A história de Cuba na concepção revolucionária de Fidel
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NA ideologia do líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz emerge, como originalidade, que ele soube assumir as tradições patrióticas como instrumento educativo para a ação política e o expressou claramente em sua oratória. Desta forma, ele projeta seu pensamento revolucionário, cuja transcendência é demonstrada em uma visão nacional que contribui para enriquecer seu desempenho como homem de Estado.
Através de sua carreira como o guia da Revolução, seu pensamento evolui e cria um sistema de conceitos que têm uma unidade prática e dialética, como a base ideológica do processo revolucionário cubano, ao aplicar as lições da história ao desempenho contemporâneo.
A influência das lutas pela independência em seu pensamento ganha força, nos momentos iniciais de sua carreira política, para ver na história de Cuba o instrumento que permitiria mobilizar as massas em torno dos propósitos revolucionários e da libertação nacional. A partir das primeiras ações de sua obra transformadora, Fidel teve a perspectiva de que «[...] precisamos saber mais acerca da história de Cuba [...] E eu digo que não pode haver uma boa educação política, senão há uma boa educação histórica, não pode haver boa formação revolucionária se não houver uma boa formação histórica».
A urgência no trabalho diário obrigou-o a utilizar, como a maneira mais rápida, o contato direto e habitual para divulgar, com linguagem simples, compreensível e direta, os acontecimentos políticos e históricos da nação, subordinando a possibilidade de utilizar elementos teóricos complicados ou conceituais, não assimiláveis para um povo que acabara de se declarar livre do analfabetismo. Essa estratégia de troca é, por si só, uma contribuição de sua ação política, porque em sua oratória surgem elementos que enriquecem sua arte de fazer política e essa é a essência íntima de seu trabalho de transformação social através do papel educativo da história.
Fidel assumiu como a principal originalidade, o conhecimento universal, ele o pôs em função da ação política e o expressou em sua oratória. Desta forma, projetou suas ideias revolucionárias, cuja importância é demonstrada, entre outras coisas, que há uma ideologia nacional que aspira a resolver os problemas atuais, que devem ser considerados por todos aqueles preocupados pelo futuro da humanidade.
A LUTA PELA INDEPENDENCIA NA AÇÃO REVOLUCIONÁRIA DE FIDEL
As lutas pela independência no século XIX, ganharam desde cedo a rápida adesão de Fidel e ao fazer uso da função demonstrativa da história, explica: «Nada nos vai ensinar melhor a compreender o que se entende por Revolução do que a análise da história do nosso país, do que o estudo da história de nosso povo e as raízes revolucionárias de nosso povo».
Essa influência dos atos libertários em seu pensamento ganhou força desde os primeiros momentos de sua carreira como líder, vendo na história de Cuba o elemento que lhe permitiria mobilizar as massas em torno dos propósitos revolucionários e de libertação. Em seu raciocínio, essa disciplina tem maior conotação quando o conhecimento tem a capacidade de prever, e é na possibilidade de prever onde ele mostra suas qualidades visionárias dos acontecimentos universais. Isso fica demonstrado na seguinte declaração: «[...] E como é útil mergulhar na extraordinária história do nosso povo! Quantos ensinamentos, quantas lições, quantos exemplos, que fonte inesgotável de heroísmo! Porque nenhum povo neste continente lutou mais por sua liberdade do que o povo cubano [...]».
O líder máximo nos expressa, como ideia central, de que não podemos pensar ou fazer estratégias se não partirmos das formas e lições que elas nos deixam.
Estudá-la em retrospectiva histórica serve para observar modelos de ação, analisar como seus diversos aspectos foram utilizados — recursos, análise, liderança — e tirar conclusões sobre as vantagens e dificuldades observadas. Mas além das teorias, o importante é o acúmulo de conhecimento que nos deixa a análise dos homens e grupos protagonistas de diferentes acontecimentos épicos.
O estudo das guerras, batalhas e os atos de acumulação, conservação ou aumento do poder, ao longo da história, são exemplos ricos, dos quais valiosos conhecimentos podem ser obtidos.
Não é um arbítrio ideológico recorrer à experiência histórica, nela encontramos uma linha de reflexão sobre estratégia, natureza e aplicabilidade, o que as torna conhecimentos indispensáveis.
Ao examinar o pensamento nacionalista de caráter revolucionário encontramos uma característica distintiva, sua defesa da independência, tanto econômica quanto política. Vemos em Cuba essa ideologia com José Martí, que não é o único, mas um dos precursores mais ilustres.
Os passos que guiam Fidel são precedidos pela decisão martiana de conquistar a liberdade ou de dar vida no combate. Este é, talvez, o primeiro legado para as futuras gerações, o da luta perpétua contra a opressão estrangeira.
Essa identificação de ideais e aspirações faz com o primeiro objetivo seja o de cumprir os sonhos nunca feitos pelo Mestre, do que resulta que na prisão, instrutiva, a identidade entre os dois revolucionários se manifesta de novo, e que se manifeste tanto no comportamento assumido pelo chefe do Movimento 26 de Julho, quanto nas doutrinas que expõe em suas cartas. E assim acontece no exílio mexicano, na tempestuosa epopeia do iate Granma, nas derrotas iniciais, no reagrupamento esperançoso, na guerra e na vitória.
JOSÉ MARTÍ NAS DOUTRINAS REVOLUCIONÁRIAS DE FIDEL CASTRO
Como o mais alto representante do Partido Revolucionário Cubano e da emigração, José Julián Martí e Pérez organizou a luta, buscando o apoio das principais figuras da guerra anterior, para estruturar um movimento que respondeu ao surto de 24 de fevereiro de 1895, com a finalidade de alcançar seus objetivos libertários.
Os discursos e obras de nosso maior patriota, especialmente no período 1890-1895, destinam-se principalmente a procurar a unidade dos cubanos em torno do movimento de independência. Em sua prosa e oratória retornam à vida os mártires caídos, os heróis atuais e os processos que ocorreram, para dar razão de ser à nova ação, e esse esforço liga firmemente seu pensamento e ação com o líder da Revolução Cubana de 1959.
Além disso, Fidel Castro, em várias intervenções, faz uma avaliação da personalidade de José Martí, morto em Dois Rios, pondo em destaque sua capacidade de pensador político, sua concepção revolucionária, suas qualidades morais, suas ideias sobre como devia ser concebida a Revolução, a necessidade da existência de um partido, e a decisão com a qual ele enfrentou os problemas relacionados com a preparação da nova guerra.
Da interação dialética do conjunto de funções mencionadas em seus discursos públicos, em relação à guerra de 1895, deduz-se, em boa medida, a legitimidade da necessidade sentida por ele de promover um desenvolvimento ideológico popular próprio, para uma sociedade em um processo de inquestionável pesquisa.
Note-se que não se destina apenas para educar um bom cidadão através do exemplo do Mestre, mas de fazê-lo e, ao mesmo tempo, gerar preceitos que exigem historicamente ser transformados, para impor uma nova ordem revolucionária que emana das necessidades inscritas em um novo status histórico da prática e da fisionomia histórico-política dos homens e mulheres que construíram, a partir de 1959, uma nova sociedade em Cuba.
Se não se percebe nas concepções de Fidel essa peculiaridade na intencionalidade com que busca, para as condições de Cuba, a trilogia história-política-povo, seu pensamento é desvirtuado a esse respeito, que é explicitado com o destaque de um ou de outro conceito, de acordo com o que cada situação histórica lhe aconselhe.
Ao longo da nossa história, a unidade tem sido um fator chave para atingir a nossa independência e o Mestre foi o primeiro a entender isso; portanto não é por acaso que as experiências das batalhas desenvolvidas pela soberania nacional ligue indissoluvelmente a atitude de ambos os líderes.
Nosso Apóstolo compreendeu que era inadiável a criação de um espaço político que viesse unir todos os cubanos pela independência da Ilha, independentemente da idade, raça, sexo, nacionalidade ou posição social, convencido de que a organização política da guerra devia ter o apoio de todos os envolvidos e o apoio dos guias fundamentais da guerra anterior.
Por outro lado, Fidel, como antes Martí, depositou no povo sua confiança absoluta. Toda a estratégia da Revolução baseou-se no povo, em suas energias morais ilimitadas, na enorme força revolucionária que estava encerrada nele. E nesse povo ele procurou não apenas os membros do grupo inicial, mas também os meios indispensáveis para iniciar a luta.
Da mesma forma, Fidel se identifica com José Martí em muitas outras manifestações de sua atitude perante a vida; a subordinação de sua conduta aos princípios revolucionários, aos valores morais; a rejeição a tudo aquilo que signifique evitar o cumprimento do dever; a conjugação do heroísmo com a simplicidade e sua dedicação à causa da redenção de todos os povos do mundo.
Da mesma maneira que nós sentimos a presença de Martí nos objetivos e organização do movimento liderado por Fidel, encontramo-la em cada uma das etapas de sua ação insurrecional, mesmo na atitude assumida perante as derrotas. A imagem de nosso Herói Nacional estava presente na tarefa, cheia de sacrifícios, de recolher os recursos humanos e materiais indispensáveis para o combate contra o governo de Fulgencio Batista Zaldívar que foi instaurado em 10 de março de 1952, em Cuba.
Com uma profunda convicção martiana manifesta-se na guia histórico da Revolução Cubana uma preocupação permanente pelo destino e o futuro do processo político, porque o presente torne viável o futuro através de uma orientação para a transformação construtiva do estado das coisas existentes, dirigida, ao mesmo tempo, a promover uma atitude pró-ativa diante dos grandes objetivos a serem alcançados. Por isso, enfatiza-se a importância de se armar com ideias, de conceitos revolucionários para o futuro; construir trincheiras ideológicas sem subestimar, ao mesmo tempo, as trincheiras de pedra, tornando os jovens porta-estandartes dessas ideias.
Consequentemente, trata-se de situações que geram uma vontade coletiva, bem como uma espiritualidade de emancipação, que envolve não só a consciência da posse do poder, mas também a capacidade de usá-lo bem, de acordo com a sua missão histórica de avançar no campo da política, na construção contínua da hegemonia e, consequentemente, transcendendo progressivamente para escalões mais altos de soberania nacional e humana.
Em geral, a análise das suas exposições, mostra uma construção política que mantém um diálogo entre as ideias e a realidade, as aspirações e as demandas presentes, entre o apego às doutrinas e os problemas específicos da nação e do povo.
Mas, ao mesmo tempo se observa um pensamento permanente acerca da situação nacional e internacional e rever a história a partir das perspectivas eruditas que a caracterizam, criando um reservatório de ideias com valor para explicá-la e compreendê-la, bem como para orientar a prática.
No entanto, Fidel Castro não deixa de se esforçar para empurrar o curso da história no sentido que lhe indicam as matrizes ideológicas e doutrinárias, razão pela qual não encerra seu esforço político em pensar no imediato, qualquer que seja a força que tenha, pois tende a fazê-lo em conexão com o futuro próximo e distante que está no horizonte do ideal; o que lhe faz ser profundamente consequente ideologicamente e politicamente responsável. Portanto, sua interpelação ao povo ocorre mediante a política que abraça, tentando fazê-lo receptor e produtor em ambas as direções.
O reconhecimento do papel decisivo da história no desenvolvimento econômico e social é, com toda a probabilidade, uma das características essenciais de seu pensamento, que aparece muito cedo em seus pronunciamentos e mostra a frequência crescente com que este conceito se traduz em ações.
Em diferentes circunstâncias, Fidel reafirma suas convicções sobre o significado da história na contribuição decisiva para a consecução dos objetivos urgentes da Revolução e o desenvolvimento posterior da sociedade socialista. A esta combinação é devida, em grande parte, sua estatura reconhecida como um estadista mundial.
* Instituto de História de Cuba
Fontes utilizadas:
- Ato central pelo 30º aniversário da entrada em Havana, 8 de janeiro de 1989.
- Sessão Comemorativa dos Cem Anos de Luta, em La Demajagua, Oriente, 10 de outubro de 1968.
- Noite solene pelo centenário da morte em combate do major-general Ignácio Agramonte Loynaz, em Camagüey, em 11 de maio de 1973.
- Fidel Castro e História como ciência. (Seleção Temática 1959-2003) Volume I. Centro de Estudos Martianos. Havana, 2007.