultados.

Todas essas técnicas têm seus inimigos, é necessário que saibam isso. Só que os inimigos terão que recuar diante da verdade. Nós não nos apegamos a uma técnica determinada, de maneira dogmática, mas as submetemos à prova da realidade e nos cingimos à prova da realidade. O que não podemos é ser tão cegos que, frente à realidade, continuemos cobrindo-nos os olhos.

E sem dúvida de nenhuma classe que, ceifando a erva — pelo que nós temos podido ver até este momento — se produz mais do que quando o gado está pastando. E em 14 hectares de forragem se produz muito mais quando se corta a erva do que quando pasta o gado ali. Muitas vezes o que o gado faz é ao contrário do homem. O homem tira a erva daninha para que cresça a erva boa; e em troca, o animal engole a erva boa e deixa as ervas daninhas, que são as que crescem.

Acerca de tudo isso existe uma série de teorias — não só aqui, mas também fora daqui — e vocês se depararão com livros de técnicos que são a favor da pastagem e não da ceifa. Quer dizer, que sobre todas estas coisas vocês se depararão com pontos de vista diferentes; mas nós temos que agir de acordo com o que nos diga a realidade de nosso clima, de nossa terra; o que nos digam os resultados de nossas experiências. E essas são as que dirão a última palavra.

Trabalharemos, naturalmente, com análises, com técnicos, com laboratoristas.  Mas, certamente, quem dirá a última palavra serão os próprios animais.  Porque eu, por exemplo, tenho um método; além de todos os exames de laboratório e todos esses elementos de juízo, o último técnico que analisa a qualidade de um alimento é a própria vaca. Porque os resultados do laboratório podem dizer: “tal e tal coisa”; que a última palavra a diz a vaca quando você a alimenta com essa forragem. E lembrem que na vaca vamos ter um grande auxiliar, vamos ter um grande técnico; quer dizer, o técnico que diz a última palavra.

Estamos projetando construir também um laboratório de solos, de análises dos alimentos e de biologia. Mas não nos vamos conformar com fazer análises biológicas do solo; vamos procurar isolar distintos tipos de bactérias, e vamos fazer a produção industrial de bactérias para a pastagem, para a terra, para fins agrícolas. Porque a biologia tem uma importância muito grande e nós nos alegramos muito de que haja muitas companheiras aqui neste curso, porque pensamos que nelas podemos formar alguns técnicos muito bons em questões de biologia.

E da mesma maneira que os que se dediquem à terra terão que continuar estudando depois, os que se dediquem às questões de biologia terão que continuar estudando também.

Porque, quais os propósitos que temos? Vocês vão estudar dois anos um ensino teórico e prático intenso. Dois anos depois estarão em condições de incorporar-se à produção, mas então esta escola continuará funcionando através de cursos por correspondência; vocês receberão todo o material necessário para continuar os estudos de engenheiro agrônomo e de biologia, ou de qualquer outro ramo que se considerar conveniente. De maneira que vocês, dentro de dois anos, estarão na produção; mas dentro de seis ou sete anos serão também profissionais universitários. Porque nós temos muito interesse em que vocês continuem estudando, continuem desenvolvendo-se; que não se limitem aos conhecimentos que vão receber nesta escola. Então, todos os anos haverá um curso de pelo menos 45 dias até que vocês sejam graduados universitários. Esse é o plano que temos.

Agora: tenham certeza de que dentro de dois anos vocês vão saber muitas coisas que muitos engenheiros agrônomos ignoram hoje. E o digo em um bom espírito de desafio para os engenheiros agrônomos, para que estudem e para que se superem. Porque aqui tínhamos muitos engenheiros agrônomos que eram graduados em pavimento. Compreendem? (RISOS.) Pois é, estudavam na escola de agronomia da Quinta de Los Molinos, entre as ruas Carlos III e Zapata. E ali estudava um engenheiro agrônomo. E resultava que, inclusive, até muito recentemente, em que se adotaram algumas medidas, muitos desses eram estudantes de engenharia em agronomia e trabalhavam em distintas coisas que não tinham a ver nada com a agronomia; uns na companhia elétrica, outros em uma repartição burocrática e outros em não sei que coisa; alguns estão por aqui, porque os temos resgatado agora nós com um pouco de esforço (RISOS); trabalho que nos custou! Que tivemos que discutir com muitas empresas, porque formar o grupo de professores era um problema sério.

E se fez um grande esforço para munir a escola de professores capacitados, e teremos que continuar fazendo o esforço. E os professores vão ter que estudar, porque vocês os vão pôr em dificuldades; não há dúvida. Vão ter que estudar, superar-se. Estou certo de que lhes vai interessar muito esta escola, toda esta matéria. Há um bom número de engenheiros agrônomos de professores, e também companheiros estudantes universitários. Nós temos muito interesse em ter um pessoal docente altamente capacitado, embora, naturalmente, isso também será questão de um processo em que se irá adquirindo toda essa experiência.

Ora bem: vocês serão daqui a seis o sete anos engenheiros agrônomos, outros estudarão biologia; talvez haja algum outro ramo que se considere conveniente estudar. Mas vocês vão estar no campo e trabalhando no campo e nos centros de pesquisas e nos centros de experimentação. E naturalmente, muitas destas coisas estão começando, muitas destas coisas terão que fazê-las vocês mesmos.

Já temos alguns centros de pesquisas muito bons, como a estação de forragens da usina açucareira Espanha; é um magnífico centro de pesquisas. E aqui, nas redondezas, se estão fazendo algumas experiências sobre produção de carne e sobre produção de leite.

Mas aqui mesmo, aqui, vocês terão também suas experiências e terão que realizar as experiências. Aqui têm a leiteria, aqui terão centros de ceva e aqui estarão vocês tendo oportunidade de apreciar os resultados. E aqui vamos ir aprendendo todos, vamos ir descobrindo quais são as técnicas melhores, as que mais nos convêm.

Não partimos de nenhuma posição dogmática, mas nosso objetivo é produzir o máximo de leite, não por vaca, mas sim por hectare; não o máximo de carne por touro, mas sim por hectare de terra. Quer dizer, que nossa divisa é:  máximo de produção de leite e de carne por hectare com custo mínimo, máximo de produção de carne e de leite por hectare com custo mínimo. Esta há de ser a consigna de uma revolução que constrói o socialismo.

Para um capitalista o melhor é tirar o máximo de leite por vaca, talvez possa ser seu negócio. Mas lembrem que o número de animais se pode multiplicar: o que não se pode multiplicar é a terra, embora a produtividade da terra se possa multiplicar. E nós, multiplicando a produtividade da terra, procuraremos o que nos convenha mais, se milho ou se forragem. E eu tenho minhas conclusões sobre isso; não sou dogmático, se me convencem de outra coisa... Tomara que me possam convencer de outra coisa, mas o vejo difícil por agora! Porque todas as experiências estão verificando, demonstrando este ponto de vista. E aí estão.

Nós temos colocado, inclusive, a concorrer a forragem com o milho moído e a forragem superou em muito o milho; o deixou muito atrás quanto à produção de leite por vaca. E além do mais, em custo, nem se diga! Porque é preciso plantar o milho cada certo tempo, enquanto a forragem pode estar de três a quatro anos com uma alta produtividade. Há certos problemas por resolver; por exemplo: qual será a produtividade no quinto e no sexto ano; se acontece como com a cana, que na medida em que se torna mais velha é menor a produtividade; cada quanto tempo nós teremos que remover a terra; qual a técnica que se deve aplicar; que possibilidades há de obtenção, quantos quilos se podem obter de forragem em um hectare ao ano.

Há uma coisa que nós já temos podido verificar: a conversão da forragem em leite; de que se pode produzir — se pode produzir, e é possível que até se possa superar, inclusive — um litro de leite em cada cinco quilos de erva, de forragem. E que se pode produzir um quilo de carne em cada 15 quilos de forragem.

Perguntem a algum dos engenheiros agrônomos, técnicos agropecuários que havia em Cuba, se sabiam disso. E perceberão que nenhum deles sabia. O que vocês acham? E é uma coisa muito simples, e que para averiguá-lo não havia nada mais que pôr uma vaca a comer erva e ordenhá-la todos os dias, ou pôr um touro a comer erva e pesá-lo todas as semanas, ademais de pesar a erva que comia todos os dias. Compreendem? E nem isso, nem isso se fazia.

É lógico que sejamos críticos porque estamos abrindo uma nova etapa. Quando se abre a etapa da revolução técnica é preciso ser muito críticos com os antediluvianos — compreendem? — e com os pré-históricos. É preciso atacá-los duramente porque, caso contrário, não seremos bons revolucionários técnicos. Quando se vai fazer a revolução social se começa por criticar muito forte a sociedade capitalista; e assim temos que fazer nós com as técnicas velhas, para que as técnicas novas tenham livre o caminho, se desperte o espírito de emulação, se desperte o espírito de estudo, de pesquisa, se desperte o desejo de estudar. Porque se os engenheiros agrônomos que se graduam na universidade nunca mais voltam a abrir um livro, morreremos de fome com esses engenheiros agrônomos.

Não senhor, é preciso continuar estudando; e é preciso dizer aos professores para andarem com pressa, e os professores de vocês, que são companheiros valiosos e companheiros novos, vão ter que estudar muito. Aqui todo mundo vai ter que estudar, começando por mim, que vou ficar atrás por causa de ter muitas atividades.

Mas bem, eu já fui estudando algo destas coisas e já fui verificando algumas destas coisas. Agora, daqui a alguns meses, tenho que andar muito depressa com vocês, porque vocês vão ter todo o tempo aqui para estar estudando. Portanto, vou ver qual é a técnica que utilizo para não ficar atrás.

Entre outras coisas, vir aqui e conversar com vocês frequentemente, para que me contem tudo o que estão verificando e discutir com vocês; vamos discutir, vamos discutir o bastante e vamos investigar, e vamos descobrir coisas interessantes. O que é que vocês acham? E agora já é melhor, porque com tantos colaboradores eu não duvido de que tudo vai correr muito melhor.

Temos que conhecer também os problemas do emprego dos equipamentos mecânicos, a mecanização; aqui tem que chegar um dia em que toda a erva, que esteja no terreno que a geografia o permitir — não vamos dizer que nas montanhas do Escambray vamos pôr ali uma ceifeira, porque o operário vai morrer, a ceifeira vai se avariar e não vamos tirar ali nem uma garrafa de leite; mas aí aplicaremos outra técnica, aí aplicaremos outra técnica de produção segundo o caso — futuramente, toda a erva terá que ser colhida com máquinas, da mesma forma que a cana: cortada, carregada e transportada em máquinas.  Bem, o único que vão fazer os animais é mastigar, e será assim porque não há uma máquina para ajudá-los. Compreendem?

Temos que mecanizar tudo; e cada vaca terá que ser ordenhada com uma máquina, com uma máquina também. Porque um homem ordenhando uma vaca é um trabalho duro, não é tão higiênico e é menor a produtividade; é preciso lançar mão da ajuda das máquinas, e assim também teremos mecanizada a produção de carne e leite; totalmente mecanizada. Temos que atingir essa meta.

E temos um campo formidável, porque aqui na cana há bastantes conhecimentos, bastante experiência, está bastante desenvolvida. Naturalmente que na cana têm que ser abolida a técnica que tem sido usada até agora, mas é muito mais fácil vencer as dificuldades que isso coloca. Na pecuária é mais difícil, mas muito mais difícil, e é um campo inteiramente novo, pode dizer-se; e é um campo que se deve desenvolver completamente em nosso país, mas que pode oferecer a Cuba tanta riqueza como oferece a cana, que tem sido até hoje sua principal indústria; ainda, fonte de alimentação de primeira qualidade para o povo e de matéria prima, porque também serve para produzir, por exemplo, ovos, porque se utiliza o osso, se utiliza o sangue, se utilizam os resíduos das vacas; para produzir ovo, para produzir frango, infinidade de coisas.

Pensamos desenvolver também a produção de queijo. Aqui havia dois ou três tipos de queijo, e bastante regulares; nós temos que tentar produzir de 50 a 100 variedades de queijo. E esse também é um problema de bactérias, um problema de bactérias; o segredo de muitos desses queijos consiste em isolar a bactéria, cultivá-la e que trabalhem; as bactérias trabalham e é difícil que possam ser substituídas por máquinas. Porque em um tempo trabalharam os bois, os cavalos, mas, o que resultou? Já os tratores os substituíram. Há outros animaizinhos que realizam um grande trabalho: alguns apenas visíveis e outros invisíveis, que são os que produzem o queijo, os que produzem o iogurte, o leite agro, todos esses derivados; são os que preparam na terra os nutrientes para as plantas, são, inclusive, os que no intestino dos animais preparam os alimentos para serem assimilados pelo sangue e pelo organismo.

E vamos desenvolver também, vamos pôr uma escolinha em breve, de técnicos em queijos; todas estas coisas é preciso fomentá-las. Já a escolinha está sendo construída, já os técnicos estão sendo contratados e, em breve, selecionaremos — não será dentre vocês, vamos selecioná-los noutra fonte.  Porque por aí há uma escola de transformação de alimentos, mas gostaria de ir um dia por ali a averiguar se estão ensinando alguém como se faz um queijo.  Porque é preciso fomentar essas coisas, se deixarmos de lado a rotina, a rotina e a rotina... Vejam, o pior inimigo que pode ter a pecuária é o homem rotineiro, aquele que não se lhe ocorre mais que o mesmo de todos os dias e não sai daí; esse é um inimigo do progresso humano, e é preciso dar impulso a todas estas atividades. Naturalmente, em matéria de pecuária se vão deparar com muita rotina, muitos preconceitos; não esqueçam isso: rotinas, preconceitos, contra os quais é preciso lutar, aos quais é preciso vencer, e que naturalmente, não tenho a menor dúvida de que venceremos.

Já foram encaminhadas todas as perspectivas canavieiras em nosso país, agora é preciso encaminhar todas as perspectivas pecuárias de nosso país, e aí é onde vocês vão cumprir uma missão muito importante, muito importante. E nós queremos formar um tipo de técnico competente, disciplinado, responsável, revolucionário, com uma mentalidade aberta, com um espírito de investigação, de crítica, de análise; e lhes posso assegurar que vocês nunca se arrependerão de ter ingressado nesta escola, nunca! Posso assegurar-lhes que as maiores emoções as vão encontrar neste campo, neste campo da produção, da criação, da pesquisa, as maiores emoções; e lhes posso assegurar que vocês se vão converter em fanáticos deste trabalho e destas pesquisas.

Na mesma medida em que vocês estudarem, na mesma medida em que vocês aprofundarem seus conhecimentos, vocês vão ir desenvolvendo uma vocação, um apego, um interesse por todas essas coisas, que eu lhes garanto, pela minha experiência — que já conheci umas quantas coisas — que não encontrarão coisa mais interessante que essa, mais interessante. E vocês já tiveram essa disposição, essa inclinação e esse espírito, os companheiros e as companheiras, e vocês vão receber o prêmio dessa decisão de vocês, na medida em que estudarem.

Não pensem que a escola vai ser perfeita desde o primeiro dia, não pensem que do primeiro dia vamos ter todos os problemas de textos resolvidos; temos resolvido uma parte dos problemas de textos, outros estão a caminho, outros estão se obtendo, mas serão resolvidos. Todos os problemas de pessoal para o ensino não estão resolvidos desde o primeiro dia, todas as coisas não vão correr perfeitamente desde o primeiro dia; saibam isso, e saibam que nada na vida corre perfeitamente desde o primeiro dia, mas esta escola está muito bem encaminhada, muito bem planejada, bem concebida e vai chegar a ser uma magnífica, uma formidável escola, e que esta escola vai ter uma grande repercussão na economia do país, e que esta escola vai ter uma grande repercussão no desenvolvimento de uma técnica nova para a produção, e que esta escola vai ser um baluarte da revolução técnica; tenham certeza disso. E vocês se vão sentir sempre muito contentes e muito orgulhosos de serem alunos desta escola.

E algum dia vocês vão ter a oportunidade de compreender estas coisas que agora lhes estamos dizendo, das dificuldades, do que é preciso lutar, do que é preciso trabalhar, dos preconceitos que é preciso vencer, dos caminhos que é preciso descobrir, porque há muitas coisas, inclusive, que estão ainda por se resolverem, de tipo prático e de tipo técnico, e que temos que resolvê-las, que o trabalho é grande, que na pecuária é o mais difícil. Mas, contudo, não devemos vacilar em empreender este esforço e esta batalha, certos de que vamos vencer. Porque, como lhes dizia quando começava, que coisa é o que não se pode fazer neste país, e que coisa é o que não pode levar ao fim nosso povo revolucionário se podemos já criar estas condições, se o povo conseguiu abolir todo o passado, aquele que impedia avançar; se conseguiu enfrentar o imperialismo, se conseguiu surgir em sua vida revolucionária, em momentos propícios de ordem internacional.

Pode dizer-se que nunca uma revolução surgiu em momento mais oportuno para um país, não vou dizer que seja a mais oportuna das revoluções, não, mas para um país pequeno como o nosso sim, para um país que estava sob as botas do imperialismo sim; em um momento da história do mundo formidável. E que esta é a oportunidade dos povos, como o nosso, de se livrar do jugo e de ter essa oportunidade fantástica que tem nosso país hoje. Porque já se vão desmoronando todas as intrigas dos imperialistas, vão rolando por terra todas as intrigas dos reacionários e dos contrarrevolucionários, vão se derrubando como castelo de cartas suas ilusões ante a realidade da Revolução, ante o avanço da Revolução, ante as perspectivas econômicas da Revolução. Nem sonhar, o que podem dizer de nossas perspectivas de dez milhões de toneladas? Que podem dizer da mecanização do corte da cana, da liberação de centenas de milhares de trabalhadores desse trabalho duro? Que podem dizer, que é que podem oferecer, voltar à época da repressão, da colheita com facões, do tempo morto? O que nos podem falar daquelas coisas absurdas? Que nenhum indivíduo racional teria a ideia de pensar que deverão voltar, que poderiam voltar alguma vez a nossa terra, ante as perspectivas formidáveis, sem tempo morto, abolida aquela causa de miséria, aquelas mazelas, sem analfabetismo, abolido tudo aquilo, sem restrições à nossa produção, abolidas todas aquelas restrições.

Temos agora que abolir todos os métodos artesanais e pré-históricos na produção, e chegaremos muito longe; e por isso é que os contrarrevolucionários estão cada vez mais desmoralizados, cada vez mais esmagados, cada vez mais derrotados, juntos com seus donos imperialistas que estão vendo também como seu império se desmorona, que estão vendo sua crise, a crise de sua política de guerra, de sua política estúpida, de sua política colonialista, de sua política de força em todos os lados do mundo, e que estão vendo surgir no mundo condições inteiramente distintas e inteiramente novas. E enquanto eles afundam, nós nos levantamos, nós subimos. Eles vivem aterrorizados do futuro e nós, em troca, vivemos cheios de esperanças no futuro, nesse futuro que estamos construindo com entusiasmo, e nesse futuro onde vocês têm que marchar como uma coluna, disciplinados, capacitados, combativos. Nesse futuro onde vocês vão ser uma das colunas de vanguarda.

Quero por isso expressar aqui nossa alegria porque tenha começado a escola e reiterar nossa confiança, nossa fé na escola, nos companheiros que estão de professores da escola, nos alunos da escola, na qualidade de todo o pessoal desta escola, e que farão com que seja a escola que temos desejado e que esperamos que seja.

 

Portanto, Pátria ou Morte!

Venceremos!

(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado